E se houvesse um mangá sobre Perdidos no Espaço?

(E um anime também)

 

Elenco da série original de Perdidos no Espaço.

Muitos de vocês já devem ter em algum momento de suas vidas ouvido falar de Perdidos no Espaço (Lost in Space), a história da família Robinson que após um acidente são jogados nas profundezas do espaço sideral e devem sobreviver até encontrar um jeito de voltar para casa. Pouco antes de Star Wars existir e em exibição paralela com Star Trek durante os anos 60, o seriado ajudou a popularizar ainda mais o gênero sci-fi. A criação de Irwin Allen, inspirada no livro “The Swiss Family Robinson” já ganhou caras mais modernas em um filme de 1998 (estrelando Matt LeBlack, o Joey de Friends) e em 2018 como uma adaptação da Netflix.

Bebendo dessa fonte de inspiração temos o mais novo lançamento da editora Devir, ASTRA LOST IN SPACE (ou Kanata no Astra no original japonês), apesar de não ter encontrado nenhuma fonte de informação oficial que confirmasse que o autor Kenta Shinohara, conhecido pelo seu outro sucesso nas páginas da Shonen Jump Sket Dance, tenha se inspirado no antigo seriado, há muitas semelhanças e nessa resenha vamos ver mais a fundo o que se encontra no Volume 1!

1 – Dessa vez não é uma família perdida.

Da mesma forma que o título anterior de Kenta, Astra Lost in Space foi publicado nas páginas da Shonen Jump, ou melhor, nas páginas digitais do site/App Shonen Jump+ entre 2016 e 2017 sendo os capítulos compilados em 5 Volumes Tonkabon, que é o mesmo que estamos recebendo aqui no Brasil pela Devir.

Antes de tudo, sobre o que é Astra Lost in Space?

Como a minha introdução deve ter, intencionalmente, denunciado e como o título expositivo sugere, é uma história sobre pessoas que se perdem no espaço (finjam surpresa). Como não há muito mais que isso quanto a premissa básica deixo vocês com a sinopse que se encontra na contra capa do Vol. 1.

Sinopse: Nove adolescentes perdidos no espaço a mais de 5000 anos-luz vão conseguir voltar para casa sozinhos? Num futuro onde as viagens espaciais são corriqueiras, um grupo de estudantes está de partida para seu primeiro dia de “Acampamento Planetário”, uma excursão ao planeta McPa, sem a presença de adultos. Tudo parecia bem para Kanata Hoshijima e seus oito novos companheiros até que uma misteriosa esfera os transporta para as profundezas do espaço, onde encontram uma nave especial abandonada que pode ser a única chance de voltarem para casa.

Poucas coisas devem ser mais assustadoras do que estar perdido. Quando criança já passei algumas vezes pela experiência de me perder dos meus pais em algum lugar movimentando (mas não por desleixo deles, eu que era terrível mesmo, haha XD), na adolescência e vida adulta também já passei por situações parecidas, onde tinha que arrumar um jeito quase que extraordinário para voltar para casa. Nunca vou esquecer do dia em que fiquei preso, de madrugada, na Penha – RJ por ter saído muito tarde de uma edição do Anime Friends e não tinha mais transporte público disponível e estava sem dinheiro sobrando para chamar um Uber. O sentimento de medo por estar longe de casa, a mente votando a mil por hora pensando em soluções, fora a preocupação constante com os perigos que só a madrugada do Rio de Janeiro pode oferecer. Apesar de tudo, eu ainda estava no Rio de Janeiro, eu ainda estava no Brasil, eu ainda estava no Planeta Terra. Agora, imaginem você se perder a anos-luz de casa, bem no meio do vácuo do espaço sideral?

