Leiji Matsumoto “Ozma”

A volta triunfal de Leiji Matsumoto as telinhas na animação feita para comemorar os vinte anos do aclamado canal por satélite WOWOW [que patrocinou entre outros animes no passado Ergo Proxy e Now and Then, Here and There]. Ou não.

Em uma Terra futurista vítima de um comportamento anormal do Sol que levou ao gigantesco deserto que se tornou nosso planeta acompanhamos a história de Sam Coyne, jovem membro da tripulação da nave Baldanos que como todo bom heroi [mesmo que no caso seu moleque padrão algo baixinho] salva a misteriosa garota de longos cabelos azuis, Maya, perseguida pelo Exército de Theseus.

Esta, que descobrimos ser uma rara “Criança Ideal” original restante [e portanto valiosa para a raça de indivíduos geneticamente modificados], está a procura do monstro que dá o título a este anime – monstro esse que também é o algoz que fez o irmão de Sam, Dick, um dia ter desaparecido há muitos anos. E esta é uma jornada rumo ao encontro de Sam e Maya com Ozma.

Mesmo não sendo a sinopse mais promissora do mundo, inicialmente Ozma não parece ser uma obra a ser desprezada; tendo principalmente o pedigree de Leiji Matsumoto, além de um staff promissor comandado pelo diretor Ryousuke Takahashi [Layzner, VOTOMS], tínhamos tudo para ter ao menos uma história simples mas bem contada aqui. Mas infelizmente não é o que acontece.

Tudo bem que Ozma, baseado em um roteiro escrito há vinte ou trinta anos atrás por Matsumoto, obviamente não seria banhada em um oceano de criatividade e ideias marcantes, mas o fato de ser um amontoado de clichês assusta um pouco. Simplesmente não há uma só linha de diálogo ou detalhe neste universo construído às pressas que chame a atenção aqui. Pior, qualquer detalhe incluso aqui simplesmente já foi testado antes, e de maneira melhor.

E quando falta qualquer pingo de criatividade em um roteiro feito simplesmente para agradar o público a solução acaba sendo uma execução que compense, que torne a obra ao menos divertida o suficiente para servir de entretenimento ao pobre espectador.

Mas infelizmente no caso de Ozma é outra coisa que também acaba não acontecendo, devido principalmente a uma direção feita no automático. Nada aqui empolga [e as batalhas, que deveriam ser técnicas conseguem ser uma versão piorada do que acontece em Mouretsu Pirates], não há qualquer preocupação em fazer as partes juntarem-se de forma a termos um todo coeso, contínuo e que prenda; simplesmente as cenas passam uma após a outra de forma burocrática, com os diálogos soando um pouco cretinos e os personagens passando muito pouca empatia.

Sim, porque um ponto chave aonde podemos ver o quão Ozma consegue ser medíocre é o fato da história simplesmente não escolher o seu foco, se nos personagens ou no enredo. Algo sempre fundamental em narrativas de qualquer tamanho, em uma tão curta como aqui soa essencial a obra de duas horas de duração [sim, seis episódios de tamanho regular são simplesmente equivalentes a um filme] escolher um foco para poder desenvolver-se com o mínimo de qualidade que seja.

E assim acompanhamos uma história que a cada peça do pequeno quebra-cabeça a ser completado vai se mostrando mais e mais óbvia até o final pretensamente épico que acaba sendo falho justamente por, além de algumas revelações patéticas [como a identidade do mascarado e o grande segredo sobre o que é Ozma, sem dúvida as grandes frustrações da série] construção aqui ter sido feita de forma simplória.

Analisando-se simplesmente como obra, Ozma consegue estar bem em cima da linha do mediano: um perfeito nota cinco. Claro, poderia ser pior, mas está muito aquém do esperado e até mesmo abaixo da média do que é produzido atualmente.

Sim, uma pena que mostra que um dos problemas da indústria de animação japonesa atual é também o fato de que há muito talento desperdiçado à toa. Porque uma obra como essa, com praticamente nenhuma pressão para inserção dos elementos comerciais de sempre [de brinquedos ao modelo Akiba], consegue ser tão mediana?

