>Livro do primeiro ministro bate recorde com os otakus

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Yo!

Dia 10 de Marco.

O forum “2 Channel”, conhecido entre os otakus no mundo todo pelo Densha Otoko, a novela que ocorreu dentro do forum, protagonizou essa semana mais um grande evento que mexeu com as prateleiras das livrarias.

O livro Totetsumonai Nihon (algo como “Incrivel Japao”), lancado a dois anos atras por Taro Aso, atualmente Primeiro Ministro do Japao, vendeu como agua apos uma campanha lancada no forum.

A proposta era comprar o livro para apoiar Aso, conhecido no meio otaku por ser um companheiro. Fan de mangas, ele foi o autor de diversas leis apoiando a cultura pop durante sua vida politica.

O Primeiro Ministro hoje, vive o pesadelo politico. Segundo sucessor do cargo, Aso passa pelo pior momento economico do pais em cem anos. Sofrendo pressoes de todos os lados, ele eh o Primeiro Ministro menos popular da historia. Porem, os otakus ainda tem esperancas.

Totetsumonai Nihon vendeu como agua. O livro, que tinha uma venda infima, quase invisivel nos rankings, chegou a 100 lugar ateh esse evento. De um dia pro outro, o livro vendeu milhares de copias, chegando ao 10 lugar em um dia, e hoje, em primeiro lugar. O ritmo de vendas eh o mesmo de um best seller de milhoes de copias, o que fez a editora do livro se apressar em tirar novas copias.

Taro Aso ainda tem mais dois livros, um anterior e outro posterior, que tambem tiveram vendas aumentadas. No Amazon japones, alem de Totetsumonai, mais um estah entre os dez mais vendidos. Pra ter uma ideia, em terceiro lugar estah a versao Kanzenban do final postumo de Slam Dunk “Dez dias depois”.

Em meio a essa feliz surpresa, o Primeiro Ministro deu um sorriso e se mostrou surpreso.

Pelo menos em Akihabara, Taro Aso eh o mais popular Primeiro Ministro.

>Dragon Ball Z revisado

>http://www.toei-anim.co.jp/tv/dragon_kai/

A Toei vai refazer Dragon Ball Z, a partir de Abril, dia 5. Na Jump foi anunciado que a animacao vai ser refeita em formato digital e que a abertura vai ser completamente refeita. Espero que fique bom, Dragon Ball ainda vende bem, o DVD da serie vende rios, seja em box, seja avulsos, especiais, jogos, tudo. Se a historia seguir o manga mais fielmente, sem fillers, sem firulas e sem delongas, acho que tem tudo pra reaquecer (mais – e de novo) a franquia, provavelmente a maior dos mangas.

Ah, a serie vai se chamar Dragon Ball Kai (que significa "revisado")

>Bakuman – parte 2

>Yo!

O post anterior na verdade, deveria ter sido a segunda parte do post sobre Bakuman. Lembrei depois que terminei.

O assunto em questao deveria ter sido a diferenca entre os autores, a forma de criar. Em Bakuman, isso eh enfatizado pelo rival da dupla da historia. Niizuma Eiji eh a natureza da criacao. Genial, talentoso, sua vida se resume ao manga. Quando estah criando, ele entra na historia e em certo ponto, ele mesmo diz que nao sabe o que esperar de suas historias, ele mesmo fica ansioso pra saber como vai ser. Isso porque ele deixa os personagens viver e escolher os caminhos.

Por causa disso, sua forma de criacao tambem eh diferente. Ele nao faz o nemu, o rascunho da historia. Eiji parte direto pra producao das paginas. Vai desenhando direto com a pena, sem lapis. Pra uma pessoa comum, isso eh impossivel. Voce precisa ter uma imagem muito forte da cena e uma habilidade muito grande pra passar essa cena pro papel.

A outra opcao eh a de Akito, escritor da dupla. Ele faz sinopses, pensa em historias por dias, e soh entao eh que ele faz o nemu, para que seu parceiro desenhe. Suas historias sao planejadas, as reviravoltas sao colocadas sob medida e a trama eh mais inteligente. Para algumas historias, isso eh simplesmente inevitavel, voce precisa de um pouco de planejamento, por exemplo, se quiser fazer uma historia de suspense, ou uma grande conspiracao, como 20th Century Boys.

Em 20th Century Boys, Naoki Urasawa, autor de Monster, faz uma historia de herois completamente peh no chao, usando elementos pops e a onda de nostalgia que se espalhou pelo mundo todo nesses ultimos anos. A historias comeca com flashs diversos de historias que vao aparecer somente dez, vinte volumes pra frente. Sao anos de publicacao! Talvez ele nao tivesse tudo planejado, mas de certa forma, ele precisou armar um esquema para que a historia seguisse um trilho.

