>Bakuman – parte 1

>Yo!

Fechamos um ano, entramos no proximo e finalmente eu estou postando de novo!

Quero aproveitar o lancamento do primeiro tankohon de Bakuman para discutir alguns pontos interessantes. Coloquei parte um por que eu jah espero ter muito assunto.

Antes de mais nada, melhor apresentar o trabalho. Bakuman eh o atual trabalho da dupla Oba Tsugumi e Obata Takeshi, a mesma do aclamado Death Note, que virou filme, anime e tudo mais.

Da mesma forma que o trabalho anterior, a intencao da dupla era fazer algo diferente da linha atual da Jump, vencer pela originalidade. E fugiram ateh mesmo dos moldes de Death Note.

A historia conta a trajetoria da dupla Akito Takagi e Moritaka Mashiro, tentando a carreira de mangaka. O tema pode nao ser tao original (existem alguns classicos com o tema, como Manga Michi e Otoko no Jouken) mas a abordagem e a profundidade com que explica o cenario torna Bakuman um manga unico.

Claro, eu podia continuar fazendo um review do manga, mas nao eh essa a intencao do blog. O que eu quero eh falar sobre o que significa ter esse manga nas prateleiras e nos postos altos do ranking de popularidade da Shonen Jump.

Misturando um lado quase documental da carreira de um novo talento dos mangas com uma simples historia de colegiais, Oba consegue fazer um manga interessante, empolgante e ao mesmo tempo, didatico.

Em um unico tankohon ele consegue ser mais util pra um aspirante a mangaka do que um livrao de "aprenda a fazer manga". E nao fica em licoes bestas como aprender a desenhar, aprender a fazer tal coisa. Ele ensina o que voce vai ter pela frente, com que preparo voce tem que enfrentar uma carreira como essa e o quanto isso eh distante da ideia de publicar historinhas de samurais futuristas lutando contra o mal.

Um pouco atras eu comentei sobre Otoko no Jouken e Manga Michi. Os dois sao classicos do manga e apontados por varios artistas como a inspiracao para seguir a carreira. Para quem estah suando por um espaco, ler esses mangas preenche o vazio que sentimos as vezes com a frustracao de um trabalho mal recebido, ignorado pelo publico. Ou aquele que sentimos quando nao conseguimos encontrar a ideia certa, quando o mercado parece tao distante, a ideia de publicar parece tao impossivel. Eh a alma do mangaka.

Bakuman preenche a lacuna da versao dessa geracao para essa alma. Ler Bakuman deixa os dedos cocando, o papel branco parece implorar pra ser rabiscado. Acho que o mais proximo disso no Ocidente sao os livros de Will Eisner (acho os do McCloud interessantes, mas nao inspirantes) mas sao livros, materiais didaticos, conteudo. Nisso, Manga Michi, Otoko no Jouken e Bakuman sao completamente diferentes. Eles nao "ensinam", eles te dao informacoes valiosas enquanto voce le uma boa historia, que jah eh por si soh o melhor exemplo pratico.

—Alias, no Brasil nao conheco NADA parecido. Se bem que seria uma historia dramatica, publicar no Brasil tah mais pra um dramalhao mexicano, daqueles que tem um pobre, ferrado que eh chutado por todos os lados. Imagina, as editoras querendo publicar de graca, o publico que passa a mao na cabeca mas NAO COMPRA, fanzines saindo por editoras, o cara fazendo bico pra poder comer enquanto publica, tomando na tarraqueta, imitando Naruto, Pokemon, Bleach ou Dragon Ball, ou todos ao mesmo tempo… Nao, nao seria nada inspirador, muito pelo contrario.

Eu acho que eh sempre bom ter um manga desse naipe na prateleira, para poder folhear nas horas em que o mundo parece estar contra o teu sonho de ser mangaka. Pode nao te abrir nenhuma porta, mas faz uma coisa importante. Te lembra que voce soh nao estarah lah se desistir…

—————–

Em tempo: no tankohon, foi incluido a evolucao da historia, com o nemu (rascunho posterior da historia) na versao Oba Tsugumi e depois na versao do Obata Takeshi, antes dele desenhar. Eh bom pra ver o quanto Obata eh importante. Ele praticamente refaz tudo, dita o ritmo, acerta a decupagem… a narrativa visual eh completamente trabalho dele. Nao desmerece o roteirista, que ainda eh o dono das ideias otimas e dos dialogos afiados.

Os segredos de Tezuka

Yo!

Breve nota: A NHK lancou um DVD sobre Osamu Tezuka, o deus.

O DVD mostra os tres dias em que um reporter da NHK entrou no apartamento que Tezuka trabalhava e gravou, alem de uma enorme entrevista, momentos pessoais do maior nome do manga. Pra ter uma ideia de como esse video eh raro, nem os assistentes de Tezuka podiam entrar nesse apartamento, e quando ele deixava alguem entrar, nao conseguia trabalhar o resto do dia inteiro.

Na entrevista, ele fala sobre seus problemas durante o periodo em que nao conseguia publicar, sobre o futuro, sobre seu desenho e sobre ideias. Eh quando ele solta a frase “ideias, eu tenho pra fazer ateh uma liquidacao. O problema eh se eu vou poder desenhar tudo”. Temos tambem cenas que provam certas lendas sobre ele, como a de que ele trabalhava comendo em cima das paginas, de que ele plantava bananeira quando dava algum branco…

Claro, alem disso, temos cenas dele trabalhando, o que eh muito importante pra quem gosta de manga.

NHK Tokushu -Tezuka Osamu – Sousaku no Himitsu (O segredo de Producao) 4935yen

Historias marcantes

Yo!

Esses dias, eu tava esperando o banco abrir e fui numa livraria, procurar alguma coisa pra ler. Aqui, algumas livrarias fazem cartazes por conta propria pra vender livros que os donos recomendam. E foi muito legal ver um enorme cartaz, feito a mao, com imagens muito mal imprimidas em jato de tinta e recortadas, recomendando uma edicao de Doraemon.

Talvez voce, leitor, nao conheca ou nunca tenha se interessado por Doraemon, maior criacao de Fujiko F Fujiyo, nome de um dos artistas que assinavam como Fujiko Fujiyo. Mas no Japao, Doraemon eh um fenomeno, tradicional como o Mickey no ocidente. E nao por acaso.

A linha de historia de Doraemon eh bem simples. Nobita, que no futuro serah um grande inventor, se mete em enrascadas e usa a ajuda de Doraemon, um robo que sua versao futuristica mandou pra ajuda-lo. Pra isso, o robo-gato (auto-proclamado) usa invencoes tiradas de seu bolso magico.

No basico, eh isso. Mas vez ou outra, temos otimas historias, daquelas que ficam pro resto da vida em nossas memorias. Essa edicao que eu encontrei tem duas delas.

Sabe, eu sempre tive aversao por revistas que usam imagens de anime. Eh uma desgraca. Mas pela historia, valeu. E a montagem tambem nao estah ruim.

As historias em questao sao “A noite antes do casamento de Nobita” e “Lembrancas de minha avoh”. Sao duas historias classicas de Doraemon, tanto eh que nem foram adaptadas pro anime televisivo. Viraram longa metragem.

Em “A noite antes do casamento de Nobita” vemos os personagens jah crescidos, alguns dias antes do casamento de Nobita. A historia toda roda em torno da noiva, Shizuka, paixao do protagonista desde a infancia. Nobita duvida que ela possa realmente se casar com ele e vai pro futuro tirar a prova. Dai, vemos o motivo dela gostar de Nobita e na noite anterior ao casamento, ela conversa com seu pai, quase desistindo de casar. Uma simples historia que nao tem nenhum impacto, nem ao menos podemos dizer spoiler de tao obvia que eh a historia. Mas eh tao agradavel de ler, de ver, que ela sobra na cabeca.

Mas a cereja do bolo eh a historia em que Nobita vai rever sua avoh falecida. Pra ter uma ideia, essa historia figura entre as vinte historias mais lembradas dos animes japoneses.

Nessa historia, Nobita reencontra um antigo ursinho de pelucia, todo costurado, e relembra de sua avoh, que sempre cuidou dele quando ele era pequeno. Ele entao pede a Doraemon pra rever ela soh mais uma vez. Eles voltam ao passado, com a condicao de nao mexerem em nada.

