Star Driver, Kagayaki no Takuto

Em uma ilha tropical localizada muito ao Sul do Japão se desenvolve esta verdadeira aventura da vida que envolve o gostosão das galáxias [ginga bishounen] e suas aventuras envolvendo sacerdotisas, robôs gigantes, um espaço-tempo paralelo e uma organização bem flamboyant. Estamos te invocando [apprivoise] para ler este artigo!

Após Code Geass ~Hangyaku no Lelouch~ R2, Mobile Suit Gundam 00 Second Season e FullMetal Alchemist: Brotherhood [e um “intervalo” de 1 cour com Sengoku BASARA 2], o conhecido e renomado slot de Domingos às 17h na MBS/TBS, de onde saíram alguns dos animes mais conhecidos da década [quando era Sábados às 18h tivemos ainda Mobile Suit Gundam SEED [+ Destiny], FullMetal Alchemist e Blood+], estreou em Outubro/2010 Star Driver, o mais novo grande projeto da parceria Aniplex [braço da Sony para financiamento de animes], Dentsu [produtora de entre outros Bleach, Gintama e Ao no Exorcist], Bandai Namco Games [gigante dos brinquedos e games] e Square Enix [no caso, a editora do grupo, que publica FullMetal Alchemist, Soul Eater e Kuroshitsuji], sendo que a emissora [MBS/TBS] concede o bom horário de exibição em cadeia nacional e o estúdio BONES faz a animação.

Com esse background, o dinheiro para uma animação de excelente qualidade está garantido – e a série não decepciona neste aspecto. Além disso, o roteirista de Utena e FLCL, Yoji Enokido, alia-se ao diretor de Soul Eater, Takuya Igarashi, e tendo a seu dispor um elenco de dubladores comandado pelos astros Mamoru Miyano e Jun Fukuyama, tiveram o hype que precisavam para lançar um primeiro episódio onde o enredo é acelerado para mostrar de cara a primeira luta – mas mesmo assim atiça a curiosidade do espectador para ver aonde essa história vai parar.

Basicamente, Takuto Tsunashi [voz de Miyano] é um adolescente hiperativo que chega a misteriosa ilha aonde toda a história se passa [a intenção é óbvia – ser uma história de certa forma atemporal e ter o feeling de uma obra de fantasia, onde o espectador entra em um outro mundo mesmo que a obra seja tecnicamente ambientada em nossa Terra [tal qual Cagliostro no Shiro, resenhado AQUI] e logo se vê no meio de uma conspiração envolvendo mechas denominados Cybodies, uma organização formada basicamente por adolescentes chamada Kiraboshi Juuji-dan que planeja utilizá-los para dominar o mundo e sacertidosas com selos que devem ser quebrados para os robôs possam sair de um mundo paralelo aonde o tempo é congelado para entrar no mundo real.

Mas nada disso importa – ao menos se formos pensar de forma convencional. Afinal, a série é sobre adolescentes vivendo a maior aventura de todas, a da vida – e o foco da série é todo nos personagens, presos nesse mundo específico criado pelo roteirista e diretor de forma tal que dá para perceber que a série é feita com cuidado.

Mas o apego excessivo a rígida estrutura criada para a obra, que pressupõe um misto de ação, romance e drama buscando atrair todo tipo de público [entre o mainstream e o nicho, como diz o título do artigo que aborda a fundo esta questão] faz com que a obra perca tempo demais abordando praticamente todo episódio a maior quantidade de elementos possível para manter o público assistindo – e ainda por cima em cada uma das três partes em que o anime claramente divide-se [focando-se nas quatro sacertidosas, sendo que Wako tem sua história contada durante todo o anime, enquanto as demais possuem seu terço específico] há a introdução de novos personagens para o vasto elenco sem que metade das possibilidades do elenco secundário básico seja explorado.

