Um panorama da forma como assistimos animes hoje

Semana passada eu escrevi Para que servem os reviews?, mas ele foi um post que nasceu desse que escrevo agora. Comecei a pensar sobre a forma como vemos animes hoje em dia desde o início desse ano e observei tanto a mim como a outros amigos para tentar chegar a um panorama geral de como assistimos os animes e quais as consequências disso. Esse post traz para você o resultado dessa “pesquisa”. Espero que aproveitem e não deixem de comentar.

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Se você frequenta o Anikenkai, é porque você provavelmente assiste animes e, mais ainda, quer saber mais sobre esse hobby. Então, que tal olharmos para a forma como assistimos animes hoje em dia? Vocês já pararam para pensar sobre isso?

Quando eu comecei a assistir animes, minha única fonte era a televisão. Eu dependia dela para me trazer as séries. O que vinha para cá era um “microlésimo” do que era produzido no Japão e eram produções que já tinham feito certo sucesso por lá, já eram consolidadas, etc. Com o tempo, eu descobri que existiam pessoas que legendavam séries e as distribuíam em fitas VHS quase a preço de custo. Aproveitei pouco disso, mas lembro que meu primeiro contato com Gundam foi dessa forma. Através de um amigo, já que meu pai não me deixava comprar as fitas desses “estranhos”.

Quando a Banda Larga chegou ao Rio de Janeiro, logo coloquei em casa. Era mágico. Um mundo novo se abria. E não demorou para eu começar a achar sites que faziam os mesmos trabalhos de legendagem, mas agora o custo era zero. Era só baixar e assistir. A qualidade era sofrível, mas eu estava lá, vendo séries das mais variadas. Com a evolução do P2P, foi possível disponibilizarem séries legendadas em qualidade melhor. Mas apesar da melhora na qualidade e no custo zero, ainda eram muito poucas as séries que eram legendadas e continuava a ideia de legendar séries que já estavam encerradas e que já faziam certo sucesso. Não era igual ao tempo da televisão, mas ainda sim, era limitado.

A grande revolução na forma de se assistir animes veio há pouco tempo. A proliferação de grupos que legendam gratuitamente séries foi intensa, a facilidade de se obter o material original através da internet colaborou para que mais e mais séries fossem traduzidas e a evolução da tecnologia e o aumento das velocidades de transmissão de dados fez com que séries que ainda estavam sendo exibidas na TV japonesa fossem facilmente acessadas por pessoas do mundo inteiro.

Hoje em dia temos acesso a uma ENORME biblioteca de séries e a cada nova temporada japonesa, nós já sabemos de antemão TUDO que será exibido. Não há nada que escape. Não há nenhuma série que não saibamos com antecedencia que está em produção. Nós temos o poder da escolha. Podemos escolher, assim como os japoneses sempre puderam, o que assistir. Praticamente tudo que sai é legendado e disponibilizado para nós com poucos dias de diferença do público japonês. Uma maravilha, não é mesmo?

Mas o que essa grande mudança acarreta?

Depois de observar bem, eu poderia resumir os seus efeitos como “hoje em dia temos uma necessidade de imediatismo intensa que muitas vezes prejudica o aproveitamento de certas obras e nos faz ver animes como mero entretenimento descartável”. Agora vamos explicar o por quê disso.

Quando passamos a ter contato direto com os lançamentos do Japão, nós começamos a nos programar. Programamos o que iremos assistir antes mesmo desses animes estrearem. Nós já sabemos que pelos próximos meses iremos assistir a uma dezena (ou até mais) de séries específicas. É um processo natural. Nós tendemos a programar nossas vidas, a criar rotinas. Não há nada de anormal nisso. O problema é que, como você não sabe o que a série tem a oferecer realmente, se vale realmente ser assistida, você superlota sua “agenda” e assiste a um monte de séries ao mesmo tempo. Você satura seu dia a dia com séries em andamento.

O primeiro efeito disso é que você se fecha para séries que já estão completas. Não há tempo para assistir a séries que já acabaram. Você não tem tempo para encaixá-las no meio de tanta série nova para assistir. E nós criamos uma expectativa muito mais por séries novas do que por séries que já acabaram. Isso é gerado por ficarmos ansiosos pelo desconhecido. Não sabemos o que pode acontecer no próximo episódio. Se eu deixar de ver essa série agora, vou perder o “momentum” caso aconteça uma grande reviravolta no próximo episódio. Então pra que eu vou deixar de assisti-la para ver uma série que já acabou e que sempre estará lá para eu ver quando eu quiser?