Claro que há responsabilidade do time de produção simplesmente não ter sido competente o suficiente para ter produzido algo de qualidade, mas outro fator importante aqui é a absoluta falta de dinheiro presente no projeto. A parte técnica é capenga e muito mal-feita; não basta a arte presente na série [e representada nas imagens que ilustram este artigo] ser ruim, tudo acaba sendo muito abaixo da média atual a um ponto em que compromete.

Sim, se teoricamente é difícil vender uma arte retrô como proposta aqui, com a execução bizarra executada [sem culpa, afinal somente foram muito mal pagos para isso] pelo LandQ Studios [com auxílio do GONZO] chega a ser difícil de mesmo assistir algo com animação comparável a um anime ruim… de dez anos atrás. Afasta espectadores em potencial sim, mesmo se fosse contada aqui a melhor história do mundo.

E como não é o caso, Ozma deve ser simplesmente ignorado em não muito tempo depois da publicação deste artigo, sendo – infelizmente – apenas uma mancha na bela carreira animada de Leiji Matsumoto. O jeito é realmente esperar por Yamato 2199, animação na qual estão investindo um caminhão de dinheiro com um time de produção mais renomado ainda para contar a história mais famosa criada pelo mestre; será que agora vai?

Vinte ou Trinta Anos? Mesmo, Matsumoto?

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8 thoughts on “Leiji Matsumoto “Ozma””

  1. Acompanhei a esse anime e traduzir pela YA Fansub, é um bom entretenimento. Só não curti muito o design dos personagens, mas com o tempo a gente se acostuma.

  2. A matéria sobre Ozma reflete um problema que afeta a animação japonesa nos dias de hoje: a falta de dinheiro em projetos que valem a pena. Enquanto isso, muito dinheiro está sendo investido em obras que, se por um lado têm um visual caprichado, por outro lado são vazias de conteúdo, como as que se têm visto ultimamente no cenário atual.
    Falando nisso, foi postado no Sankaku Complex, uma lista dos “10 passos para fazer um anime de sucesso”, e que vai gerar muita discussão entre os fãs de animes. Eis a lista (traduzida no Google Translator):
    1. Não violar a original!

    2. Faça a arte bonita/fofa (Não entendi bem o que isso quer dizer. Se alguém puder me explicar…).

    3. Tenha um doce OP (o que é um “doce OP”?)

    4. Obter um elenco de seiyuu(dubladoras) “top”

    5. Mostrar algumas cenas de batalhas legais

    6. Incluir algumas reviravoltas inesperadas

    7. Tenha um doce ED (O que é um “doce ED”?)

    8. Incluir ero com moderação

    9. Use lotes de elementos moe

    10. Encha-o com muitas meninas bonitas

    Se alguém não conseguiu entender a tradução, é só procurar no site do Senkaku Complex (Aviso: o site têm muitas ilustrações e fotos “ecchi” e outros conteúdos não recomendáveis para menores de idade ou para pessoas que se sintam incomodadas com tais coisas).
    E vocês, o que acham da lista? Será que essa é a formula para se fazer um anime de sucesso (pelo menos nos dias de hoje,é claro)? Comentem e dêem suas opiniões. Se não concordarem com a lista, podem criar outra e colocá-la aqui. Sintam-se à vontade.

    1. Falo pela má qualidade de certas coisas, mas no futuro devem datar a paleta de cores genérica e o uso abusivo de CG como sendo do começo dos 2010 mesmo…

  3. Sou fã do Leijii Matsumoto de carteirinha mas essa série realmente não convence, mas pra quem gosta da obra do Matsumoto é um prato cheio pra curtir o formato de traços únicos que só ele consegue produzir, o tempo todo você consegue ver elementos das séries de sucesso dele sendo utilizados por todo o anime. Mas se você não conhece as séries ou o autor nem perca tempo em assistir, OZMA é um tédio só.

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