Kanojo Okarishimasu – Uma pequena grande diferença

A segunda temporada de Kanojo Okarishimasu (Rent a Girlfriend) se encerrou em 2022 e é um bom momento para falar um pouco sobre esse anime de nome duvidoso, mas que apresenta um pequeno detalhe que faz uma diferença importante para animes de demografia Ecchi.

 

 

Um passo de cada vez 

Rent a Girlfriend ou Kanojo, Okarishimasu (namorada de aluguel como ficou traduzido aqui no Brasil) é um anime de harém e comédia romântica, onde o protagonista é o personagem masculino genérico que por alguma razão do “destino” tem aos seus pés inúmeras garotas que o enxergam como possível interesse amoroso devido ao seu jeito “peculiar”.

A síntese escrita no parágrafo acima define muito bem não só essa obra como outras diversas histórias que dividem entre si os mesmos gêneros e demografia, mas Kanojo Okarishimasu tem algo que a destaca das demais.

Personagens do anime Kanojo Okarishimasu

Para começar, peço licença a você caro leitor para quebrar a “terceira pessoa” que costumo usar para escrever os textos por aqui no portal para contextualizar como, eu, que se tivesse olhado apenas o nome dessa animação em particular já teria pulado para um próximo anime da lista, carregando todos os preconceitos, do que encarar uma obra com um título como “aluguel de namoradas” pode passar. Mas na época da primeira temporada de Kanojo acompanhei aos vídeos do canal “Vertente Geek” onde Josie Fonseca e Guto Nunes comentavam semanalmente episódio a episódio.

Acabei pegando gosto pelos vídeos e consequentemente pelo anime que passou a ser divertido de acompanhar semanalmente. Contudo, nessa segunda temporada as coisas escalaram para um lado que seria responsável por me afastar, caso fosse o meu primeiro contato com esse título. Mas uma coisa de cada vez…

(Voltemos para a terceira pessoa certo?)

 

Mas afinal que “diferença”?

Kanojo surpreendeu porque não apelava muito para a sexualização de suas protagonistas femininas como também evitava ao máximo clichês ruins como “o protagonista tropeçou e acidentalmente apalpou uma das personagens femininas”. É certo que uma cena exatamente assim aconteceu, porém apenas uma única vez na primeira temporada onde no fim serviu para construir uma piada, infelizmente uma piada horrível, enfim.

É muito comum ouvir que os japoneses gostam de animes e histórias que se passam no período do colegial porque essa seria a época que se sentiam mais livres das amarras da sociedade ou que “é uma questão cultural”, somado aquele discurso que estamos cansados de ouvir que muitos usam para justificar um certo aspecto de obras que se passam num cenário escolar. Mas algo importante sobre Kanojo é que diferente de seus semelhantes o anime troca a abordagem juvenil, onde substituem garotas colegiais, que com toda certeza são menores de idade envolvidas em tramas e situações questionáveis, por personagens adultas.

Personagens do anime Kanojo Okarishimasu

Ainda assim Kanojo não abandona a estética estudantil, mantendo as raízes desse tal “sentimento cultural”. No entanto se apoia em uma trama que envolve jovens adultos em um contexto universitário, obviamente isso não justifica ou resolve problemas que acontecem em obras que tem como um público alvo leitores majoritariamente masculino, o que acaba infelizmente por acontecer na segunda temporada onde a animação passa a apelar muito mais para cenas que antes eram raras na primeira temporada de sexualização de suas protagonistas femininas.

Contudo, se revela um precedente saudável diante de discursos como os de “liberdade de expressão” para defender tramas que  envolvem cenas adultas representadas por personagens infantis. O mangá figurou bem em número de vendas durante seu período de publicação

 

Se é Ecchi, e daí? 

Como já tocado no assunto de quadrinhos/animações eróticas em textos um pouco mais delicados como por exemplo “porque as pessoas gosta de Ecchi”  aqui no portal, fica o reforço de que, sim, quadrinhos eróticos são uma forma de arte válida e importante, afinal histórias são escritas por pessoas e pessoas não são unilaterais.

A questão, novamente, não é a existência de uma demografia de publicação ou o material em si. Quadrinhos e animes Ecchi se propõe a desenvolver um material mais picante e dessa maneira qualquer um que escolha consumir determinado conteúdo tem que levar em consideração quem está por trás desse produto e entender que a narrativa e as situações apresentadas estão submetidas aos gostos e intenções de seu autor/autora.

Personagens do anime Kanojo Okarishimasu

Porém as escolhas feitas por seu criador não são isentas de crítica, reclamações ou posicionamento de seu público leitor e até de pessoas afetadas indireta ou diretamente pelo material publicado. O fato é que mangás Ecchi ainda são um nicho muito reservado ao público masculino, tanto na produção quanto no consumo, e parte desse problema é justamente a falta de abertura que o cenário cria ao se limitar a certos discursos e argumentos.

Conclusão

Uma pequena mudança em Kanojo a tornou uma obra confortável de acompanhar. Se outros animes e mangás tomarem cada vez mais decisões similares e mais maduras na construção de seu enredo, o futuro desse nicho promete. E fica o alerta de que as duas temporadas de Kanojo Okarishimasu! está disponível no Crunchyroll!

 

Kaed, é formado em design(seja lá o que isso queira dizer) e ilustrador de fundo de quintal, gosta de dissecar e falar groselha sobre quadrinhos e animação com piadinhas no meio para descontrair e não parecer um esnobe de monóculo, além de ser uma tiete em tempo integral dos seus artistas favoritos de mangá. Para conferir um rabisco ou outro desse desocupado, confira o @dudesken no Instagram.