A partir de quando nos formamos na escola e, até mesmo um pouco antes já começamos nossos questionamentos do que é ser adulto, do que devemos ser e como temos de agir perante a sociedade para que possamos viver uma vida plena.

Entretanto, muitas vezes não temos respostas para nenhuma dessas perguntas e, as consequências disso acabam ecoando em nossa mente e nos debilitando. Muitas vezes, somos pegos pensando “meu pai na minha idade já tinha uma carreira, casa e família em quanto isso eu não consigo decidir nem o que assistir na Netflix“.

Kabi Nagata, autora do mangá, passou 10 anos se sentindo sufocada e perdida. Porém ela encontrou uma forma um tanto quanto peculiar para se libertar: sendo abraçada por uma prostituta lésbica!

Minha experiência lésbica com a solidão, veio para o Brasil pela Editora NewPoP e a obra traz questionamentos muito importantes sobre distúrbios mentais, alimentares e questões de sexualidade de forma séria e bem-humorada.

A obra retrata a vida e a auto-descoberta da própria autora, ela expõe na obra mostrando seus momentos de maior dificuldade, mas não de forma mórbida, já que traz além da reflexão, uma comédia com uma característica bem autoral.

Como uma mulher lésbica, posso falar que muitas das formas que ela se sentia ao tentar entender sua sexualidade eu mesma passei, as confusões mentais por ver os corpos de mulheres de uma forma bem diferente do “padrão” que a sociedade nos nos impõe e isso gera questionamentos como: “por que me sinto assim?” ou até mesmo colocar na minha cabeça que eu tenho admiração e não atração eram comuns.

A evolução e aceitação de forma gradativa e natural que qualquer mulher lésbica realmente consegue se identificar, ainda mais se pensando num país fechado como o Japão onde as pautas LGBTQIA+ vem sendo debatidas com frequência e mais fervor na ultima década.

Também é discutido como o trabalho não é algo que mesmo que você se identifique, vá ser sempre feliz. Há obstáculos e de forma geral, temos que ser uma máquina perfeita feita para produção e geração de lucro, se não se sente bem ou está com problemas, é facilmente descartado, afinal, a milhares de pessoas prontas para serem essa máquina no seu local.

É mostrado que algo que você é bom, não necessariamente vai te preencher de forma profissional dependendo da vertente em que você escolhe seguir. A própria Kabi Nagata tenta cursar artes plásticas, entretanto, mal aguentou um único semestre. Mas quando decidiu por ser mangaká, mesmo com muitas dificuldades ela encontra motivações para continuar.

A relação e a busca pela aprovação da família também é retratado. O ponto principal tratado é que não devemos buscar agradar pai, mãe, amigos ou quem seja, pois nunca vamos conseguir. Temos que ser um tanto quanto egoístas e pensarmos no que nós queremos e no que vai ser bom para nós mesmos, ou nunca iremos nos sentir completos e realizados.

Em várias cenas, é retratada a depressão e ansiedade que nos é imposta de forma crua, mas de fácil entendimento, procurando fazer com que qualquer um seja capaz de compreender de maneira simples algo extremamente complexo como são esses assuntos.

Ela descreve e desenha tudo isso logo em uma das primeiras cenas, mostrando as “imperfeições” que no geral é escondido nas obras mostrando mulheres perfeitas, quando na verdade um momento intimo é quando nos encontramos mais frágeis e muitas vezes com medo por estarmos mesmo que por um momento breve, nos entregando a alguém sem esconder nada do nosso corpo.

Minha experiência lésbica com a solidão é com certeza uma das melhores obras que tive o prazer de ler, além de ser extremamente necessária para qualquer pessoa que busca entender a si mesmo ou apenas quem quer uma leitura de qualidade.

Nota: 10/10