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A influência de um clássico na formação de novos fãs

 

Quando vi Otaku no video, me surpreendi com duas coisas. A primeira foi sobre o quanto o anime era ruim, a segunda foram os otakus entrevistados e o aspecto “documentário” da série.

Ainda que as entrevistas não fossem reais, elas eram baseadas em pessoas que já existiam naquela época e quando vi achei incrível o trabalho que aqueles otakus tinham para acompanhar seus animes preferidos(ou seu hobby escolhido) e como muitos dos problemas que eles tinham são coisas que ainda hoje vemos na sociedade japonesa e nos fãs de animes atuais.

Mesmo naquela época, os animes já conseguiam seduzir pessoas de tal forma que fanáticos assim eram criados. Aquilo que hoje chamamos de clássico é o que na época era o novo hoje. Enquanto naquela época os japoneses viam Macross, eles lembravam de Gegege no kitaro e Mahou tsukai Sally, hoje os japoneses assistem Usagi Drop e lembram de Macross. É uma tendência natural. Aquilo que renova, que faz sucesso, sempre fica marcado para o futuro e influencia novas gerações. Ainda hoje temos novas séries e filmes de Macross. Não mais da primeira série, hoje Macross é uma franquia, mas o nome ainda persiste, assim como a idéia original e a sua influência perante todos os que trabalharam em outras histórias de gêneros semelhantes. Esse é o poder que um clássico possui.

Claro que Macross é só um exemplo. Ser uma franquia com várias séries diferentes não é uma obrigação para um anime ser considerado um clássico, ainda que seja algo que ocorra com muitos, como o já citado Gegege no Kitaro, Gundam… Para ser clássico, ele meramente precisa ser lembrado pelas futuras gerações como algo que lhe era caro, algo que lhe tocou em algum momento e que continua a tocar as pessoas mesmo hoje.

E o que isso influencia na vida dos fãs atuais? Bem, é vendo os clássicos que podemos ver como os animes que vemos hoje chegaram aonde estão. Não haveriam animes de robô como hoje sem Mazinger, não haveriam romances como hoje sem Maison Ikkoku… A partir de certos animes que podemos ver onde vieram as inspirações que movem muitos mangakás e diretores de animes, tanto para fazer coisas que inovam quanto para fazer mais do mesmo só pra agradar os fãs de uma forma mais conservadora.

Ainda hoje se vê citações de obras que há muito já se foram. Muito antes de ler Hokuto no Ken eu já conhecia a série, de tantas referências que eu havia visto. Claro que conhecer a fundo mesmo eu não sabia, mas eu já tinha uma noção básica do que estava por vir. E isso é uma coisa legal, porque além de reverenciar séries de alta qualidade, ainda abre caminho para que novas gerações procurem. Um garoto que não conhece Dragon Ball(difícil, mas também né) poderia ficar animado em conhecer após ver o quanto o Oda reverencia a série em One Piece, assim como o mesmo garoto poderia ir atrás de Kinnikuman pelo ode que o Toriyama faz do Yudetamago. Todo artista já foi fã um dia e ele sempre se inspirou nisso para fazer sua própria obra e isso vai desde Tezuka se inspirando em Walt Disney.

Eu vi Macross quando passou na CNT há uns vinte anos atrás, antes mesmo de Cavaleiros do zodíaco, e é uma série que me marcou muito. Não foi por ela que eu me interessei em animação japonesa, foi pelo conjunto de várias séries que passaram na época, mas Macross foi onde tudo começou e é a razão que me fez ir atrás de tantas séries sobre robôs gigantes, que me fez assistir Gundam Wing, que me fez olhar por Mazinger, Grendizer quando botei internet, que me cativa até hoje por séries como Star Driver e Gundam OO.

E não é preciso ir muito longe hoje em dia para procurar uma série que marcou, porque é tudo muito ligado. A partir das referências de HnK, você pode procurar a série, gostar e procurando mais coisas similares da época e achar Cobra, as histórias do aventureiro interestelar com a mão biônica. Você pode procurar por séries de comédia até Ranma, mas também pode ir além e ir até Urusei Yatsura. As vezes, ao invés de ficar esperando pelas novas séries da temporada estrear, podemos olhar pra trás e ver o oceano de séries que existe ao nosso redor. Isso quando não são feitos remakes de séries antigas e revisões, como Cyborg 009, Cutie Honey e até mesmo Evangelion. Esses remakes são uma boa pedida para atrair fãs antigos e chamar novos fãs. Os filmes novos de Evangelion têm causado o furor que causaram pelo Japão exatamente por essa capacidade de oferecer algo novo aos fãs antigos, ao mesmo tempo que manter a mesma mágica de forma a encantar novas pessoas e criar fãs novos. Ainda que pareça ser um exagero, pois Evangelion nunca foi uma série que sumiu, em muitos casos esses remakes surgem como uma forma de apresentar algo que há muito não se via.

Cutie Honey 1973

Re: Cutie Honey 2004

Não é preciso ficar preso por Kuroshitsuji, Madoka e Chihayafuru, você pode procurar por Lupin III, Jetter Mars e Ashita no Nadia. Não que eu queira diminuir os animes atuais, nunca se deve ficar preso em uma só época como se fosse um velho saudosista dizendo “no meu tempo era melhor”, mas ao mesmo tempo não se deve ficar com preconceitos por um determinado anime ter sido feito há quinze, vinte ou trinta anos atrás. Panela velha também faz comida boa afinal de contas.

Quando eu era garoto, só via o que hoje é considerado clássico. Não por algum preconceito, mas é o que havia na tv na época. Não havia internet e eu via tudo que passava: Macross, Cavaleiros, Yuyu Hakusho, Shurato, Samurai Warriors… Não tinha outra opção. Hoje com a internet, uma pessoa pode assistir Usagi Drop seguido de Jungle no ouja Taachan sem problemas e isso é o certo. Não é a idade que vai justificar a qualidade de um anime. Somente você pode julgar se algo é bom ou ruim e isso só vendo mesmo.

Enfim, para se saber o porquê do anime que você vê hoje ser do jeito que é, só pesquisando pelo avôzinho dele e ver onde tudo começou. As coisas mudam, mas muitas vezes continuam iguais. Aquilo que era revolucionário antigamente hoje é lugar comum, mas não deixa de ser algo divertido e que pode te prover por bons momentos. Acho que só o fim de Mawaru Penguim Drum que não pode ser explicado por nada mesmo…

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Religião e o fandom – Uma discussão de Natal…

Faz alguns dias que numa conversa com meu querido colega Denys, do blog Gyabbo, ele me apresentou uma ideia que teve para um post de Natal. Ele iria falar sobre religião. Naquele mesmo momento eu disse a ele que seria algo interessante e polêmico e que estava bem ansioso para ler. Foi então que no dia 25 de Dezembro, o post Anime, manga, fãs e religião – É possível? foi ao ar. Eu li e estava preparando um comentário para fazer por lá, mas daí pensei que eu me sentiria mais livre respondendo à ele aqui mesmo no Anikenkai. Ao mesmo tempo deixaria um texto sobre o assunto para os meus leitores. Vamos a ele…

Para os curiosos, sou cristão protestante batista e desde criança vou à igreja.

Desde muito pequeno eu já me interessava por quadrinhos e desenhos animados, como qualquer criança comum. Rapidamente eu demostrei um interesse maior e maior. Quando eu tinha meus 9-10 anos, conheci o RPG e li meus primeiros mangás. Nessa época eu já assistia animes na TV faz tempo, mas não sabia o que era anime de fato. Só em 2001-2002 mais ou menos que eu fui começar a me aprofundar mais no mundo dos animes japoneses. Desde então meu interesse só cresceu.