Aqui vale lembrar que Star Driver é uma resposta mais clara ao avassalador sucesso de Code Geass e sua mistura explosiva de um anime mecha com um anime escolar [afinal, os gêneros que sustentam a animação japonesa] para dizer que em Star Driver a história parece andar em círculos devido ao fato do enredo querer conciliar os fartos elementos atrativos de público com uma história que apesar de vasta camada de simbolismo existente, é relativamente direta ao ponto – os cliffhangers que tanto incendiaram a internet em todo santo episódio de Code Geass R2 são relativamente poucos em Star Driver, e é possível assistir e entender completamente a série pulando alguns episódios [desde que não sejam diversos dos cruciais].

Mas algo que diferencia – e muito – os dois animes é a ausência do tom de revolta adolescente tão presente em Geass [e explorado em cópias como Guilty Crown], do discurso do personagem principal contra o sistema até as cores e figurinos da série, que querem passar a ideia de sombrio e complexo. Para quem assistiu Ore no Imouto, Code Geass é o Maschera que Kuroneko tanto ama – e Star Driver, em sua própria ambientação quase-tropical, rejeita de frente seguir essa linha.

Tanto que, como foi anunciado antes da estreia do anime, nenhum personagem morre – morte de um personagem querido é um recurso que pode ser muito bem utilizado [um bom post sobre mortes famosas em anime, por sua absoluta conta e risco, no blog parceiro Chuva de Nanquim] mas é perigoso e deve ser utilizado com a máxima cautela [um exemplo famoso de morte cujo significado algum tempo depois é quase nulo é a de Lockon Stratos em Mobile Suit Gundam 00].

E são por elementos como esse que Star Driver é uma experiência talvez única e válida de assistir. Um anime bem ambicioso [mas claro, nem de longe o que Kunihiko Ikuhara – diretor do citado Utena – tentou em 2011 com seu Mawaru Penguindrum] que tenta ser uma mistura moderna abrangendo mais elementos do que poderia suportar mesmo com um excelente diretor no comando e falha por não ser bem conduzido, principalmente por seu diretor mediano [oras, Soul Eater escorrega alguns degraus especialmente em seu quarto final]. O staff é algo que faz toda a diferença, e infelizmente bons projetos no papel acabam resultando em animes decepcionantes.

Decepcionante, mas bem-feito – a parte técnica é impecável, principalmente no Zero Jikan [Tempo Zero], sendo que o grande destaque da série é o belo mecha design. O character design pode ser polido, mas soa genérico e não foge do espírito de nosso tempo; ele é feito para a animação poder ser executada de forma mais fluida sem que o anime custe uma nota – e apesar de mais irregular do que deveria [ao menos na versão televisionada], temos bons momentos de animação de personagens na série [destaque para Keito cantando no karaoke, já no terço final].

Já o mecha design é diferente e focado em ser uma versão exuberante do gênero, focando totalmente no fator cool – no sentido em que uma banda de JRock é cool, não no sentido que um Gundam de formas quadradas é cool. A presença daquela animação que é repetida diversas vezes de um movimento muito importante que ocorre diversas vezes durante uma obra e o fato das lutas serem em geral curtas – exceto nos episódios mais importantes – permitiu que nestes a animação fosse um nível muito alto [mas que não chega a uma experiência de cinema], particularmente no episódio final.

E os planos de fundo nesta parte apenas complementam este feito. O foco na animação do anime em si reflete nas aberturas e encerramentos, que possuem um orçamento apenas normal para um anime deste porte – a solução foi utilizar a criatividade, testada principalmente na primeira abertura [AQUI], que é bela e eficiente gastando [e mostrando] até pouco.

Voltando ao episódio final, ele é magnífico e fecha o enredo de forma satisfatória e cruel ao mesmo tempo.

Vemos que todo o enredo principal, todas as conspirações armadas por aquele bando de adolescentes chefiados por alguém com complexo de Peter Pan é uma grande bobagem – este simplesmente iludiu todos aqueles, cheios de libido e desejo de aventura, para colocar seu plano em prática.

Cabe a nova geração, representada principalmente por Takuto – afinal, filho daquele que pretende parar o tempo em todo o mundo – e Wako, a última sacertidosa que ainda tem o selo [em uma simbologia nada sutil, óbvio que estes selos simbolizam a virgindade – principalmente no sentido da transição da infância para a vida adulta] nesta altura do campeonato, as duas pessoas que simbolizam o espírito da obra, sempre esbanjando confiança e mostrando um sorriso mesmo quando tristes.