Porem, alem disso, Urasawa eh um meste em criar personalidades. Cada pessoa que aparece na historia eh verdadeiro, real. Cada um tem um jeito diferente, lembra alguma pessoa real que voce jah deve ter visto e age conforme o esperado.

Eh a uniao do modo Eiji, de deixar os personagens agirem, com o modo Akito, de planejar tudo.

Ai, volto para minhas antigas historias. Na minha experiencia (??), eu jah fiz de tudo. Ateh Dream Maker, eu praticamente nao fazia rascunho, desenhando direto, soh finalizando depois. Minhas historias soh tinham mais ou menos a quantidade de paginas marcadas – quatro ou cinco folhas sulfites dobradas no meio, que dao mais ou menos vinte paginas por historia – e eu ia escrevendo e deixando as ideias cairem na folha. Assim, em duas horas eu tinha a historia completinha. As vezes, menos. E eu escrevia muito e tinha muitas ideias! No Brasil, eu tinha um armario onde um espaco, de mais ou menos um metro cubico, era soh de historias em folhas sulfite dobradas no meio. Eu gastava um bloco de 500 folhas em um mes, dois. Era cliente da Kalunga da Vila Mariana…

Eu era um Eiji. Nao tinha pretensao de virar profissional, era soh um hobbie, que nasceu do meu gosto por desenhar, mais o prazer de ler, que eu tinha descoberto a pouco tempo, com X-Men. Meu negocio era desenhar, criar personagens, historias, imaginar.

A primeira mudanca na forma de escrever aconteceu quando eu comecei a fazer fanzine com alguns amigos da escola. Escrever em grupo, com tres, quatro pessoas no mesmo comodo, conversando e trocando ideias, ou simplesmente com os outros lendo no meu ombro, enquanto eu escrevia, jah mudava.

O modo Eiji de escrever infelizmente eh um jeito bem egoista de escrever. Voce escreve pra voce mesmo, o que voce quer, da forma que voce preferir. Por isso, eh o terreno dos genios. Fazer algo realmente bom disso eh algo em torno de um em um milhao. Nao existe um know how de como fazer leitores, voce precisa esperar o resultado. Nesse caso, o modo Eiji eh uma loteria, onde voce tem soh o talento criativo como arma.

Por isso, trabalhar em grupo foi uma coisa muito boa. Alem de agregar novas ideias e formas de criar, voce ainda tem um feed back instantaneo. Voce sabe o que agrada e o que nao agrada na hora. Claro, tem aqueles que gostam de passar a mao na cabeca e tudo que voce faz eh muito bom. Mas nao deixa de ser proveitoso, nem que seja como apoio moral.

Dessa epoca, eu tive minhas primeiras experiencias de colaboracoes. Em geral, eu escrevia para alguem desenhar. Basicamente, eu fazia o que eu sempre fazia, sem finalizar. Dai, alguem desenhava por cima.

Com o tempo, isso me ensinou como eh importante ter algum planejamento. Pensar nos leitores eh uma coisa, mas pensar em um possivel parceiro de trabalho eh completamente diferente. Se voce nao passar a ideia certa, nao souber expressar sua visao da forma correta, o desenhista pode errar, pode fazer diferente, pode colocar elementos que nao existem e nao colocar outros, e na pior das hipoteses, pode mudar a historia.

Mais pra frente, eu pretendo escrever sobre algumas formas que eu conheco de como indicar o desenhista.

Escrever, quando passa da fase do escrever por prazer e passa a ser escrever para alguem, com algum objetivo, eh algo muito mais complexo. Esse inclusive eh o tema das historias mais recentes de Bakuman. Nao importa o quanto voce ache que tem talento, que eh um genio. Lidar com a sorte, jogar com seu publico pode dar uma chance pra voce um dia, mas nao todos os dias.

Em Bakuman, os proprios editores falam que Eiji eh o tipo do sucesso instantaneo, mas descartavel. Eh o tipo de pessoa que faz um grande sucesso mas nao consegue implacar outros. Pro lado da editora tambem eh uma loteria…

Historias antigas e personagens bons.

Yo!

Eu estava arrumando meu quarto, coisa que soh acontece em ano bissexto, e milagrosamente aconteceu esse ano. Entao, no meio da bagunca, achei algumas historias antigas, umas que me deixaram particularmente orgulhoso, outras, nem tanto.

Eu pretendo algum dia poder avaliar algumas delas aqui. Tenho varios capitulos de Dream Maker, uma comedia romantica que fiz no impulso de I”s e outros mangas que eu lia na epoca. Tem o meu primeiro fanzine publicado, Demon, que eu criei anos atras, aos dez, onze anos. Uma historia nada saudavel pra uma crianca escrever, sobre um cara que faz um pacto com o demonio e volta ao mundo dos vivos pra descobrir que toda sua vida jah andou sem ele. Logo em seguida, Todd McFarlane anunciou que seu titulo, na vindoura Image Comics, tinha a mesma ideia.

