Japão feudal, lutas belíssimas e um samurai imortal querendo morrer. Tudo isso você encontra no review do primeiro volume de Blade – A Lâmina do Imortal da editora JBC.
Blade – A lâmina do Imortal (Mugen no Juunin) é a nova aposta da JBC para os seus mangas no formato “BIG” (dois volumes japoneses em um) que chegou em dezembro às lojas especializadas, tem periodicidade bimestral, custo de capa de R$39,90 e estará completo em 15 volumes.
Escrita e desenhada por Hiroaki Samura, o manga conta a história de Manji, um samurai que deixou seu mestre e em sua fuga acabou matando 100 homens, e, por causa disso, ganhou fama e o apelido de “retalhador”. Durante a sua caminhada como um Ronin (um samurai sem mestre), acaba ganhando o poder da imortalidade, porém, depois de algum tempo, percebe que isto não é algo positivo, e sim uma grande maldição. Assim, parte em uma jornada para conseguir um meio de se tornar novamente um mortal e poder descansar no sono eterno.
Com certeza a primeira coisa que nos sobressai ao se ler esse manga é a sua arte. Hiroaki Samura intercala quadros finalizados com nanquim e outros em que ele só utiliza grafite para desenhar e fazer os sombreados. Ao longo do volume, o segundo estilo é mais constante e é nesses quadros que se apresenta um maior detalhismo, que inclusive chega a fazer os desenhos parecerem mais realistas, fato que auxilia muito na ação, tanto na plasticidade dos movimentos, como na parte mais visceral – todos os cortes e machucados passam para o leitor o perigo das lutas e a habilidade dos samurais com um vigor fascinante.
Porém quando se começa a analisar todas as coisas em volta da incrível arte do autor as coisas se complicam um pouco. O início do manga é muito confuso, isso porque são intercalados momentos atuais com flashbacks, na maioria das vezes sem grandes preocupações em situar o leitor aqui ou ali, presente ou passado, gerando uma confusão para o leitor.
Ao mesmo tempo que o plot principal é bem clichê – uma busca por vingança com um vilão com principal com motivações aparentemente bem batidas -, isso poderia ser contornado através de um desenvolvimento da história de forma mais interessante, algo que não aconteceu nesse primeiro volume. A estrutura é praticamente procedural com um “vilão da semana”. Em cada capítulo o mocinho tem que enfrentar um vilão que vai tentar matá-lo enquanto a história avança um pouquinho. A maioria das lutas tem exatamente o mesmo desenvolvimento, o que faz com que se perca um pouco da emoção de se ler para saber o que pode acontecer. Ao mesmo tempo, cada capítulo tenta levantar uma reflexão diferente, ainda que na maioria das vezes o resultado fique raso e um tanto quanto forçado.
Além disso, é necessário fazer um adendo sobre o clima da história. Mesmo que ela se passe no Japão feudal e envolva samurais, ela não é muito fiel a essa época, mas sim um pouco voltada para a fantasia. Isso acontece principalmente nas armas e nas lutas.. Existem espadas com pelos e shurikens que viram praticamente uma serra elétrica quando são giradas nos dedos de um bom lutador. Então aquele que for ler esse manga não deve esperar algo muito galgado na realidade. Isso é tão claro que o próprio autor escreve um pedido de desculpas para todos aqueles que eram fanáticos pelo período Edo e compraram o seu manga por causa disso. Tentando contextualizar um pouco, isso seria um pouco parecido com procurar um manga histórico sobre a Idade Média e acabar lendo Berserk.
O formato gráfico do manga apresenta praticamente as mesmas características de Eden, também da JBC cuja resenha você pode ler clicando AQUI. As páginas em sua maioria não apresentam transparências, e mesmo aquelas que são um pouco não chegam perto ao que foi encontrado em Ultraman ou Gangsta. Mesmo sendo um volume muito mais grosso que o normal, ele ainda é bom de segurar. Porém, ao contrário de Eden, o fato de ser um volume duplo atrapalha um pouco a leitura. Isso acontece porque geralmente o autor finaliza as lutas com uma página dupla que mostra o golpe final, e nesse volume não deu para ver perfeitamente nenhuma página dupla por não ser possível abrir muito as páginas. Isso muda o entendimento da história, mas atrapalha ao se tentar apreciar a arte, grande atrativo da obra.
Blade – A lâmina do Imortal nesse primeiro volume apresentou uma arte estupenda, mas também um enredo que não conseguiu acompanhar essa qualidade. É difícil afirmar (após ler somente o seu primeiro volume) que essa obra seja ruim, tanto pelo fato da grande fanbase que ela possui, como pelo alto número de volumes e pela boa crítica mundial. No entanto também se está muito longe de dizer que seja uma ótima obra. Diria que seguir comprando esse manga seria mais uma aposta na sua fama do que um contentamento pelo que foi apresentado.