A historia eh de cortar o coracao. A avoh de Nobita eh aquela tipica vovoh boazinha, que mima o neto e faz de tudo pra deixar ele feliz. E Nobita eh o tipico moleque mimado, faz birra, chora, e fala coisas duras pra avoh. O Nobita do presente chega a sentir odio de si mesmo por tratar tao mal a avoh que tanto se esforca pra fazer todas as vontades dele.

No final, Nobita acaba realizando o sonho de sua avoh, de ver ele ir pra escola. Ela faleceu antes dele ter idade pra isso, entao, o Nobita do presente eh quem veste a mochila.

Juntar essas duas historias em uma edicao eh quase covardia. Senti ateh vontade de procurar o DVD!

Essas historias eh que me fazem, as vezes, ver como estah tao dificil ver boas historias simples, que nao precisem de nenhuma grande reviravolta, nem nenhuma apelacao. Historias humanas, simples e que movimente desde as criancas, ateh os adultos.

O fim de Beck

OfimdeBeck

Yo!

Essa semana saiu o último volume de BECK, um dos meus must read. Comprei meio por impulso quando vi na loja de conveniência, esquecendo que saiu uma versão com a camiseta que o Koyuki usa no ultimo Greatful Sound. Vou ter que comprar mais dois volumes 34 de BECK…

Bem, mas o que eu queria no final das contas era falar sobre o poder narrativo de BECK. Afinal, quem nesse mundo iria se arriscar em fazer um manga sobre música onde não se escuta nada? Alias, vendo entre os detratores do manga, a maioria costuma trazer essa questão. Como um manga sobre rock pode ficar bom sem som?

E realmente, no começo  BECK não tem a técnica pra preencher esse espaço  Quem aqui leu o começo ou assistiu o anime, sabe que a historia quase não se apoia em seu lado musical, sendo uma especie de romance colegial com um background musical. E ele é bem competente nesse lado, ainda mais se pensarmos que o autor, Harold Sakuishi, vinha de dois mangas completamente diferentes.

Mais ou menos onde acaba o anime, começa uma nova fase de BECK, onde praticamente toda a trama pessoal dos personagens acaba ou é jogada em segundo plano pra que a historia se volte completamente para a banda e a carreira musical. É a partir desse ponto que vemos uma evolução grande no autor, na narrativa, na forma de colocar som em páginas mudas.

Em 20th Century Boys, Naoki Urasawa faz uma passagem onde Kenji canta uma musica. Essa musica é importantíssima pra trama, então  Urasawa teve a ideia de escrever a música e fazer a melodia, jogando nos quadros. Ele, nas horas vagas, tem uma banda de prog-rock, o que ajudou muito. É uma ideia…

Mas Harold Sakuishi nunca jogou nenhuma melodia em BECK. E todos que leram puderam sentir a música, inclusive perceber quando é uma balada e quando é uma musica mais agitada, quando a bateria explode, quando entra o solo de guitarra, tudo, só de acompanhar a leitura. E sem uma palavra, ninguém fala nada, nenhuma narrativa, às vezes, nem onomatopeias, só imagens. Isso é o que qualquer mangá com música busca, contar com imagens até mesmo o som.

Em uma passagem desse ultimo numero, logo no começo  temos uma sequencia que explora perfeitamente isso. Um quadro mostrando o vento forte soprando as árvores. As lojinhas sofrendo com a tempestade, e depois, um quadro mostrando o palco principal do Greatful Sound, com algum som entrando bem baixo, em onomatopeias discretas. O público vibra e o som parece aumentar. Em contraluz, Chiba aparece pulando, todo contraído  com o pessoal de fundo, fechando a página antes da virada. E ao abrir a seguinte, a gente dá de cara com um quadro em que Chiba se estica e começa a cantar. A página não tem um balão  até as onomatopeias somem. Mas dá pra sentir a explosão da música, o público gritando. O som corre as páginas como corre no ar, sem onomatopeias, sem imagem. Atravessa os olhos como atravessa os ouvidos, chegando dentro de nós.