Pra mim, a historia era completamente diferente, apesar da mesma premissa. Voltando minha memoria, lembro de como fiquei revoltado quando soube disso, mas pensando bem, Spawn era bem diferente. Demon era humano, somente um grande feladaputa, sadico, mentiroso… Minha diversao na epoca era criar as torturas e ameacas mais estupidas, do tipo arrancar a pele com uma colher de pau, quebrar os dentes e fazer engolir… Meus amigos morriam de rir com essas ideias estupidas.

Alem de tudo, ainda tinha a mascara, que era uma copia clara da mascara do Wolverine. Na epoca, eu lia X-Men religiosamente, o que explica. Todo mundo tem um heroi copia de outro. Mais pra frente, me cansei dos meus colegas de zine chamando Demon de Wolverine de ferro e mudei o visual, tirando a mascara e colocando um tapa olho, pra fechar um olho que ele vaza no meio da historia.

Ele foi o meu xodoh por anos, ateh eu cansar de historias de heroi e comecar a tentar coisa diferentes. Foi ai que eu fiz Dream Maker. Eu comecei a ler manga, ainda em japa, mais ou menos nessa epoca. Trabalhava na Liberdade, entao, sempre dava uma olhada nas livrarias da regiao.

Dream Maker envolve algumas viagens minhas, algumas experiencias e meu gosto por comedias romanticas. Reler os capitulos me fez relembrar como eu me esforcava em fazer piadas. Vou ser sincero, nao nasci pra comedia. Meu senso de humor eh muito peculiar, nao eh facil fazer os outros rir assim. Mas em Dream Maker, eu arriscava historias inteiras disso, sem contar as passagens romanticas, que me enchem de vergonha.

Depois de Dream Maker, eu pensei em fazer uma historia que misturasse as comedias romanticas com acao e piadas diferentes. Foi quando eu criei Ace Spade, uma historia de espionagem e comedia, com um pouco de romance.

Relendo Ace Spade, eu percebi meu ponto alto nas piadas. Eu consegui rir delas, mesmo que as paginas ainda estivessem sem texto (eu parei na metade, desisti dela). Tambem foi uma epoca em que eu comecei a testar um traco mais leve, agil, com mais angulos ousados e comecando a usar um pouco de narrativa visual de verdade.

Meu proximo manga seria True Love, outra comedia romantica, com cupidos tentando acertar um triangulo amoroso para poderem subir de cargo. Foi meu primeiro trabalho feito pra teste na Shonen Jump. Hoje, soh guardo de boa lembranca, uma pagina onde eu testei um giro de camera, uma ideia muito legal, que eu uso ainda hoje.

True Love foi ainda meu primeiro manga em papel especifico pra manga. Ateh aqui, eu usava sulfitao. Foi um trabalhao pra aprender o que significava as marcacoes, e me inibiu muito na diagramacao. Nao sabia qual era a linha de corte, ateh onde eu podia desenhar, colocar baloes…

Chegamos entao em Cyberserk. Pra mim, foi o ponto alto. Finalmente um trabalho onde eu pude aplicar narrativa, uma historia bem pensada, planejada… Foi minha segunda historia para concursos da Jump e a primeira que saia do genero de comedia romantica. Era claramente uma historia de aventura. Nao que eu nao tivesse feito nada diferente disso antes, mas Cyberserk foi provavelmente a primeira vez que eu consegui algo realmente significativo.

Revendo essas historias antigas, eu pude ver muita coisa. O quanto minhas historias precisavam de narrativa, o quanto eu fugia do assunto principal que eu gostaria de abordar em cada historia. Nas primeiras, ateh a essencia fugia, por que eu pretendia somente me divertir com herois. Nao havia nada pra contar, eu somente fazia historias com coisas que eu achava legal.

Eh tao estranho voltar no tempo e ver o que mudou. Ver o quanto eu gostava de super heroi, depois, de comedia romantica. E apesar de tentar outras coisas, eu estava sempre centrado em fazer o que eu gostava. As vezes nem ao menos tinha algo pra contar, eram soh historias de porrada ou coisa assim. Mas ai eu percebi uma coisa que eh muito interessante pra mim hoje.

Meus personagens pareciam vibrar na historia. Eles tinham mais vida, eu via eles viverem na historia ao invez da historia os levar.

Isso me lembra o texto final do quarto volume de QP, manga de Hiroshi Takahashi, autor de Crows.

