Primeiras Impressões – Aku no Hana, o WTF da temporada

PIAkunoHana

Yo!

Não tem jeito, dê dinheiro e liberdade a um japonês e ele vai te devolver em algo bizarro. Bora ver!

Aku no Hana é algo dificil. Eu não consigo ver ele como um anime, mas como um filme. Não pesquisei muito, mas o efeito de rotoscopia, animando em cima de frames de uma gravação de atores parece ser feito no computador, com aqueles efeitos de quadrinhos de aplicativo de celular. O “design” de personagens é simplório, apesar de às vezes você perceber, com alguma imaginação, que as pessoas são bem reais. Os cenários acompanham o extremo realismo da animação, mas são estáticos.

Se você pensa em Aku no Hana como um filme, um seriado com atores, ai tudo parece fazer mais sentido. O clima denso, a falta de trilha sonora compensada com uma riqueza de sons de ambiente, a câmera postada em tripé, tudo isso lembra um filme de iniciante, de um diretor inseguro. Quando eu estudava pro post sobre Takeshi Kitano, lembro de ter visto uma entrevista em que ele fala de quando começou a dirigir. Ele foi sem saber praticamente nada do que era dirigir, apesar de ter anos de experiência do outro lado. Seus filmes tinham câmeras estáticas, quase nenhuma música e um ritmo muito lento. É o que eu senti de Aku no Hana, com todo o respeito. Sei que muito se deve ao fato de ser uma animação. Mas ai me vem a pergunta: então, por que não fez um drama? Se já está gravando tudo com atores, acredito eu que até o áudio é gravado no mesmo momento… Então por que não fazer com atores logo e só animar a flor desabrochando e alguns poucos detalhes que ganhariam riqueza com isso?

5aecf02d

Imagem feita por fã, mudando o anime para o character design original.

A lógica disso é contrariar a lógica. Não faz sentido, mas de alguma forma, te intriga. Não é à toa que todos os reviews sobre Aku no Hana começam com longos papos técnicos, criticando a rotoscopia, Todo mundo assiste aquilo horrorizado. E quando chega a cena que cria o choque, aquela do “Calaboca, inseto de merda!” que é capa do primeiro volume, você se pergunta: o que é mais perturbador? A história ou a animação? Não sei…

Uma das coisas mais geniais do mangá é ter a Nakamura como uma quase Rei Ayanami. Ela é “moe”. É impopular, mas até que dá um caldo, entende? Mas no anime, ela já tem uma cara de maníaca, uma expressão de doente que não dá o contraste que criava o choque da cena. Senti uma dinamite fazendo estouro de uma bombinha.

AkunoHanaXIL

Existe hoje um consenso. Não era tão difícil adaptar Aku no Hana em anime. A arte do autor, Shuzo Oshimi, já é bem palatável para uma animação. Não seria uma tarefa dura. Aliás, seria possível ter muito lugar animado em rotoscopia sem alterar o character design, mas pelo menos os rostos precisavam de um estilo, algo que justifique uma história pé no chão, que não teria o menor problema em ser feita com atores, partir para a animação.

Mas a história é boa, boa demais pra um efeito de app de celular. Boa demais para um diretor de filme independente japonês. Boa demais para se perder tanto nos quinze minutos iniciais, dando só uns dez minutos de avanço no roteiro. O garoto até mostra que vale o papel. Os detalhes sutis de sua personalidade são colocados, sim, sutilmente na tela. Mas isso demora tanto que nem conseguimos ver o turning point da história. Não sabemos o que esperar pro próximo capítulo. Mas a história tá tão boa que não dá pra abandonar. E o fim te deixa com um” WTF!!” na cara.

É uma coisa estranha. Com tanto ponto que considero ruim, por que eu quero assistir a continuação?

Resultado:

201206102209221b9

Essa imagem é muito boa!

Não sei. Sinceramente, indo além do puro hate pela arte polêmica, o anime ainda tem muita coisa que eu considero errada, mas também não sei até que ponto esse é um “ANIME”. E tem tanta coisa genial misturada com ideia de jegue que eu fico confuso mesmo. O fechamento é simples, mas aquela música é tão caótica que casa perfeitamente  com o clima do anime. As cenas da flor se levantando é muito bacana e a direção tem lampejos de talento misturado com tanto experimentalismo.

Experimentalismo. Acho que essa acaba sendo a palavra. Aku no Hana se aproveita de uma história caótica para fazer um anime completamente fora do convencional, acertando em muita coisa, errando em outras, mas na maior parte do tempo, sendo simplesmente inquietante. Não dá pra assistir achando que vai ver mais um anime.

