Todos os posts de Fabio Sakuda

Escritor, editor, apaixonado por quadrinhos e cultura pop em geral.

>Avaliando TRUCO! parte 1

>

Yo!

Como prometido, eu pretendo a partir dessa postagem, iniciar uma série comentando, página a página, quadro a quadro, sequência a sequência, o funcionamento (ou não) de uma historia minha. No final, eu tive uma idéia: vou também comentar o roteiro como um todo, como e por que ele funciona (ou não).

Pra comecar, escolhi a história mais curta e simples (as outras que eu pretendo comentar tem 45 páginas cada). TRUCO! foi publicada na edição numero 13 da Neo Tokyo, como parte da seção Manga Zone, que prometia publicar mangas na revista. O formato, que incluia duas páginas de história em uma da revista, dificulta muito o trabalho. Porém, como a sequência de abertura e fechamento foi mantida, não se perdeu muito quanto a narrativa.

O maior problema desse formato estranho, feito pra economizar espaço mesmo, é o movimento de abrir e fechar as páginas e a visão que você tem. Mais pra frente explico isso.

Situando a história: Daniel marca um compromisso com a namorada, mas ainda assim, participa de um campeonato de Truco. Ele precisa blefar bem, no jogo e na vida.

Pag1

Finalmente, indo ao assunto, temos nessa primeira página toda a introdução da história. No geral, a introdução precisa ser feita em até quatro paginas. Eh o que se entende como a tolerância do leitor pra entender o que esperar da história. Em TRUCO! eu tinha um número muito restrito de páginas, por isso, precisei enxugar a história toda, inclusive a introdução para apenas uma página.

Minha idéia era: explicar a situação (o compromisso entre a namorada e Daniel), o status do personagem-guia, Daniel (que cursa direito, e quem confia em advogados?) e fechando com o primeiro conflito, que é a última cena, que mostra que Daniel tem outros planos.

Pag1 A primeira cena é um plano geral, mostrando um prédio residencial. É um quadro pra situar a ação, mostrando onde está acontecendo a cena. Tenho um pouco de vergonha ao ver esse quadro, por que a falta de tempo me fez desenhar um prédio bem feinho e mal feito, com problemas de perspectiva. Isso aconteceu por que eu fiz o rascunho todo a mão, sem réguas ou guias.

Usando a visão do prédio como guia da visão, seguimos para o quadro seguinte. Mais preguiça (a estante está metade vazia, o cenário é praticamente só retículas e linhas de régua) e dois personagens mal desenhados, apresentando Daniel e sua namorada, sem nome, já que sua atuação também não vai ser tão grande.

Pag1 Como história, o segundo quadro é importante, por isso ele precisava ficar nessa posição, no canto superior. O leitor tem o costume de dar mais atenção aos quadros que ficam mais próximos do canto da revista. Se a página ficar à direita, os quadros da direita. Se a página for da esquerda, os quadros da esquerda.

Pulando para os dois quadros do canto, mais vergonha. A sequência do quadro dois pro três está boa, os personagens recebem só um zoom, sem erros de posicionamento. Depois, temos um zoom out preguiçoso. Afastei beeeem a cena pra desenhar pouco e ainda assim, errei perspectiva e tudo.

Pag1 A idéia desse quarto quadro era apenas mostrar a mão de Daniel pegando alguma coisa na mesa. Tanto que no nemu (o rascunho da história) eu nem fiz fundo. Mas na hora, eu achei confuso fazer só isso. Teria sido mais feliz se não tivesse tido essa idéia. A mão de Daniel, em união com o rosto dele no quadro acima, encaminhariam perfeito para o quadro seguinte, usando a referência visual para a transferência.

Pag1O quadro seguinte, mostrando Daniel com um baralho (um ás de paus, detalhe importante, guardem na cabeca). Ele fala: Sorte? Eu não preciso disso!

Essa é a primeira referência a um conflito na história. Ele podia simplesmente ir à faculdade, fazer a prova e ir de encontro com a namorada. Mas assim, não teríamos uma história, teríamos só um dia normal na vida de Daniel. A trama começa aqui, e nós temos isso bem claro, quando percebemos que Daniel tem outras intenções. Por isso, é o maior quadro da pagina, além de ser o quadro de fechamento, que é o quadro que fica no final da segunda página, antes de virarmos a folha. Ele vai ter que ser sempre, sempre um quadro importante e com algum gancho, por que é ele que convida o leitor a virar a página.

O ângulo e a posição dos balões foram escolhidos para jogar a visão pra baixo. Isso corta a cena, mostra que é o final da cena sem precisar de um fade como poderiamos fazer no cinema. Isso é quadrinhos, isso é Tezuka, na verdade. Você não sente como se a cena estivesse sendo realmente cortada?

_________________________________________________________________

Pois bem. Esse foi o primeiro de uma série que ainda vai longe. Serviu pra atiçar a curiosidade? Bom, talvez ainda não tenha tantos erros que eu mesmo perceba, porque é uma história recente e que eu já tinha noção do que fazer. Acho que vai ser mais interessante quando eu pegar histórias mais antigas, onde eu ainda errei muito e fazia as páginas apenas por gosto.

Imagina se eu pegar meu primeiro fanzine, de quando eu tinha quinze anos… Putz! (^___^)