Vidas ao vento, a última obra de Hayao Miyazaki

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Hayao Miyazaki. Gênio pra uns, um diretor competente pra outros, um grande babaca para todos, mas uma coisa que não se pode negar é que o cara tem talento. Seja pra reciclar sua obra de maior sucesso (Chihiro) em filmes idênticos (todos os últimos que ele fez) ou para fazer algo que saiba tocar o coração daqueles que assistem. E, olha, Vidas ao vento se encaixa no segundo.

Eu não vou mentir. Não sou fã do Miyazaki. O respeito como autor e tudo mais, mas acho que faz tempo que ele era um samba de uma nota só. Castelo animado e Ponyo eram claramente filmes que iam na aba de Chihiro (que é realmente incrível) e não se sustentavam bem sozinhos. Aliás, Ponyo é terrível e não fosse do Miyazaki nem seria mencionado mais do que em algumas notas de rodapé de sites obscuros. E o Miyazaki sempre foi um grande babaca, se achando o rei da cocada e criticando a tudo e a todos porque seus filmes são premiados, como se ele fosse o último bastião de qualidade da indústria, mesmo quando tínhamos gênios como Satoshi Kon por aí (esse sim um cara que merece toda a puxasaquice, que Deus o tenha).

Mas nem por isso eu vou deixar de admitir que o Hayao fez bons filmes e tinha talento. Castelo de Cagliostro é divertido, Mononoke é incrível e Chihiro é sensacional. O cara tem erros e acertos, assim como todos nós. Ele não é uma entidade. Vai deixar saudades com certeza, mas com certeza um dia chegará alguém que vai ocupar o lugar dele como o japonês que todos adoram puxar saco.

Dito tudo isso, eu adorei vidas ao vento.

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Fiquei honestamente surpreso como esse filme foge do estilo geral do Miyazaki, sendo bem sóbrio. Só do personagem principal não ser uma menininha vivendo uma aventura estranha e mágica já contou pontos pra mim, hahaha. Mas  que mais destoou é que vidas ao vento, apesar de ter alguns momentos engraçados é um filme de drama e desilusões e como a vida nos leva para lugares que nem sempre desejamos, mas que somos carregados e devemos lidar com isso.

A história é uma biografia fictícia de  Jiro Horikoshi, um grande engenheiro de aviação que fez o designer do famoso avião Zero pela Mitsubishi. Avião utilizado pela força aérea japonesa na segunda guerra por seu tamanho pequeno e velocidade. Conforme o tempo passou e a guerra progredia, o Zero foi passado para trás e com o tempo foi adaptado para pilotos kamikaze. Jiro também desenhou outros aviões famosos, como o Raiden e o Reppu, mas o Zero foi sem dúvida sua maior criação e a mais emblemática.

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A história também é uma biografia de Tatsuo Hori, poeta da mesma época que lidou com a dor de ver a sua pessoa mais amada cair perante uma doença e com a constatação dele mesmo tê-la contraido.

Dois homens cuja única similaridade são de que viveram ao mesmo tempo em um Japão armado e que conviveram com isso do jeito que podiam. Tatsuo escrevia sobre seu dia a dia em poesias extremamente pesadas e melancólicas enquanto vivia com uma doença mortal e Jiro planejava agentes do caos, que espalhavam a morte por onde passavam. Nenhum deles queria isso, mas a vida os levou àquele ponto e eles viveram do melhor jeito que puderam.

Isso que é vidas ao vento. Uma homenagem a dois homens que lutaram pelo seu sonho e que o viram se deturpar pelas linhas da vida, mas que nunca deixaram de acreditar que com os passos que davam, algo melhor iria florir. O Jiro do filme é um amálgama da vida dos dois homens. Assim como eles, ele se encontra em uma situação onde ele hesita. Será melhor continuar o que faz sabendo que é para fins militares? Como fazer isso? O sonho não pode parar, assim como o vento não pára.

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O filme não é perfeito. Acho que a química entre os personagens principais foi bem fraca, o que diminui o impacto das situações vividas por eles. O filme também é arrastado em alguns momentos, o que deixa tudo mais pesado para o telespectador. Ao contrário dos últimos do Miyazaki, eu não recomendaria esse filme para crianças. Não por ser denso, mas o filme é longo e não tem quase nada do aspecto lúdico e mágico que se está acostumado a ver nos filmes do Hayao. Vidas ao vento podia muito bem ter sido filmado com atores reais e não se teria nenhuma perda. É um filme sobre pessoas vivendo suas vidas do jeito que podem em um período negro da história japonesa.

Fiquei bem surpreso com o resultado. Há muito vejo os filmes do Miyazaki sem esperar nada e com esse não foi diferente, mas pro fim da carreira o cara ainda tinha uma surpresa ou outra. Não sei se ele vai realmente ficar aposentado por muito tempo, afinal, quando a conta bate, só Deus sabe o que se passa na cabeça das pessoas, mas se esse for o fim mesmo, eu acho que todo fã ficará satisfeito. Vidas ao vento é uma perfeita chave de ouro para a carreira de um dos maiores diretores de animes do Japão, inclusive, todo o conceito do filme que é ser guiado pela vida fazendo aquilo que você acha melhor pode ser uma adaptação da própria carreira do Miyazaki, que já fez muita coisa até chegar a esse ponto onde ele tinha autonomia total.

Hayao Miyazaki. Deus pra uns, um homem para outros, mas talentoso para todos. Fica aqui o adeus para ele. Se ele queria um fim perfeito para sua carreira, conseguiu.

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Sobre Fred

I'm a very twisted person. Gosto de animes e mangás por boa parte da minha vida e comentar sobre isso é sempre um prazer... Desde que eu tenha algo útil pra falar. Afinal, Dirac já dizia: "Eu não começo uma frase sem saber como ela vai terminar". Sou também um quimicuzinho que sabe falar bobagem o suficiente pra parecer inteligente.

Hayao Miyazaki. Gênio pra uns, um diretor competente pra outros, […]

2 thoughts on “Vidas ao vento, a última obra de Hayao Miyazaki”

  1. ficou muito bom mesmo!
    mas eu ainda não vi o filme então não posso dar uma opinião concreta sobre o filme.

  2. Assisti Castelo Animado, vi trailer de três filmes famosos seus e continuo sem entender o por que fazem tanto sucesso.

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