Blue Period – Azul sob tons de cinza

Blue Period chamou a atenção em 2021 com sua estreia em anime no final da temporada de outubro, com uma história sobre artes visuais e a respeito do caminho de seu protagonista na construção em se tornar um artista. Não muito tempo depois a editora Panini anunciou a publicação do mangá em solo brasileiro. Mas uma história que leva bastante em consideração a pintura funciona nas páginas em preto e branco impressas do mangá?

 

 

Uma pincelada

Yatora Yaguchi nos é apresentado como um personagem carismático, que consegue se misturar e conviver em qualquer círculo social. É alguém que se deixa levar pelos gostos e desejos das pessoas para deixá-las felizes, se tornando assim uma pessoa sem um propósito ou perspectiva, não conhecendo a si mesmo e negando aspectos da própria felicidade. Mas uma fagulha ascendente um caminho de auto descobrimento em sua vida, a Arte!

Blue Period é publicado no Japão através da revista de demografia Seinen (que tem como alvo um público masculino adulto), a Gekkan Afternoon, por meio da editora Kodansha. Sua autora, Tsubasa Yamaguchi, também tem outro trabalho publicado aqui no Brasil através da editora NEWPOP, onde trabalha como ilustradora junto ao roteiro de Makoto Shinkai com o título “Ela e o seu gato“.

Ela e o seu gato

Yamaguchi é formada na universidade de artes de Tokyo. Não muito tempo depois começou sua jornada de publicações nas One shots, e provavelmente seu período universitário foi o grande gatilho para sua história com Blue Period!

 

Segunda Pincelada

Blue Period é um mangá um pouco didático com seu público leitor, isso possibilita a fácil leitura sobre certos conhecimentos de arte para pessoas fora do meio artístico. O mangá se preocupa em esclarecer um pouco do básico nos aspectos da pintura e artes plásticas.

Explicação sobre arte em Blue Period

Mas por mais que a obra de Yamaguchi seja cheia de momentos explicativos, a história não se torna maçante e cansativa, mantendo o equilíbrio da “didática” com o entretenimento. Porém não se engane, Blue Period não é um mangá introdutório ao mundo das artes como uma revista de “aprenda a desenhar mangá“.

Os aspectos da pintura colocada na obra pela autora é usada de maneira similar aos momentos expositivos em Battle Shounen’s, responsáveis por apresentar ao leitor um conceito sobre algum poder ou regra daquele mundo, como o uso do Chakra em Naruto, por exemplo.

Explicação do Chakra em Naruto

 

Uma camada a mais

Porém é fácil pensar que, dado esse conceito “didático” na obra, o mangá se concentra em um público ignorante sobre arte, correto? Talvez. A grande questão é que sem o uso das cores na publicação os tais momentos explicativos se tornam avulsos na narrativa, obrigando o leitor médio que possa não saber conceitos introdutórios sobre arte ou pintura, como círculo cromático por exemplo, ter de buscar informação mais detalhada fora das páginas do quadrinho para entender o todo.

Nesse aspecto o anime é bem vindo como uma adaptação “necessária” e um complemento significativo ao mangá original. O fato é que o quadrinho torna-se um material mais convidativo para pessoas que já tem noção sobre o que o mesmo explora, ou ainda o público interessado no drama que se desenha envolto dos personagens imersos nesse mundo (que é muito bom!).

Blue Period

Blue Period, mesmo em suas páginas preto e brancas do mangá, ainda utiliza de muitas técnicas em sua arte, tornando o quadrinho único. Sem falar que se trata de um mangá construído sobre inúmeras mãos e artistas, já que Yamaguchi utiliza obras de formandos em  escolas e cursinhos de arte reais, os convidando a terem suas telas retratadas como se fossem por seus personagens.

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Para enquadrar

Para além de todo o discurso sobre aplicação de arte no mangá, como já dito esse quadrinho de Tsubasa Yamaguchi aborda em seu roteiro personagens únicos e dramas de fácil identificação não só com artista como qualquer pessoas com seus sonhos, medos e frustrações. Com certeza é uma obra que vale a pena ser vista e revisitada, seja em suas páginas em mangá ou na tela como anime. Mas definitivamente uma obra de arte.

Kaed, é formado em design(seja lá o que isso queira dizer) e ilustrador de fundo de quintal, gosta de dissecar e falar groselha sobre quadrinhos e animação com piadinhas no meio para descontrair e não parecer um esnobe de monóculo, além de ser uma tiete em tempo integral dos seus artistas favoritos de mangá. Para conferir um rabisco ou outro desse desocupado, confira o @dudesken no Instagram.