Sem cota, o quadrinho nacional vai muito bem

Semcota

Yo!

Vamos discutir um pouco, né? Bora ver!

Como visto em matéria original do Judão.

A Comissão de Cultura e Artes divulgou o novo texto da Lei de Incentivo aos Quadrinhos no Brasil. E a notícia boa é que a grande besteira das cotas de material nacional foram abolidas. E, melhor de tudo, em uma época em que as editoras têm buscado material nacional de uma forma ou de outra.

Agora o texto é mais racional e ao invés de punir editoras que não as obedeça, ela premia aquelas que escolhem seguir sua indicação. A linha é tênue, mas a diferença é de água e óleo. Na atual versão, a proposta de lei dá descontos de até 50% no imposto de renda de editoras que tenham em seu acervo uma porcentagem de páginas criadas por autores brasileiros produzindo no país. Os 20% de produção nacional da cota de antes agora rendem 30% de abatimento no imposto de renda. E 30% acarretam em um desconto de metade de todo o recolhimento. Uma boa notícia.

A redação da PL saiu do gabinete do Deputado Federal José Stédile (PSB-RS), que modificou o texto para se adequar às críticas. E o resultado ficou bem melhor. O próximo passo é enfrentar a triagem dos três poderes e, quando atravessar tudo isso, ver em prática o que isso muda no jogo do quadrinho nacional.

Em 2008, quando a primeira versão dessa PL foi anunciada, a controvérsia reinava no assunto. Cotas e cocotas do quadrinho nacional foram debatidas, haviam os que eram a favor de cotas que beneficiassem quadrinhos nacionais e, claro, os que diziam que editoras iriam preferir fechar as portas a publicar obrigatoriamente material, qual fosse a origem, que não respeitasse algum nível de qualidade.

Minha opinião, pessoalmente, era contra as cotas, não só por trabalhar para uma editora, mas mesmo como autor, não vejo como fértil um terreno onde crescem abundantes as ervas daninhas. Que nosso terreno, pequeno, seja preenchido por mudas frutíferas hoje, pra que no futuro, esse terreno seja maior e possamos plantar flores também.

Em 2012, eu escrevi esse texto sobre as crianças mimadas do quadrinho nacional.

Quadrinhos Dependentes (ou “Oh Lord, Won’t you buy me a Mercedes Benz”)

Eu ainda sustento minha opinião da época e acho que dar cota para autores que se dizem independentes é como pagar um apartamento para o filho “virar adulto”. A independência de autores sustentados pelo governo é falsa e mascara a deficiência de autores pernetas que querem ter o direito de ser centro-avante da Seleção Brasileira.

No modelo atual da PL, com isenção fiscal, teremos uma escolha dada às editoras, que poderão (e muitas irão, de qualquer forma) planejar uma linha autoral e criar acervo, uma coisa que nos deixa carente no Brasil. Editoras publicam muito, mas nenhuma cria alicerces de verdade pois não têm catálogo. Por exemplo, se uma editora de mangá, como a Panini ou JBC (principalmente a JBC) recebe a notícia de que a Kodansha decidiu abrir uma filial no Brasil, do dia pra noite, as brasileiras perdem diversos títulos de catálogo. Por mais que outros títulos mantenham uma estrutura, o planejamento todo muda e, quem tem empresa sabe, isso pode significar um baque enorme e até o fechamento da empresa. Com um catálogo próprio e autores em sua aba, as editoras criam vigas para sustentar a editora, vigas que levam mais tempo e necessitam de mais trabalho, mas que irão render a longo prazo. E, com a negociação de direitos, abre ainda a perspectiva de tornar a editora uma licenciante, papel que as nossas conhecem só do outro lado da mesa.

Tudo isso posto em pauta, ainda tem coisas que eu não consegui entender. Primeiro, como destacado pela matéria original, não sabemos se isso faz conta com páginas de texto ou se são apenas páginas de quadrinhos. Depois, não vi nada sobre a menção de conteúdo geral da editora. Por exemplo, uma editora como a Companhia das Letras publica diversos livros e alguns quadrinhos. Incluímos os livros ou pensamos só em quadrinhos? Afinal, o desconto será no Imposto de Renda, que engloba toda a renda obtida pela editora, seja com livros, seja com quadrinhos, e geraria editoras de livros que publicam um quadrinho nacional qualquer para receber isenção (o que não seria ruim, mas tá longe de ser o esperado). Não temos também menção quanto à mídia. Ou seja, só vale pra papel ou podemos levar em conta páginas digitais? Em tempos de Comixology gigante e Crunchyroll trazendo mangás junto de animes, acho que algumas editoras já se mexem nesse sentido.

Acho que seria muito, muito interessante esses prêmios culturais também apoiar editoras e empresas de tecnologia que mirem no futuro. Empresas que desenvolvem aplicativos de distribuição digital de quadrinhos pro mercado brasileiro, editoras que investem em alternativas para viabilizar projetos interessantes… Coisas como o financiamento coletivo do retorno dos Combo Rangers pela editora JBC e a publicação de Ledd como webcomic e depois em papel pela Editora Jambô deveriam ser incentivados, pois não desmerecem os autores envolvidos e torna possível que materiais que diriam “inviável” ou “impossível” antes, se tornem realidade. Que fique bem claro, nos dois exemplos, os autores recebem como profissionais e trabalham da mesma forma.

E o momento é propício, o interesse real de muitas editoras por material nacional só não é maior do que o que houve no boom dos quadrinhos nos anos 90, que infelizmente, deixou pouco legado.

Talvez a PL ainda leve alguns anos pra se tornar realidade, talvez ela ainda seja revista mais uma vez e quem sabe ela escorregue nas votações. Mas com certeza, essa proposta encontrou uma forma muito mais simpática para todas as partes. E que as editoras não esperem ela ser aprovada! Quanto antes começarmos, melhor!

 

E você, o que acha?

ATUALIZAÇÃO: O autor da lei, Bernardo Aurélio, filho do Deputado Simplício Mário (PT-PI) mandou mensagem para mim informando mais sobre os bastidores da PL e com o texto integral para quem quiser ler. Entre no blog dele!

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Compra o Ledd! E vai sair o 3 já já!

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Compre a volta dos Combo Rangers!

20 ideias sobre “Sem cota, o quadrinho nacional vai muito bem”

  1. Finalmente nosso governo entendeu que se você obriga as pessoas elas fazem qualquer coisa, e a maoria fica um lixo , e não por culpa da editora mas da lei que é ridicula , bem mas a nova dá chance dela pesquisar e ganhar , pois se puder ter isenção e ainda fazer algo que agrade o publico ira aumentar seu lucro e até a qualidade aos poucos, digo o mesmo para qualquer cota se obrigar as pessoas as coisas serão feitas nas coxas , e se dar alguma coisa elas vão fazer sorrindo e irão fazer seu melhor afinal elas não tem o que perder só a ganhar com isso.

  2. Qualidade é melhor que quantidade, ainda mais uma quantidade que mais queima o filme com o leitor e perpetua aquele “preconceito” que ele já tem com quadrinhos nacionais.

  3. To contigo meu amigo…acho q o quadrinho nacional apesar de EXISTIR, e de estar em franca expansão e mais do q isso, franca evolução técnica, ainda acho q ainda nos falta o mercado e obviamente o consumidor. Temos mais oferta de bons artistas do q procura por parte dos consumidores, e a “fórmula” a ser adotada pra q essse mercado sustente os artistas ainda não foi encontrada…como vc disse temos que buscar parceiros…inclusive de outras mídias…

    1. Discordo só da parte dos bons artistas. Temos muitos talentos, verdade, mas falta profissionais disponíveis no mercado. Quem desenha bem mas tem ilusões de grandeza ou desejos incompatíveis com a situação dele e da editora pode continuar fazendo comission pelo Deviant Art pros gringos mesmo.

      Quem QUER MESMO fazer quadrinhos, esse tá muito em falta.

