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Uma análise do nosso fandom tendo como base o último capítulo de Genshiken…

ATENÇÃO: Você PODE ler esse post mesmo sem acompanhar Genshiken.

O último capítulo de Genshiken (73), me abriu a cabeça para um assunto que há muito eu havia deixado de lado ao ler a série, os problemas do passado das personagens. Mas antes de entrar diretamente no assunto, um breve resumo da situação para os que não acompanham a série:

A presidente do Genshiken, Ogiue, decide fazer um mangá em parceria com seu calouro, Hato. Para tentar se adequar ao estilo de arte de seu parceiro, ela decide criar uma história de romance colegial. No entanto, a mesma não tem experiência no assunto por mal ter possuído amigos em seus tempos de escola, muito menos um romance. Ela então decide perguntar aos seus calouros sobre suas histórias, já que eles saíram há pouco tempo do ensino médio. É aí que ela descobre que, assim como ela, nenhum de seus calouro teve alguma experiência romântica.

Para começarmos a analisar a situação, é necessário pensar no por quê da Ogiue ter acreditado que seus calouros teriam história para contar…

Comecemos com a Yoshitake. Uma otaku hardcore, que não aparenta ter nenhum trauma quanto ao seu hobby, tem um temperamento explosivo e desinibido e é bonita (apesar de um tanto baixinha). Essas características fizeram a Ogiue acreditar que ela poderia ter algo a acrescentar para sua história. A Yoshitake era vista como muitos nerds modernos o são, pessoas que no exterior não aparentam ser o que realmente são. Algo que como naturalmente houvesse sido criada um escudo de força para evitar que essa pessoa fosse reconhecida como um nerd por uma simples olhada rápida. O que não significa que ela tenha feito isso de propósito porque se envergonha do que ela é. Mas justamente o contrário. Por ela não ter problema em ser o que é, ela acabou tendo a mente aberta para incluir em sua rotina, por exemplo, senso de moda, vida social, etc. Um fenômeno interessante que tem acontecido muito recentemente no fandom.

Mas ao mesmo tempo que todo seu exterior diga que ela é uma “civil” (não-nerd), ela é uma über-otaku. E sendo o que ela é, acabou que ela dava atenção demais ao seu hobby e se esquecia da parte social da vida, o que acontece com muitos no fandom. Ou seja, mesmo ela não aparentando, ela “sofre” dos mesmos “problemas” de qualquer nerd. Ela se dedicava demais aos seus estudos no Clube de História, que mais era um clube otaku que qualquer outra coisa, e não “tinha tempo” para a vida social escolar.

E que tal a Yajima? Uma menina que claramente é uma otaku (gordinha, não liga muito para o que veste ou para sua aparência, fala pouco…)? Por que a Ogiue acharia que ela teria algo para contar? É algo difícil de se perceber e me tomou algum tempo. O caso é que a Yajima sempre pareceu uma pessoa com “experiência”. Ela muitas vezes captava algumas coisas que os outros não. Parecia que ela tinha mais noção de “vida em sociedade” que seus colegas. Algo como o Sasahara no início da série (lembram dele roubando o celular do Kousaka pra dizer para a Kasukabe que eles já estavam de saída e que ela poderia ficar com o Kousaka a sós logo no volume 1?). Esse ar de pessoa experiente com certeza foi o que levou a Ogiue a crer que a Yajima já tinha tido algum romance nos tempos de colégio.

O curioso é que, de fato, ela teve… mas não teve. Explicando…

Apesar do seu ar de experiente, ela é muito inocente, na verdade. Sua “experiência” no colégio foi a de um outro menino de sua turma ficar enchendo o saco dela fazendo piadinhas com ela de vez em quando. O bullying praticado pelo rapaz foi encarado por ela como uma forma de afeto. Afinal, era um garoto que falava com ela e mesmo quando ele mudou de turma e o bullying acabou, ele ainda se lembrava dela. Isso é o que ela considerou como um “romance”. Totalmente unilateral. O rapaz provavelmente não dava bola nenhuma pra ela, mas pelo simples fato dele falar com ela já despertou algum sentimento do seu lado.

Essa é mais uma característica do nosso fandom. Nerds devem ser as pessoas que mais tem paixões platônicas no universo. É impressionante o número de pessoas que se apaixonam pelas mais mínimas das coisas, e muitas dessas vezes essa pequena parte das pessoas ofusca o todo fazendo-os não enxergar o óbvio. Yajima se apaixonou pelo menino porque ele falava com ela, era o único. Isso não deixou que ela percebesse que, de fato, ela estava sendo alvo de bullying.

