Naomi Osaka: a fama venceu o preconceito?
Naomi Osaka é rica, famosa, até virou personagem de mangá. Será que ela ainda sofre racismo?
Todos sabemos que o racismo existe e é forte no Japão, infelizmente. Será que o fato de ter sucesso na carreira muda alguma coisa? O afrodescendente japonês deixa de sofrer preconceito se ficar famoso?
Nesta série em duas partes, vamos conhecer famosos que causaram reações diversas no Japão. No texto de hoje, o assunto é a tenista Naomi Osaka. Filha de pai haitiano e mãe japonesa, ela é o que chamam de hafu, ou pessoa birracial.
Naomi Osaka, a campeã, a celebridade
Ela foi a primeira asiática a liderar o ranking de individuais da WTA (*). Aos 23 anos de idade, já conquistou 4 Grand Slams (dois deles consecutivamente, o que é dificílimo conseguir).
Em 2020, tornou-se a atleta feminina mais bem paga de todos os tempos. Ganhou cerca de 34 milhões de dólares em patrocínios de marcas como Nissin, Shiseido e Louis Vuitton.
No mesmo ano, foi a Esportista do Ano de acordo com a revista Sports Illustrated. E a Time a considerou uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
Ativismo
Naomi usou a fama e o prestígio conquistados no esporte para apoiar o movimento Black Lives Matter em 2020.
Começou no Cincinnatti Open de 2020. Ela conseguiu que todos os jogos da ATP (*) e WTA fossem adiados por um dia em apoio aos protestos. Posteriormente, foi às quadras usando máscaras estampadas com nomes de afro americanos vitimados pela violência racial.
Sobre essa iniciativa, Naomi disse que “só queria conscientizar as pessoas na bolha do tênis”.
Morando nos EUA, mas defendendo o Japão
Curiosamente, Naomi Osaka representa o Japão nas competições apesar de residir nos EUA desde os três anos de idade. Os pais tomaram essa decisão desde que ela começou a competir, ainda criança.
Dizem que isso seria uma resposta à falta de apoio da USTA(*) quando Naomi estava começando sua carreira.
A família, entretanto, nega. Os pais de Naomi afirmam que ela “se sente japonesa” porque cresceu dentro dos costumes e tradições nipônicas. Por isso, decidiram que ela representaria o Japão.
Perguntas implícitas
Mesmo assim, pairam dúvidas. Afinal, Naomi viveu praticamente a vida toda nos EUA. Estudou em escolas americanas. Não fala japonês (embora entenda).
Teria sido isso tudo uma estratégia dos pais de Naomi? Teriam acreditado que a falta de apoio era por preconceito e que a filha nunca teria tratamento justo pela USTA?
Seria, talvez, uma forma de trocar o “duplo racismo”(contra negros+asiáticos) existente nos EUA por “apenas” um no Japão?
Se foi mesmo isso, provavelmente nunca saberemos.
Escolha definitiva
Naomi Osaka tinha dupla nacionalidade, porém pela lei japonesa, teria que optar por uma antes de completar 22 anos.
Em 2019, ela oficialmente abriu mão da cidadania americana pelo sonho de representar o Japão nas Olimpíadas. “Vou ficar mais emocionada”, disse Naomi sobre competir no evento como japonesa “real oficial”.
A decisão se manteve apesar de incidentes desagradáveis que aconteceram no período.
Whitewashing e piadas grotescas
Logo no começo de 2019, a Nissin retirou do ar um comercial em anime que retratava Naomi com pele clara. A empresa se desculpou pelo whitewashing depois das reclamações do público.
Alguns meses depois, comediantes japoneses fizeram piadas racistas sobre Naomi. Disseram que ela “precisava de alvejante para a pele”, entre outras coisas. A agência dos artistas também pediu desculpas quando o assunto ferveu.
Nos dois casos, Naomi reagiu com bastante tranquilidade. Ela até zombou das piadas sobre sua pele.
Personagem de mangá
Felizmente, o Japão também trouxe uma grande alegria para Naomi: ela se tornou personagem do mangá Unrivaled, de Futago Kamikita.
A obra é publicada na revista Nakayoshi e começou em dezembro de 2020. Kamikita é a equipe responsável pela adaptação em mangá da franquia Precure.
Desta vez Naomi foi retratada com o devido respeito, diferente do que ocorreu com o comercial da Nissin. A irmã dela, Mari, supervisionou a criação do visual da personagem para garantir isso.
O design é bem fantasioso por causa do contexto do mangá, e do estilo dos artistas, claro. Entretanto, a característica mais importante para ela – a cor da pele – se manteve.
Concluindo
E afinal, o afrodescendente japonês deixa de sofrer preconceito se ficar famoso?
No caso de Naomi Osaka, o preconceito persiste, ainda que a força da fama o reprima. Felizmente, ela não se deixa abater. Pelo contrário, usa o prestígio que conquistou para lutar contra o racismo.
(*)SIGLAS NO TEXTO:
WTA – Women’s Tennis Association
ATP – Association of Tennis Professionals
USTA – United States Tennis Association
FONTES: