Todos os posts de Fabio Sakuda

Escritor, editor, apaixonado por quadrinhos e cultura pop em geral.

>Pausa 2 – Manga de Gal

>Mais uma pausa…

Tava assistindo TV. Noticiario matinal japones tem clima de programa de variedades. Alem das noticias, tem quadros, entrevistas, essas coisas. Eu gosto, por que vira e mexe tem noticias sobre filmes, entrevista com pessoas interessantes, etc…

Hoje, eu vi uma materia sobre uma tal de Britney Hamada, mangaka e gal. Conhecem? Aquela tribo japonesa de meninas com pouco cerebro, muita maquiagem e zueira? Pois bem, “Britney” eh mangaka e fala sobre isso mesmo, ser gal, numa das mais conceituadas revistas ADULTAS do pais, a Big Comic Spirit, que publicou 20th Century Boys e Monster, do Naoki Urasawa.

Descoberta no concurso de talentos da revista, a autora de Bagal se deu muito bem contando situacoes reais de sua vida de gal, como quando imaginou se o motorzinho do dentista podia ser usado pra fazer uma tatuagem e realmente foi perguntar pra um dentista… Britney pode parecer desacerebrada e suas historias, mediocres, mas ela foi elogiada por Tetsuya Chiba, autor de Ashita no Joe e por Fujiko Fujiyo A, autor de Super Dinamo e Manga Michi.

Manga Michi, alias, foi o trabalho que a levou a virar mangaka. A historia biografica de Fujiko Fujiyo conta com paixao sobre o que eh o trabalho de contar historias em quadrinhos. Quando leu, a autora, como muitos outros, ficou com vontade de desenhar. Outro que atribui sua carreira a Manga Michi eh o Harold Sakuishi, de BECK, e Hiroshi Takahashi, de CROWS e WORST.

Apesar de toda a atencao em torno dela, Britney Hamada continua sendo uma gal comum, e com suas proprias peculiaridades. Ela eh sem-teto, nao tem endereco fixo. Suas coisas estao na casa de uma amiga, e ela anda apenas com uma maleta de rodinha, com seu material e algumas roupas. Desenha em manga kissas (obs – cafes onde se paga por hora, pra ficar lendo manga e navegando na net, tipo lan house), fast-foods e karaokes de Shibuya, o bairro-mae das gals, em Toquio. Diz que tem 20 anos, que obviamente jah ultrapassou a anos, e soh toma banho quando vai ao salao de bronzeamento, duas vezes por semana… Todo o dinheiro que ganha, gasta em cabelo, unhas e maquiagem. Eh uma gal tipica, publicando um manga de sucesso na revista que trouxe ao mundo Oishinbo, Maison Ikkoku e outros mangas de autores consagrados.

Foi muito interessante pra ver que realmente pessoas diferentes podem ter visoes diferentes para aumentar ainda mais os assuntos que a linguagem dos quadrinhos pode oferecer.

Confiram aqui

http://skygarden.shogakukan.co.jp/skygarden/owa/solc_dtl?isbn=9784091820303

Procurei imagem dela, mas nao achei. Seria legal pra ilustrar.

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Outra coisa que me assustou hoje foi ler na Jump que Ichigo 100% foi escrito e desenhado por uma mulher. Mizuki Kawashita me parecia nome de homem. Estranho, mulher desenhando aquele tipo de manga…

PS: Tambem anunciaram novo volume de HunterxHunter, e que na proxima semana, Togashi volta a publicar. Nesse ritmo, acho que vou ver o Gon encontrar o pai junto dos meus netos!

>Pausa – voltamos em breve com a programacao normal

>Yo!

Precisei interromper por um tempo a avaliacao da historia por falta de tempo. Sabe, nao eh soh escrever, eu perco um tempao, por que fico lembrando, pensando, viajando… Esse tipo de trabalho eu gosto de fazer com a mente vazia e tempo de sobra. Duas coisas que eu perdi esses ultimos tempos.

Pra desestressar, fui fazer outra coisa que eu gosto. Fui cantar.

Meu pai sempre adorou cantar. Ele gosta de Enka, musica japonesa, e sempre ia nos karaokes. Ateh jah teve um karaoke em Sao Paulo! Mas dos quatro filhos, nenhum teve interesse em musica. Quer dizer, gostar de musica a gente gosta, mas fora os dois anos de guitarra que eu fiz (e que nao venceu minha inaptidao ritmica), nenhum dos filhos do meu pai quis fazer musica, enquanto eu e meu irmao nos interessamos por desenho, paixao da minha mae, ex-desenhista.

