A história dos animes no Oscar

A-viagem-de-chihiroNo último dia 10/01 foi divulgada a lista final dos filmes que irão concorrer na 85º edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas – o conhecido Oscar 2013 – e com ela também acabaram as esperanças de vermos um anime novamente concorrendo, quem sabe vencendo, seja na categoria de “Melhor longa animado“, seja em “Melhor curta animado“.

Para quem não sabia tínhamos nesse ano de 2013 três animes nas pré-listas das duas categorias esperando uma chance de se igualar a “Sen to Chihiro no Kamikakushi – A viagem de Chihiro“, vencedor como melhor longa animado em 2002, e “Tsumiki no Ie – La Maison en Petits Cubes“, vencedor como melhor curta animado em 2008, eram eles:

Melhor longa animado

  • Kokuriko-Zaka Kara – From Up On Poppy Hill: Obra mais recente do famoso estúdio Ghibli, dirigida por Gorou Miyazaki (O mesmo de Contos de Terramar), baseada em um manga shoujo de mesmo nome que conta a história de dois colegiais em um Japão ambientado nos anos 60 onde eles buscam salvar uma casa antiga que reúne vários clubes da escola e que está perto de ser demolida.
  • Shinpi no Hou – The Mystical Laws: Do estúdio Nikkatsu Video, antigo grande estúdio de cinema japonês no pós-guerra, hoje mais conhecido por seus trabalhos em filmes pinku (pornochancadas japonesas) de baixo orçamento. Sem muitos detalhes da história e da qualidade, posso dizer apenas que é uma mistura de ficção científica com religiosidade.

Melhor curta animado

  • Hi no youjin – Combustible: Curta animado pelo estúdio Sunrise e dirigido pelo aclamado diretor de Akira e Steamboy, Otomo Katsuhiro. Fala sobre espécie de bombeiros, responsáveis por apagar incêndios no final do período Edo.

A não indicação de nenhum anime para a próxima edição do Oscar não é novidade alguma, mas precisamos considerar alguns pontos para entender melhor essa história.

O primeiro grande ponto é o fato da categoria “Melhor Longa Animado” ter sido criada apenas em 2000, contando então com uma curta história de 12 anos, com até hoje apenas duas indicações, ambas de filmes de Hayao Miyazaki (além do já comentado e vencedor de 2002, “O Castelo Animado” chegou à lista final em 2005, perdendo o prêmio para “Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais”).

Já a categoria de “Melhor curta animado” existe desde a quinta edição do prêmio, mas ficou limitada para obras norte-americanas até 1952. De lá para cá tivemos uma única indicação além do vencedor de 2008 que foi “Mt. Head” de Koji Yamamura no ano de 2002, perdendo para o americano “The ChubbChubbs!“.

la-maison-en-petits-cubes-originalSim. É isso. Dois curtas e dois longas foram indicados ao Oscar em toda sua história, mesmo com toda relevância mercadológica e criativa que a indústria de animes possui especialmente hoje no cenário mundial.

Explicar esse fenômeno não é fácil, já que mesmo entre os filmes americanos existem muitas surpresas sobre o escolhidos, mas podemos pensar em algumas possibilidades. A primeira dela é o “preconceito” existente entre artistas e animadores de outros países que veem nos animes uma forma crua, limitada de fazer animações. Já falamos sobre isso aqui antes, mas é sempre bom relembrar: desde os tempos de Osamu Tezuka os artistas japonesa buscam, seja por limitações de orçamento, seja por questões estéticas próprias, criar a ilusão de animação da forma mais econômica possível, reaproveitando desenhos, usando poucos frames, zoom-out ou até mesmo tremendo a câmera para parecer que existe algum movimento ali! Mesmo nas grandes produções conseguimos encontrar esse tipo de coisa e isso com certeza compõe os motivos de termos tão poucos animes concorrendo ao “prêmio máximo” da indústria cinematográfica.

mt-headOutro motivo que podemos apontar aqui é um certo protecionismo quanto à obras americanas frente às estrangeiras. Dos 11 longas animados vencedores, apenas dois eram de fora dos EUA. O próprio fato de a categoria de curtas animados ter sido limitada à produções americanas por mais de 20 anos já mostra que existe um certo esforço para premiar as produções de casa.

Por fim, algo que também pesa contra os animes é o fato da maioria deles buscar uma visão internacional nas suas produções. Suas mensagens e histórias são cada vez mais típicas dos animes e seus fãs. É assim que um estúdio mais internacional como Ghibli consegue um maior destaque e obras atípicas ao que estamos acostumados a ver como anime como Mt.Head e Tsumiki no Ie tem maior visibilidade.

A relevância de um Oscar tanto na opinião do público/crítica e do seu sucesso mercadológico são muito discutíveis. As escolhas da Academia mais ainda, mas será que não está no momento dos animes pensarem para fora do arquipélago japonês?

No último dia 10/01 foi divulgada a lista final dos […]

14 thoughts on “A história dos animes no Oscar”

  1. Gostei do artigo. Em 2010 eu realmente acreditei que Summer Wars pudesse ter sua vaguinha entre os escolhidos para o Óscar. Na época, fiquei bastante decepcionado, pois o mesmo não passou da lista de pré-selecionados.