É algo mais ou menos como moradores do Rio de Janeiro nunca terem ido ao Cristo Redentor em toda sua vida. Eu moro no Rio desde que nasci e nunca fui ao Cristo. Alguns turistas acham isso uma insanidade, mas eu sempre digo “ele sempre vai estar lá… outro dia eu vou”. A ideia é basicamente a mesma.

Mas outro efeito, ainda mais problemático, é o de assistirmos animes meramente por assistir. Eles se tornam descartáveis. Eu assisto, jogo fora, pego outro, assisto, jogo fora, etc. Poucas vezes você cria laços mais fortes com determinada série. E o motivo disso é que você assiste aos animes de uma temporada e quando eles acabam, você não tem tempo para maturar o que você viu, já tem outra avalanche de séries que você programou para ver. Não há tempo para ficar desenvolvendo as séries que passaram.

Dando mais um exemplo pessoal, acho que eu não seria tão fã de Genshiken se, na temporada que ele passou no Japão, eu tivesse assistido a ele junto de outros animes. Eu ter assistido à primeira série de Genshiken em uma tacada só me fez criar empatia pelo que era mostrado e me interessou a buscar mais daquilo. Você vê séries que mesmo nesse ritmo frenético conseguem ter apelo, como Madoka Magica, mas que logo são deixadas de lado frente a novas coisas, como Steins;Gate.

Entenderam agora o que eu disse com “hoje em dia temos uma necessidade de imediatismo intensa que muitas vezes prejudica o aproveitamento de certas obras e nos faz ver animes como mero entretenimento descartável”?

Claro que essa observação foi feita sobre a minha ótica, mas posso dizer que aprendi muito durante o tempo em que “pesquisei” sobre esse assunto. Provavelmente por causa disso eu esteja mais seletivo no que assistir para os animes da próxima temporada. Espero que vocês possam usar esse texto como forma de se autoanalisar. Um incentivo para você ver se está gostando mesmo do modo como você está curtindo seu hobby. E se a resposta for sim, não se preocupe. Eu não estou aqui para dizer que isso está errado. Eu conheço gente que é o avatar desse “novo modo de se ver animes” e o cara não larga disso de jeito nenhum pois pra ele é o ideal. Ao mesmo tempo conheço gente que pouco assiste os animes da temporada e prefere pegar só séries que já encerraram.

O importante é que tenhamos uma postura crítica não só com as séries que assistimos mas como nós assistimos.

Sobre Diogo Prado

Tradutor, professor, host do Anikencast, apaixonado por quadrinhos, apreciador de jogos eletrônicos e precoce entendedor de animação japonesa.

Você pode me achar no twitter em @didcart.

Semana passada eu escrevi Para que servem os reviews?, mas […]

20 thoughts on “Um panorama da forma como assistimos animes hoje”

  1. Bem interessante o post! As vezes é legal mesmo a gente parar pra pensar a maneira que a gente vê animes… Acho que dá pra aprimorar o “hobby” se a gente discutir sobre ele.

    Eu acho que o grande problema de tudo que foi dito é o “assistir por assistir”. Quando uma série não me atrai o suficiente, por maior que seja o hype dela entre os fãs, eu o abandono sem piedade… Afinal, como você mesmo disse no post, não há tempo pra ver tudo! Imagina ver algo que não tá atraindo o suficiente…

  2. Mesmo que a série seja descartável, eu não tenho nada a melhor a fazer, então vejo até o fim mesmo… Mas olha ainda vejo animes já encerrados normalmente, com uma dose de uns 3 por semana no máximo, a falta do que fazer me ajuda demais =P

  3. Esse texto remete a algo que estava refletindo justamente há pouco tempo. Vejo sempre o pessoal acompanhar mais de 10 lançamentos por temporada, enquanto eu prefiro escolher a dedo apenas uns cinco ou seis. Isso porque, além de não ter muito tempo livre, prefiro ficar ligada a poucas coisas, das quais possa absorver o conteúdo e refletir a respeito com mais calma, uma questão de “criar laços”, como você mencionou no texto. Mas é uma preferência pessoal.

  4. Ótimo post. Depois que eu descobri as “temporadas de anime”, fui cada vez mais adentrando nesse mundinho e vendo mais e mais animes. Cheguei num ponto que, até meus outros hábitos ficaram prejudicados, como ler mangás, ler livros, jogar…etc. Acho que o cumulo, foi quando acompanhei por volta de 25 animes na temporada. SATUROU e hoje em dia, eu estou bem mais seletiva e creio que seja uma tendência natural. Eu não entendia pessoas que só pegavam 2/3 animes pra assistir, hoje vejo como algo normal e em breve, é provável que eu esteja nesse grupo. Com o falta de tempo, nós temos que aprender a priorizar e selecionar ao máximo.