Ao mesmo tempo que fazia tudo isso, eu ia à igreja com a minha mãe e frequentava a escola bíblica dominical. Minha mãe nunca me proibiu de praticar os meus hobbys. Ela sabia que não é só porque algumas pessoas mataram outras numa partida de RPG que o RPG necessariamente influencia as pessoas a se matarem. Minha mãe me deu uma excelente instrução que, independente da religiosidade dela ou minha, me possibilitou diferenciar o bom do ruim. O que seria bom para mim do que seria ruim para mim. Eu sempre aprendi que o problemas não estão nas coisas, mas sim no que eu faço com ela. Ou seja, basicamente, minha mãe me deu educação como base para eu tomar minhas próprias decisões quanto ao que eu consumo. Esse é o primeiro ponto que acho relevante nessa discussão.

O segundo ponto trata do fato de você ser julgado “menos cristão” por ler/ver/ouvir peças que tratam de outras religiões ou culturas. Uma completa bobagem. Isso me parece discurso de pessoas que estão inseguras de sua própria fé e tem que ficar se autoafirmando o tempo todo. Não é porque eu busco conhecer outras religiões ou culturas que eu vou deixar de acreditar em Deus ou na figura de Jesus. Assim como eu estudo a matemática, a física, a química, a biologia e tantas outras e elas não abalam minha fé, não vai ser lendo histórias de outras culturas que eu vou “me perder”.

O que eu posso concluir, me tomando como objeto de referência, é que sim, é possível ser fã de animes e mangás sendo religioso. O que deve ser observado é O QUE você assiste. Não importa se você está vendo um filme, ouvindo uma música, lendo um livro, assistindo um anime ou lendo um mangá… você tem que avaliar o conteúdo daquilo que você está assistindo. Cada um tem sua moral. Seja a pessoa religiosa ou não. Você não vai ser uma pessoa má por ter lido um anime sobre shinigamis, mas também não ache que só sendo religioso você também será uma pessoa boa.

É engraçado a gente falar sobre um assunto complexo que nem esse sem ter uma base real da teoria teológica, mas tudo que disse aqui foi retirado de experiências minhas com minha própria religiosidade. Quero deixar claro que o que estou dizendo aqui não é para ser adotado como uma resposta definitiva sobre o assunto. Até porque, como eu disse, não tenho competência para dar um ultimato sobre o assunto. Mas se eu tivesse que resumir o que eu acho, eu diria que é imprescindível você ter uma boa base intelectual e religiosa para poder ter maturidade para discernir o que é bom e o que não é. Independente do formato e de onde vem.

E respondendo à pergunta primordial em poucas palavras: É possível ser religioso e fã de animes e mangas ao mesmo tempo?

SIM. Eu sou.

Faz alguns dias que numa conversa com meu querido colega […]

Eventos de Anime e o Fandom

Foto por Onildo Lima.

Nunca escrevi sobre eventos de anime aqui no Anikenkai. Acho que eu tinha receio de cair no lugar comum e acabar condenando os eventos de anime baseando-me pura em simplesmente nas minhas vontades. Porém, há um enorme fandom por aí que adora ir a eventos e não há como negar que a cada ano mais e mais gente se interessa por eles. E esses são os que mais me fascinam. Por que eles sairiam de suas casas e irem a um lugar que, na teoria, não tem nada de bom para oferecê-los? Não há muito o que fazer de diferente em um evento de anime tirando o concurso de cosplay e, de repente, as competições de karaokê.

Como eu não vou a eventos de anime há uns 2 anos, e isso por quê fui ao Anime Friends 2009 por mera curiosidade de saber como seria o maior evento de animes do Brasil, tive que fazer um bom exercício de memória para poder “estudar o caso”.

Naquela ocasião, eu fiquei hospedado na casa de um amigo em São Caetano. Sendo assim, tivemos que acordar por volta das 6 da manhã para tomarmos banho e pegarmos o trem até a capital. A viagem foi bem calma, mas no trem já via algumas pessoas que também se direcionavam ao evento. Saindo cedo provavelmente porque, como eu, ainda não tinham comprado o ingresso. Um trem, um metrô e um ônibus depois, chegamos ao local do evento e uma honesta fila já se montava.

O tempo passou e inevitavelmente comecei a puxar papo com duas pessoas que estavam a minha frente na fila. Eram dois primos, sendo que um era japonês que estava visitando a parte brasileira da família e decidiu acompanhar o primo ao evento por gostar de animes e mangás. Depois de um bom papo com os dois, vi que o perfil deles era bem parecido com o meu. Juro que meu preconceito me fazia acreditar que não iria encontrar “esse tipo de gente” em um evento de anime. Mas logo a primeira pessoa com quem falei me provou o contrário.

Perguntei a eles o que iriam fazer no evento. O primo brasileiro logo me respondeu que estava ali para ficar na sala do animekê e pelo visto era por isso que ele ia nos eventos. O primo japonês disse que estava curioso para saber como era um evento no Brasil, ver quais eram as diferenças para o Japão. Acabou que lá dentro nos separamos e nos reencontramos diversas vezes, mas deixo eles de lado um pouco para falar do evento em si.

Ao entrar, depois de encarar a interminável fila e pagar o salgado valor de 30 reais, nós demos de cara com a área de stands. Eram muitos… mas MUITOS stands. Porém, apesar da quantidade, a variedade era muito pouca. Na maioria das vezes, peças de vestimenta. Dentre elas, a maioria de camisetas e toucas com orelhinhas. Haviam alguns stands com chaveiros… muitos chaveiros e alguns arriscavam expor figures. Porém, o preço cobrado por eles era tão exorbitante (comparado com o valor real das figures) que eu não me dei ao trabalho de olhá-las com calma. Por fim, os mangás. A gibiteria Comix marcou presença no evento e trouxe seu estoque de gibis para a feira vendendo com descontos que não justificavam o valor do ingresso, mas, ainda assim, era uma boa para completar algum buraco na coleção e/ou comprar algum lançamento. Nada de mangás japoneses, americanos, artbooks, etc.

Depois de uma sofrida ronda, dado o número de pessoas por m² no local, fui para a área externa onde alguns cosplays se divertiam posando para fotos. Porém, me chamou a atenção a quantidade de cosplayers vestidos pela metade carregando seus “equipamentos” para uma salinha reservada onde ninguém podia entrar ou tirar fotos. Penso até que ponto é valida essa “profissionalização” dos cosplays frente a diversão, mas isso não é assunto pra esse post.

Chegou a hora de ver as salas temáticas. Elas eram em bom número, mas infelizmente nenhuma me atraiu. Poucas eram dedicadas a animes e mangás, sendo a maioria de “maid cafés”, cosplay ou j-pop/k-pop.  Quando achava uma sala sobre animes, ela era limitada a um único, principalmente a de Bleach e One Piece. Não vi nenhuma que estava disposta a “animes em geral”.

Ao final do evento, teve o show dos cantores japoneses que foi, de fato, muito bom. O palco era bem grande e a coisa toda foi bem feita. Se apresentaram Akira Kushida, Shinichi Ishihara e Yukio Yamagata pelo que me lembro.

Mas ok. Exercitei minha memória… mas a que conclusão cheguei?

De que eventos de anime não são pra quem quer animes.

Calma, não se assuste. É isso mesmo. Eu me explico.

Se você é um fã de animes e mangás e vai para um evento em busca de animes e mangás, irá se decepcionar. Você irá encontrar um monte de coisa e um monte de gente, mas nada do que você estava procurando.

Então quer dizer que os eventos de anime não prestam para nada e que quem vai neles é um bando de retardado?