    Outro longa que merecia ao menos uma “pré-seleção” foi “Fullmetal Alchemist: Conqueror of Shamballa”. Afirmo isso não por ser fã da série, e sim porque esse longa em especial conquistou (trocadilho?) alguns prêmios importantes mundo afora.

    Não perdi as esperanças e esperarei o dia em que as animações japonesas possam ter a honra de figurar entre os campeões da Academia :)

  2. É compreensível haver poucos longas animes japoneses coroados, principalmente levando em conta que a premiação teve o seu inicio nos anos 2000.

    From Up On Poppy Hill é um Ghibli mais maduro e politizado. Sabemos que a academia não premia com o Óscar animações assim, por melhor que sejam, e de 2000 pra cá tivemos excelentes animações de diversos países concorrendo, mas não ganharam.

    Vale o mesmo argumento para The Mystical Laws, que superficialmente não me parece tão digno assim de uma indicação.

    O curta Combustible me deixou curiosa pra ver uma expansão sobre este tema. Parece legal, mas não o acho merecedor de prêmio algum.

    Com relação à animações, a ausência delas pode ser sentida com maior peso a partir dos anos 2000. Parece que a indústria americana perdeu o tesão com o velho estilo de fazer animações através da ponta de lápis e os filmes em CG vive o seu apogeu. Se pararmos pra pensar, nem mesmo a Disney que ficou conhecida principalmente por suas animações 2D, tem investido com peso nesse filão, e a última tentativa não resultou no sucesso esperado. Fazer o quê?

    Sobre o Ghibli, a vantagem dele sobre todos os demais estúdios, é ser parceiro de unha e carne com a Disney. Então, mesmo um Ghibli menor, com um filme menor, sempre terá certo destaque. Sempre.

    1. Ah, acabei esquecendo de comentar… não acho que seja protecionismo, não, mas sim ‘a politica atual’. Concorrer, animações de vários países concorrem. Penso que só não levam, porque são animações adultas, ou sérias, ou experimentais demais… ou seja, tudo que vai de acordo com essa política deles. Seria bom se o 2D ressurgisse das cinzas por lá, mas isso parece tão distante.

    2. A Academia é muito quadradinha. Quando gosta de uma coisa, insiste nela (vide Lincoln indicado este ano, mais enlatado impossível). Tanto que as animações em cgi viraram quase um padrão lá na terra do Obama. Mas já está se desgastando, a queridinha Pixar não consegue mais alcançar o nível inicial, logo, uma hora ou outra, algo novo surge. Torçamos para que seja asiática e de preferência 2D – não, não sou preconceituoso, tampouco saudosista, mas cansei de ver animações com muito design e pouco sentimento.

  3. Como você disse, a não premiação de animações de outros países é uma clara mostra de protecionismo àquilo que é produzido nos Estados Unidos. Quem já viu as animações francesas sabe muito bem como as premiações da Academia acabam sendo patrióticas, principalmente na categoria de longa-animado. Um exemplo é “As Bicicletas de Belleville”, um dos melhores filmes da história que foi preterido para que “Procurando Nemo” ganhasse.

  4. O Oscar sempre foi e sempre será uma “festa dos americanos onde estrangeiros são meros convidados”. Eventualmente algum rouba a cena, mas é mais uma raridade do que hábito. E digo isto desde os curtas até documentários! O Oscar, a nível de arte, é uma premiação bem fraca. O problema é que ele tem um peso puramente mercadológico (pura publicidade do estilo de vida americano ser o melhor). Eu simplesmente ignoro as premiações do Oscar e recomendo o mesmo. Esse lance de “poxa, não foi indicado ao Oscar mesmo merecendo” é perda de tempo. Tem premiações mais justas que valem mto mais que o prêmio da “Academia”.

    Enfim, desculpe-me se pareceu meio ofensivo, mas acho que nós somos mto levados pela “onda” do Oscar, eqto mtos outros festivais de cinema ficam em segundo plano, qdo deveriam ser até superiores ao Oscar no quesito arte…

  5. Como a Roberta disse, os estrangeiros estão concorrendo SIM, e acho que isso já mostra algum avanço. Não concordo porém, que a Academia vá contra tudo o que é “diferente”: The Secret of Kells, cartoon e estrangeiro, entrou no ano passado; Rango, estreante e bem diferente das animações comuns, também entrou (e ganhou). O Japão também não é o único injustiçado, já que o Oscar também ignorou várias produções francesas esse ano (o que inclui The Rabbi’s Cat, baseado numa famosa graphic novel que, pelo que eu soube, faz alusões ao judaísmo).
    E se pararmos para pensar bem, o Oscar é o prêmio da indústria norte-americana, feito por e para pessoas envolvidas nessa industria. Olhando assim, triste mesmo é ver o Globo de Ouro, feito por correspondentes estrangeiros, não indicar nenhuma animação fora dos EUA.

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