    E é isso ai, tem animes que é até um pecado, agente somente assistir e depois esquecer. Sou feliz por ter algumas paixões entre animes, como Elfen Lied, Higurashi…Utena…entre outros. É muito bom poder absorver o máximo que determinada série quis passar.

  5. Isso de assistir as séries novas ao invés das antigas acontece bastante comigo. A cada nova temporada eu fico preocupada, porque há TANTOS animes encerrados que quero ver, mas parece que não há tempo, não há um espaço de tempo entre as temporadas. Se bem que não pego muitos animes a cada temporada, geralmente uns 5 no máximo (e costumo terminar apenas 2 ou 3), mas mesmo assim dá aquela sensação de “correria”, de necessidade de arrumar mais tempo livre.

  6. Concordo com esse ponto, isso acontece principalmente no começo das novas temporadas, quando não tem 100% de certeza o que ver, mas acho que mais pro meio dela coisas foram dropadas e você percebe que outras são melhor ver em uma tacada só, Isso aconteceu com Penguindrum para mim, não é o tipo de coisa para se ver em uma base semanal, vale mais a pena esperar para ver tudo.

    Creio que com isso o numero de series que levara até o fim de uma temporada diminui, tanto por bem como por mau.

    Mas quanto a escolher o que ver é outra historia, eu pelo menos prefiro ver todos, depois filtrar quais são de agrado. sempre dar a chance a coisas novas, nunca sabe-se quando vão o surpreender.

  7. Novamente, tocando num ponto muito interesante Diogo! Também comecei a assistir anime da mesma forma e depois também recorri, depois aos fansubs. Minha opinião quanto a “necessidade imediata” de assistir a uma enxurrada de séries é o simples fato do fulano querer ficar por dentro de tudo o tempo todo… Assisto só a animes que me chamam atençao para curtilos ao maximo e sempre procuro dar um bom espaço entre uma série e outra. Assim, tenho tempo de assimilá-la!
    Parabéns pelo posta rapaz o/!

  8. Eu não vejo todas, mas o episódio 1 eu gosto de ver, tirando algumas que realmente são descartáveis logo de cara.

    Nessa temporada nem tenho apostas, o episódio 1 vai ser o termômetro.

  9. Mais um texto interessantíssimo, parabéns. Eu escrevi uma crítica sobre a mesma coisa a um tempo atrás (maio de 2010?! Como o tempo voa!). Naquela época motivada por Tokyo Magnitude 8.0, que eu assisti tardiamente.

    http://mundomazaki.blogspot.com/2010/05/fas-cada-vez-menos-fas.html

    Hoje me preocupo com as mesmas coisas com relação à Madoka Magica. Essa “necessidade de imediatismo” faz as pessoas não fazerem uma reflexão mais profunda sobre nada do que veêm, acabando por ficar presas somente ao aspecto mais superficial das tramas.

    Alias também é raro você ver alguém comentar que reviu uma série atual pouco tempo depois de ter terminado. Boas obras normalmente sempre falam muito mais quando vemos novamente e muita gente perde isso.

    E eu continuo a bater a tecla do meu texto de mais de um ano atrás – o público banaliza o produto e o produto banaliza a si mesmo. E porquê? Porque o produto sabe que o público não vai, em grande parte, pensar nisto o bastante para achar tão ruim.

    Particularmente eu prefiro ver 1 ou 2 animes por temporada, talvez ver uma série antiga e ter tempo para descobrir detalhes sobre minhas séries favoritas que são difíceis de achar =)

  10. Só assisto as séries depois que elas já encerraram. Tenho algo contra esse imediatismo, pois diversamente de quando eu comecei a assistir anime você nem ao menos viaja sobre a proposta do anime e já está em um outro. Além disso, com essa grande oferta, veio uma grande oferta de porcaria =/. Antes de assistir um anime eu leio algo sobre ele pelo menos, se acho a plot interessante baixo e assisto senão, nem rola. Isso serve pra Infinite Stratos, The World god only knows, high school f the dead, é porcaria…

  11. Só em chamar um anime que eu assisti uma temporada de “descartável” eu já acho ruim, que dirá pensar desse jeito aí. Tenho pena até de deletar, coleciono tudo que baixo e arrumo tudo bonitinho xD

    Acho depende da pessoa Didzaço, minha “Watching” está sempre com mais de 20 TV anime e sempre vejo animes completos. Conseguir lever todas as histórias acostuma com o tempo. Só nesses últimos dias vi 3 que já estavam completos.

