Luluzinha Teen e o sucesso do ‘teen’

LuluzinhaTeen

Yo!

Muita gente torce o nariz para as publicações adolescentes, mas são essas revistas que mais atingem os leitores aqui no Brasil. Bora ver um papo com o atual roteirista de Luluzinha Teen?

A publicação começou em 2009, na esteira criada pelo rolo compressor da Turma da Mônica Jovem. E como os filhos do Maurício, deu muito certo pegando um nicho que ninguém que faz quadrinhos aqui no Brasil pensava em pegar, mesmo que fosse inegável a lacuna de público. Afinal, já estava na cara o sucesso de coisas como os seriados adolescentes da Disney, Glee e mesmo as séries de ficção feitas para esse público, como Teen Wolf, Supernatural e outros. Os maiores sucessos estão aí.

Então, ver o sucesso dessas publicações não deveria ser uma surpresa. Mas pro mercado de quadrinhos e seus problemas e características, o fato de Luluzinha Teen ter vingado consegue ser mais curioso até do que o sucesso do onipotente Maurício de Sousa. Poucos materiais nacionais foram tão longe e venderam tão bem. São 45 edições contínuas, não é pouca coisa!

Na mais recente edição, a turma da Luluzinha vai organizar um evento de anime. Então, é uma edição cheia de referências otaku, sem contar que fala sobre o trabalho da coisa, manter um evento. Segue a sinopse do site oficial.

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O clima da cultura japonesa vai invadir as páginas de Luluzinha Teen e sua Turma. Tudo por causa da Aninha, que descobre um clube de anime em Liberta. E, pasmem, eles estão organizando um evento, o LibertAnime. Imaginem quem vai encabeçar a organização desse evento? Nossa geek! Aninha vai dar o sangue para fazer o melhor evento da cidade! Mas para isso, vai contar com a ajuda de toda turma e, ainda, vai descobrir que mais pessoas gostam de animes e mangás do que ela imaginava… Até a Glorinha curte!

Com o apoio do professor Vicente, o evento, que acontece na Escola Unida, vai apresentar uma grande atração: Hironobu Kageyama, o cantor japonês famoso por interpretar as músicas-tema de vários animes! Esse show vai dar o que falar!

Porém, como em qualquer evento, nem tudo sai como esperado… A atração nipônica atrasa, então Bola e Glorinha serão os responsáveis por entreter a galera até a chegada de Hironobu. Bola vai dançar até o Gangnam Style! Para ajudar o amigo, Glorinha também vai ao palco, mas algo inesperado vai acontecer… O mais curioso é que eles usam um cosplay do casal Sailor Moon e Texudo Mask! E imaginem o que a plateia grita? Beija, Beija, Beija! Será que o casal Bola e Glorinha finalmente vai emplacar? Por onde andará Luluzinha e Plínio?

Entre Pokémon, Sailor Moon, Dragon Ball Z, Nausicaä do Vale do Vento, Evangelion, Gundam, BlazBlue, Nana, Meu Vizinho Totoro, Princesa Mononoke, Rurouni Kenshin, Slam Dunk, Beck e outros games, animes, mangás, você vai encontrar muita emoção e aventura na edição deste mês! Com direito a muito cosplay e uma contracapa especial de “Cenas Improváveis”.

 

Tive um papo rápico com Marcel R. Goto, atual roteirista da Luluzinha Teen, falando sobre a revista. As pessoas devem se lembrar dele pelo trabalho em revistas informativas, como a Anime-Do e Herói Manga. Mas ele já está no meio faz um bom tempo. Vamos entender mais um pouco o que rola por trás (ui) de Luluzinha Teen!

 

XIL – Então, antes de tudo, como é que você começou a escrever para a Luluzinha Teen?

Marcel – É uma história interessante. Eu escrevi uma crítica enorme sobre a primeira edição da Lulu Teen no meu blog semi-abandonado, e uns dias depois, o editor da Lulu, o Daniel Stycer, me procurou pra conversar. Apesar do sucesso da revista, talvez eu tenha sido o único “leitor veterano de quadrinhos” a fazer uma análise séria dela na época do lançamento. Ele não sabia quem eu era, ou o meu histórico nesse mercado, pra ele eu era só aquele cara que tinha dado uma opinião sincera e bem argumentada sobre a revista. Nós mantivemos contato, eu mostrei pra ele algumas histórias que já tinha criado, discutimos outros projetos, e eventualmente ele me convidou para escrever o roteiro de uma ou outra edição da Lulu Teen, e depois, para assumir regularmente as histórias, o que é uma tremenda honra pra mim.
Tá aí uma lição pra quem acha que blog não serve pra nada, ou que vai na onda dos outros e tem opinião sobre aquilo que não conhece.

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Os rumos da história e da publicação estão mudando? Quais os seus planos futuros com os personagens?

Sim e não. Por um lado, nós temos que respeitar as expectativas dos leitores que, afinal, já estão aí há 45 edições. Por outro, a história evolui, as relações entre os personagens mudam. O que eu posso dizer é que nós prestamos muita atenção ao feedback que recebemos, isso já me fez mudar de planos e repensar algumas coisas, mas que simplesmente dar aos leitores tudo o que eles quiserem, na hora que eles quiserem, não é a receita para fazer boas histórias. Quanto ao futuro, bem, a edição 50 vem aí, é um marco muito importante.

 

A história sobre um evento de anime tem alguma influência de sua experiência com eventos? Tem algo em especial sobre isso que você quer passar?