Ainda sobre os selos, a virgindade e a vida adulta, vale notar que as duas primeiras sacerdotisas cujo destino é mostrado saem da ilha – ou seja, elas estão preparadas para sair daquele mundo aonde os problemas são no máximo a aventura da vida escolar [e alguma conspiração por trás, mas onde o risco de morte é nulo] para os grandes desafios do mundo exterior.

Reforça-se o conceito de que essa ilha é apenas uma representação, mais um simbolismo em uma obra que usa as letras do alfabeto fenício como as marcas das pessoas “escolhidas” – escolhidas como e por quem? é uma das muitas perguntas que ficam sem resposta ao final da série e que ninguém sabe se tem alguma resposta ou é simplesmente mais algum elemento – proposital ou não – deixado pelos autores.

Os dois protagonistas além de terem que fazer o tempo continuar a seguir em direção ao futuro, ainda tem que salvar o terceiro elemento, Sugata [e sua personagem-espelho, Keito], que simboliza uma idealização do personagem típico japonês, reservado, cool e disposto a sacrificar discretamente sua vida pessoal em prol do que considera melhor para o coletivo.

Nesse ponto, Takuto, com o cabelo de cor vermelha que simboliza o fogo, o sol nascente da bandeira japonesa [oras, é daí que os líderes de Super Sentai – e os personagens principais de Star Driver possuem cores de cabelo que dariam um time destes heróis – tiram o seu vermelho] personifica esse típico herói, falastrão, comedor e hiperativo, que costuma ser idealizado neste tipo de ficção japonesa [claro que diferentemente de um Naruto, ele é criado para um público adolescente, e assim certa maturidade já presente nessa idade aparece – mas estas características básicas continuam lá] e que com força de vontade consegue após a épica batalha final acordar seu amigo da influência do mais poderoso mecha da série, King Samekh, que simboliza forças ocultas e poderosas existentes muito antes da humanidade em nosso planeta e que devem permanecer intocadas [metáfora que tem certo cunho religioso até].

O corte final logo após o clímax ajuda a dar o tom de fábula da série, que é seu ponto forte. Mesmo que não seja uma série particularmente boa, Star Driver é um projeto interessante e tal qual um adolescente, atrai mesmo sabendo de sua falta de maturidade para abordar tudo aquilo que planeja. Faltou cuidado, principalmente para tornar os personagens realmente interessantes e tridimensionais, já que esta era a proposta básica da série – e um elenco mais enxuto ajudaria muito na tarefa.

Note que no outro extremo Mahou Shoujo Madoka Magica só pode ser tão bem executado pelo elenco ser absolutamente reduzido ao mínimo número de personagens possíveis – a proposta de Star Driver é outra, mas faltou senso e usou-se personagens adicionais como uma forma preguiçosa de movimentar o enredo. Também pesa contra o fato de que há pano na manga para continuiação que virá em forma de filme animado; boa, mas não suficiente para um projeto deste porte, ainda mais passando em horário nobre. Uma pena, talvez a série seria melhor com cinquenta episódios.

Sua galáxia também está brilhando, caro leitor.

Em uma ilha tropical localizada muito ao Sul do Japão […]

9 thoughts on “Star Driver, Kagayaki no Takuto”

  1. o Hype era grande, e nesse aspecto o anime não alcançou as expectativas… porem nao deixa de ser um orgasmo visual de cores vivas e traço limpo… as cenas no mundo-zero [n lembro] eram belissimas…

    faltou mais FOCO ao anime, e talvez sobraram personagens, sem desfecho, sem historia, sem profundidade… enfim vale a pena ver, mas poderia ser muuito melhor, comparado aos predecessores do bloco que este passou…

