O Bleach que você talvez não conheça.

Vejam que grande surpresa, o Vilson falando de Bleach outra vez.

A um tempo eu estava com a vontade de escrever sobre um dos meus animes/mangás favoritos por aqui no Portal, mas ainda não tinha encontrado algo que já não tivesse sido falado nos anos de existência da obra prima de Tite Kubo. Com a nova adaptação animada nos trazendo finalmente o arco final da história original que ficamos privados por tantos anos, o nome Bleach está na boca do povo e a chama dessa paixão reascendeu com toda a força, com isso fazendo velhos fãs revisitarem a franquia e novos fãs passaram a conhecer a grandiosidade que é um dos ex-big 3 da Shonen Jump que por muito tempo foi pareado junto a outros titãs da revista como Naruto e One Piece.

Reprodução: Shueisha

Com o hype de Bleach: Thousand Year Blood War no ar, quis revisitar alguns materiais antigos e talvez até alguns inéditos mesmo para mim. Comecei indo ver os arcos fillers, que por muitos deles eu simplesmente ignorei por ter uma mentalidade arcaica de “episódio filler = ruim”, mas graças a influência do queridíssimo Sahgo do Canal do Sahgo e suas analises durante a série de vídeos “Falando Filler, ganhei uma nova perspectiva sobre esse pedaço da animação japonesa por muito odiada e acabei ganhando um novo apreço pelo trabalho feito. Claro, alguns arcos fillers de Bleach são melhores que outros, alguns chegam a ser semi-canônicos e criados pelo próprio Kubo e futuramente até alguns conceitos e ideias usados em material oficial.

Pensei em quem sabe trazer uma análise desses arcos por aqui, mas eles são longos e não sei se teria o talento para colapsar em poucos parágrafos o que teria a dizer sobre cada um deles. Aí me veio a ideia! Existe um meio termo nessa mesma energia! Os FILMES de Bleach!

Como toda grande franquia animada vinda das páginas da Jump, Bleach foi agraciado com algumas adaptações para a telona e considerando os tempos atuais, é capaz de muita gente nem se lembrar deles.

Dito isso, farei o favor a sociedade e minha parte como grande fã declarado e trazer um pequeno review sobre cada um desses filmes e quem sabe instigar a curiosidade de procurar por eles enquanto aguardamos o 2° cour de Bleach TYBW se iniciar ou complementar na empolgação quando ele eventualmente sair.

Memories of Nobody

Visualizem esse cenário. O ano é 2006. Bleach está no auge de sua popularidade e um dos seus arcos mais influentes e queridos havia acabado de acabar, o famoso “Arco da Soul Society”. Já era final do ano, virada de 2005 para 2006 para ser mais preciso e haveria um pequeno delay entre o fim do arco e o início do próximo que viria a ser o péssimo “Arco dos Bount” (filler). O timing foi perfeito para que o primeiro longa-metragem de Bleach fosse lançado e mantivesse a empolgação dos fãs lá no alto com algo inédito, porém, socialmente e culturalmente aceito como material a parte sem compromisso!

Lançado nos cinemas japoneses em 16 de dezembro de 2006, Bleach: Memories of Nobody trazia uma história original que se passava em algo entorno do o fim do Arco da Soul Society, Ichigo estava de volta ao mundo humano seguindo sua vida de estudante e Rukia voltando a morar na Soul Society e inocentada de seus crimes, ainda tendo Aizen como o grande vilão, mas agora desaparecido.

Tudo vai bem, até que as equipes cientificas da Soul Society captam estranhos fenômenos e baixas nos soldados espalhados pelo mundo humano. Rukia volta a Terra e com a intrometida ajuda de Ichigo, investigam o que está acontecendo e descobrem criaturas chamadas Blanks, o confronto é inevitável, mas eles são salvos por uma shinigami misteriosa chamada Senna que muito convenientemente consegue acabar com os Blanks facilmente. Tudo se intensifica quando uma organização chamada Dark Ones precisa capturar Senna para realizar um plano que iria destruir a Soul Society e o mundo humano!