E Hato? O fudanshi cross-dresser? Por que ele teria histórias para contar? Ora… essa é fácil. Porque ele é bonito e sempre andou rodeado de garotas no antigo Clube de Arte do colégio. Mas ele é um fudanshi, um garoto que gosta de yaoi. Tem que ter algo de podre nisso aí. Infelizmente, o autor não nos deu o gostinho de saber mais sobre o passado do personagem. Ficará para o próximo post.

Mas antes de terminar essa breve análise, tenho que falar do Kuchiki. Ele não é um calouro do Genshiken, mas ele aparece nesse capítulo sendo o único que teve um romance de fato. O mais doido dos otakus que já passaram pelo Genshiken,  o ser menos improvável do universo, teve uma experiência romântica.

No último ano de escola, uma menina se confessou para ele. É, assim, de bandeja. A questão é que o relacionamento terminou menos de um dia depois. E o que podemos tirar disso em paralelo com o nosso fandom? É simples. Como é constante a quantidade de vezes em que desperdiçamos oportunidades que caem de bandeja para nós. Kuchiki confessou que falou com a menina no máximo uns três minutos naquela noite. Claro que a menina iria dar um pé na bunda dele no dia seguinte. Oportunidades são perdidas ou porque acabamos não sabendo como lidar com elas ou porque não acreditamos que seja realmente conosco. “Uma menina como essa dar mole pra mim? Não, não pode ser… ela deve estar me sacaneando” é um pensamento comum no fandom, não?

Aqui tivemos quatro exemplos de personagens que serviram como base para analisarmos aspectos e comportamentos do fandom. A questão é que  apesar do que eu falei, cada um é cada um. Pode ser que você não se encaixe em anda que eu falei aqui, como também pode ser que você se encaixe em tudo que eu falei aqui. Independente disso, os pontos de vista aqui apresentados são comuns no fandom… tão comuns que foram representados na história.

É engraçado como isso contrasta com a ideia de nerd que muitos tem hoje em dia… nerd-chic… mas isso é um assunto para outra época do ano

Não deixem de comentar.

ATENÇÃO: Você PODE ler esse post mesmo sem acompanhar Genshiken. […]

Um panorama da forma como assistimos animes hoje

Semana passada eu escrevi Para que servem os reviews?, mas ele foi um post que nasceu desse que escrevo agora. Comecei a pensar sobre a forma como vemos animes hoje em dia desde o início desse ano e observei tanto a mim como a outros amigos para tentar chegar a um panorama geral de como assistimos os animes e quais as consequências disso. Esse post traz para você o resultado dessa “pesquisa”. Espero que aproveitem e não deixem de comentar.

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Se você frequenta o Anikenkai, é porque você provavelmente assiste animes e, mais ainda, quer saber mais sobre esse hobby. Então, que tal olharmos para a forma como assistimos animes hoje em dia? Vocês já pararam para pensar sobre isso?

Quando eu comecei a assistir animes, minha única fonte era a televisão. Eu dependia dela para me trazer as séries. O que vinha para cá era um “microlésimo” do que era produzido no Japão e eram produções que já tinham feito certo sucesso por lá, já eram consolidadas, etc. Com o tempo, eu descobri que existiam pessoas que legendavam séries e as distribuíam em fitas VHS quase a preço de custo. Aproveitei pouco disso, mas lembro que meu primeiro contato com Gundam foi dessa forma. Através de um amigo, já que meu pai não me deixava comprar as fitas desses “estranhos”.

Quando a Banda Larga chegou ao Rio de Janeiro, logo coloquei em casa. Era mágico. Um mundo novo se abria. E não demorou para eu começar a achar sites que faziam os mesmos trabalhos de legendagem, mas agora o custo era zero. Era só baixar e assistir. A qualidade era sofrível, mas eu estava lá, vendo séries das mais variadas. Com a evolução do P2P, foi possível disponibilizarem séries legendadas em qualidade melhor. Mas apesar da melhora na qualidade e no custo zero, ainda eram muito poucas as séries que eram legendadas e continuava a ideia de legendar séries que já estavam encerradas e que já faziam certo sucesso. Não era igual ao tempo da televisão, mas ainda sim, era limitado.

A grande revolução na forma de se assistir animes veio há pouco tempo. A proliferação de grupos que legendam gratuitamente séries foi intensa, a facilidade de se obter o material original através da internet colaborou para que mais e mais séries fossem traduzidas e a evolução da tecnologia e o aumento das velocidades de transmissão de dados fez com que séries que ainda estavam sendo exibidas na TV japonesa fossem facilmente acessadas por pessoas do mundo inteiro.