Minha recomendação é se manter aberto para continuar assistindo. Mas se você só quer passar o tempo, fuja.

32df773c-s

“Fuja, seu inseto de merda!”

 

Outras opiniões no Genkidama

Anikenkai
Video Quest
Argama

 

E veja meus comentários gerais da temporada!
Guia XIL da Temporada de Primavera

9 ideias sobre “Primeiras Impressões – Aku no Hana, o WTF da temporada”

  1. Devo dizer que esse anime e a palavra experimentação me fizeram lembrar imediatamente de dois filmes: Waking Life e O Homem Duplo(A Scanner Darkly) do diretor Richard Linklater, ambos são filmes feitos com rostocopia.

    Esses dois filmes causam estranhamento também principalmente o primeiro que foi feito numa época em que a rostocopia era muito recente mesmo e portanto também precisava de aperfeiçoação. Mas enfim apesar destes serem casos de “filme querendo parecer animação” e “não animação querendo parecer filme”.

    Eu ouvi que a grande contribuição desse método nos filme foi usar a animação para acrescentar coisas no que é real (ex: tem uam cena no O Homem duplo em que um viciado esquezofrenico começa a enchergar um onte insetos baratas caminhando pelo corpo dele, todos os insetos foram feitos por animação e acrescentados na cena)
    por mais tosco que isso possa parecer isso me lembrou, por exemplo, cenas que personagens de Aku no hana (episodio 2) aparece com aquelas gotinhas de suar e etc q se tem anime/manga é uma coisa que seria impossível de se expressar da mesma maneira em um drama só animação poderia fazer. Esse pode ter sido um exemplo tosco mas mostra talvez uma finalidade de se fazer essa espécie de mistura.

  2. Excelente resenha!

    De todas que lí até agora, essa foi a que mais concordei.

    Minha opinião, é de que Isso está muito mais para “Live action” do que para “anime”.
    Aliás, eu acho que não deveriam usar rotoscopia em adaptações de séries em mangá ainda.

    A técnica ainda está imperfeita, e precisa muito aprimoramento, acho que tinham que testá-la em animes não-adaptações.
    Meu maior problema na verdade, é que um autor de mangá coloca sua visão artística para a série que desenha, o traço, ambiente, roteiro, tudo é um único conjunto. Modificar os conceitos é um grande problema. Outra coisa que se perdeu, a Nakamura (como mencionado), pois deveria haver um contraste de aparência e personalidade.
    Se não me engano, o próprio nome da série é sobre isso, “Flor” e “Mal”.

    1. Então você queria uma cópia do mangá? Qual a vantagem nisso?
      Boa parte dos animes que surgiram nos últimos anos se restringem a repetir cada cena dos quadrinhos e esperar aplausos. O que aconteceu em Aku no Hana foi que mandaram a zona de conforto pastar.

      1. É impossível ser uma cópia pelo simples motivo que um é “estático” e outro é “animado”.

        E acho que tu entendeu errado, animação é uma arte completamente diferente de desenhar quadrinhos. Mas os quadrinhos que fazem sucesso o bastante para ganhar animes possuem conteúdo lá o bastante para os demais quererem animá-lo. No momento que tu abusa da liberdade ao animar, corre-se o risco de “fuder” com a obra e a mensagem que ela quer passar.

        Já viu Rosario + Vampire? O mangá é um shounen, várias fórmulas bem clichês, mas foi muito efetivo no que propôs. O pessoal do anime, queria vender um anime Ecchi, que não fez jus ao mangá.
        Não que Rosario seja uma obra prima, mas conseguiram tornar a adaptação um lixo completo, pois em vez de passar um shonen com alguns elementos de ecchi, eles entregaram pro público To Love-ru.

        Vou formular a pergunta de forma diferente, se tu quer fazer uma obra DIFERENTE, pra quê “adaptar” uma já existente? É mais fácil fazer uma completamente nova.

        Kuroko no Basket é uma animação completamente honesta por exêmplo. O traço do início do anime é semelhante ao traço do mangá na época em que foi animado (porém o traço do início no mangá era tenebroso). Ainda assim, o anime manteve-se fiel à obra, e conseguiu um feito incrível em 2012. Tornou-se um dos animes mais populares do ano, e alavancou incrivelmente as vendas do mangá, nesse ponto um passou a apoiar o outro. Quem lia o mangá queria ver o anime, e vice-versa.