De jeito nenhum.

De uns tempos pra cá eu me dedico a analisar o fandom e se tem uma coisa que eu aprendi foi de que o fandom se manifesta de diversas maneiras. Tem gente que, como eu, gosta de ver os animes, mas gosta também de debatê-los, de conhecer mais sobre seus produtores, sobre o país de onde vieram… porém, não tenho como dizer que todos são assim, muito menos que esses são maioria.

Alguns querem simplesmente dividir um momento com amigos em um ambiente cheio de pessoas que nem eles, com gostos parecidos. Outros vão aos eventos para reencontrar amigos que dificilmente consegue ver no dia a dia mas que, por compartilharem do gosto por animes e mangás (ou outras vertentes da cultura pop japonesa), podem confraternar. Outros podem estar lá só para exibir ao mundo seus visuais extravagantes e diferentes em um ambiente menos hostil que as ruas.

Existem diversos motivos para fazer as pessoas lotarem os pavilhões de um evento de anime. Infelizmente, a maioria deles não envolve diretamente animes e mangás, o que acaba desagradando o nicho de fãs do qual eu faço parte.

É comum dizermos que os eventos norte-americanos é que são bons, que lá é que estão os eventos de anime de verdade, mas na prática, desconsiderando o maior profissionalismo da organização e as estupidamente melhores estruturas físicas, a ideia é a mesma. O grande diferencial dos eventos norte-americanos é que ele agrada a gregos e a troianos. Ele agrada àqueles que querem ir só para passar o tempo com os amigos quanto àqueles que querem saber mais sobre animes e mangás. Ao mesmo tempo que temos o concurso de cosplay, temos também painéis de discussão sobre a evolução do shonen. Esse é o grande diferencial e é nisso que os eventos brasileiros acabam pecando.

Para finalizar, se me perguntassem hoje, que evento brasileiro mais me agrada, eu diria que é o AnimABC. Apesar de ainda ter um monte de coisas que não me agradam, o AnimABC, ao que parece, ainda tenta agradar a uma parcela do público que os outros parecem ignorar. Temos algumas palestras, por exemplo… mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Ao final desse “ensaio” sobre eventos de anime no Brasil, acabei não dando (frente ao fato deu não ter) uma resposta final para a indagação que motivou tudo isso. Mas o importante é pensar sobre as coisas. Muitas vezes deixamos nosso preconceito falar mais algo do que a realidade.

Foto por Onildo Lima. Nunca escrevi sobre eventos de anime […]

Um panorama da forma como assistimos animes hoje

Semana passada eu escrevi Para que servem os reviews?, mas ele foi um post que nasceu desse que escrevo agora. Comecei a pensar sobre a forma como vemos animes hoje em dia desde o início desse ano e observei tanto a mim como a outros amigos para tentar chegar a um panorama geral de como assistimos os animes e quais as consequências disso. Esse post traz para você o resultado dessa “pesquisa”. Espero que aproveitem e não deixem de comentar.

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Se você frequenta o Anikenkai, é porque você provavelmente assiste animes e, mais ainda, quer saber mais sobre esse hobby. Então, que tal olharmos para a forma como assistimos animes hoje em dia? Vocês já pararam para pensar sobre isso?

Quando eu comecei a assistir animes, minha única fonte era a televisão. Eu dependia dela para me trazer as séries. O que vinha para cá era um “microlésimo” do que era produzido no Japão e eram produções que já tinham feito certo sucesso por lá, já eram consolidadas, etc. Com o tempo, eu descobri que existiam pessoas que legendavam séries e as distribuíam em fitas VHS quase a preço de custo. Aproveitei pouco disso, mas lembro que meu primeiro contato com Gundam foi dessa forma. Através de um amigo, já que meu pai não me deixava comprar as fitas desses “estranhos”.

Quando a Banda Larga chegou ao Rio de Janeiro, logo coloquei em casa. Era mágico. Um mundo novo se abria. E não demorou para eu começar a achar sites que faziam os mesmos trabalhos de legendagem, mas agora o custo era zero. Era só baixar e assistir. A qualidade era sofrível, mas eu estava lá, vendo séries das mais variadas. Com a evolução do P2P, foi possível disponibilizarem séries legendadas em qualidade melhor. Mas apesar da melhora na qualidade e no custo zero, ainda eram muito poucas as séries que eram legendadas e continuava a ideia de legendar séries que já estavam encerradas e que já faziam certo sucesso. Não era igual ao tempo da televisão, mas ainda sim, era limitado.

A grande revolução na forma de se assistir animes veio há pouco tempo. A proliferação de grupos que legendam gratuitamente séries foi intensa, a facilidade de se obter o material original através da internet colaborou para que mais e mais séries fossem traduzidas e a evolução da tecnologia e o aumento das velocidades de transmissão de dados fez com que séries que ainda estavam sendo exibidas na TV japonesa fossem facilmente acessadas por pessoas do mundo inteiro.

Hoje em dia temos acesso a uma ENORME biblioteca de séries e a cada nova temporada japonesa, nós já sabemos de antemão TUDO que será exibido. Não há nada que escape. Não há nenhuma série que não saibamos com antecedencia que está em produção. Nós temos o poder da escolha. Podemos escolher, assim como os japoneses sempre puderam, o que assistir. Praticamente tudo que sai é legendado e disponibilizado para nós com poucos dias de diferença do público japonês. Uma maravilha, não é mesmo?

Mas o que essa grande mudança acarreta?

Depois de observar bem, eu poderia resumir os seus efeitos como “hoje em dia temos uma necessidade de imediatismo intensa que muitas vezes prejudica o aproveitamento de certas obras e nos faz ver animes como mero entretenimento descartável”. Agora vamos explicar o por quê disso.

Quando passamos a ter contato direto com os lançamentos do Japão, nós começamos a nos programar. Programamos o que iremos assistir antes mesmo desses animes estrearem. Nós já sabemos que pelos próximos meses iremos assistir a uma dezena (ou até mais) de séries específicas. É um processo natural. Nós tendemos a programar nossas vidas, a criar rotinas. Não há nada de anormal nisso. O problema é que, como você não sabe o que a série tem a oferecer realmente, se vale realmente ser assistida, você superlota sua “agenda” e assiste a um monte de séries ao mesmo tempo. Você satura seu dia a dia com séries em andamento.

O primeiro efeito disso é que você se fecha para séries que já estão completas. Não há tempo para assistir a séries que já acabaram. Você não tem tempo para encaixá-las no meio de tanta série nova para assistir. E nós criamos uma expectativa muito mais por séries novas do que por séries que já acabaram. Isso é gerado por ficarmos ansiosos pelo desconhecido. Não sabemos o que pode acontecer no próximo episódio. Se eu deixar de ver essa série agora, vou perder o “momentum” caso aconteça uma grande reviravolta no próximo episódio. Então pra que eu vou deixar de assisti-la para ver uma série que já acabou e que sempre estará lá para eu ver quando eu quiser?

É algo mais ou menos como moradores do Rio de Janeiro nunca terem ido ao Cristo Redentor em toda sua vida. Eu moro no Rio desde que nasci e nunca fui ao Cristo. Alguns turistas acham isso uma insanidade, mas eu sempre digo “ele sempre vai estar lá… outro dia eu vou”. A ideia é basicamente a mesma.

Mas outro efeito, ainda mais problemático, é o de assistirmos animes meramente por assistir. Eles se tornam descartáveis. Eu assisto, jogo fora, pego outro, assisto, jogo fora, etc. Poucas vezes você cria laços mais fortes com determinada série. E o motivo disso é que você assiste aos animes de uma temporada e quando eles acabam, você não tem tempo para maturar o que você viu, já tem outra avalanche de séries que você programou para ver. Não há tempo para ficar desenvolvendo as séries que passaram.