Hoje em dia temos acesso a uma ENORME biblioteca de séries e a cada nova temporada japonesa, nós já sabemos de antemão TUDO que será exibido. Não há nada que escape. Não há nenhuma série que não saibamos com antecedencia que está em produção. Nós temos o poder da escolha. Podemos escolher, assim como os japoneses sempre puderam, o que assistir. Praticamente tudo que sai é legendado e disponibilizado para nós com poucos dias de diferença do público japonês. Uma maravilha, não é mesmo?

Mas o que essa grande mudança acarreta?

Depois de observar bem, eu poderia resumir os seus efeitos como “hoje em dia temos uma necessidade de imediatismo intensa que muitas vezes prejudica o aproveitamento de certas obras e nos faz ver animes como mero entretenimento descartável”. Agora vamos explicar o por quê disso.

Quando passamos a ter contato direto com os lançamentos do Japão, nós começamos a nos programar. Programamos o que iremos assistir antes mesmo desses animes estrearem. Nós já sabemos que pelos próximos meses iremos assistir a uma dezena (ou até mais) de séries específicas. É um processo natural. Nós tendemos a programar nossas vidas, a criar rotinas. Não há nada de anormal nisso. O problema é que, como você não sabe o que a série tem a oferecer realmente, se vale realmente ser assistida, você superlota sua “agenda” e assiste a um monte de séries ao mesmo tempo. Você satura seu dia a dia com séries em andamento.

O primeiro efeito disso é que você se fecha para séries que já estão completas. Não há tempo para assistir a séries que já acabaram. Você não tem tempo para encaixá-las no meio de tanta série nova para assistir. E nós criamos uma expectativa muito mais por séries novas do que por séries que já acabaram. Isso é gerado por ficarmos ansiosos pelo desconhecido. Não sabemos o que pode acontecer no próximo episódio. Se eu deixar de ver essa série agora, vou perder o “momentum” caso aconteça uma grande reviravolta no próximo episódio. Então pra que eu vou deixar de assisti-la para ver uma série que já acabou e que sempre estará lá para eu ver quando eu quiser?

É algo mais ou menos como moradores do Rio de Janeiro nunca terem ido ao Cristo Redentor em toda sua vida. Eu moro no Rio desde que nasci e nunca fui ao Cristo. Alguns turistas acham isso uma insanidade, mas eu sempre digo “ele sempre vai estar lá… outro dia eu vou”. A ideia é basicamente a mesma.

Mas outro efeito, ainda mais problemático, é o de assistirmos animes meramente por assistir. Eles se tornam descartáveis. Eu assisto, jogo fora, pego outro, assisto, jogo fora, etc. Poucas vezes você cria laços mais fortes com determinada série. E o motivo disso é que você assiste aos animes de uma temporada e quando eles acabam, você não tem tempo para maturar o que você viu, já tem outra avalanche de séries que você programou para ver. Não há tempo para ficar desenvolvendo as séries que passaram.

Dando mais um exemplo pessoal, acho que eu não seria tão fã de Genshiken se, na temporada que ele passou no Japão, eu tivesse assistido a ele junto de outros animes. Eu ter assistido à primeira série de Genshiken em uma tacada só me fez criar empatia pelo que era mostrado e me interessou a buscar mais daquilo. Você vê séries que mesmo nesse ritmo frenético conseguem ter apelo, como Madoka Magica, mas que logo são deixadas de lado frente a novas coisas, como Steins;Gate.

Entenderam agora o que eu disse com “hoje em dia temos uma necessidade de imediatismo intensa que muitas vezes prejudica o aproveitamento de certas obras e nos faz ver animes como mero entretenimento descartável”?

Claro que essa observação foi feita sobre a minha ótica, mas posso dizer que aprendi muito durante o tempo em que “pesquisei” sobre esse assunto. Provavelmente por causa disso eu esteja mais seletivo no que assistir para os animes da próxima temporada. Espero que vocês possam usar esse texto como forma de se autoanalisar. Um incentivo para você ver se está gostando mesmo do modo como você está curtindo seu hobby. E se a resposta for sim, não se preocupe. Eu não estou aqui para dizer que isso está errado. Eu conheço gente que é o avatar desse “novo modo de se ver animes” e o cara não larga disso de jeito nenhum pois pra ele é o ideal. Ao mesmo tempo conheço gente que pouco assiste os animes da temporada e prefere pegar só séries que já encerraram.

O importante é que tenhamos uma postura crítica não só com as séries que assistimos mas como nós assistimos.

Semana passada eu escrevi Para que servem os reviews?, mas […]