Boku Girl – Mangá

E se um dia você acordasse pela manhã dentro de um corpo do sexo oposto ao seu? Venha conhecer o polêmico Boku Girl, o mais recente e popular mangá sobre gender bender!

Com as mudanças recentes de certos paradigmas da sociedade em relação a sexualidade, algumas obras tem ganhado bastante destaque por apresentar certos comportamentos mais liberais entre personagens. Alguns com olhos preconceituosos ou que não apresentam fatores plausíveis em relação a atual concepção de gênero. Boku Girl, no entanto, mesmo parecendo ser uma obra simples sobre gender bender, traz uma mensagem bastante singular nas suas entrelinhas.

A história começa nos apresentando uma típica cena de mangás de romance onde um rapaz chama uma garota no terraço da escola para declarar todo o seu amor por ela. Seria mais uma cena clássica não fosse por uma recusa instantânea de Suzushiro Mizuki. Sem entender nada, o rapaz pergunta o porquê de tal recusa e Mizuki explica de uma maneira bem simples dizendo que ele era um homem. O fato é que Suzushiro Mizuki, apesar de ser um garoto, tem uma aparência bastante andrógina e delicada. Sendo franzino e com pele bem cuidada, facilmente é confundido com uma garota durante seus dias escolares. O que mais chama atenção é a reação do rapaz após a explicação de Mizuki, já que ele diz que isso não importa! Como assim? “O que importa se você é homem? Eu gosto de você mesmo assim e se você me aceitar, quando nos formamos, podemos fugir pra Tailândia onde tudo é liberado!”. Sim, ele usa exatamente essa frase um pouco antes de tomar um pontapé literal de Mizuki.

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No mesmo dia, após esse fato, conhecemos um pouco do dia a dia de Mizuki e seu melhor amigo Takeru. Mizuki explica que está cansado de receber declarações de caras que o confundem com uma garota e Takeru dá uma solução simples ao problema: “Arranje uma namorada!”. Simples assim? Então, de repente, atrás dos dois aparece uma jovem chamada Fujiwara que é a garota que Mizuki gosta, mas não tem coragem de se declarar. Dando uma de “João-sem-braço”, Takeru deixa os dois a sós para que o jovem tente trocar uma ideia com ela, mas para surpresa dele, ela começa a conversar livremente. Uma boa conversa entre os dois tem início, mas ela termina com uma bomba mandada por ela: “Eu só consigo conversar bem assim com você porque sinto como se estivesse falando com uma garota”.

E, assim, nos é apresentado o motivo de porque Mizuki nunca se declarou, já que a garota que ele gosta também o vê como garota.

Em paralelo a tantos traumas, somos apresentados ao último elemento crucial dessa trama que veio observando o jovem Mizuki desde o começo: Uma entidade espiritual travessa chamada Loki, uma súcubos que está entediada de sua vida eterna e decide aprontar algumas na já tão confusa vida do jovem. Usando seu poder ela transforma o corpo de Suzushiro Mizuki em um corpo feminino para combinar com a sua personalidade. Como Mizuki conseguirá lidar com essa mudança física e psicológica? Como reagirá quando encontrar seu amigo Takeru ou a sua paquera Fujiwara? Como lidará com o próprio preconceito que existe dentro dele?

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Boku Girl conta atualmente com cinco volumes encadernados e é lançado semanalmente pela Weekly Young Jump. Com roteiro e arte de Sugito Akira, a obra tem conseguido uma popularidade bastante razoável e até incomum para o gênero. Normalmente mangás de gender bender não atingem grandes públicos pois muita gente enxerga alguns conceitos de maneira distorcida. No entanto, o mangá apresenta um plot bastante interessante com questões éticas escondidas embaixo de alguns tabus típicos de obras de romance e ecchi. Como a própria demografia sugere, esta não é uma obra para adolescentes, é um seinen e como tal, traz uma história mais densa.

O primeiro e mais aparente conflito que se vê logo no começo é a falta de aceitação de Mizuki em relação ao próprio corpo. Em um flash back é apresentado um rapaz que apesar de sua aparência frágil, tenta a todo custo mudar seu jeito de ser, praticando artes marciais para ficar mais “másculo”, por exemplo. Isso acaba gerando uma força descomunal, mas de modo algum altera o seu jeito de ser. A grande maioria dos jovens nos dias de hoje não está satisfeita com sua própria aparência, seja pela falta de uma suposta masculinidade ideal ou excesso da mesma. O fato é que ao invés de aceitar a si mesmo, os jovens tentam moldar-se de acordo com o que a sociedade exige deles. Mizuki é o típico rapaz que sofre bullying só por ser mais franzino e delicado e confundido com uma o tempo todo acaba sendo desgastante para ele.

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Já o segundo e, possivelmente, principal conflito do mangá é a aceitação em relação ao próprio gênero. A personagem Loki brinca bastante com a troca de sexo de seu alvo, mas talvez a grande lição para os leitores por baixo dessa brincadeira toda seja descobrir quem realmente você é ou precisa ser. A repressão contra o público LGBT infelizmente ainda é uma realidade nos dias de hoje. Mesmo com tanto conhecimento de uma humanidade que se diz tão sábia espiritual e cientificamente falando, ela ainda assim menospreza aqueles que conseguem aceitar seu próprio gênero, independente de corresponder ou não ao que a sociedade diz ser correto ou natural. Mizuki pode não ser homossexual, mas é inegável que após tantas confusões em relação ao seu gênero e a inesperada troca de sexo que Loki fez em seu corpo, novos sentimentos começaram a surgir por pessoas que ele nunca imaginou que sentiria e talvez esses sentimentos já estivessem lá, afinal, essas coisas não surgem por causa de seu corpo, mas sim de quem você sempre foi.

É interessante perceber também que mais à frente na história, não só Mizuki tem que lidar com sentimentos novos ou situações em que deve superar seus preconceitos sexuais, mas também Takeru e Fujiwara entrarão nessa roda. Afinal, Mizuki está totalmente envolvido nesse triângulo amoroso, seja pro lado masculino, quanto pro lado feminino. A arte de Sugito Akira é leve e descompromissada, dando a este seinen um ar de simplicidade que não necessariamente está ali. Um ponto super positivo para o autor fica por conta da anatomia que ele consegue trabalhar muito bem. Talvez Boku Girl peque um pouco no ritmo da história que é um pouco devagar, mas isso pode ser encarado como a forma de Mizuki lidar com a mudança, afinal, não é fácil mudar de gênero da noite pro dia e aceitar a nova realidade sem questionar o que diabos está acontecendo ali.

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Boku Girl apresenta duas camadas de uma história, o lado superficial que pode parecer uma simples história de comédia, e a segunda, mais profunda, que apresenta um complexo conflito de aceitação. Sem dúvidas é uma obra que deveria ser lida com calma porque tem muitas lições escondidas em cada frase.

E se um dia você acordasse pela manhã dentro de […]

6 thoughts on “Boku Girl – Mangá”

  1. Denys,quando você disse ”a atual concepção de gênero” seria a ideia de que ”Gênero é uma construção social” ? Vejo muitas pessoas envoltas no meio LGBT e acadêmico que apoiam ou se opõe fortemente à essa questão da ”construção social”.
    Até onde eu sei,essa ideia foi influenciado pela obra da feminista Judith Butler,do psicanalista Jacques Lacan e o filósofo Michel Foucalt.

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