  2. You had me at GOSTOSÃO DAS GALÁXIAS.

    Você falou tão bem, mas tão bem de Star Driver que eu – que detetestei os onze episódios que vi – até cheguei a pensar que poderia dar outra chance. O lance do mimimi da escola, de acordar pra vida (wut) soam bem legais. Mas o que me atrapalhou foi TODOS. AQUELES. PERSONAGENS. A cada episódio eram introduzidos, quantos?, uns dois ou três, sei lá. E iam aumentando a história e os enredos, mas nada de explicar as questões anteriores – e eu não gosto de anime que só explica as coisas direito/o bicho só pega de verdade nos últimos episódios (a não ser que seja mistério, né?), me soa como pura enrolação (por isso não ligo pra No.6). E também me parecia tão, TÃO pretensioso… só que mal se esforçou (ao menos ao meu ver).

  3. Eu gostei de Star Driver logo de cara. Os personagens são interessantes, apesar de pouco explorados, assim como o potencial do anime, que era alto, mas deixaram tudo pra resolver às pressas no arco final. Talvez se tivesse ai mas episódios ou menos personagens…..

    De qualquer forma, foi bom pra assistir despretensiosamente. O triangulo amoroso foi cretinamente bom huehueehuehuehueuhe e as mini-tramas eram boas o suficiente pra envolver e prender a atenção. E talvez, eu tenha gostado mais pelo pouquissímo foco ao fator mecha. Quer dizer, de um anime de 25 minutos, só 3/5 minutos eram destinados às lutas envolvendo mechas. É um anime pra quem curte tramas e subtramas episódicas e cretinas, que não vão levar a lugar algum, só pra perder tempo mesmo. Star Driver é uma boa distração pra quem tem tempo pra gastar assistindo. Tem shipping, personagens bonitas (ambos os sexos) e um quê gostoso de aventura e amizade.

    Excelente post, btw. A leitura flui maravilhosamente bem e sem tropeços e com pontos de vistas realmente interessantes, misturado à parte técnica;

    1. Problema foi mais a direção mesmo – IMO o número de personagens realmente úteis não é diferente do, erm, SIMILAR Mawaru Penguindrum que no mesmo número de episódios explorou bem quem precisava e simplesmente usou de plot device quem não precisava [Mario, estou falando de você].

      IMO tem animes que conseguem misturar bem mecha com outras coisas sem deixar de lado os robôs gigantes – primeira metade de Evangelion é genial nisso. E sim, é uma boa distração, como dito e.

      Poise, saudades dessa época de post semanal no Subete Animes – juro que com a adição da Josi [e estabilização do blog em um plano mais alto] este tipo de post com mais horas trabalhadas volte. Mesmo que seja para poucos lerem.

  4. Eu gostei de Star Driver. Tive a curiosidade de assistir por causa dos bishounens [ha] + mecha. Comecei a gostar de personagens femininas, como vou dizer, com AQUELE corpo, a partir daí. No começo eu não gostava de nenhuma, nem da Wako, eu era aquela fujoshi que assistia os animes para shippar homens. Claro que shippei Takuto e Sugata, muito, e até o final do anime continuei shippando [AQUELE FINAL] E não me arrependo.

    [Todos querendo derrotar ginga bishounen, em 24 episódios, todos falha. No 25º episó—]

    O cenário era muito bem feito, satisfatório e limpo. Não é o melhor anime, mas pode caber entre os melhores. E aquela peça teatral? Eu até que gostei por que tinha começado a gostar do Takuto e Wako together, mas véi… Aquilo foi desnecessário.
    A jogada das mascaras foi, ao meu ponto de vista, bem elaborada, caracterizando uma sociedade secreta. Ah! Lembrei do lance das irmãs-cabelo-rosa. Eu lembro que gostei muito da história delas, MUITO, acho que vou rever.

    E o triângulo amoroso… O TRIÂNGULO AMOROSO. Foi daí que comecei a gostar menos esse termo. O final foi confuso, não deu a entender perfeitamente o ocorrido, mas o autor deve ter deixado assim, propositalmente, talvez para cada um entender o final do jeito que quiser.

    O seu post me fez lembrar de algumas coisas, realmente tinha esquecido de alguns personagens, tipo aquela professora de cabelo castanho (era professora?)

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