A primeira personagem que aparece na edição é a Aries Spring, ansiosa por participar de uma excursão escolar para outro planeta. Junto dela estarão mais 8 colegas da mesma escola, a Caird High School, e o objetivo é ensinar aos adolescentes a terem um pouco mais de independência e senso de responsabilidade ao serem largados em planeta de ambiente aparentemente selvagem e sem adultos para supervisionar. Ainda no “espaçoporto”, Aries se encontra primeiramente com o principal protagonista Kanata Hoshijima, ajudando a jovem após ela ter tido a bolsa roubada, em seguida conhecemos o resto do grupo. Zack Walker, Quitterie Rafaelli, Funicia Rafaelli, Luca Esposito, Ulgar Zweig, Yun-Hua Lu e Charce Lacroix.

Apesar de todos os personagens seguirem o belíssimo traço de Kenta, gosto de acreditar que aqui temos uma boa demografia e variedade nos personagens. De visual são todos bem distintos e gosto como isso ajuda a identificar um pouco do que esperar da personalidade de cada um. Kanata explode no visual “Protagonista básico”, Zack passa a imagem clara de ser o inteligente e frio e Ulgar deixa claro que é o mais distante do grupo com sua postura mais reclusa e feição sempre fechada, com mecha do cabelo escondendo o rosto com a ajuda da toca. Mas a escolha dos nomes me chama mais atenção, pois deixa a entender que não só são visualmente diferenciados, mas também possuem nacionalidades diferentes. Entre os nomes temos tanto típicos japoneses, outro mais voltado pro inglês, chinês, alemão e até francês e italiano. Isso não quer dizer que todos são devidamente representados por suas aparentes nacionalidades (fora que no universo de Astra Lost in Space, nem ao menos parece que eles se encontram no planeta Terra), mas aprecio que ao menos ouve a intenção do autor de fazer essa representação.

Deu ruim…

O primeiro capitulo do mangá é bem extenso como de praxe, e cobre praticamente metade do volume 1, ele não perde tempo em literalmente jogar os jovens na grande problemática em questão. Após serem largados no planeta onde fariam a excursão, quase que imediatamente são atacados por uma esfera misteriosa, que persegue e engole um por um e logo é mostrado que são arrastados para um ponto no espaço. Já viram aquele filme Gravidade? Algo bem parecido. Por sorte, eles tiveram o reflexo de colocarem de volta o capacete de seus trajes espaciais então não foram mortos pelo vácuo e por mais sorte ainda, havia uma nave relativamente próxima de onde haviam sido expelidos pela esfera.

Aparentemente no futuro vamos ter várias marcas de Space Suits.

Aproveitando esse ponto, um pequeno parênteses que gostaria de abrir sobre a ambientação desse universo e digo que achei fascinante que no contexto apresentado, uniformes espaciais se tornaram “itens de moda”. Com vários fabricantes, modelos e estilos. É um mundo onde viagens espaciais são comuns então faz todo sentido. Trazendo para a nossa realidade como comparação, é o que estamos vivenciando com as máscaras devido a pandemia do novo Corona vírus. Em menos de semanas, o que era para apenas ser um item de saúde e segurança, caiu nas mãos do capitalismo e virou um item a ser vendido e cobrado altos preços, pelo menos para a nossa realidade aqui no Brasil. Sabemos que na Ásia já é um costume muito antes da pandemia a cultura de usar máscaras e por isso lá com certeza há o comercio de uns itens diferenciados. Foi só isso ser estabelecido por aqui como uma necessidade (por aqui eu digo lugares que não são a Ásia) e algo mais comum que já surgiu por todos os cantos centenas de designs, modelos e cores plenamente marketaveis. Claro, não só nas roupas vemos um pouco da ambientação, vemos também que exploração espacial é uma opção até como profissão, além de alguns itens que reforçam a vibe sci-fi da coisa toda, como o Kanata possuindo tênis anti-gravidade.

O grande clímax do capitulo é a necessidade de resgatar Aries que por um defeito no uniforme dela, não foi capaz de acompanhar o grupo que foi se abrigar na conveniente nave abandonada que encontraram. É uma cena muito bonita com o Kanata praticamente se sacrificando e correndo o risco de ficar à deriva no espaço novamente só para resgatar a colega.