Ela é totalmente inspirada na minha experiência, já que fui um dos criadores da AnimeCon, e depois fui coordenador-geral do Anime Friends. Alguns elementos são só paródia do processo de organização dos eventos, da cultura que existe nesse meio. Mas aqui e ali me baseei em fatos reais, como quando a Lulu e a Aninha veem um garoto que já na noite anterior ao evento estava parado ali na frente, sozinho, esperando ele abrir. Isso aconteceu no AnimeFriends 2003, e foi muito marcante.
Não pensei em passar nenhuma mensagem, exceto, talvez, a de que produzir eventos, e ir aos eventos, é uma coisa muito legal, apesar de todo o trabalho e de todos os problemas.

Existe algum cuidado em especial para se roteirizar para um público tão amplo quanto o da revista? E existe um cuidado para se agradar também públicos específicos?Sim, sempre. Você tem que criar algo que agrade e que seja compreensível para o leitor mais novo, mas que não vá fazer o leitor mais velho se sentir subestimado. É sempre um equilíbrio difícil, e toda edição é um aprendizado. A minha filosofia pessoal quando se trata de referências, por exemplo, é que o leitor médio tem que ser capaz de identificar, ou pelo menos de entender a razão de ser da maioria delas, mas não necessariamente de todas. Minha inspiração nisso é o João Carlos Marinho, autor de “O Gênio do Crime” e os outros livros da Turma do Gordo, que li quando era criança. Foi neles que eu vi pela primeira vez o nome de Espinoza, o filósofo, e obviamente não sabia quem era. Mas, anos depois, estudando filosofia, encontrei ele de novo, e fui ler a respeito com mais curiosidade, porque lembrei de ter visto o nome antes, numa história.

O Renato Fagundes, roteirista anterior da Lulu Teen, também fez muito isso. Em uma das primeiras histórias, ele criou personagens baseados em Diadorim e Riobaldo, do Grande Sertão: Veredas. O leitor pode não ter identificado a referência por não conhecer a obra, mas isso não atrapalha a compreensão da história. Mas se ele já leu ou estudou Guimarães Rosa na escola, por exemplo, vai poder apreciar a história em mais de um nível, e isso é sempre muito legal.

 

A edição 45 da Luluzinha Teen já está nas bancas do país todo. E é claro que já tem coisa sendo preparada para a edição 50.

10 ideias sobre “Luluzinha Teen e o sucesso do ‘teen’”

  1. Que faça sucesso, quanto mais opções existirem, mais leitores. E quem sabe isso abre espaço para mais e melhores mangás, trazendo mais obras significativas do exterior e também dando chance para artistas nacionais.

  2. Boa, não entendo quem fica criticando esse tipo de publicação, geralmente que faz não é nem o publico alvo do produto.

    Por mim que façam cada vez mais sucesso, tem que ter espaço para tudo nas bancas.

  3. Eu também tenho essa curiosidade, mas não é o tipo de coisa que teria espaço nas bancas, hoje. Recomendo ler mangás do Go Nagai. :P

    Mas, dentro desse assunto…

    É interessante ver a origem da Luluzinha. A primeira tira mostra ela como uma… dessas meninas que vão na frente da noiva nos casamentos, jogando flores no caminho? Esqueci o nome. Mas, ao invés das flores, ela joga cascas de banana.
    Alguém, o editor original ou a própria Marjorie, a criadora, disse que a Lulu é uma menina porque assim pode ser mostrada fazendo molecagens que pareceriam muito fortes, muita maldade, se fossem feitas por um menino. Ou seja, nem um pouco politicamente correto, ainda mais pros nossos padrões.

    Inclusive os gibis da Lulu clássica, feitos cinquenta, sessenta anos atrás, são demais porque foram feitos com uma sensibilidade totalmente diferente da nossa atual, muito mais saudável e menos hipócrita.
    Os personagens brigam, aprontam, se xingam. Sempre penso em uma cena, engraçadíssima pelo contraste com nosso mundo politicamente correto: o Plínio começa a encher a paciência do Alvinho na praia, e o Alvinho simplesmente chuta areia na cara dele, e pronto, problema resolvido.

  4. Adoraria ler uma história de qualquer um destes “seiqueláTeen” (embora eu acredite que só exista hoje Lulu e Mônica) em que mostrasse os adolescentes com personalidades menos politicamente corretas.

    No caso de Lulu, que tal o Bolinha como uma versão mais jovem do João Gordo? A Glorinha como uma piriguete (como já cantava a antiga canção do Erasmo Carlos)? Coisas assim..

    Acho que outro nicho interessante para ser explorado seria este dos “bad teens”, não?

    1. Jussara, acho que bad teens do jeito que você diz não funciona. O negócio é que os “teens” na verdade,não são apenas adolescentes. Séries jovens de hoje atingem um público que na verdade ainda não é teen e idealiza (crianças) e quem já foi teen e também idealiza. Isso é o que o Maurício disse sobre Turma da Mônica Jovem, pelo menos.

      E Bad Teen dessa geração no máximo troca o Nescau por Coca Cola no café da manhã.

      1. Kkk, verdade!

        No caso o “bad teens” creio que funcionaria para um público que não é mais teen, creio eu… ou está começando a sair da adolescência.

        É uma pena: vivemos em uma época que, curiosamente, é positiva demais, é “viva sua liberdade e conquiste os seus sonhos!” demais – ao mesmo tempo que nunca antes de vendeu tanto antidepressivo no mundo (opa! isto dá um artigo!).

        1. Sempre tem esses ciclos. Eu, pessoalmente, não acredito em felicidade plena, acho que todos temos problemas, mas as pessoas que aparentam felicidade total em geral guardam pra si mesmos os problemas e acabam precisando de remédios. Acho que o que acontece hoje, como eu falei em um post antigo, é que as pessoas sentem o dever de serem felizes, porque é um mundo que persegue o bullying, faz campanha contra a inustiça social, etc. Existe um dever em ser feliz hoje.

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