Sing Yesterday for Me e a síndrome do fracassado com a maluquinha

 

Sing Yesterday for Me (anime disponível na Crunchyroll) conta a história de Rikuo. Ele é um jovem adulto que não conseguiu entrar na faculdade e vive a sua vida de marasmo apenas gastando tempo em seu emprego numa loja de conveniência. Só que as coisas começam a mudar quando ele encontra a Haru. Ela é uma jovem meio fora da casinha, longe de qualquer padrão, que passeia pela cidade com a companhia de um corvo. A partir desse encontro, Rikou vai ter que se decidir qual é o melhor caminho: seguir no marasmo de uma vida sem dificuldades e sem emoções, tentar correr atrás de sonhos do passado ou se entregar a um romance com uma garota fora do comum.

Caso já tenha assistido esse anime, você pode estar pensando: “mas tá faltando bastante coisa nessa tua sinopse” e na verdade está. A questão é que eu quero comentar aqui sobre um aspecto muito específico que me tocou enquanto eu assistia esse anime. Logo no primeiro episódio, eu acabei me lembrando de uma postagem que eu li há muito tempo no Facebook. Um desabafo sobre a “síndrome do fracassado e da maluquinha”.

Nessa postagem, a autora defendia de que deveria haver uma reformulação na forma como romances com homens como personagens principais eram escritos. Segundo ela (inclusive peço desculpas por não me lembrar o nome da autora da portagem), esse tipo de obra tinha um grande defeito. Na maioria dos casos, esse filmes só servem para mostrar como os homens veem o relacionamento amoroso como uma forma de lidar com as próprias inseguranças através de se relacionar com uma parceira que os tire de sua zona de conforto. Isso seria perigoso porque reforçaria uma visão errônea e sobrecarregaria o papel da mulher nos relacionamentos amorosos heterossexuais.

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Quando eu li aquilo pela primeira vez achei uma bobagem, na verdade até achei engraçado. Mas enquanto eu assistia esse anime, além de lembrar dessa teoria, eu comecei a cada vez mais pensar nela. E se tu for ver, até que tem certa lógica. Vamos pegar como exemplos filmes como “Uma Linda Mulher”, “O Brilho Eterno De Uma Mente sem Lembranças”, “500 Dias Com Ela”, “Sim Senhor” e “Show de Vizinha”. Todos partem da mesma premissa: um homem “fracassado” que encontra uma mulher “fora dos padrões” e graças a isso vai viver uma grande amor!

Eu estava praticamente certo que a teoria era verdadeira, até eu começar a reparar em romances nos quais o personagem principal era feminino. Neles também existe esse fenômeno de “encontrar um parceiro totalmente diferente” e graças a isso mudar de vida drasticamente (“10 Coisas Que Eu Odeio Em Você”, “Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Alguém Tem Que Ceder”, “Simplesmente Complicado” e “A Proposta”). A única diferença é que existe uma maior pluralidade no tipo de diferenças entre os parceiros: famoso e anônimo, popular e impopular, neurótico e despreocupado, por aí vai…

 

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Particularmente eu acho que existem duas razões possíveis para ocorrência disso em histórias românticas, por uma facilitação no roteiro ou por um motivo cultural.

Se a gente olhar para maioria das histórias românticas, elas são baseadas em duas coisas: tensão sexual e conflito entre os interesses amorosos. Qual é a maneira mais fácil de gerar isso? Formar um casal com duas pessoas muito diferentes. Logo de imediato isso gera nos espectadores aquela sensação de “eles se brigam, mas se gostam” ou ainda “eles são tão diferentes, mas ficam tão bem juntos”.

Por outro lado, culturalmente somos bombardeados por uma noção de amor que pode servir como justificativa para essa diferença entre os parceiros. Afinal, quantas vezes você já escutou alguém falando que quer encontrar a outra metade, alguém que me complete ou ouviu alguém que elogio um parceiro comentando que ele é bom em tudo aquilo que eu não sou.

De qualquer maneira a única coisa que eu posso dizer é que realmente existe uma forma meio estranha de representar o amor na maioria desses romances. Talvez seja porque os roteiristas andam meio preguiçosos. Ou talvez seja porque nós somos romântico demais.

Para mais um texto romântico do Genkidama, clique aqui.

    Graduado em administração pela URCAMP e Mestre na linha de Estratégia e Sistemas pela Universidade Federal do Pampa, só que pensa mais em séries do que em empresas. Atualmente segue a linha de não falar sobre animes, mas sobre as coisas dentro dos animes.