Depois de BECK, muitos mangás com musica se deram bem de uma forma ou de outra. Porém, todos usam algum artificio para burlar os momentos musicais, emudecendo cenas onde deveria ter som. Não vou negar os méritos narrativos de Nana, Nodame Cantabile, Detroit Metal City e outros, eles são competentes, mas só usam a música como background. BECK ultrapassou esse limite, com dificuldade, em longos capítulos, mas esse último volume mostra o quanto Harold Sakuishi aprendeu a usar o som mudo de suas páginas. Quem iria fechar seu manga de maior sucesso com musica muda?

Comparando esses mangas que eu citei com BECK, a diferença se torna gritante no momento em que BECK perde os limites do shonen manga comum para ser o primeiro manga de música, de verdade. Como eu disse no final da minha auto-avaliação de TRUCO!, uma historia pode ser de qualquer coisa, mas sua essência é algo completamente à parte do assunto. Em Nana, temos como principal tema, a amizade e o relacionamento dos personagens. E isso é muito bem frisado e, claro, bem realizado. O background musical nunca sai do fundo, nem ao menos temos momentos musicais, paginas só de gente tocando. Nem ao menos sabemos que tipo de música as bandas de Nana tocam, tanto é que cada adaptação que Nana já teve tem um ritmo diferente, um tom diferente. Eu também leio Nana religiosamente, mas por outros motivos. Não pela música, mas pela aula de tratamento de personagens.

Nodame corre pelo mesmo caminho. Temos momentos onde até podemos ouvir a música, mas é porque a música clássica é quase natural, é fácil jogar som na imaginação de gente que já sabe como é o som. Fora isso, assim como Nana, Nodame Cantabile trata da relação dos personagens, como pede a cartilha dos mangas femininos. Sinceramente, lendo Nodame Cantabile, eu cansei. Gosto das piadas e o ritmo é bom, mas parece não levar a lugar nenhum. O anime empolga mais e as piadas de som ficam muito mais claras. Gosto da equipe que fez o anime, o mesmo de Hachimitsu to Clover. O desenho é simples, a animação é cuidadosa e o ritmo da direção é bom, não pesa, mas não deixa a peteca cair. Se pegasse historias com mais ação, não sei se funcionaria do mesmo jeito, mas neste tipo de história, é perfeito.

Detroit metal City… Bem, eu não gosto tanto. É engraçado às vezes, a ideia é perfeitamente idiota, como pede, mas não entendo… Até onde eu li, não sei bem o que pode salvar a historia de não cair na vala comum dos gag manga. Fiquei curioso por causa do hype em cima do manga, gente comentando na TV, altas recomendações em revistas… Talvez tenha pegado em algum ponto fraco do meu gosto, sei lá… Mas até filme isso virou, e com o Matsuken, o atual ídolo-maior-otaku-dos-cinemas, o cara que fez o L, do Death Note. E parece que o filme vai bem…

BECK se provou pra mim como não só um manga muito divertido sobre rock independente, mas como uma nova proposta de narrativa, um caminho novo pros mangas. Aguardo ansioso o próximo trabalho de Harold Sakuishi e espero poder falar bem. O cara eh talentoso!

Pra fechar, os meus atuais must read, depois do fim de Beck:

One Piece – Criativo, ritmo perfeito, engraçado e mesmo depois de mais de dez anos, não parece precisar de um fim.

Hunter x Hunter – Aula de manga, narrativa, criatividade, roteiro imprevisível,  inteligente. E completamente feito sem assistentes, só umas vezes que a mulher do Togashi, a Naoko Takeuchi, ajuda ele.

Zetman – Porque sou fan do Masakazu Katsura. E tenho motivos, ele tá ótimo, em todos os sentidos. Zetman não é pop, mas é bom sim! Ajudaria se tivesse menos texto e mais história.

Pluto – O último trabalho restante de Naoki Urasawa, meu mestre espiritual dos quadrinhos. A filosofia dele pros quadrinhos é perfeita, ser popular sem deixar de ser inteligente e tecnicamente ousado.

Worst – Continuação não continuada de Crows, que virou filme recentemente. Na verdade, só usa o mesmo cenário e alguns personagens. Engraçado como um manga sem linha de historia, sem destino e completamente sem sentido pode ser tao interessante.

Tiro Nana que caiu muito ultimamente, Eyeshield 21 tá acabando e Besharigurashi ainda tá mais ou menos…

Blog de mangá e quadrinhos, para quem faz e quem gosta!