Como é comum em “99,9999999%” das boas séries, sim, Blade melhora muito e esse início é a parte mais fraca.
Quem comprou esse volume e ficou em dúvida se vale a pena continuar comprando, compre pelo menos o próximo volume. Blade é uma série muito boa, quem não gostar não vai gostar, acontece, mais é sim muito boa. Só comento que algumas esquisitices como as vistas nesse início e as mandalas vão praticamente sumir.
E como muito se comentou é uma boa série para quem quiser ver mulheres em ação salvando os homens.
Posso ser o chato da vez? Aquele que só comenta nos posts dos outros para falar mal? rsrs
Não discordo de quase nada do que você disse, mas tem uma coisa que me incomodou no seu texto. Foi a seguinte fala:
“O início do manga é muito confuso, isso porque são intercalados momentos atuais com flashbacks,
na maioria das vezes sem grandes preocupações em situar o leitor aqui
ou ali, presente ou passado, gerando uma confusão para o leitor”.
É confuso? É confuso para quem? Quem é o leitor desse mangá? Blade é um mangá seinen, destinado a adultos, e, portanto, o público alvo já é – ou já deveria estar – acostumado com essas técnicas narrativas. Ficar explicando ou situando o leitor em que tempo se passa a história é uma técnica narrativa muito pobre, destinada apenas a obras mais juvenis. Se uma obra seinen se utilizasse de técnicas juvenis, a obra seria ruim…
Ou seja quando um mangá fica mesclando tempos diferentes, sem explicitar muito, é uma característica de uma obra mais madura. E se uma pessoa nunca leu algo assim e ficou confusa com isso essa é uma ótima oportunidade de se acostumar com esse tipo de técnica^^.
Resumindo: a minha crítica aqui é que esse ponto dos flashbacks deveria ter sido passado como algo positivo, não como algo negativo.
Pode ser feito pra anciões, mas se não bem executado pode confundir. Como ha casos nas obras de arte sequencial que mesmo bem executado é confuso vide as obras de Grant Morrison.
Mangá seinen é só temática adulta e nada mais parceiro. Não te faz mais inteligente.
“Mangá seinen é só temática adulta e nada mais parceiro. Não te faz mais inteligente.”
Desculpa, você não entendeu o que eu disse e ainda cometeu equívocos. MAngá seinen não é só temática adulta. Mangá seinen pode ter as mesmas temáticas de mangás shonen, shoujo, etc. O que define um seinen é forma como as temáticas são trabalhadas. E veja que nem isso é um definidor total e imutável, é mais a idade.
Mangá seinen é destinado a adultos. Publicados em revistas específicas que tem como público alvo pessoas com faixas etárias de 18 a 24, 24 a 30 ou superior a isso, variando conforme a revista. Há revistas seinens que são mais juvenis e seinens que são mais adultas…
Mas de todo modo se você tem 18 anos você já deveria ter visto alguma vez a mesma essa estratégia de flashblacks sem situar o leitor, pois embora seja mais constante em obras adultas, ela aparece em obras para adolescentes também. Fãs de shoujo, por exemplo, viram uma estratégia parecida em Orange (se bem que lá foram flashforwards e se bem que Orange virou seinen depois.. mas enfim…).
Não faz sentido reclamar da execução desses flashbacks por não situar o leitor. Se o leitor nunca viu essa estratégia em obras juvenis, agora é o melhor momento de se familiarizar.
Falar mal dos flashbacks sem explicação em uma obra juvenil pode até ser compreensível, mas em uma obra adulta, é algo inaceitável. Em obras adultas essas estratégias devem ser passadas sempre como positiva e foi isso que eu enfatizei.
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Você falou sobre mal execução e você está certo, mas fica a pergunta para você:
o que significa ser mal executado ? Em Orange vi muita gente reclamando que os flashforward foram mal executados, quando na verdade essa gente é que não tinha se familiarizado com a estratégia. Em Orange em um momento você estava no presente, logo depois estava no futuro sem nada dizendo ao leitor que era o futuro. E isso as pessoas acharam que era má execução, quando não era obviamente…era estilo da autora, um ótimo estilo…
Se os flashbacks ou uma narrativa não sequencial fazem parte da base da trama (como em pulp fiction, amnésia, habibi ou irreversível) eu iria concordar contigo, mas nesse caso que só foi feito em uma cena em 400 páginas de mangá eu acho extremamente desnecessário tentar fazer algo “cabeça” (ainda mais com o resto do volume sendo raso).
Complicado é comprar tudo de novo por conta do cancelamento na Conrad.
Acho que só vou comprar quando encostar com o que eu já tenho.