Durante os outros 6 capítulos que compões o volume, vemos os jovens tendo que lidar com o medo da realidade que estão. Sem chance de resgate vindo do seu planeta natal, poucos recursos e apenas adolescentes e uma criança (a irmã adotiva de Quiterrie que tem apenas 10 anos, era um dos desafios extras da excursão que além de terem que cuidar de si próprios, tinham que tomar conta da Funicia). Mesmo que houvesse a possibilidade de usar a nave para retornar, não havia água e comida o suficiente pelo tempo de viajem. A solução que encontram é ter que fazer a viajem “parcelado”. Eles encontram uma rota passando por diversos planetas até chegarem em casa.

Logo no primeiro planeta que param, temos a oportunidade de conhecer mais a fundo alguns personagens, suas histórias e dramas pessoais que os enriquecem muito e não caem no clichê de serem apenas estereótipos falantes. Como o objetivo dessa resenha é motiva-los a procurar para ler (ou assistir o anime) não vou entrar em mais detalhes do que isso pois iria estragar um pouco a experiência.

3 – Com a edição em mãos.

Confesso que essa é a minha primeira experiência comprando um mangá da editora Devir, estava bem curioso e na expectativa. Nunca fui do tipo “sommelier” de mangá para me importar com tipo de papel, capa e etc, mas como um comprador, claro, tenho um mínimo de padrão de exigência. Minha surpresa já começa pela capa, contra capa e lombada serem em um tom de azul único, as cores ficam por conta de uma sobrecapa. Não foi uma boa primeira impressão… Pelo menos ao meu gosto pessoal. É muito esquisito e já penso que com o passar do tempo a sobrecapa naturalmente vai se desgastando, por melhor que você cuide dela e consequentemente só vai restar a capa azulada sem graça.

Sobrecapa, capa azulada e o mini poster.

O Volume conta com exatamente 199 páginas e a qualidade do papel é muito boa, nesse quesito minha única exigência é que não haja as famosas páginas “transparentes”, manchadas da tinta da página anterior ou algo parecido, porém a minha cópia veio com algo curioso… um pequeno bloco de páginas DUPLICADAS! As páginas de 33 a 40 se repetem. Para minha sorte foram páginas a mais, não faltando ou cortando um pedaço da história.

Finalmente, junto do volume veio um pequeno pôster, do tamanho de uma página dupla, colorido muito bonito mostrando todos os personagens. Gostei do brinde e assim que possível farei um esforço para emoldurar!

Conclusão

Astra Lost in Space é uma leitura muito interessante e divertida. Os momentos de tensão e comédia são bem pontuados, já citei antes como o traço de Kenta é belíssimo e muito expressivo permitindo assimilar bem as emoções fortes que cada um dos personagens passam e as nuances de suas personalidades que são mais complexas do que aparentam ser. A narrativa é fluida e o enquadramento das cenas não tem nada de revolucionário, mas funciona muito bem. Se você é fã de ficção científica, aqui temos um prato cheio com naves espaciais, planetas e ambientes alienígenas etc. Se você por acaso for um fã da franquia Perdidos no Espaço, é uma leitura obrigatória!

Essa leitura pode refletir também em muito do que estamos passando no momento. Uma crise de escala muito maior do que nos em que cada decisão que tomamos (ou nossos governantes tomam) é a linha tênue entre a vida e a morte. Para Kanata e os amigos, é a sobrevivência em planeta alienígenas, para nós, é a sobrevivência no nosso próprio planeta, na nossa vizinhança e até nas nossas casas.

Revisão: Cristina

Redator para o Genkidama em duas colunas mensais: - TokuTudo: conteúdo diferenciado sobre Tokusatsu no Brasil e no mundo. - Pitacos do Vilson : conteúdo diverso sobre animes, mangás, filmes e diversos aspectos da cultura japonesa. Também sou podcaster e faço parte do Henshin Rio, somos 5 cariocas especializados em falar sobre Tokusatsu.