Dando mais um exemplo pessoal, acho que eu não seria tão fã de Genshiken se, na temporada que ele passou no Japão, eu tivesse assistido a ele junto de outros animes. Eu ter assistido à primeira série de Genshiken em uma tacada só me fez criar empatia pelo que era mostrado e me interessou a buscar mais daquilo. Você vê séries que mesmo nesse ritmo frenético conseguem ter apelo, como Madoka Magica, mas que logo são deixadas de lado frente a novas coisas, como Steins;Gate.

Entenderam agora o que eu disse com “hoje em dia temos uma necessidade de imediatismo intensa que muitas vezes prejudica o aproveitamento de certas obras e nos faz ver animes como mero entretenimento descartável”?

Claro que essa observação foi feita sobre a minha ótica, mas posso dizer que aprendi muito durante o tempo em que “pesquisei” sobre esse assunto. Provavelmente por causa disso eu esteja mais seletivo no que assistir para os animes da próxima temporada. Espero que vocês possam usar esse texto como forma de se autoanalisar. Um incentivo para você ver se está gostando mesmo do modo como você está curtindo seu hobby. E se a resposta for sim, não se preocupe. Eu não estou aqui para dizer que isso está errado. Eu conheço gente que é o avatar desse “novo modo de se ver animes” e o cara não larga disso de jeito nenhum pois pra ele é o ideal. Ao mesmo tempo conheço gente que pouco assiste os animes da temporada e prefere pegar só séries que já encerraram.

O importante é que tenhamos uma postura crítica não só com as séries que assistimos mas como nós assistimos.

Semana passada eu escrevi Para que servem os reviews?, mas […]

Para que servem os reviews?

Quando comecei a ver animes pela internet, lá pelo início dos anos 2000, era muito difícil você conseguir uma série inteira. Não digo nem que não haviam disponíveis, os fansubs já estavam atuando na rede. A grande dificuldade era a velocidade. 256kbps era velocidade da luz pra quem migrava dos (nem sempre) 56kbps da conexão discada, mas para quem baixava arquivos de vídeo da internet ainda era pouca. Então pegar uma série de 24 episódios era um martírio. Principalmente quando descobri o .avi, afinal, quando se vê em qualidade melhor, não se quer retroceder para um rmvb, por exemplo.

E além da dificuldade tecnológica de se acessar os animes, tem também a falta de informação. Pouco se sabia sobre o que acontecia na terra do sol nascente. Sendo assim, era necessário termos alguma fonte de conhecimento sobre as séries que valiam a pena ser assistidas. Não dava pra gente pegar só pra “ver qualé”. Era muito tempo pra baixar um episódio. Então os reviews eram uma excelente forma de se conhecer séries novas e saber se elas valiam a pena ou não serem assistidas. Você lia vários reviews, de várias séries, escritos por várias pessoas… era algo necessário.

Mas e hoje em dia? Não temos mais os mesmos problemas. É possível pegar uma série de 50 episódios em menos de uma hora. Assistir ao primeiro episódio de várias séries por temporada para decidir se continua assistindo ou não se tornou um hábito comum. Nós sabemos meses antes o que está pra sair no Japão. Pra que ler reviews hoje em dia então? Como os leitores se relacionam com os reviews?

Em busca de uma opinião que combine com a sua.

Por mais estranho que isso possa soar, as pessoas, buscam os reviews hoje para reafirmar suas próprias opiniões sobre determinada série. Por exemplo, o espectador comum assiste a Usagi Drop e gosta do que vê. Vai no site/blog/forum/etc que ele frequenta e começa a ler os reviews da série. Ele acha um review que lhe agrade, que fale bem da série e decide adotar os pontos expostos pelo avaliador como seus. Caso ele encontre reviews negativos, é capaz dele postar só dizendo que o avaliador não entende nada de animes e que a opinião dele é uma bosta.

Poucas vezes alguém lê um review sem ter prévio conhecimento da série e, muito menos ainda, muda de opinião dependendo do que foi exposto pelo avaliador.

Repare então que a mídia especializada teve que se adaptar a essa tendência de seus leitores. A maioria dos blogs/sites/etc agora pouco fazem reviews de séries que já acabaram. Só quando elas tem alguma polêmica envolvida ou são muito underground/antiga. De séries recentes, pouco se fala. O que fazemos agora (sim, me incluo) é postar “primeiras impressões”. São reviews rápidos, de um episódio só, que ainda mantém a razão de aconselhar e guiar os leitores no mundo de estreias que acontece a cada temporada. Com isso, obrigam os avaliadores a verem os episódios assim que saem e postarem suas impressões o quanto antes. Deixa passar uma semana ou duas e seu review já perde valor, porque um mar de gente já baixou o primeiro episódio pra “ver qualé”.

Mas ainda assim, mesmo com essa mudança, o público ainda enxerga os reviews como um reforço de sua própria opinião. Algo para dar apoio ao simplório “gostei/não gostei” do espectador comum. É algo que não podemos chamar de errado. É algo que é, simples assim. Cabe a nós nos adaptarmos aos novos leitores que aparecem.

A grande crítica que eu faço a toda essa realidade é que isso acaba deixando os avaliadores relaxados. As pessoas não mais procuram pautar suas avaliações em argumentos fortes. Muitos reviews acabam sendo umas centenas de palavras que poderiam ser resumidas em um “gostei” ou “não gostei”. Não há mais a necessidade de provar ao leitor que seu ponto de vista é válido. Que ele deve acreditar no que você diz porque você está dando motivos para ele fazer isso. Afinal, ele está lendo seu review depois de já ter uma própria opinião formada. Não importa os argumentos que você dê. Importa se ele concorda ou discorda da sua opinião final.

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Qual sua opinião sobre esse assunto? Comente!

Fiz esse post pautado em observações pessoais minhas. É óbvio que existem exceções. Existem ainda leitores que buscam reviews como forma de conhecer uma série, ou saber se vale ou não assistir a uma série, mas eles são minoria hoje em dia. Não digo que foi uma evolução para o pior, só foi uma mudança. Não tem como dizer se foi pior ou melhor. Tem argumentos bons para ambos os lados. Por isso, não tome esse post como uma ofensa caso você não se enquadre nesse “padrão” exposto aqui. 

Quando comecei a ver animes pela internet, lá pelo início […]

Uma Breve Análise Das Hipóteses Para O Mercado Nacional De Mangás

O meu xará, Diogo divulgou no Chuva de Nanquim, o lançamento de ‘Sora no Otoshimono’ pela Panini. Sabendo dessa notícia, vi que era o momento exato para escrever esse post. Colocarei aqui meu ponto de vista sobre o mercado de mangás no Brasil e para onde a filosofia atual das editoras poderá nos levar no futuro. Apesar de óbvio, vale lembrar que nesse post eu tratarei de hipóteses. Não há certezas no futuro do mercado no Brasil, só possibilidades, sejam elas positivas ou negativas. Leia esse post, entenda o que eu coloco aqui e, importantíssimo, não deixe de comentar dando sua opinião.

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Provavelmente você já deve ter ouvido falar a seguinte frase…

Quanto mais mangá na banca, melhor!

Bem, apesar de eu partilhar da mesma filosofia, não creio que o nosso mercado esteja preparado para ela.

Comecemos falando sobre a quantas anda o nosso mercado.

