Yasuke: o primeiro samurai negro do Japão

Yasuke, o samurai negro e o primeiro samurai estrangeiro no Japão, conquistou um grande destaque na cultura pop nos últimos anos, mas a importância e a jornada desse ícone na história conseguiu marcar o mundo da ficção? 

A Netflix salta à frente com a primeira produção (ocidental?) baseada nessa figura histórica. Nesse artigo, vamos revirar um pouco a respeito dessa produção e desse ícone na história do Japão e da cultura popular. 

Yasuke

Yasuke, a recente animação da Netflix, conta a história de um homem recluso em um pequeno vilarejo no interior do Japão, onde sem muita demora enfrenta o obstáculo do destino, forçando nosso herói a revisitar seu passado como o primeiro samurai estrangeiro e braço direito de Oda Nobunaga, lutando assim contra os exércitos da usurpadora demônio. 

A animação bebe de fontes muito ricas do mesmo gênero, como Samurai Champloo (que possui um review aqui no portal) e o consagrado Afro Samurai. Mas não se engane, Yasuke é uma animação que se permite mergulhar no mundo da fantasia, deixando de lado uma certa sobriedade que um público padrão poderia esperar de uma narrativa baseada em uma figura histórica. Então esteja preparado para uma trama recheada de robôs, mutantes, demônios, magia, entre outras inúmeras “liberdades criativas”, afinal é de se destacar que essa produção não é bibliográfica e sim uma aventura ficcional que usa de detalhes históricos incorporados ao enredo. 

Trata-se de uma trama simples, que coloca muitas discussões em pauta, como o sentimento de pertencimento do protagonista, o poder e a corrupção de figuras religiosas (principalmente sobre a presença da igreja católica no Japão durante a época em que o anime se baseia, feita de maneira bastante caricata mas que serve ao seu propósito). Referências visuais também são bastante ricas na animação.

Na imagem, à esquerda: pintura japonesa que descreve um grupo de portugueses estrangeiros no Japão no período Nanban, entre os quais está um servo negro – Fonte wikipédia. À direita: Cena do anime, Yasuke – Fonte Netflix.

A riqueza de referências na história de Yasuke, somada à história do Japão e ao próprio universo das animações japonesas, é o que traz o charme dessa produção. Porém toda a complexidade que os animes tradicionais gastam em sua narrativa, construindo conceitos ou estabelecendo os elementos narrativos para que o público aceite as fantasias e distorções propostas pelos animadores, não é presente. Robôs, magia, demônios, entre muitas e outras coisas estão lá e ponto. Não espere explicações ou desenvolvimento com relação a esses elementos.

O elenco da produção

LeSean Thomas é o produtor, diretor e cabeça à frente da animação de Yasuke. Thomas já esteve envolvido em outras produções de séries animadas nas mais diversas funções, como Black Dynamite, Children of Ether, Cannon Busters (outro original netflix), The Boondocks e Avatar: A lenda de Korra. Ou seja, não é de hoje que ele causa dores de cabeça no público otaku, provocando discussões sobre o que pode ou não ser considerado um anime.

Na imagem, à esquerda: Lesean Thomas – site oficial do artista: http://leseanthomas.com. À direita: pôster da animação “Avatar: a lenda de Korra”.

A animação teve uma produção que contou com a colaboração de animadores estadunidenses com a equipe japonesa do estúdio MAPPA (conhecido por Shingeki no Kyojin, Banana Fish, Dororo, entre outras animações que ganharam muito destaque nos últimos anos).

Takeshi Koike, responsável pelo design e direção de personagens da animação, também já atuou em inúmeras áreas na produção de animações no Japão. Entre seus inúmeros trabalhos estão: Vampire Hunter D: Bllood, Animatrix, O Rapaz e o Monstro e alguns filmes de Lupin The III.

Na imagem, à esquerda: Takeshi Koike – fonte: manga.tokyo. À direita, pôster de “Animatrix”.

Yasuke character design por Takeshi Koike

Steven Ellison, conhecido pelo seu alter ego Flying Lotus, é o produtor musical a frente da animação de Yasuke. Tendo uma carreira extensa como produtor de música eletrônica experimental, Flyng Lotus trabalhou com diversas produções no meio cinematográfico, como o longa Kuso, o curta animado de Blade runner: Blecaute 2022 e, assim como Lesean, trabalhou em The Boondocks.

Na imagem, à esquerda: Flying Lotus. À direita: pôster da animação “The Boondocks”.

Stephen Lee Bruner, ou Thundercat, é o responsável pela música de abertura de Yasuke. Compositor multi-instrumentista, com influências de jazz e fusion, trabalhou em harmonia nessa produção, em combinação com estilo experimental de Lotus.

Na imagem: Thundercat

No vídeo: abertura de yasuke, black gold, por Flying Lotus e Thundercat

Yasuke histórico 

O pouco que se sabe sobre o guerreiro samurai Yasuke foi brevemente citado na animação. Há aproximadamente 500 anos atrás, no Japão, conta-se sobre um estrengeiro levado por um jesuíta português. Não se pode afirmar se ele era um escravo ou não na embarcação que o trouxe. Posteriormente, Yasuke, como ficou conhecido, teria se juntado às forças de Nobunaga e aos poucos galgou altas patentes na hierarquia dos samurai.

Nos últimos anos, essa história incrível tem despertado o interesse de grandes produções, como a própria adaptação animada da Netflix e um filme que estava planejado com Chadwick Boseman no papel principal, que infelizmente não pode ser engatado. Yasuke, o primeiro samurai estrangeiro e único samurai negro do Japão, carrega consigo não só as páginas da história, como é o símbolo de uma luta!

No vídeo: música Yasuke, por Emicida

Referências

Kaed, é formado em design(seja lá o que isso queira dizer) e ilustrador de fundo de quintal, gosta de dissecar e falar groselha sobre quadrinhos e animação com piadinhas no meio para descontrair e não parecer um esnobe de monóculo, além de ser uma tiete em tempo integral dos seus artistas favoritos de mangá. Para conferir um rabisco ou outro desse desocupado, confira o @dudesken no Instagram.