Entrevista com Hiroyuki Takei

– Você pode nos dizer em poucas palavras como você se tornou um mangaka e o que o levou a fazer esse trabalho?

– Como você sabe no Japão, há uma competição regular organizada por revistas. Tentei a sorte enviando painéis do meu trabalho, fui notado ao ganhar um prêmio e foi assim que comecei como autor de mangá.

 

– Que mangás você lia quando era mais jovem?

– Minhas séries favoritas eram Jojo’s Bizarre adventure ou Baoh de Hirohiko Araki.

 

– Sua série Shaman King foi pré-publicada na prestigiada Weekly Shonen Jump, que apresentava em suas páginas séries mundialmente famosas (Naruto, Dragon Ball) e referência no gênero. O desafio foi difícil de enfrentar?

– De fato, foi um desafio para mim, mas sinceramente, acho que entre todas as revistas disponíveis no Japão para começar no Shonen Jump foi um trunfo, porque é mais fácil. A parte difícil é lidar com pesquisas com leitores. São eles que decidem se uma série continuará ou não. No fim, é mais fácil começar na Jump, mas é ainda mais difícil ficar lá…

 

– Então, quais são os ingredientes de um bom shonen?

– Há vários fatores a serem levados em consideração, e admito que ainda não encontrei a receita milagrosa. No entanto, eu diria que, para mim, deve ser acima de tudo divertido, fácil de ler, com desenhos limpos, e com uma mensagem, valores a transmitir. Infelizmente no Japão, às vezes a parte da mensagem é deixada de lado.

 

 – Em Shaman King, há  personagens muito ecléticos de diferentes culturas e origens, era essa a sua maneira de enviar uma mensagem?

– Essa é realmente a mensagem que eu queria transmitir, eu queria reunir personagens que tinham valores diferentes.

 

– Se para você esse aspecto é importante, o gênero seinen associado a um público alvo mais adulto pode ser uma boa maneira de transmitir suas ideias.

– Acho que ainda me falta um pouco de experiência para esse gênero, ainda sou muito jovem [risos …], mas depois, não há porque não!

 

– Em Shaman King, quem é seu personagem favorito?

– Essa é uma pergunta muito difícil, eu amo todos os meus personagens!

 

– Então, qual é o mais fácil de desenhar e o contrário, o mais difícil?

– Anna é a mais fácil e Yoh o mais difícil. Por isso, não me refiro puramente ao lado do desenho, mas ao aspecto evolutivo do personagem e de seu caráter. Em relação a Yoh, foi mais difícil para mim fazê-lo evoluir nos critérios solicitados pela revista Jump.

 

– Como muitos mangás de sucesso, Shaman King teve uma adaptação animada, você contribuiu para o projeto?

– Ajudei a equipe no início da criação e tive que deixá-la gerenciar. Quando você tem 19 páginas para entregar a cada semana, infelizmente não tem tempo para fazer mais nada.

 

– Para os fãs, a série Shaman King parou um pouco abruptamente (nota: seu editor o forçou a terminar a série rapidamente), você nunca escondeu o desejo de um dia retomar a aventura de Yoh, é ainda é o caso?

– Precisamente a esse respeito, pretendo retomar o final da série como imaginei no início. Está planejado para este ano ou no início do próximo ano.

 

– Seus fãs ficarão encantados, mas ainda estão esperando um pouco desconfiados.

– Estou plenamente consciente disso, tenho uma grande responsabilidade em relação a eles!

 

– Shaman King tem no total 32 volumes, que são muitos principalmente quando você conhece o ritmo de trabalho que isso exige, o que você fez logo depois?

– Eu comecei a tirar a minha carteira de motorista e depois fiz muitas coisas, acima de tudo dediquei tempo a fazê-las, o que era impossível antes quando eu estava trabalhando.

 

– Sua editora francesa Kana, comemora 10 anos este ano, você contribuiu amplamente para o sucesso deles, que efeito isso tem?

– Para falar a verdade, também é um pouco como o meu aniversário, porque faz 10 anos desde que comecei minha carreira. Então, comemoramos isso juntos.

 

– Muitos mangakas estão muito surpresos com o sucesso do mangá em um país que não o Japão, o que você acha?

– A maneira como esse sucesso se manifesta é diferente na França e no Japão. O tratamento das nossas culturas em relação aos quadrinhos, são muito diferentes. Para nós, é especialmente feito para passar o tempo, é quase um produto perecível, enquanto para vocês é exatamente o oposto, eles são quase colecionáveis.

 

– Você tem um animal de estimação incomum, uma coruja chamada Horokko, como ela está?

– Sim, sim, eu ainda o tenho e ela está bem, ela era tão fofa que eu não pude resistir quando a vi pela primeira vez.

 

– Seu irmão também é um mangaka, você já pensou em colaborar juntos? Se não, isso pode vir a acontecer?

– Sim, meu irmão mais novo, mas acho que não vai acontecer, nos damos muito bem, mas o mangá é uma tarefa pessoal e solitária, é possível trabalhar com uma pessoa de fora de sua família, mas isso é muito complicado quando se trata de pessoas com quem você tem laços tão estreitos. Devemos fazer concessões, não quero criar tensões desnecessárias entre nós.

 

– Você está atualmente trabalhando em Jumbor Barutronica, esse recomeço não foi muito difícil?

– Acabei de terminar. Como eu estava bem descansado, tinha muita energia para dar e, por isso, esforcei-me bastante. Eu acho que fiz muito e, portanto, foi mais difícil continuar.

 

– Muito obrigado por responder às nossas perguntas.

– Obrigado vocês.

 

Entrevista feita para o site francês manga-news. https://www.manga-news.com/index.php/auteur/interview/TAKEI-Hiroyuki

Nota: no original não há a data da entrevista, entretanto com as informações é possível saber que foi feita em 2006.

    Sou professora de inglês e espanhol numa escola de idiomas. E traduzo sempre, principalmente no meio universitário, já traduzi partes de livros, poemas e resumos de monografia e até umas coisas de enfermagem e odonto.