De fato. Nós temos bastantes títulos em publicação. Se olharmos só os sites das editoras principais (Panini, JBC e NewPop), fazemos um levantamento de mais de 30 títulos em publicação. Alguns estão paralisados por terem alcançado o Japão, podem dizer, mas a grande maioria está saindo em um ritmo mensal ou bimestral. E a cada dia temos novos mangás sendo anunciados…

Mas será que ter tantos títulos na banca assim é bom? Em uma primeira olhada não tem por quê dizer que não. Quanto mais títulos, mais opções, mais satisfeito fica o consumidor. É um raciocínio simples e provavelmente é o que a maioria dos leitores pensa. Porém, vamos colocar um tempero nesse raciocínio.

A partir desse momento, vou me focar na Panini e na JBC, as duas editoras com mais títulos em publicação e as que estão há mais tempo no mercado.

Para fins de comparação, peguemos a Shonen Jump, a maior antologia do Japão. Se uma série não está vendendo bem ou o público não está gostando dela, ela é cancelada e é dado lugar a uma outra nova. Há sempre um número fixo de mangás sendo publicado. Nem mais nem menos. Se uma falha, é cancelada e outra tenta o sucesso em seu lugar. Se pararmos para pensar que o número de pessoas que leem a Jump é muito superior ao número de pessoas que leem todos os mangás juntos em publicação aqui no Brasil, temos aí o primeiro “tempero” para pensar melhor sobre o nosso mercado.

Se uma Shonen Jump cancela sem dó séries que não estejam tendo sucesso, por que no Brasil, um mercado extremamente menor, as editoras deveriam manter títulos fracos, de pouca vendagem e com pouca repercussão entre os leitores? A realidade de cancelamentos não é nossa realidade atual. Já houve uma época em que muitos títulos foram cancelados por aqui, mas não hoje. Hoje cancelar um mangá é dar um tiro na própria cabeça. É assim que o público consumidor enxerga. “Se cancelou o mangá X, é capaz dele cancelar o mangá Y, então não vou comprar esse mangá pra não ficar com uma coleção incompleta”.

E nesse momento é capaz de você estar se perguntando se por acaso eu estou defendendo aqui o cancelamento de mangás. De forma alguma. É uma possibilidade, sem dúvida, mas seria ela viável em nosso mercado? Sem chances.

A Jump pode cancelar uma série que não faz sucesso porque o público leitor tem uma infinidade de outros títulos “parecidos” para se entreter com. Um título ser cancelado vai deixar alguns fãs chateados, mas logo eles passam pra outro mangá e fica tudo bem. Aqui no Brasil, quando um mangá é cancelado, os fãs ficam órfãos. Não tem para onde ir. Não há títulos suficientes para cobrir esse vácuo.

“Mas pera lá… títulos demais não eram um problema alguns parágrafos acima?”… E eu respondo: Só é considerado demais quando o mercado não consegue absorver tudo.

Nosso mercado é bem atrofiado. O poder de compra do público leitor é bem pequeno. Muitos dependem dos pais para comprar seus mangás todos os mês. O preço praticado pelas editoras muitas vezes está fora da realidade de muitos brasileiros. Não digo para comprar um só mangá. Mas quem quer ler, não quer ler só um mangá. Se o leitor compra cinco mangás, um número relativamente pequeno de títulos, já são mais de 50 reais saindo do bolso dele todo mês. Imagina para quem quem quer comprar a maioria dos títulos que sai? Impraticável para a maioria do mercado.

Então temos aí um impasse. O Brasil possui um mercado pequeno, que não cresce na mesma proporção que os títulos fornecidos pelas editoras. Mas uma grande quantidade de títulos é necessária para evitar que os leitores fiquem “órfãos” quando um mangá é cancelado. Sendo assim, as editoras não podem cancelar os mangás porque também não podem fornecer títulos suficientes para cobrir os vácuos deixados por eles. Mas até quando elas vão conseguir se manter num sistema que, ao que parece, é autodestrutivo para as editoras?

Bem, a solução é mais simples do que parece.

Não digo que o que falarei agora vai solucionar todos os possíveis problemas que venham a aparecer, mas pode evitar uma crise de saturação em nosso mercado.

Reparem bem na Panini e na JBC. Se nós tivéssemos que reparar em um aspecto editorial que separa bem uma da outra, eu destacaria as opções de periodicidade como grande diferencial. Enquanto a JBC opta constantemente por publicar mensalmente seus títulos, mesmo quando esses ainda se encontram em publicação no Japão e com poucos títulos (como no caso de BAKUMAN), a Panini decide alternar entre mensal e bimestral.

O modelo da Panini é o que tem mais futuro. Eu explico.

Hoje, quem quer, lê os mangás facilmente pela internet. E não é característica do nosso mercado comprar um mangá que já se leu na internet. Pra que eu vou gastar 10 reais por mês com algo que eu já li? É uma realidade que as editoras não tem como ter controle sobre. Esse tipo de leitor, que não são poucos, arrisco dizer que são até maioria, é uma fatia do mercado que eles não atingem.

Agora pense comigo uma coisa: Se esse mesmo leitor tivesse que gastar uns 15 reais com um volume de mangá, mas dessa vez, só de 3 em 3 meses. Ou seja, 5 reais por mês. Metade do que ele teria que gastar num modelo mensal de mangá a 10 reais. E esse volume ainda viria com papel melhor, boa impressão e encadernação, já que é mais caro que o de 10 reais. É mais provável que esse tipo de leitor se interesse mais por comprar esse título de 15 reais de três em três meses do que o de 10 reais de mês em mês.

Por que? É simples. Se ele já leu o título, ele sabe se gostou ou não. Se ele gostou e virou fã, é natural ele querer ter o mangá para si, em sua coleção. Porém, tendo que pagar 10 reais por mês, acaba sendo um investimento que ele não está disposto a fazer. Enquanto que 15 reais a cada três meses por algo de melhor qualidade é algo que ele estaria bem mais disposto a pagar.

Mas três em três meses não é muito tempo de intervalo entre um volume e outro? Não pra esse tipo de leitor. Ele já leu o mangá. Ele não tem a urgência de saber o que acontece no volume seguinte. Ele está comprando pelo simples fato de ter na coleção, ou para reler, ou para ver os extras, etc. Ele não está comprando só pela história ali contida.

Então com uma mudança de filosofia na periodicidade, as editoras estariam atingindo um público que hoje elas não atingem. Não digo que todos os leitores desse tipo iriam passar a comprar mangás em banca, mas a probabilidade do número de vendas aumentar entre esse grupo é maior.

No entanto, como que ficam o público que não tem nada a ver com essa história. O público que compra mangá para conhecer a história. O público que não leu online e tá acompanhando conforme vai saindo. O que ele ganha com isso?

Para começar, ele terá um aumento na qualidade do produto, tendo como base a estratégia que coloquei acima de aumento de preço proporcional a qualidade alterando a periodicidade. Isso já é uma vantagem. Mas a perda da periodicidade mensal seria uma desvantagem para esse público. Ele tem que ter algo a mais a ganhar com essa mudança.

E ele tem. Um aumento na quantidade de títulos disponíveis. Se antes o público tinha que pagar 30 reais por mês se comprasse três títulos mensais, ele agora poderia continuar pagando 30 reais por mês, mas por seis títulos trimestrais (considerando que cada volume mensal custe 10 reais e cada trimestral custe 15). Um aumento de 100% no número de títulos comprados sem aumento no gasto mensal. Pessoalmente acho essa possibilidade bem interessante.

Apesar de “perder” sua periodicidade mensal, o leitor regular teria a possibilidade de ter materiais de melhor qualidade e uma pluralidade maior de títulos sem ter que gastar mais por isso mensalmente. Um modelo sustentável, que favorece tanto o leitor quanto à editora.