      1. Não entendi bem…o q significa querer?O que seria um artista que quer mesmo fazer quadrinhos?O q faz e cobra pouco?os artistas bons estão fora da realidade?não to sendo irônico, to mesmo tentando entender a idéia

        1. O profissional trabalha, o ‘iludido’ não. O cara que gosta de fazer quadrinhos, faz por amor, faz com vontade, mesmo nos piores terrenos, e faz direito. Os iludidos, fazem com um objetivo de ser ‘sucesso’, ser conhecido. Acredito ter sido algo assim a idéia dele. O que mais temos são pessoa iludidas com grandeza, e poucas pessoas realmente querendo fazer apenas, um bom trabalho. Minha base vai no conteúdo já publicado na internet, e eu tenho uma certa decepção. Poucos trabalhos são realmente feitos para se ler, e não pelo sucesso. (Pode não ter sido isso o sentido do que o Sakuda disse, mas fica meu pensamento… O.o)

          1. Tb entendo dessa forma.E isso tem em todo lugar…na música, no quadrinho etc…Entendo perfeitamente e concordo com a visão de haverem os “iludidos”, uns com o q querem ser, e outros com o que acham que são. E concordo tb que, se peneirando bem, realmente pouca coisa se salva de qualidade, inclusive de artistas consagrados lá fora por exemplo, principalmente no quesito roteiro. Não sou de passar a mão na cabeça só pq o material é nacional.(o mesmo vale pro de fora, claro).Se queremos ter um mercado respeitado, de qualidade, que atraia leitores e parceiros precisamos mostrar um material de qualidade(embora isso nem sempre seja sinonimo de vendas, ok). Mas é o mínimo que se deve buscar. Senso crítico e noção da realidade é muito importante pro momento que a gente tá vivendo. A produção tem q ser interessante pra todos. Editoras, artistas e obviamente, consumidores.

        2. Tem muita gente que tem talento e não tem caráter, por exemplo. Mas o mais normal é um cara que nunca publicou querer fazer o que ele quer do jeito que quiser e achar que a editora tem a obrigação de garantir isso pra ele. E tem os que acham que podem e devem receber o que se ganha nos EUA e Japão. A conta não bate com o que se vende aqui. Se o cara provar que vende o mesmo que Naruto, acho que dava pra pagar o que o Kishimoto ganha, né?

          O que as pessoas tem que entender do lado da editora é que elas estão assumindo um risco ao te contratar, um risco de alguns milhares de reais. Mas não significa que os artistas precisam mendigar trabalho. Saber se valorizar também faz parte de ser um bom profissional.

  4. De um depois para cá estão muitas portas para quadrinista brasileiros,ate mudaram a leis para isentivo. Porem uma duvido eu tenho sera que publico ira contribuir com esse novo cenário?

    1. De qualidade, tem várias. A JBC abriu concurso e o Cassius, mesmo que seja só a vontade dele sozinho, tem interesse. A NewPOP, não é de hoje, tem interesse. O problema é que pra ser competitivo, o que as editoras buscam tem que ter um nível além do que a média apresenta. Mas é só procurar, e principalmente, saber dialogar, que muitas editoras estão querendo.

      Dá uma olhada nesse post.
      http://www.genkidama.com.br/xil/quero-mangaka/

  5. O objetivo disso é ter controle e censura da indústria.
    Assim como o Ancine e as “leis de apoio” impediram o renascimento do cinema Brasileiro e o enterraram de vez.
    Midias como quadrinho foram grande armas para educação do povo e o combate contra a ditadura, são coisas que nosso governo não querem mesmo.

    1. explique então como essas leis impediram o renascimento do cinema brasileiro e conta qual o momento você considera a morte do cinema brasileiro.

      1. No inicio dos anos 2000 ouve o que foi chamado de retomada do cinema Brasileiro.
        Os incentivos e a Ancine se tornaram uma censura prévia obrigatória.
        Para se fazer um filme é necessário mandar seu projeto para um edital e ser aprovado por uma comissão cujos critérios não sao revelados, mas só gente de uma seleta panelinha que fazem filmes com determinado conteúdo político são aprovados.

  6. Aos poucos parece que as coisas estão se encaminhando bem aqui no Brasil. Quem diria que um dia poderíamos ter algum sucesso como autores? Agora já é possível, e tende a ficar mais “fácil” daqui em diante.

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