Fruto de um processo de crowdfunding pelo Kickstarter, o mangá nacional Hero Party conseguiu o valor necessário para ser lançado e aqueles que contribuiram já receberam a primeira edição da revista com os respectivos brindes. Mas… será que valeu a pena? A edição é boa? Dá vontade de continuar lendo? O Marcelo Cassaro continua fazendo referências diversas? É o que vamos descobrir!
“Em um mundo medieval, dragões quase foram derrotados em uma guerra contra uma aliança entre humanos e demônios. Para evitar a derrota completa, eles esconderam seus tesouros em cavernas profundas e hibernaram, esperando o momento em que o império dos humanos e demônios estivesse enfraquecido para retornarem.
A existência desses valiosos tesouros dos dragões fez com que muitos aventureiros tentassem explorar as cavernas dos dragões, em busca de fama e fortuna. Infelizmente as cavernas são repletas de perigos, e para evitar mortes o rei baixa um decreto: apenas um grupo de heróis bem balanceados pode entrar nas cavernas. O grupo deve ser composto por um curandeiro (para curar os feridos), um mago (para ataques de área ou situações em que ataques normais não fazem muito efeito), um defensor (para “segurar” os ataques ao grupo) e um atacante (para efetivamente matar os monstros).
E a história começa com um grupo ainda em formação… será que eles conseguirão reunir todos os talentos necessários para se aventurar pelas cavernas?”
O conceito de uma Hero Party (ou grupo de heróis) não é muito estranho para fãs de RPGs mais tradicionais ou de MMORPGs: para enfrentar perigos que normalmente seriam impossíveis para um único personagem, cria-se um grupo de heróis balanceados, com diferentes habilidades. Alguém para curar, alguém para causar dano absurdo, alguém para cuidar dos monstros menores, e por aí vai. Mesmo jogos já consagrados, como os primeiros Final Fantasy, já tinham essa idéia em mente: você podia selecionar quatro personagens entre Guerreiro, Ladrão, Faixa Preta, Mago Vermelho, Mago Branco e Mago Negro e tentar salvar o mundo com a combinação escolhida.
O problema é que… convenhamos, em Hero Party a existência de um grupo equilibrado não é uma escolha, é uma obrigação (guardas ficam de prontidão na entrada das dungeons impedindo a entrada de qualquer herói, a não ser que seja a Party mencionada logo acima). E essa justificativa para que os personagens se unam soa forçado em uma história. Um grupo de guerreiros fortes (ou até mesmo UM guerreiro realmente forte) poderia simplesmente derrubar os dois guardas e entrar na dungeon sem maiores problemas.
Obviamente, os guardas estão lá para apresentar parte do argumento da história e servirem de alívio cômico, mas na minha opinião eles acabam virando um furo. Uma barreira mágica em volta das entradas da dungeons, que só abrisse ao apresentar um emblema oficial para cada uma das classes seria uma solução mais elegante e faria mais sentido.
Independente desse detalhe, a história em si é boa, com a primeira edição apresentando alguns dos personagens principais e suas motivações. Temos Binder, o mago do grupo, e o arquétipo de herói dos mangás, sempre sorridente e capaz de confiar em qualquer um; Faye, uma das poucas elfas existentes no mundo (a raça foi quase extinta durante a guerra contra os dragões, por não se aliarem aos humanos e demônios) e a curandeira do grupo e finalmente Brigandine, irmã de Binder e praticamente cega, fazendo o papel de defensora do grupo. (nessa primeira edição o atacante ainda não foi mostrado). Todos os três possuem um character design muito bom, além de personalidades bem definidas. O tipo de personagens que poderiam figurar e fazer sucesso em vários mangás da Shonem Jump.
Sobre a arte, Érica Horita é muito boa, bem acima do padrão que estamos acostumados a ver em quadrinhos nacionais (e figurando junto a Lobo Borges do Ledd HQ, entre alguns dos melhores artistas do estilo mangá publicando em nosso país). Érica optou por um traço mais cômico, “fofo”, e obteve sucesso. O enredo de Marcelo Cassaro também é bom, e tirando o problema da exigência do grupo que citei logo acima o roteiro está ótimo para a primeira edição, entregando o necessário para o leitor entrar no mundo. Obviamente as milhões de referências a mangás, games e RPGs estão lá, e não devem incomodar ninguém, a não ser aqueles que acompanham a carreira do Cassaro desde a Dragão Brasil 13, de 199E NÃO INTERESSA e já estão um pouco cansados desse costume.
Sobre a edição, Hero Party segue um tamanho próximo ao formato americano, com boa impressão e sem falhas visiveis. O papel e a capa mais grossa também são de boa qualidade, em alguns pontos superiores a muitos mangás que vemos nas bancas.