Para eu concluir esse post, é valido dizer que o próprio modelo japonês de publicação de tankobons funciona dessa maneira, em periodicidades quadrimestrais até. Saindo do mercado original dos mangás, temos o americano, que também segue um modelo “não-mensal” de publicação, com periodicidades trimestrais e quadrimestrais dependendo do título. Aí estão dois exemplos de mercados bem maiories que o Brasil e que viram no modelo “não-mensal” de publicação uma via sadia para seu mercado.

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Espero que eu tenha passado para vocês com clareza minhas ideias. Não coloco o que escrevi aqui como único modelo possível e, muito menos, digo que o mercado brasileiro está em crise ou estará em um futuro próximo. As chances das editoras começarem a ter que rever sua estratégia de mercado são grandes. O suficiente para eu, um mero observador, chegar a essa conclusão. Mas o mais importante desse tópico é fomentar a discussão. Comentem aqui nesse post, no twitter, em seus próprios blogs, em conversas de bar, onde seja. É importante a discussão e a crítica construtiva.

O meu xará, Diogo divulgou no Chuva de Nanquim, o […]

Síndrome da Superlotação de Conteúdo

A internet nos possibilita ter acesso a qualquer conteúdo que queremos. Sejam eles gibis, filmes, séries, livros, jogos. No entanto, frente a tamanha quantidade de conteúdo, nós tendemos a ficar perdidos.

De uns tempos pra cá eu venho notando um comportamento curioso em mim. Mesmo tendo bastante tempo livre eu não consigo ver, ler, jogar, tudo que eu quero. E não é questão deu querer fazer mais coisas que as 24h do meu dia podem comportar, mas sim a indecisão do que fazer.

Se eu decido que vou ver um filme, eu tenho que escolher entre um zilhão de títulos que tenho em DVD/BD, ou que tenho no meu HD. É algo como quando íamos à locadora e ficávamos horas indecisos sobre qual filme iríamos alugar. Mas diferente daquela época que, quando chegávamos em casa nós víamos o filme alugado, hoje em dia acontece deu simplesmente encher o saco e ir procrastinar na internet vendo vídeos no YouTube, discutindo inutilidades em algum fórum ou lendo timelines desnecessárias no twitter.

Resumindo: não vejo nada.

E isso não só com filme. Gibis, animes, séries… tudo. Parece que hoje a facilidade de se conseguir algo é tão grande que não temos aquele senso de prioridade no que assistir. Não há uma data limite como “esse filme vai sair do cinema”, “essa série vai demorar eras pra ser reprisada na TV… se for”, “temos que devolver o filme na segunda senão pagamos multa”, “tenho que zerar esse jogo logo antes de devolver pra não apagarem meu save”.

Nós ficamos perdidos frente a tamanha imensidão. Começamos a perder o foco.

Não estou aqui protestando contra a internet (muito pelo contrário, acho uma das maiores invenções da humanidade até hoje), nem defendo o retorno às épocas nostálgicas. Mas simplesmente expresso uma observação comportamental que tenho feito em mim mesmo e tenho certeza que muitos outros também passam por essa “Síndrome da Superlotação de Conteúdo”.

A internet nos possibilita ter acesso a qualquer conteúdo que […]

A Onda de Mudança de Gerações no Âmbito da “Diversão” em Genshiken II Volume 1/ Genshiken Volume 10 (Parte 2)

Esta é uma tradução de um post do blog Tamagomagogohan para mais informações, leia no início da Parte 1.

Links para as outras partes:

Parte 1

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As Impressões de uma Lacuna na Nova Geração de Genshiken

Acredito que este quadrinho de Nidaime torna esse contraste fácil de entender.

… Nossa… eles são… tão jovens!

Os três novatos do clube estão juntos aos antigos membros no apartamento da Ogiue (o lugar onde a Ogiue desenha seu mangá). Madarame e Sasahara estão obviamente entre os “garotos mais velhos”.

Se você observar a proporção de homens para mulheres, verá que o número de mulhores é maior que o de homens (apesar de uma certa excessão), e ainda que nenhuma delas está particulamente preocupada em evitar os outros. Se não me dissessem que isso era um grupo de otakus eu nunca teria adivinhado.

Claro que vocês podem dizer que é porque isso é só um mangá, mas mesmo assim, todos alí parecem estar se divertindo.

Entre eles, existe um personagem destacado, sentada no sofa com um olhar meio amargo no rosto: Yajima.

Entre os calouros, existe um garoto que se veste de mulher… ou devo dizer, um “otoko no ko.”[5]

O que a Yajima tem a dizer sobre tudo isso é inacreditavelmente fofo.

“Eu sou… bem avessa [muito resistente] a isso.”

Os sentimentos da Yajima para com a questão são, de certo modo, a ponte entre os diversos conceitos do que significa “divertir-se” em Genshiken. Ela está presa no meio da ponte e isso a deixa frustrada.

Se vocês olharem para a geração anterior, teve o episódio em que Madarame se opõe à “moda”, embora não fizesse o menor sentido. Mesmo ele mudando de idéia depois, o modo como Madarame e Yajima se distanciam é parecido.

O próprio termo “ota” é pouco usado em Genshiken.

Nesse volume, a única pessoa que fala esse termo além da Yajima é a Ogiue, e no sentido negativo de “ota”. A fala da Yajima no quadro acima, “Já que somos otakus, isso não importa”, praticamente resume tudo.

Por outro lado, você tem outra novata, Yoshitake (a garota de óculos no meio do sofá), que opostamente a Yajima exclamou, “meninas otakus e fujoshis são diferentes!” usando o termo positivamente.

Yoshitake determinou seu próprio status. Ela se considera uma “fujoshi” e não esconde isso. Apesar da própria Ohno ter percebido que era melhor se assumir do que esconder, com Yoshitake não tivemos nem essa evolução.

Bem, como vocês devem suspeitar, nem Yajima nem Ogiue se importam com moda. Eles estão bem usando um mero jeans. Mas de novo, se eu comparar a Ogiue de hoje com o que ela era quando usava os casacões, seu senso de moda se tornou bem mais apurado. Aquela gravatinha fica bem bonitinha nela. Já os jeans, eu não consigo entender.

O “otoko no ko”, Hato, é surpreendentemente estiloso. Yoshitake, que também parece ter um guarda-roupa bem variado, se mostra uma garota com gostos artísticos e literários bem variados. Mesmo Yabusaki, do clube de mangá, usa um pouco de maquiagem.

Yajima percebe essa diferença para com eles e isso a incomoda.

Ela originalmente se juntou ao clube porque pensou, “Eu gostaria de fazer algo divertido”, e seguiu com esse pensamento. Ela tem um complexo de inferioridade, mas isso também tem a ver com seu hobby otaku. Ela nunca foi apresentada a uma situação traumática, muito menos ela carrega algum fardo.

Diferente da Ogiue e da Ohno, ela não enfrentou um processo de iniciação intenso.

Mesmo assim, ela encara fortemente seus sentimentos de que existe uma forte e ireeconciliável diferença no que ela acredita ser um “otaku” e o que ela vê.

Ela pensa até que ponto uma pessoa chega pelo bem do “divertir-se” e seu coração fica perplexo com isso.

Basicamente, ela questiona a existência de Hato como um “otoko no ko”.

(continua em breve na Parte 3)

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Notas de Tradução:

[5] “Otoko no ko” (男の娘) é um trocadilho com a palavra para garoto “otoko no ko” (男の子), subsitui-se o kanji de “criança” pelo de “garota”. Poderia se traduzir para “trap” (“armadilha”, em inglês), um termo bem conhecido na internet que significa uma garota muito bonita, mas que na verdade é um cara. Eu preferi deixar o termo em japonês em virtude do trocadilho no kanji.