    Eu nem peguei essa fase ruim aí de VHS e tudo mais, meus animes de TV era lá no tempo de criança, nem chamava de “anime”. Eu comecei em 2006 e todos meus animes favoritos foram vistos no meio de animes semanais e em sequencia com outros animes.

    Concordo que ver em sequencia pode ter um bom efeito. Mas acho muito melhor ver em temporadas, pois aí tu compara o andamento com outras séries e vê se realmente aquilo é foda.

  12. Belo post, DidCart. Concordo plenamente com o que escreveu.

    Acredito que esta variedade e disponibilidade que alcançamos atualmente acaba tornando-se um tiro no pé. Pois deixamos de valorizar as séries, e tudo se tornou imediato e descartável. Diferente de quando só consumíamos o que passava na TV ou em VHS, onde tudo tinha um valor, sentimental, inclusive.

    Apesar de tudo, sou adepto à inovação, acredito que esta acessibilidade atual promove escolher o que quisermos, gerando novas experiências.

    Por isso, tenho o meu próprio método de ver animes, que é ver uma só série por vez, independente se é antiga ou recém-saída do forno. Agora, por exemplo, estou vendo Hokuto no Ken, um anime de 1984, de mais de 150 episódios, e vibro como uma criança a cada cena. 😀

  13. Ótimo tema de discussão e ótimo post também!!
    Realmente, hoje em dia, estamos com essa necessidade de acompanhar tudo de tudo sem refletir sobre o que consumimos, e isso vale não só para animes como também pra séries de TV, filmes, livros, músicas, etc… Acho que queremos estar sempre por dentro de tudo, ou então nos sentimos meio que “atrasados”.
    Particularmente, prefiro acompanhar somente uns quatro ou cinco animes dos que vão saindo nas temporadas, daqueles que mais me chamam a atenção, até porque nem todos devem ser do meu gosto e porque prefiro guardar todos os animes que assisto. Além disso é bom criar algum tipo de laço com o anime(algo que é difícil caso assista muitos de uma vez), até pra ter tempo de discutir, nem que seja um pouquinho, com os amigos reais e virtuais.
    Lembrem-se: “Qualidade é melhor que quantidade”

  14. Trabalhar faz bem para o espírito, do que ficar assistindo anime, ou melhor, clichês.

    Ótima matéria.
    Parabéns.

  15. eu prefiro assistir a animes ja terminados ou com pelo menos 3 episodios porem quando acho uma serie boa nova, eu a acompanho porem ainda prefiro o sistema dos 3 episodios XD

  16. Bom post, Did. Raramente assisto mais de um anime por vez, apenas recentemente estou intercalando séries completas com algum lançamento da temporada. E posso dizer que não me acostumei com o ritmo semanal ainda.

  17. Faltou falar de um assunto relacionado, que é o fato de como hj nego tem 3000000 animes para ver, a galera mal dá chance para o anime se desenvolver.

    Antigamente, a gente via o que podia ver, então quando tu baixava um anime, tu via. As vezes tu perdia teu tempo, mas muitas vezes tu continuava e acabava gostando.

    Hj em dia a galera vê 1 ou 2 eps e já dropa. Outros chegam ao cúmulo de dropar com 5 minutos de anime… É o lado mais extremo do imediatismo que vc mencionou.

    Quantos animes excelentes começam com episódios fracos, mas depois ficam bons?

  18. Como eu havia conversado com alguns colegas qualquer hobbie está sujeito À uma avalanche uma indústria e sçao tantos produtos que fica díficil avalair o que é bom, ruim ou mesmo o que vale A´pea ver, descartar ou mesmo gastar seu tempo.

    Eu como fã de séries live-Action e animês e como professor tenho pouquíssimo tempo para gastar apenas em naimaç~eos e como muitas vezes porcuro por séries já acabadas fica ´dificil acompanhar o que irei asistir. às vezes intercalo com algumas séries acabadas eo utras ainda em andamento. recentemente li Dororo e irei ler Cyborg 009. Estou acompanhandomuitos mangás lançadosno Brasil e assiti algusn das temporadas passadas. Asim fica mais ´facil adminitar o tempo com o que tem nas próximas temporadas, já que semrpe estou um pouco atrsado ocm relação à tais lançamentos.

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