Yo!

Por que aquela figure do careca não é Figuarts. Se tivesse pelo menos algumas articulações… Bora ver!

A notícia tá circulando por aí já. Três animes foram indicados pra pré-seleção do Oscar, o que significa que estão a um passo da premiação. Porém, o que mais impressiona os otakus não é o retorno de Hayao Miyazaki com seu Kaze Tachinu.

O novo longa de Madoka Magica, Hangyaku no Monogatari, leva o anime pop, o anime de raiz, o anime da TV, aquele true roots, à mais popular (e superestimada) premiação da categoria. Pela primeira vez, um filme de anime televisivo é citado na premiação, e se ele for escolhido entre os nominados da noite, será, sim, um marco de reconhecimento para a animação japonesa como um todo. Imagina se Madoka… vencer?

A chance é remota? Talvez, talvez não. Vamos levar em conta que tivemos um ano meio morno pra animação em si no mundo, com continuações de Monsters Inc. e Tá Chovendo Hambúrguer, mas nenhum blockbuster incontestável como em anos anteriores. Pro Brasil, temos um fato à parte digno de nota. O longa Rio 2096: A Story of Love and Fury (Uma história de Amor e Fúria), de Luis Bolognese, está nessa mesma lista preliminar e pode ser indicado também.

Portanto, os três longas japoneses, o de Madoka, o de Miyazaki e Momo e no Tegami, de Hiroyuki Okiura (colaborador de Mamoru Oshii em Ghost in the Shell, Innocence e Jin-Roh) aproveitam o fato de estarem um ou dois passos adiante dos outros, seja em experiência, seja em produção (sem contar os grandes americanos, claro). Miyazaki já provou ser oscarizável, Okiura segue pela linha Ghibli de ser, apesar de fazer parte do acervo da Production IG. Mas Madoka é algo completamente fora do contexto da premiação, uma história que muitos diriam ser difícil de engolir pelo grande público e que faz muita referência à otakices que só os fãs de animação japonesa se identificam de alguma forma.

Só que o que faz muitos subestimarem Madoka acaba sendo sua força.

A proposta de desconstrução do gênero, pervertendo conceitos e quebrando tabús, vai além da coragem (ou burrice) de enfrentar a opinião pública, precisa ser algo ponderado, relevante, pra não ser simplesmente uma quebra de regras e sim uma revisão de conceitos. Para o quarteto que criou Madoka Magica, a proposta não foi tão simples e por esse motivo, pode ser comparada à Evangelion ou Watchmen. Para violar a pureza do conceito das garotas mágicas, Madoka respeitou suas formas, incluiu pequenos ganchos no véu de seda e então o ergueu, desnudando o conceito na frente de seu público e nos fazendo não somente ver com olhos cínicos a forma desse tipo de história, mas reconhecer cada detalhe e suas fragilidades, não somente como um estupro violento de gênero, e sim como um tapa da realidade, que pode levar as Mahou Shojo a um novo patamar. No fim, Madoka ainda continua sendo uma reverência.

Da mesma forma que Watchmen atribuiu um realismo duro e violento aos super-heróis, Evangelion colocou filosofia e questionamentos na luta de gigantes dos mechas. E Madoka trouxe melancolia e profundidade às meninas que lutam como garotas mágicas.

Subverter as garotas de sainhas que lutam pela justiça não é invenção de Madoka, acho que existem outras histórias que tentaram, como Puni Puni Poemi, mas o mérito de Madoka é a excelência de execução. Mesmo que tenha suas qualidades, Poemi era mais uma paródia perversa do que uma descontrução, e por isso mesmo era tão saborosa (apesar de eu ter quase certeza que aquilo nunca teve um fim).

Nos três casos emblemáticos que eu citei, nota-se que não é uma simples caricatura de clichés. A desconstrução começa no amor ao objeto. É por gostar tanto daquilo que se conhece a fundo e se adquire o embasamento para criticar onde mais dói.

Madoka Magica faz tudo isso contando uma boa história no processo, independente de você saber o que é o gênero das garotas mágicas. E esse é o elo que une todos os três exemplos. São boas histórias, feitas com seriedade, independente de querer ser mais ou menos do que o que já foi feito.

Voltando ao Oscar… Madoka merece um Oscar? Não sei, não vi o filme. Mas o anime merece o reconhecimento, a indústria japonesa merece essa indicação, até mais do que o cultuado Hayao Miyazaki. Porque fazer bons filmes é importante, claro. Mas o destaque que esses prêmios dão, que são a única coisa vantajosa neles, devem ir àquilo que abre novas portas. E de toda a lista de pré-indicados, que me perdoem os grandes talentos que estão lá, Madoka é a única coisa que marca a ferro e fogo um período da animação na história. A Academia não deveria perder essa oportunidade.

Mas, você sabe… Ela perde!

E você, não perca… COMPRA O MANGÁ! Compra aqui!

Filme de Madoka Magica é um dos pré-indicados ao Oscar