Nunca me passava pela cabeca cantar, apesar de gostar de musica. Quando eu era moleque, minha timidez era quase lendaria! Jah ateh me afoguei com vergonha de pedir socorro… Imagina cantar em voz alta… Felizmente, o tempo e o esforco podem mudar muito as pessoas. Nao que eu nao tenha ainda um certo receio de atrair atencao. Mas fiquei muito mais cara de pau! (^__^)

Na epoca que meu pai tinha karaoke, eu frequentei as aulas de canto que tinham lah. Mais por empolgacao, gostava de experimentar coisas novas. Gostei. Mas soh aqui no Japao eh que eu fui tomar gosto, indo no karaoke com os amigos, e tal… Ninguem liga de voce cantar mal, de voce zuar, cantar errado…

Bem, eu nao considero que eu cante BEM, bem mesmo. Mas eu me garanto, jah ganhei uma ou outra menina com isso, entao jah tah bom!

O segredo do karaoke estah nao em cantar tudo. Mas de ter uma unica musica (ou mais, com o tempo) que voce se garanta, nao precise da letra e conheca de cor o ritmo e o tempo. Em geral eh uma musica que voce curte, mas pra fazer sucesso, tem que ser aquela que o pessoal no geral tambem curte. E pra ganhar alguma menina, tem que ser balada! (#^___^#;)

Minha primeira musica assim foi “I Love You” do Yutaka Ozaki, que ja teve varias versoes, inclusive por mulheres, como a Utada Hikaru e a Nakashima Mika (minha cantora favorita). Mas eh uma musica dificil de acertar, e piegas… Eh mais facil cair na breguice.

Ai, o que eu descobri foi que o simples fato de eu cantar em ingles jah impressiona os japoneses. Entao, somando isso ao fator balada, troquei por “Under the Bridge”, do Red Hot Chilli Peppers, que eh bem conhecido no Japao, faz show quase todo ano aqui, as vezes, mais de uma vez por ano.

Nao eh que deu certo? Under the Bridge eh facil, logico e marcante. A letra nao tem nada que confunde, a musica gruda, nao tem nenhum ponto onde voce precisa subir ou descer a voz demais… E eh gostoso de cantar! Hoje, eu ateh consigo tirar pontuacao maxima nas maquinas que dao ponto, e no jogo em que se voce erra o tempo eles cortam a musica, eh a unica que eu consegui cantar ateh o final!

Semana passada, fui eu, sozinho no karaoke. Precisava ir sozinho. Queria fazer uma coisa que eu jah pensava faz tempo. Gravar um CD! Eh, aqui tem essa opcao nos karaokes mais fortes!

Levei uma hora pra gravar tres musicas. Ai wo komete Hanataba wo, do Superfly, Tentaikansoku, do Bump of Chicken e, eh claro, Under the Bridge.

Voce pode recantar a musica ateh duas vezes e escolher qual foi a melhor. Eu recantei todas as vezes, em todas as musicas, mas na ultima, Tentaikansoku, eu jah nem tinha mais voz!

Errei muito. Fiquei nervoso, sei lah… No carro (sim, eu canto dirigindo), eu nunca erro a letra dessas musicas, mas lah… Errei muito!! Bem, foi uma experiencia boa.

A unica que saiu apresentavel foi a minha garantia, Under the Bridge, fora uma desafinada e um erro de tempo no comeco… E um microfone distante no “…under the bridge downtown”

Eh… algum dia eu pago esse mico e jogo no Youtube.

Ah, a tempo. No Japao, essa musica garantida eh chamada de “ohako”. Se escreve jyuhatiban (numero 18), e por um jogo de leitura, se le ohako. Nao sei o sentido, nem por que eh o numero 18… Mas tem esse negocio.

>Avaliando TRUCO!, parte 3

>

Yo!

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Finalmente uma sequência que eu gosto. Nessa quarta página, eu comecei com um bloco de três quadros. Coincidência? Não.

Três é o numero chave no que se trata de história, de narrativa. Tudo o que você contar tem um início, um meio e um fim. Mesmo uma breve cena. Claro, uma sequência em dois quadros também funciona. Aumentar os números de quadros também pode acontecer. Mas desde que você entenda esse princípio.

Repararam que praticamente toda tirinha ocidental tem três quadros? Syd Field, o maior nome ocidental no ramo de material didático para roteiristas, tem sua explicação, mas pra acrescentar a todos, eu vou com a minha bagagem oriental.

No Japão, existe uma regra chamada Jo-Ha-Kyu. Ela serve pra você ter em mente uma estrutura pra bolar sua história. Algum dia posso falar mais sobre isso, ou postar o que eu escrevi na aula de roteiro. Pra ser mais rápido, significa simplesmente apresentar uma idéia/situação, quebrar/torcer ela, pra então encaminhar pra frente ou fechar. É a base de toda história, desde uma tirinha de jornal, uma sequência dentro de uma história, até mesmo de um diálogo. Shakespeare é um claro exemplo disso.

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Voltando a sequência, temos o exagerado parceiro do Daniel, apavorado, suando frio depois de ser pego blefando. Ele busca ajuda de Daniel, que parece já ter desistido. Então, apavoramos mais ainda o personagem, jogando essa cena, onde ele é esmagado pelos rivais e abandonado pelo parceiro. Reparou no triangulo invisivel nesse último quadro da sequência? Formado pelos russos, mais o parceiro de Daniel, colocando o nosso protagonista no meio? Isso é pra forçar a cena pra baixo, dando mais pressão pro coitado do parceiro do Daniel. (nota: errei e pintei de preto o cabelo do Igor)

Pag4 Pra piorar, ele ainda toma uma bronca de Daniel, num enorme quadro, com direito a speed lines em circulo e um enorme balão: “Você é um amador mesmo!!” E Daniel continua, até mesmo manda ele abandonar o jogo. Novamente, três quadros. O maior deles tem o impacto, mostrando que aqui começa outra sequencia, onde Daniel vai à alguma coisa nova. Ele está desistindo…

Pag4 Os dois quadros da direita trocam pela vertical, exatamente pra que quando sua visão descer, do quinto quadro pro último da pagina, você empurre a carta com os olhos, dando impressão de movimento. As mãos estao lá pra ligar a próxima cena, na pagina da direita.

Nessa pagina começa a reação de Daniel.

O primeiro quadro mostra uma mão e uma carta, sem mostrar quem é. A cena anterior tambem tinha mãos e cartas, pra servir de ligação. O lance aqui é fazer a transferência de cena por elementos em comum, não cortando a cena, mas mudando o foco. Na cena seguinte, vemos que a mão é do parceiro do Igor, ele é o dono da carta. Os dois já cantam vitória, mas esquecem uma Pag5coisa importante. E é com um balão no finalzinho do quadro, que nós lembramos eles e os leitores disso.

Esse terceiro quadro mostra Daniel com sua última carta, dando mais uma torcida na trama. Quando eles pareciam já ter perdido, eis que Daniel vira a mesa da dúvida. Agora, quem está sob pressão são os russos.

Pag5 Alguns cuidados que eu tomei com essa história foi deixar mais ou menos claro o que era preciso, o que o jogo pedia pra acontecer. Por causa dos leitores que não conhecem o truco. Mas só na medida do possivel, por que senão, tira o ritmo da historia.

É o que acontece no quadro seguinte. O parceiro de Igor fala o que é preciso ter. Deixa claro que ainda tem uma chance. Depois, Igor joga uma dúvida, pra tentar enfraquecer Daniel. Fechamos essa sequência diminuindo o ritmo, pra aumentar a tensão. Daniel explica por que não precisa ter medo da carta de Igor. E é essa certeza que traz a dúvida aos russos. É a deixa pra próxima página!

E o próximo post, eu faço depois de dormir um pouco! Até lá!

>Avaliando TRUCO!, parte 2

>

Yo! 

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Segunda parte da minha auto-avaliação de TRUCO!.

…que já começa com um problema. Agora, depois de meses, não lembro direito o que eu mexi, nem como era originalmente (se eu achar o roteiro, eu descubro, mas isso é praticamente impossivel no meu quarto). Mas reparem na segunda página.

Ela foi concebida pra ser uma página de fechamento, a direita. E foi já desenhada assim. O que eu lembro é que o Junior, editor da revista, veio pra mim no meio da produção e pediu pra eu reduzir mais duas páginas da já curta história. E lá se foi uma página da introdução, anterior a essa página dois, e uma da sequência seguinte, imediatamente depois dessa segunda página.

Bem, com isso, a introdução eu refiz em uma página. Mas essa página eu não tive como mexer, porque é uma página cheia de elementos, ia me tirar muito tempo.

Como perceber que eu cortei paginas? É a posição dos quadros. No canto esquerdo, que ficaria na lombada, não se sangra os quadros ou quando se sangra, não colocamos nenhum elemento de importância. A lombada dessa página tem todos os quadros sangrados e um último quadro que é visivelmente um gancho pra virar a pagina.

Explicado esse problema, vamos ver os quadros.

Pag2 Gostaram do cenário do primeiro quadro? Eu também! Ele é de um banco de imagens pré-prontas. Normalmente, eu não gosto disso. Prefiro desenhar eu mesmo meus cenários, até gosto de desenhar cenários. Mas sem tempo, eu apelei.