Esta é uma tradução de um post do blog Tamagomagogohan […]

A Onda de Mudança de Gerações no Âmbito da “Diversão” em Genshiken II Volume 1/ Genshiken Volume 10 (Parte 1)

INTRODUÇÃO:

Não há dúvida para quem visita o blog de que meu mangá favorito é Genshiken. É uma obra para a qual eu realmente gosto de gastar tempo e me dedicar a sua análise. Não só para entretenimento, mas para observar todo o fenômeno ao qual ela se refere, no caso, os otakus. Por todos esses anos pesquisando e analisando Genshiken eu aprendi muita coisa. Pouco já foi publicado aqui no Anikenkai.

Numa dessas pesquisas, me deparei com um texto do blog japonês Tamagomagogohan traduzido para inglês pelo meu colega blogueiro do Ogiue Maniax. Era um post onde o autor mostrava o que sentia para com essa segunda fase de Genshiken. Como eu achei o texto interessante e pertinente (principalmente agora que recebi minha cópia do Volume 10), pedi autorização para ambos e posto aqui o texto traduzido para meus leitores.

Para ler o texto, é bom conhecer Genshiken, mas mesmo que não conheça ou só tenha ouvido falar, é uma leitura válida sobre como um mangá pode continuar mesmo tento uma mudança relativamente drástica em seus protagonistas.

TRADUÇÃO:

Por se tratar de uma tradução do japonês, existem muitos termos que perderiam muito do sentido em uma tradução. Estes foram mantidos e uma nota foi adicionada a respeito deles ao final do post. Assim como certas citações.

As imagens usadas aqui foram usadas no post original, obviamente aqui traduzidas para o português para entendimento da maioria dos leitores.

Espero que gostem.

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Genshiken II [Nidaime] Volume 1 ou Genshiken Volume 10 saiu!

 

Bem… é…

Genshiken Volume 1 saiu em 2002.

Realmente já faz quase 10 anos…?

 

Quando Genshiken foi lançado, era comum compará-lo com Kyuukyoku Choujin R.[1].

Como obras individuais eles são completamente diferentes, e não há porque compará-los diretamente (brevemente, em R temos o Cluble de Fotografia, estudantes do Ensino Médio, e nenhum interesse otaku entre seus membros, enquanto que em Genshiken temos a Sociedade para o Estudo da Cultura Visual Moderna, estudantes universitários, e é baseada em um grupo de otakus). Porém, quando você olha para as diferentes faixas-etárias entre os membros e como há uma certa lacuna entre as gerações das obras na maneira como eles “trabalham” seus hobbies, a comparação acima fica mais fácil de entender do que poderia-se esperar. É sobre ver como eles gastam seu tempo livre se divertindo.

Isso foi tão discutido que eu já perdi a conta. Fez parte da história dos anos 2000.

No entanto, para os leitores mais novos, o mundo de R foi um certo tipo de fardo, e a razão é a presença opressora dos veteranos.

Eu amo Tosaka-senpai e o resto deles, mas se você me disser, “Eles são um incômodo”, eu não poderia negar.

Não só isso, mas por comparação, Madarame-senpai em Genshiken, é bem mais suave, seguindo uma filosofia de viver pacificamente a todo custo. Quando você olha para isso, é algo meio fofo, mas você também pode ver que a relação senpai-kouhai [veterano-calouro] é bem mais tênue.

Esse é a primeira lacuna entre as gerações.

E agora, esta é a segunda.

O número de pessoas que leram Genshiken e se tornaram otakus por causa dele aumentou.

Eu aposto que pessoas que acabaram de ler isso pensaram, “Pera aí, o que?”

Eles diriam, “’Se tornar’ um ‘otaku’? Isso não é algo que se decide da noite pro dia, não é mesmo?”

Está certo, mas durante os anos 2000, o sentido da palavra “otaku” se tornou incerto. Não mais significava que você era um “fora-da-lei”, e não mais tinha uma conotação negativa na cabeça das pessoas. Dito isso, tudo também depende de com quem você está falando.

A cartada final veio no dojinshi [fanzine] que Shinofusa Rokurou desenhou para a edição especial do Volume 9 (o volume final) de Genshiken. [2]

É basicamente isso. Eu acredito que há pessoas hoje que nunca leram ou viram Genshiken (já que está esgotado), mas vocês não vão se arrepender de lerem. O mesmo vale para Mozuya-san Gyakujousuru.[3]

Yasuhiko Yoshikazu[4] disse uma vez, “Para um cara como eu, que odeia otakus, Genshiken é um mangá cheio de amor aos otakus que foi feito para exterminar os otakus.” Sentimentos bem conflitantes esses, não é? Mas eu o entendo.

Hoje em dia existem cada vez mais pessoas que não são “bonitas apesar de serem otakus”, mas sim “bonitas enquanto são otakus.” Isso não tem a ver com aparência física, muito menos só resultado final do ressentimento; na verdade, o que mudou é que ser otaku agora significa que você está curtindo um “hobby divertido”. Genshiken é uma obra que foi desenhada estando relativamente consciente disso.

Não é minha intenção formular uma teoria de como as gerações são diferentes depois disso. Não importa o que eu diga, o importante é perguntar para si mesmo, “O que eu pessoalmente acho?” No entanto, eu acredito que o número de pessoas que podem sair e admitir “Eu sou otaku” aumentou.

Para alguém como eu que viveu na época de enclausuramento otaku e pensava, “eu não posso falar que sou um otaku”, isso é uma sensação bem estranha.

Mesmo assim, eu diria que o que temos agora é o situação mais saudável.

Esse contexto pode ser observado na maneira como Genshiken foi feito. A geração do Madarame consiste de otakus que são relativamente reclusos que tentam ocultar seus hobbies e não aspiram se mostrar aos outros quanto a isso.

Ohno ao mesmo tempo também esconde seu hobby, mas é o tipo de pessoa que quer poder compartilhar esse hobby com os outros.

Kousaka e Sue simplesmente e livremente mostram ao mundo quão otaku eles são e como eles curtem ser, enquanto Sasahara é o tipo de pessoa que “viu a luz” só após entrar na faculdade.

Eu costumava enxergar a existência do Kousaka como uma fantasia, mas eu percebi que pessoas como ele realmente existiam.

 

O Volume 9 saiu em 2006. Se passaram quase cinco anos.

Agora nós temos o Volume 10.

E nele os personagens são bem diferentes do que costumavam ser.

Se os tempos mudaram, os personagens em Genshiken também mudaram, em termos de onde eles vem e como seus pontos de vista são.

Daqui em diante vou escrever a respeito das respectiva perspectiva da nova personagem Yajima assim como a de Madarame.

 

(continua em breve na Parte 2)

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Notas de Tradução:

[1] Kyuukyoku Choujin R é um mangá de Yuuki Masami, publicado na Shounen Sunday de 1985-1987. O personagem principal era um robo adolescente chamado R. Tanaka Ichirou.

[2] Assim como o Volume 6, saiu uma edição especial do Volume 9 de Genshiken que veio com um doujinshi de bonus, diferente do Volume 6, ele não foi acoplado à edição americana do mangá.

[3] Mozuya-san Gyakujousuru é um mangá de Shinofusa Rokurou. Publicado na Monthly Afternoon (a mesma revista de Genshiken) desde 2008, é sobre uma garota com um transtorno bipolar cujo nome refere ao seu descobridor, Dr. Josef Tsundere.

[4] Designer de personagens para Mobile Suit Gundam e muitos outros animes. Atualmente desenha Gundam: The Origin.

