O Menino E A Garça – Resenha

Recentemente chegou às salas de cinema brasileiras o novo filme do estúdio Ghibli, e até então o último filme de Miyazaki Hayao, O Menino E A Garça.

 

Segredo

Pouco antes e durante sua estreia no Japão, muito mistério foi colocado em volta da trama deste filme. Houve pouca divulgação, trailers ou marketing promocional do longa. Até onde se sabe, todo essa preservação foi intencional.

Segundo a Variety, ainda em 2023, foi uma decisão feita pelo próprio estúdio. A ideia era de que os fãs tivessem o primeiro contato diretamente nas salas de cinema.

 

Enredo

Atualmente trailers foram divulgados, e a sinopse junto a promoção do filme finalmente viram a luz do dia, pelo menos aqui no ocidente. Mas caso queira ter a experiência completa do filme, fica a recomendação para pular essa parte do resumo do filme, embora haverá cuidado para não acabar com possíveis surpresas.

Na história acompanhamos Maki Mahito, um garoto que após perder a mãe doente em um incêndio no hospital é levado por seu pai para sua nova casa, nova rotina e nova mãe.

Nesse novo lar o protagonista é confrontado por uma garça selvagem que vive nas proximidades e que guarda uma misteriosa natureza. A trama se desdobra em uma aventura fantástica, digna de Miyazaki, onde Mahito terá que se conectar com a sua vida no presente e lidar com as perdas do passado.

Poster de O menino e a Garça

 

Como eles vivem

A história se comparada ao longa antecessor, Vidas Ao Vento. Compartilha de peculiaridades semelhantes, como o toque autobiográfico de Miyazaki, que em “O Menino E A Garça “ pode ser observado desde seu protagonista ao pai e seu trabalho na construção de peças para aviões, e o ambiente cercado por natureza.

A história, por outro lado, parte para uma abordagem mais fantasiosa sem abandonar o conflito do protagonista em lidar com a perda da mãe, que se desenha envolta nas sombras de uma guerra, e lidar com sua nova vida e de sua aproximação com Natsuko, sua tia e agora mãe adotiva.

Miyazaki tenta uma abordagem mais modesta e familiar ao brincar com linhas do tempo e realidades alternativas durante sua narrativa, discutindo assim os conflitos internos de seus personagens e trazendo em pauta uma visão sobre ancestralidade e tradição.

O filme é bastante contemplativo até mesmo para os padrões do diretor, ainda assim reserva bons momentos para ação em situações de se prender o fôlego. Se fosse possível comparar com obras anteriores seria uma mistura curiosa de Totoro e Castelo animado.

A animação reserva momentos brilhantes. A introdução do filme com nosso protagonista correndo em direção às chamas é impecável, toda fauna e criaturas apresentadas, incluindo a tal garça, é de um capricho tanto em aspectos de animação quanto de design, e a trilha sonora fecha com chave de ouro.

 

Vida, Morte, Cegonhas E Periquitos

Efemeridade é algo que volta e meia se torna uma discussão nesse filme. Fala sobre a natureza da vida, os laços com sua família e com quem você realmente é, e de como tudo isso pode ser passageiro, ao passo que depois de olhar para trás e pensar o que poderia ter sido, ou de como tudo vai acabar, possa se olhar para frente e continuar preservando os momentos. O último filme de Miyazaki não é o seu último e foi emocionante o suficiente para nos contentar ou para esperar por um próximo.

Kaed, é formado em design(seja lá o que isso queira dizer) e ilustrador de fundo de quintal, gosta de dissecar e falar groselha sobre quadrinhos e animação com piadinhas no meio para descontrair e não parecer um esnobe de monóculo, além de ser uma tiete em tempo integral dos seus artistas favoritos de mangá. Para conferir um rabisco ou outro desse desocupado, confira o @dudesken no Instagram.