Esse filme envelheceu bem mal. Quando temos uma produção em filme de um anime já consagrado esperamos ver aquele overbudget e qualidade lá no teto, mas aqui não parecia diferente do que já fariam para a série de tv normalmente. Se o visual deixa a desejar, pelo menos compensa com a história. O pequeno drama da Senna ser um “ser inexistente”, apenas um receptáculo para as memórias perdidas daqueles que já se foram – daí o título “memórias de ninguém” – Sinto que a abordagem aqui foi de menos é mais, simples, direto ao ponto e o suficiente para dar uma pequena emocionada e empatia com a nova personagem original que nunca mais será convenientemente mencionada já que ao final do filme todos esquecem sobre ela.

Já adianto que de todos os filmes, esse é de longe o pior, tanto por parte técnica, quanto por roteiro/direção. Algo a se ressaltar aqui e que ficará bem frequente no decorrer dos outros filmes é:

1 – A Soul Society é uma organização quase fascista, opressora e os filmes fazem questão de quase sempre fazer a história ser em torno do quão caótico a Soul Society foi em seu passado e os fantasmas vem para assombrar.

2 – Obviamente Ichigo é o protagonista de Bleach, mas todos os filmes geralmente NÃO SÃO sobre ele e sempre acaba se intrometendo de uma forma até irritante.

The Diamond Dust Rebellion

No ano seguinte (2007) Bleach ganha sua segunda adaptação em filme dessa vez centrado no personagem campeão de popularidade da franquia, o Capitão Toshiro Hitsugaya.

Os Shinigamis são ordenados a escoltar o transporte de um item raro, o Oin, um aparato poderoso que pode moldar o tempo e o espaço, liderados por Hitsugaya. O comboio é subitamente atacado e o item roubado. Dado a tamanha falha, o capitão do time 10 é condenado a execução, porém ele foge. O homem que roubou o item é Sojiro Kusaka, o melhor amigo de Toshiro e ambos possuem algo em comum: eles têm a mesma Zanpakuto. No passado, quando ambos despertaram suas Hyorinmaru, as leis da Soul Society não permitiam que existissem 2 Zanpakuto idênticas, então eles decidem executar Sojiro já que Hitsugaya era o gênio prodígio e cheio de potencial. Hitsugaya assume a responsabilidade de antes de pagar pelos seus crimes, impedir o ex-colega de ativar o Oin e devolve-lo a onde pertence.

Como esperado e já mencionado, Ichigo acaba se envolvendo na história e isso é muito incomodo pois em momento nenhum ele se encaixa na narrativa. É uma história do Hitsugaya, sobre o Hitsugaya, uma fonte de aprofundamento das origens do personagem e muito tempo de tela é roubando para Ichigo exercer o seu obrigatório protagonismo. Mesmo assim, Diamon Dust entrega um filme interessante e se você for fã do Hitsugaya irá apreciar o destaque que ele recebe. Pessoalmente sou indiferente a ele. Não tenho tanto apego ao Hitsugaya e a história é legal, mas não comove tanto assim, pelo contrário, só deixa você com um pouco mais de raiva pela Soul Society ser tão rigorosa em costumes e tradições antigas que claramente não se aplicam mais a realidade atual.

No lado técnico da coisa, esse filme faz jus ao que se espera de um filme de anime. A qualidade já é jogada lá pra cima e é um espetáculo aos olhos.

Um novo padrão que vemos nesse filme é o clássico fenômeno que vemos quando se é trabalhado com material filler. Por um lado, temos novos conteúdos e conceitos para explorar, mas eles não podem sobrepor a história original ou se tornar suficientemente relevante, então uma das saídas praticas para esse dilema é sempre recriar em novos contextos momentos icônicos canônicos. As cenas de lutas com os outros personagens são praticamente espelhadas do que já fizeram na história principal, chega a ser hilário, mas isso não as torna menos empolgantes. Não tem como não achar incrível o Zaraki arrebentando tudo em uma animação primorosa.

Fade to Black

No glorioso ano de 2009 tivemos o 3° filme de Bleach. Fade to Black foca sua atenção em Kuchiki Rukia e Kurosaki Ichigo, talvez numa tentativa de emular a empolgação que os fãs tinham quando estávamos no arco da Soul Society.