        Outra, “Diferente” não é igual a “Cult”. Começou a surgir uma péssima mania hoje em dia, de se achar que aquilo que é feio vai ser sempre foda, e aquilo que é bonito vai ser sempre “mais do mesmo”. O ato de não ser mainstream está tornando-se mainstream. Vejo muita gente que “gostou” da série só porque percebeu que o resto do mundo não iria gostar.
        (não estou falando que todos são assim, mas muitos sim)

        Um anime que tira da zona de conforto é Shingeki no Kyojin, mais uma série que está sendo muitíssimo honesta. Eles se dedicaram a apenas uma coisa “Fazer bem feito”. (falando apenas de primeiro episódio, claro)

        Eu posso até parecer meio chato, mas eu desenho, tenho minha história, e acho que como todo desenhista, ver uma versão animada é uma realização incrível. Mas eu ficaria muitíssimo chateado, se mudassem qualquer conceito que coloquei no meu trabalho. Cada coisa que se coloca numa página possui um intuito, uma intenção, nada é “sem propósito”, alterações descaracterizam o conteúdo.
        Pode até ficar bom, mas não será mais a “minha obra”.

        1. “É impossível ser uma cópia pelo simples motivo que um é ‘estático’ e outro é ‘animado’.”

          ^^ Eu não disse “cópia” no sentido literal, Renan.

          “Outra, ‘Diferente’ não é igual a ‘Cult’.”

          Exato, mas dizer isso com base no que foi exibido até agora, é praticamante irrelevante, um tempinho ainda é necessário. Lembrando que cult nem sempre rima com “feio”, e mainstream nem sempre significa “bonito”.

          “Cada coisa que se coloca numa página possui um intuito, uma intenção,
          nada é ‘sem propósito’, alterações descaracterizam o conteúdo. Pode até ficar bom, mas não será mais a ‘minha obra’.”

          Sim, pois a “sua” obra é a que “você” desenhou, a que “você” realizou. Fora disso, a partir do momento que você der o aval, não tem mais o porquê de reclamar (das escolhas que virão). Claro, anime fiel ou não, em ambas as formas há possibilidade de fracasso ou de sucesso, depende da produção.

          “Vou formular a pergunta de forma diferente, se tu quer fazer uma obra
          DIFERENTE, pra quê ‘adaptar’ uma já existente? É mais fácil fazer uma
          completamente nova.”

          O que ocorreu aqui não foi fazer algo ‘completamente’ novo, mas sim dar uma nova visão ao mesmo conteúdo. A mudança foi mais estética. Material televisivo, não é feito apenas, e exclusivamente, para os fãs, outros poderão gostar, inclusive os que não se identificaram com o mangá ou aqueles que nem chegaram a lê-lo. O fã tem, sim, todo o direito de se mostrar contra e de se sentir decepcionado por esperar algo mais tradicional (estamos acostumados a elas desde o berço), e como já falamos, o anime pode resultar em perda total… mas e se não for? O fato de terem rotoscopiado não quer dizer que o fiasco seja certeza.

          1. Opa, o anime pode acabar dando certo, por que não? hehe.

            Uma forma de aliviar minha reclamação seria fazer um lançamento do tipo “Aku no Hana R”, isso sim seria uma forma honesta de mostrar que aquilo é Akuma no Hana, mas ao mesmo tempo não é.

            Outro grande problema, é que o autor pode dar o aval, mas ele nem sempre sabe o que farão com a obra. Se bem me lembro, uma vez que é assinado o contrato com os animadores, não há mais choro, tudo vira inteira responsabilidade deles. Fora que tenho um medo do autor ter assinado o contrato, apenas por medo de “ser a única possibilidade de ganhar anime”.

            Mas como eu disse no meu primeiro post, a rotoscopia nem é meu maior problema, o que me incomoda é fazer feia uma personagem que deveria ser bonita, isso é algo difícil de engolir. (E sim, ela poderia ser bonita com rotoscopia, haha)

          2. No mangá, o fato dela ser desenhada de forma mais “moe”, tem seu sentido, correto? No anime pode ter também, por que não? Novamante, o ponto de vista dos fãs eu aceito, só incomoda o preconceito que muitos tem sem ao menos diregir a produção.

          3. Bom, no anime o fato dela não ser moe, tem seu próprio sentido, apenas acho que ela fica muito “fora de caráter”, mas mesmo assim, com certeza há um propósito, nisso eu não discordo. ;)

            Aliás, eu gostaria de comparar a situação, com o fato do Lanterna Verde dos Novos 52, que fizeram ele homosexual, e ocorreu um grande “rebuliço” nas mídias. De fato “Não é errado”, mas quase impossível o fã gostar da mudança. :P

Deixe uma resposta