INTRODUÇÃO: Não há dúvida para quem visita o blog de […]

A Onda de Mudança de Gerações no Âmbito da "Diversão" em Genshiken II Volume 1/ Genshiken Volume 10 (Parte 1)

INTRODUÇÃO:

Não há dúvida para quem visita o blog de que meu mangá favorito é Genshiken. É uma obra para a qual eu realmente gosto de gastar tempo e me dedicar a sua análise. Não só para entretenimento, mas para observar todo o fenômeno ao qual ela se refere, no caso, os otakus. Por todos esses anos pesquisando e analisando Genshiken eu aprendi muita coisa. Pouco já foi publicado aqui no Anikenkai.

Numa dessas pesquisas, me deparei com um texto do blog japonês Tamagomagogohan traduzido para inglês pelo meu colega blogueiro do Ogiue Maniax. Era um post onde o autor mostrava o que sentia para com essa segunda fase de Genshiken. Como eu achei o texto interessante e pertinente (principalmente agora que recebi minha cópia do Volume 10), pedi autorização para ambos e posto aqui o texto traduzido para meus leitores.

Para ler o texto, é bom conhecer Genshiken, mas mesmo que não conheça ou só tenha ouvido falar, é uma leitura válida sobre como um mangá pode continuar mesmo tento uma mudança relativamente drástica em seus protagonistas.

TRADUÇÃO:

Por se tratar de uma tradução do japonês, existem muitos termos que perderiam muito do sentido em uma tradução. Estes foram mantidos e uma nota foi adicionada a respeito deles ao final do post. Assim como certas citações.

As imagens usadas aqui foram usadas no post original, obviamente aqui traduzidas para o português para entendimento da maioria dos leitores.

Espero que gostem.

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Genshiken II [Nidaime] Volume 1 ou Genshiken Volume 10 saiu!

 

Bem… é…

Genshiken Volume 1 saiu em 2002.

Realmente já faz quase 10 anos…?

 

Quando Genshiken foi lançado, era comum compará-lo com Kyuukyoku Choujin R.[1].

Como obras individuais eles são completamente diferentes, e não há porque compará-los diretamente (brevemente, em R temos o Cluble de Fotografia, estudantes do Ensino Médio, e nenhum interesse otaku entre seus membros, enquanto que em Genshiken temos a Sociedade para o Estudo da Cultura Visual Moderna, estudantes universitários, e é baseada em um grupo de otakus). Porém, quando você olha para as diferentes faixas-etárias entre os membros e como há uma certa lacuna entre as gerações das obras na maneira como eles “trabalham” seus hobbies, a comparação acima fica mais fácil de entender do que poderia-se esperar. É sobre ver como eles gastam seu tempo livre se divertindo.

Isso foi tão discutido que eu já perdi a conta. Fez parte da história dos anos 2000.

No entanto, para os leitores mais novos, o mundo de R foi um certo tipo de fardo, e a razão é a presença opressora dos veteranos.

Eu amo Tosaka-senpai e o resto deles, mas se você me disser, “Eles são um incômodo”, eu não poderia negar.

Não só isso, mas por comparação, Madarame-senpai em Genshiken, é bem mais suave, seguindo uma filosofia de viver pacificamente a todo custo. Quando você olha para isso, é algo meio fofo, mas você também pode ver que a relação senpai-kouhai [veterano-calouro] é bem mais tênue.

Esse é a primeira lacuna entre as gerações.

E agora, esta é a segunda.

O número de pessoas que leram Genshiken e se tornaram otakus por causa dele aumentou.

Eu aposto que pessoas que acabaram de ler isso pensaram, “Pera aí, o que?”

Eles diriam, “’Se tornar’ um ‘otaku’? Isso não é algo que se decide da noite pro dia, não é mesmo?”

Está certo, mas durante os anos 2000, o sentido da palavra “otaku” se tornou incerto. Não mais significava que você era um “fora-da-lei”, e não mais tinha uma conotação negativa na cabeça das pessoas. Dito isso, tudo também depende de com quem você está falando.

A cartada final veio no dojinshi [fanzine] que Shinofusa Rokurou desenhou para a edição especial do Volume 9 (o volume final) de Genshiken. [2]

É basicamente isso. Eu acredito que há pessoas hoje que nunca leram ou viram Genshiken (já que está esgotado), mas vocês não vão se arrepender de lerem. O mesmo vale para Mozuya-san Gyakujousuru.[3]

Yasuhiko Yoshikazu[4] disse uma vez, “Para um cara como eu, que odeia otakus, Genshiken é um mangá cheio de amor aos otakus que foi feito para exterminar os otakus.” Sentimentos bem conflitantes esses, não é? Mas eu o entendo.

Hoje em dia existem cada vez mais pessoas que não são “bonitas apesar de serem otakus”, mas sim “bonitas enquanto são otakus.” Isso não tem a ver com aparência física, muito menos só resultado final do ressentimento; na verdade, o que mudou é que ser otaku agora significa que você está curtindo um “hobby divertido”. Genshiken é uma obra que foi desenhada estando relativamente consciente disso.

Não é minha intenção formular uma teoria de como as gerações são diferentes depois disso. Não importa o que eu diga, o importante é perguntar para si mesmo, “O que eu pessoalmente acho?” No entanto, eu acredito que o número de pessoas que podem sair e admitir “Eu sou otaku” aumentou.

Para alguém como eu que viveu na época de enclausuramento otaku e pensava, “eu não posso falar que sou um otaku”, isso é uma sensação bem estranha.

Mesmo assim, eu diria que o que temos agora é o situação mais saudável.

Esse contexto pode ser observado na maneira como Genshiken foi feito. A geração do Madarame consiste de otakus que são relativamente reclusos que tentam ocultar seus hobbies e não aspiram se mostrar aos outros quanto a isso.

Ohno ao mesmo tempo também esconde seu hobby, mas é o tipo de pessoa que quer poder compartilhar esse hobby com os outros.

Kousaka e Sue simplesmente e livremente mostram ao mundo quão otaku eles são e como eles curtem ser, enquanto Sasahara é o tipo de pessoa que “viu a luz” só após entrar na faculdade.

Eu costumava enxergar a existência do Kousaka como uma fantasia, mas eu percebi que pessoas como ele realmente existiam.

 

O Volume 9 saiu em 2006. Se passaram quase cinco anos.

Agora nós temos o Volume 10.

E nele os personagens são bem diferentes do que costumavam ser.

Se os tempos mudaram, os personagens em Genshiken também mudaram, em termos de onde eles vem e como seus pontos de vista são.

Daqui em diante vou escrever a respeito das respectiva perspectiva da nova personagem Yajima assim como a de Madarame.

 

(continua em breve na Parte 2)

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Notas de Tradução:

[1] Kyuukyoku Choujin R é um mangá de Yuuki Masami, publicado na Shounen Sunday de 1985-1987. O personagem principal era um robo adolescente chamado R. Tanaka Ichirou.

[2] Assim como o Volume 6, saiu uma edição especial do Volume 9 de Genshiken que veio com um doujinshi de bonus, diferente do Volume 6, ele não foi acoplado à edição americana do mangá.

[3] Mozuya-san Gyakujousuru é um mangá de Shinofusa Rokurou. Publicado na Monthly Afternoon (a mesma revista de Genshiken) desde 2008, é sobre uma garota com um transtorno bipolar cujo nome refere ao seu descobridor, Dr. Josef Tsundere.

[4] Designer de personagens para Mobile Suit Gundam e muitos outros animes. Atualmente desenha Gundam: The Origin.

INTRODUÇÃO: Não há dúvida para quem visita o blog de […]