A história é um pouco clichê. Um belo dia a Soul Society é atacada, mas no dia seguinte tudo parece normal, no mundo humano, Ichigo segue sua vida até que começa a notar algumas inconsistências, logo se dá conta que apenas ele e Kon se lembram de Rukia. Sua família, seus companheiros, os shinigamis, o mundo esqueceu da existência de Kuchiki Rukia. Enquanto isso Rukia voltou para a pobre cidade de Hokongai na Soul Society e está vivendo com o casal de irmãos Shizuku e Homura que parecem ter um grande carinho pela Shinigami.

Iniciasse uma corrida contra tudo e todos em que Ichigo tenta encontrar Rukia e entender tudo o que está acontecendo antes que seja tarde demais para eles e a Soul Society.

De todos os filmes, esse é de longe o meu favorito. O mais bem produzido, animado e com um toque bem mais pessoal e intimo em relação aos demais. Explorar um pouco mais a relação Ichigo X Rukia sempre foi uma carta na manga da franquia que funcionou muito bem – até chegar NAQUELE FINAL – e dar destaque para um dos ships mais adorados pelos fãs sem dúvida chamou a atenção.

Como disse, a história é clichê e serve de desculpa para recriar cenas já batidas da história original. Byakuya e Renji se enfrentando, Renji e Ichigo colidindo com suas emoções, blá blá blá. Gosto muito do plot em que vemos um pouco mais de como era a vida da Rukia antes de se tornar (rica) uma shinigami. O casal de gêmeos eram crianças perdidas que ela havia “adotado” para cuidar em seus dias mais simples. Eventos subsequentes fazem com que Rukia esqueça dos dois e eles ganhem poderes para retornar e tomar Rukia que tanto amavam para eles, a ponto de corrompe-la e termos essa versão original trevosa da personagem.

Acredito que eventualmente os produtores perceberam o padrão de que as histórias dos filmes eram muito pouco relacionadas aos protagonistas de Bleach, então decidiram ir all in para que essa sensação de “invasão” não fosse incomoda. Decisão corretíssima.

The Hell Verse

Falando em sustentar o protagonismo.

Hell Verse estreou nos cinemas japoneses em dezembro de 2010 e seu grande trunfo vinha em duas formas. Primeiro por ter o próprio Tite Kubo na direção do longa e segundo pelo filme abordar um aspecto da lore que ainda não havia sido muito aprofundada, o inferno.

Reprodução: Shueisha

No universo de Bleach existem vários “planos” astrais, a Soul Society seria o nosso conceito de “céu”, o além vida, o Hueco Mundo, lar dos Hollows, é como se fosse um limbo onde as almas perdidas e corrompidas vão parar e claro, para todo céu, temos o inferno. Poucas vezes esse plano foi mencionado durante a história e ter um filme diretamente sendo produzido pelo criador torna essa obra praticamente canônica, ainda mais considerando que entre os materiais pré-lançamento Kubo lançou um capitulo extra do mangá que os personagens originais do filme até mesmo se encontravam com alguns dos vilões derrotados da saga Arrancar quando estavam no inferno – e posteriormente teríamos um call-back desse momento quando saiu o capitulo mais recente do mangá em que dá entrada no futuro novo arco de Bleach – torndo esse filme provavelmente um dos mais importantes entre os quatro lançados.

Sobre a história, finalmente temos um filme 100% focado no Ichigo, aqui a irmã mais nova dele, Yuzu, é atacada e sequestrada por seres infernais chamados de Togabito (Pecadores em tradução literal). Um dos Togabito, Kokuto (que vale mencionar é dublado pelo incrível Kazuya Nakai, famoso por ser a voz do Zoro em One Piece), auxilia Ichigo e amigos a irem ao inferno, na justificativa de que ele não concorda com o modus operante dos semelhantes e ter afinidade com a situação de Ichigo, alegando que quando em vida também tinha uma irmã mais nova que se importava com ele.

Por ser o auge dos meios dos anos 2000, a computação gráfica se faz muito presente e nos deparamos com finalmente a primeira visão de como é por dentro do inferno de Bleach. Todo esse mundo é criado em CGi e por isso acaba parecendo muito simplório e amplo. Basicamente formas geométricas coloridas por todo o lado ou grandes espaços vazios com plataformas convenientes. Apenas mais para o clímax do filme é que vemos um cenário mais rico onde se passa a luta final, mas até lá é apenas de se lamentar a oportunidade perdida de ser um pouco mais ousado na ambientação considerando que era a primeira vez que tínhamos a visão de um plano novo.

