Rurouni Kenshin – Shin Kyoto Hen – Parte 1

Os últimos anos tem sido marcados por uma onda de remakes na animação japonesa dos seus principais sucessos de décadas anteriores. Assim tivemos o mosaico bem encaixado de Dragon Ball Kai, a nova versão menos violenta de Hunter x Hunter e mais recentemente o anúncio de uma nova animação das guerreiras lunares.

Entre várias outras produções, uma franquia que retornou na segunda década dos anos 2000 com grande investimento e força tem sido Rurouni Kenshin – ou Samurai X -, como ficou conhecida no Brasil, de Nobuhiro Watsuki. Entre jogos novos, um one-shot publicado na Shounen Jump na última semana e uma versão cinematográfica com atores reais que estreia no Japão este sábado, tivemos também em Dezembro de 2011 a primeira parte de dois filmes animados que irão recontar um dos principais arcos da série: Rurouni Kenshin – Shin Kyoto Hen.

Caso você tenha vindo parar por acaso nesse texto ou seja novo no mundo dos animes e ainda não teve contato com esta grande obra da Jump da década de 90, o protagonista Kenshin Himura é um espadachim andarilho que carrega em seu passado o legado, a alcunha e o fardo de “Hitokiri Battousai”, um dos mais frios e habilidosos assassinos durante a restauração Meiji, ponto importantíssimo da história japonesa ao promover a mudança de um governo teocrático para um modelo de nação-estado, aproximando-se com o que conhecemos hoje. Caçado pelo seu próprio passado, Kenshin abandona o caminho da morte para utilizar suas habilidades apenas em prol de ajudar as pessoas, representado por sua espada de lâmina invertida, a sakabatou.

Os dois filmes animados produzidos pelo estúdio DEEN (também responsável por boa parte das animações originais) recontam os mesmos acontecimentos do chamado “arco de Kyoto”, onde Kenshin enfrenta seu maior desafio – e melhor antagonista de toda franquia na minha opinião -, Shishio Makoto, literalmente seu sucessor como grande assassino do futuro governo Meiji. Mas após toda restauração, os governantes necessitaram matar Sishio, temendo que sua personalidade sociopata pudesse comprometer o próprio futuro do Japão com as informações e o poder que ele possuía. Desta forma, Sishio Makoto foi “mergulhado” em óleo e queimado-vivo. Mas sobreviveu.

Sobreviveu não somente para buscar vingança, mas para buscar o poder. Fazer do Japão o poder, incorporando em si duas grandes máximas; (1) apenas os mais fortes (devem) sobreviver e, por consequência (2) todos os meios justificam os fins dos mais fortes. Diametralmente o oposto do que representa Himura na série, como afirmou o próprio autor, Sishio representa o mal em si.

Pode-se perceber que esse arco é muito mais denso do que o que estamos acostumados a ver nos shounens mais populares e mesmo dentro de Samurai X. Mesmo que alguém possa tentar reduzi-lo a uma luta entre o bem e o mal, esse arco na verdade representa tudo que há de melhor na franquia. Das lutas entre habilidosas pessoas, passando pelas motivações intricadas e que poderiam ser discutidas em diversos posts, até chegar ao lado podre da fascinante história japonesa.

Kenshin abandona a cidade de Tóquio onde fixou moradia ao lado de Kaoru Kamiya no dojo do estilo Kamiya Kasshin de Kendo, para seguir até Kyoto em busca de Sishio que pretende um ataque para levar o Japão de volta ao lugar que ele julga merecer.

Para quem já assistiu a série, Shin Kyoto Hen é um banquete. Isso porque apesar do ritmo bastante acelerado que o filme possui, as partes mais importantes estão lá em um processo de construção muito bem amarrado pelo diretor Kazuhiro Furuhashi (que esteve no comando de quase todas as animações da franquia), necessitando apenas que o espectador preencha as pequenas lacunas deixadas em prol de algo mais enxuto (são 38 episódios na série original e menos de 50 minutos aqui!).

É claro que isso causará certa dificuldade para quem não viu o anime, mas ainda assim vejo essa primeira parte como uma belíssima apresentação daquilo que realmente é relevante embalado por uma animação linda que unida a um trabalho fantástico de fotografia, luzes e sombras fazem da experiência de Shin Kyoto Hen algo único.

Por sinal, um dos principais questionamentos quando surgiram as primeiras imagens dessa nova animação de Samurai X era quanto ao seu character design um tanto quanto mais afinado e leve de Hiromitsu Hagiwara, diferente do que estávamos acostumados. No entanto, esse novo traço não só somou e encaixou-se perfeitamente bem com a arte geral como também conseguiu acrescentar uma maior profundidade às emoções evocadas por cada personagem, algo muito relevante em uma história movida muito mais por sentimentos do que pela ação.

Ação essa que se também pode ser critica, nem tanto por sua qualidade técnica, mas por seu caráter bruto, vejo como outro ponto positivo. Se o anime original precisava economizar em frames e alongar seus episódios ao máximo para acompanhar o manga que era publicado ao mesmo tempo, não temos isso em uma produção isolada feita para o cinema. Assim, elas são – dentro dos níveis de um battle shounen – muito mais críveis, terminando em poucos segundos. Pode-se perceber que este é um caráter de toda obra pelo teor mais pesado, menos “oro”, chegando a uma emblemática cena de sexo do transfigurado Sishio com sua gueisha particular, Komagata Yumi.

Se você nunca teve contato com essa que é uma das grandes obras da Jump no final do século XX, certamente o Shin Kyoto Hen pode assustar um pouco por não perder tempo ensinando as minúcias àqueles que não a conhecem, mas a experiência de ver Samurai X de uma maneira mais cru vale muito a pena. Para os fãs, mais do que o fator nostalgia, temos o arco mais adorado com uma arte incrível e com um novo tom.

Seja como for, veja. E aguarde que a segunda parte com o confronto final de Sishio contra Kenshin será certamente um dos melhores momentos vistos no ano de 2012, quando o DVD/BD sair nas internets, no mundo dos animes.

Os últimos anos tem sido marcados por uma onda de […]

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