Novamente, é um quadro de ambientação, mostrando que trocamos de cenário. O céu escuro, pra mostrar que é noite (e a preguiça, me fez novamente não detalhar o céu, nem nuvens, nem lua). O ângulo é pra encaminhar ao quadro seguinte, numa visão geral. Se o ângulo estivesse invertido, seria pra indicar um ponto específico do quadro. O letreiro “Caai, marreco!” vaza no quadro seguinte, pra dar alusão de continuidade.

Pag2 Visão aérea da mesa de truco, mostrando que temos algumas pessoas em volta. Esse quadro, mais os outros dois são pra passar ao leitor duas informações. Daniel tá jogando truco. E ele é bom em blefar e tá ganhando! Temos aqui mais um personagem de apoio, o parceiro de Daniel, que também tem uma atuação pequena, só de apoio, por isso, nem nome ganhou.

O quadro seguinte faz a ponte entre os quadros jogados laaá na direita para o quadro abaixo, a esquerda, usando a retícula. Eu corto a velocidade da passagem usando os balões, colocando um em cada lado, contrário ao movimento do olhar.

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Mais uma sequência de três quadros, apresentando os russos, o desafio de Daniel na história. E, como não poderia deixar de ser, ele também tem seu talento. O olhar que não deixa passar nada, ou seja, não vai ser facil blefar com ele.

Pag2 Na verdade, essa página é a que eu mais detesto. Como considerei menos importante pra história essas apresentações e situações, joguei tudo em uma única página. Isso fica muito corrido. Temos a apresentação do conflito com a história, que é o jogo de truco, o desafio… E o nosso personagem aceitando peitar o desafio.

Os dois últimos quadros são isso. O desafio, na forma dos russos, mostra que não vai ser fácil pra Daniel. E no quadro seguinte, ele deixa claro que tambem não vai ser fácil pra eles. Seria o quadro perfeito pra convidar a virar a página. mas você não vai precisar, porque a página está ao lado, por causa daquele probleminha do começo. Gasto inútil de uma cena útil.

Pag3 A página seguinte dá um enorme pulo, por conta da página cortada. Somos jogados no meio de uma partida. O pouco que lembro da história é que, nessa página cortada, tinha uma sequência que mostrava que o parceiro do Daniel é impulsivo. Tudo pra que nessa página, ele fizesse o seu grande erro, que pode botar tudo a perder.

No primeiro quadro, temos a mão de Daniel, escondendo duas cartas das três. Seria uma visão em primeira pessoa, mostrando Daniel olhando o relógio e as cartas. Lembram ainda que ele tinha um compromisso? Nem eu.

O parceiro de Daniel tá armando sua estratégia. Pra quem joga truco, conhece bem a situação. Pra quem não conhece, ficou meio estranho. Mas eu precisei sacrificar alguma sequência em que o jogo fosse explicado pra não perder em ritmo e também nas minhas poucas e preciosas páginas. Então, só posso me desculpar aos que não conhecem o jogo.

Pag3Esses três quadros iniciais (coincidência, mas toda sequência que eu corri, coloquei em três quadros) terminam com o parceiro de Daniel pedindo truco, aumentando a aposta. Um blefe. O elo do terceiro quadro com o próximo é a mão do russo. Nossa visão já corre direto ao olhar de Igor, que nos empurra aos dois quadros seguintes, que são uma sequência em primeira pessoa do olhar do russo, aproximando para pegar o pequeno deslize de seu adversario, mostrado em destaque no sexto quadro.

Pag3A próxima sequência tem quatro quadros, mas na verdade, são dois. O primeiro, mostra a ação de Igor, aumentando ainda mais a aposta. Esse quadro precisava estar nessa posição. Por que? Porque nossa visão, que correu lentamente na sequência de cima, de quadros pequenos, precisava desse desvio, quando o último quadro da direita acaba e nos descemos a visão e voltamos a esquerda.

Quero que reparem no impacto da cena. Igor parece pular pra cima, o balão é um grito que nos pega de surpresa, como primeiro elemento no caminho da nossa visão, que segue pra Igor, diminuindo o pobre parceiro do Daniel.

O elemento seguinte mostra em três quadros a reação dos outros personagens, pra aumentar ainda mais o impacto. O parceiro de Igor ri satisfeito. O de Daniel tem uma reação exagerada, suando bastante e fazendo uma expressão bem caricata (fui por um estilo mais realista, então, não deformei muito). E Daniel só fica incomodado, olhando sua última carta e o relógio. E agora, o que ele vai fazer pra virar o jogo?

Continua… Ainda hoje, aproveitando que eu tô inspirado!