Uma coisa a se saber sobre os Togabito é que eles são, física e metaforicamente acorrentados ao inferno e o alvo deles ser a Yuzu foi justamente atrair Ichigo que mesmo no inferno eles sentiram seu poder monstruoso quando havia lutado contra Ulquiorra – momento esse belissimamente lembrado na introdução do filme recriando a luta deles com uma qualidade de animação absurdamente superior – e assim manipular para que ele soltasse sua forma “Vasto Lorde” e quebrasse as correntes do inferno a força e eles pudessem se libertar.

Não é a história mais rica de todas, dos 4 filmes esse tem a história menos interessante, mas se você não fica pela história, com certeza vai ficar para as lutas que provavelmente são as melhores entre os filmes. Temos poucos reaproveitamentos do que já vimos no cânone e quando temos os momentos reciclados, são na medida certa para empolgar. De bônus ainda somos contemplados quando Ichigo até mesmo ganha uma transformação original – o que é hilario considerando a fama do protagonista de ter todos os poderes diferentes que aparecem na série – que foi chamada de “Skull Clad” e por um breve momento ele meio que se torna o senhor do inferno.

Doideira.

BÔNUS – Bleach Live Action e Burn the Witch

Reprodução: Shueisha/Studio Colorido

Meu foco nesse texto fica para os filmes animados principais, mas vou deixar a menção honrosa as duas outras adaptações cinematográficas de Bleach.

O Live Action saiu em julho de 2018 e logo em seguida disponibilizado oficialmente na Netflix para o mundo. Como sempre adaptações de anime para Live Action sempre deixam os fãs com um pezinho atrás, mas esse conseguiu entregar um produto de qualidade. A nível pessoal, esse filme tem uma camada extra por trazer um elenco muito familiar para aqueles que acompanham tokusatsu. Como Kurosaki Ichigo temos o carismático e energético Sota Fukushi que já havia dado vida a Gentaro Kisaragi em Kamen Rider Fourze, Uryu Ishida foi interpretado por Ryo Yoshizawa que foi colega de trabalho de Sota em Fourze interpretando Ryusei Sakuta/Kamen Rider Meteor e ainda no universo do Rider tivemos a Orihime Inoue interpretada pela Erina Mano que fez a Kamen Rider Nadeshiko no filme Kamen Rider X Kamen Rider Fourze & OOO: Movie War Mega Max.  A cereja do bolo desse cast fica para ninguém mais ninguém menos do que o astro do rock Miyavi interpretando Kuchiki Byakuya!

O filme adapta todo o primeiro arco da história, conhecido como o “arco do substituto de Shinigami” encerrando no confronto de Ichigo e Byakuya quando ele vem levar Rukia sob custodia para a Soul Society, dando a entender que haveria uma sequencia adaptando o tão famoso arco seguinte, mas até hoje nunca mais se falou disso.

Burn the Witch é a mais nova obra de Tite Kubo que já foi a muito confirmada que se passa no mesmo universo de Bleach, apesar de até o momento ser uma história independente. O filme foi lançado em outubro de 2020 e está disponível oficialmente na Crunchyroll além de termos o primeiro volume do mangá, que o filme adapta, lançado também aqui no Brasil pela Panini e que já tem um review dele aqui no Portal que vocês podem conferir!

O filme é produzido pelo incrível Studio Colorido e traduz muito bem o estilo de arte do Kubo, dando muito mais carisma e empolgação para a maior qualidade desse título, pois já de história… Bem, vocês podem ver meu review do mangá para saber o que eu achei de Burn the Witch.

Onde assistir Bleach no Brasil?

Apesar de todo esse papo enchendo a bola dos filmes, atualmente eles não estão em nenhuma plataforma oficial por aqui, já a série de TV assim como a sequencia Thousand Year Blood War estão sob as asas do Star+. A partir do dia 8 de julho o segundo cour da nova temporada começa com simulcast por lá.

Redator para o Genkidama em duas colunas mensais: - TokuTudo: conteúdo diferenciado sobre Tokusatsu no Brasil e no mundo. - Pitacos do Vilson : conteúdo diverso sobre animes, mangás, filmes e diversos aspectos da cultura japonesa. Também sou podcaster e faço parte do Henshin Rio, somos 5 cariocas especializados em falar sobre Tokusatsu.