No final, Hero Party até tem um ou outro problema, mas é uma boa história e uma grata surpresa. Com certeza valeu ter contribuido para o projeto no Kickstarter, até mesmo por se mostrar uma ótima mostra de conceito aos autores nacionais: pare de reclamar que não há espaço para quadrinhos brasileiros, crie um projeto bacana e corra atrás!
Você pode saber mais sobre Hero Party na página do projeto.
Duas vezes obrigado ao Graveheart — primeiro por colaborar com Hero Party, e agora por esta resenha. O mínimo que eu posso fazer para retribuir é esclarecer suas dúvidas sobre a história. Vamos lá:
“Um grupo de guerreiros fortes (ou até mesmo UM guerreiro realmente forte) poderia simplesmente derrubar os dois guardas e entrar na dungeon sem maiores problemas.”
Poderia. Ninguém disse que isso nunca acontece. Na vida real, você também pode violar leis — se tiver força ou recursos para vencer as autoridades. Mas para a maioria de nós, convenhamos, é MELHOR não violar as leis. Como disse o protagonista, gastar poderes para combater os guardas ANTES de lutar com os monstros lá dentro não é inteligente.
Outra coisa: “sem maiores problemas” é pura especulação. A história não dá pistas sobre o real poder dos demônios guardiões – como saber, então, que é fácil vencê-los “sem problemas”? É dito apenas que eles pertencem a uma casta especializada NAQUELA função; se fossem incompetentes nisso, claro que não estariam ali.
“Obviamente, os guardas estão lá para apresentar parte do argumento da história e servirem de alívio cômico, mas na minha opinião eles acabam virando um furo. Uma barreira mágica em volta das entradas da dungeons, que só abrisse ao apresentar um emblema oficial para cada uma das classes seria uma solução mais elegante e faria mais sentido.”
Sim, uma barreira mágica seria melhor. Metralhadoras automáticas guiadas por sensores de movimento também seria. Deixar o Balrog tomando conta, também. Mas essas coisas existem neste mundo? Se existem, são acessíveis às autoridades do reino?
Outra especulação sem base. A história diz que há magia no mundo, claro. Mas não diz nada sobre barreiras mágicas seletivas. Não diz sobre a disponibilidade de magos capazes de invocá-las em todos os portais. Não diz sobre outros magos que poderiam dissipá-las.
Não é justo dizer que a ausência de barreiras mágicas é um “furo”. O único a dizer que elas existem, estão disponíveis, foi você. Não eu.
Mas é verdade, os guardas estão ali por ser mais divertido!
“Obviamente as milhões de referências a mangás, games e RPGs estão lá.”
Há algumas referências a jogos de RPG e games, sim. Mas a mangás, sinceramente, não me lembro de ter usado nenhuma — até porque essa história seria originalmente publicada no Japão, e isso poderia não ser bem visto. Se há, foi acidental.
No mais, obrigado de novo por apoiar o projeto antes e agora. Abraço!
Cassaro
Gostaria de saber se esses brindes que quem contribui para o projeto ganhou , pode ser adquirido de outra forma, para quem não sabia disso antes, como eu, hehe. E quanto a falha mencionada acho que ainda seria muito cedo para considerar como uma falha não,? A questão de vir alguém forte e derrotar os guardas ainda pode acontecer, como também pode ser usado pelo próprio roteiro, bem… só o tempo dirá. E ah claro, muito bom o post.
Onde eu posso comprar a versão digital?
Érica Horita é a melhor desenhista desse Brasil de meu Deus. A técnica dela é impecável, muda e “desmuda” quando bem quer. Monstra. Ainda bem que voltou a ativa.
Eu que não contribui,como faço para adquirir um exemplar?
Hmmm… uma tanker lolie (praticamente) cega? Será q vai ser melhor que a paladina (?) loira atrapalhada? (tô sem a revista aqui, mas se achar referência eu volto)
Ainda assim, eu continuo acreditando na produção nacional! ^^~
Parabéns e boa sorte!
Tb gostaria de saber como ter um exemplar, já que não colaborei com nada pq só tô sabendo disso agora (apesar de que se soubesse antes provavelmente não colaboraria, hehehehe). Gosto muito dos trabalhos do Cassaro e o traço da Horita parece lindíssimo. Vai ter venda de exemplares físicos?
PS – A Brigandine já foi usada em outras histórias né? Dungeons Crawlers se eu não me engano… que aliás, bem que poderia ser relançado tb
balrog na defesa foi o maximo^^
eu apoio!e tera a venda deles nas bancas?