Takahashi agradece o pessoal que se voluntaria pra ser assistente dele e que sonha em ser mangaka. E depois dah umas dicas basicas do que fazer pra se tornar um. A primeira eh escolher o genero que quer fazer, mas nao do tipo “…entao, vou fazer um manga de esporte”. Tem que ser aquele que te escolhe, que voce nao tem como fugir, aquilo que voce gosta, entende e poderia falar por horas, dias, sem parar. A segunda eh criar um personagem principal cativante. Por que? Por que ter um personagem cativante e bem estruturado eh praticamente jah ter sua historia. Um personagem bom nao precisa de historia, mas a reciproca nao corresponde.

Isso me fez voltar aos mangas de Takahashi e lembrar o que torna ele tao bom.

Vou explicar. Eu comprei um volume de Worst, continuacao de Crows com outro protagonista, meio sem pretensao, soh por curiosidade. Afinal, existe um ar cult nesse manga que era inexplicavel pra mim. Serio, figuras da serie sao vendidos a 15, 30 mil ienes alguns (dah uns 300 dolares! Imagina agora, na alta do iene).

Lendo esse volume, numero um de Worst, eu entendi. A historia simplesmente nao existe. Eh somente o cotidiano do colegio Suzuran, lar dos maiores vandalos da cidade, que nunca tem o nome citado, mas parece ser algum lugar em Yokohama. Mas voce nao consegue parar de ler.

Os personagens arranjam brigas, lutam por territorio, jogam conversa fora, falam sobre seus sonhos pra depois de se formar, sobre o que gostam… E mais nada! Claro, tem uma coisa ou outra, sem relevancia alguma, muitas vezes esquecida, que poderia ser um fiapo de historia. Mas o mais interessante eh como os personagens te fazem acreditar na historia e muitas vezes, ateh sentir respeito e admiracao por eles.

E nao eh todo personagem que voce pode fazer isso. Eh dificil criar um personagem que atraia algum sentimento real, ainda mais o respeito. Po, eh um pedaco de papel! Mas quando a bidimensionalidade dah lugar a profundidade de um personagem, o mundo parece tomar forma.

Eh esse tipo de personagem que eu pretendo construir. Que qualquer um deveria pretender construir. Um personagem certo, com gosto, que odeia algo, que tem manias e que possa parecer humano. Eh uma coisa que eu sabia pela natureza, que eu fazia sozinho, mas que o tempo e a obcessao por tecnicas que o estudo trouxe matou.

O melhor de criar bons personagens eh que ele te indica o caminho. Um personagem bem construido te diz nao quando voce quer que ele faca alguma coisa indevida a personalidade dele. E muitas vezes, anda sozinho, decide dentro de sua cabeca o que vai ser da historia e como ela vai terminar.

Demon era sadico. Era doente de tao sadico. Mas ele seguia suas regras, gostava claramente de algumas coisas, respeitava algumas coisas e detestava outras. Lembro que isso definia a historia, depois, eu soh dava o rumo, deixando o personagem decidir.

O proprio Wolverine, hoje arroz de festa da Marvel, comecou a ser festejado por isso. Ele eh (ou era) um personagem simples e definido. Ele nao tinha neuras, traumas. Ele gostava de algo, nao gostava de outra coisa. Fumava, bebia e matava, mas tambem era o cara que segurava os personagens que passavam do limite. Nos viamos a personalidade dele e suas historias eram condizentes. Nao tinha como errar, o Wolverine era “o melhor no que faz” e ponto. Ateh os caras decidirem lah de cima que ele viraria o Emorine. Mataram a praticidade dele e assim, mataram as chances de boas historias.

E o que dizer de Naruto? As primeiras historias mostravam o lado mais interessante dele, o olhar certo, pra frente e que nao desiste nunca. Isso o tornava o personagem mais interessante, de longe. Mas ele tambem foi emotizado, ficou triste, raivoso, sei lah. A imagem que tinhamos dele, dando aquele sorriso malandro e gritando que iria se tornar o Hokage, morreu. E com isso, morreu a historia, que hoje eh uma vaca manca, tentando pastar. Se esforca, mas nunca consegue nenhum ponto alto.

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Manga, nao sei o que eh. Mas com certeza, investir nos personagens eh parte do manga. Todo manga investe em personagens coesos, simpaticos ou pelo menos, criveis. Me remete a Tezuka, que dizia que suas historias mudavam de acordo com o personagem que ele usava pra contar.

Nao estou encontrando um jeito bacana de fechar esse post, enorme… A cada linha me vem mais ideias, por isso… Fica pra um proximo post! (nao fechei!)

PS – O Hiroshi Takahashi continuou, com uma terceira regra. Criar nomes marcantes. Nomes legais ajudam a manter o personagem na memoria. Ele tem o costume de pegar o dicionario e escolher dois kanjis e completa-los pra formar um nome. Ou pega do meio de listas de resultado de concurso. O importante eh o nome bater com o personagem, por que eh como ele vai ser chamado sempre.

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