BLACK ROCK SHOOTER [OVA]

Black Rock Shooter é, inicialmente, um conceito de personagem criado pelo artista Huke. Uma clássica garota cheia das armas [girl with gun] feita de acordo com conceitos atuais de beleza seguindo um ponto de vista otaku – assim, tem o corpo de uma pré-púbere [afinal, qual a necessidade dela usar sutiã?] e o rosto completamente estilizado, com a pupila [o “preto” do olho] com o mesmo azul da íris [a parte colorida deste] e um pequeno rabisco se passando por nariz.

O traço de Huke é bom, mas só isso não traz sucesso – foi preciso uma combinação de situações para surgir a demanda para esta primeira animação de BRS. Elas foram a esperta jogada da aproximação do character design ao de Hatsune Miku, personagem-mascote do bem-sucedido programa de simulação de voz Vocaloid, e a posterior música feita por ryo – cabeça por trás do Supercell, inicialmente nome de sucesso no site de vídeos NicoNico Douga e envolvido em produções como Bakemonogatari e Guilty Crown – que inclusive usa o programa da Yamaha para fazer a voz da personagem.

Assim, Black Rock Shooter atingiu grau de sucesso suficiente para haver demanda por uma animação – o que obviamente não passou despercebido. Assim, surge a animação que segue um modelo original e arriscado que pressupõe o DVD [distribuído gratuitamente nas edições de três revistas diferentes] como instrumento de propaganda para venda de figures – e outros licenciáveis – baseadas nas personagens.

Mesmo animes com forte viés de propaganda de bonecos, de Gundam a Digimon, contam com outras formas de sustento como comerciais nas exibições em TV e a venda de DVDs – certo que BRS deve ganhar mais cedo ou mais tarde versão em BD¹, mas grande parte do apelo de ter o original não existirá para o público-alvo, que contará com o DVD desde já na estante.

Black Rock Shooter conta basicamente uma história de amizade entre colegiais com certo tom yuri [há um triângulo amoroso muito bem escondido dentro do armário entre as três personagens principais] e um mundo paralelo que funciona quase literalmente como um espelho do que acontece na realidade.

Para facilitar a compreensão [o que, curiosamente, trouxe foi confusão] os acontecimentos no mundo paralelo e fantástico [no sentido relacionado a fantasia], que na ordem cronólogica acontecem depois dos no mundo real, são montados de forma que as ações e suas consequências ocorram quase que instantaneamente juntos. Sobre a história básica, ver AQUI o ensaio contendo a interpretação feita por Panino Marino – com a qual concordo, exceto na tentativa bem forçada de relação da Black Gold Saw com a mãe da menina.

Diferente do que muitos pensavam – o monstro da expecativa, que alimentou esperanças de uma fantasia recheada de ação, cobrou muito caro desta vez – mas prevísivel ao usar uma fórmula de sucesso para emplacar rapidamente um projeto com diversas amarras [há concepções prévias sobre estas personagens, das quais é difícil fugir quando se busca a popularidade], Black Rock Shooter acaba sendo vazio. Sim, é bem-feito, mas tudo o que foi apresentado já foi feito antes – e melhor.

O roteirista Tanigawa Nagaru [criador da série de Light Novels Suzumiya Haruhi] claramente bebeu na mesma fonte que, tomando conhecido exemplo, os responsáveis por K-ON! O mundo paralelo de BRS, recheado de ação é como a música deste: simplesmente cartão de visita e elemento secundário – valorizado, e muito, mas sempre em seu devido lugar – em uma história de amizade entre meninas colegiais fofinhas de personalidade genérica rodeada de elementos simbólicos baratos, como o lugar especial e os acessórios iguais.

A base é horrível, mas o roteiro acaba sendo bem montado, conseguindo contar uma história razoavelmente organizada da formação da amizade [ou algo mais – alimenta-se isso para fãs de olhos mais pervertidos] até obsessiva entre as protagonistas. Nem de longe é à altura da expectativa criada, mas sustenta-se razoavelmente ao longo dos 50 minutos de duração, que terminam – após os créditos – com um gancho barato para uma possível continuação. Que se ocorrer², provavelmente não explicará nada do estiloso mundo paralelo de BRS. Por que não tem o que explicar, é só um mundo feito para ser cool.

Beleza, temos todo esse drama escolar, mas e as cenas de ação? Elas são curtas, mas valem muito a pena para fãs de animação. Até porque mostram o destaque da obra, que é a animação de excelente qualidade – principalmente no mundo paralelo onde a BRS existe – com um traço que no geral é bastante polido.

Não tem absolutamente nada de novo ou diferente nesta parte técnica, mas como é bem feita! – apesar do número de frames principais ser menor do que o deveria, o que provoca uma fluidez menor que a necessária. Sem dúvida, uma das melhores animações no geral de 2010 – e com certeza superior a qualquer obra televisiva atual.

No geral, Black Rock Shooter é um grande aperitivo, que funciona como diversão sem compromisso – mas para o qual não se deve ter nenhuma expectativa. Para contrabalançar uma estratégia de marketing arriscada, preferiu-se usar temas clichês e caros ao público otaku que sustenta a indústria atual e já abordados a exaustão, apostando praticamente todas as fichas em uma boa animação e direção. Sendo que esta última acabou ficando mais confusa do que deveria [dado as imensas dúvidas que pipocaram pela internet].

Mas realmente o fator principal de alguém ter assistido a BRS foi o hype violento criado em cima de um simples character design – por mais estiloso que seja Black Rock Shooter, convenhamos que não justifica. Para uma tarde chuvosa de Sábado.

1 – Como acabou ganhando algum tempo depois [as imagens deste artigo são baseadas neste]; e este pôs a tese deste parágrafo abaixo ao vender mais de vinte mil cópias, o que tornou a produção da posterior série televisiva muito mais óbvia.

2 – De novo; em Fevereiro/2012 estreia a versão televisiva de oito episódios da série, pelos mesmos responsáveis pelo OVA.

Black Rock Shooter é, inicialmente, um conceito de personagem criado […]

6 thoughts on “BLACK ROCK SHOOTER [OVA]”

  1. Quanto mais eu leio mais eu penso que esses animês direcionados a um público específico (mas especificamento o público otaku) estão se tornando cada vez mais rasos. Uma pena.

  2. Não vejo a direção de BRS como algo confusa. Pelo contrário, é uma direção fluida e que sabe muito bem o que quer. E conseguiu. É um anime com feelings mindfuk, que tenta tornar algo simples, aparentemente mais complicado do que realmente é. E conseguiu passar essa imagem. Eles foram muito espertos, desde a concepção, divulgação e formação do hype imenso. Claro que como toda obra com enorme hype, nunca vai satisfazer a todos e causará uma divisão. É o caso de Guilty Crown. Mas eles sabem que isso pouco importa, os otakus que compram, não são os maiores fãs de ação desenfreada, então fica bem obvio o porquê não se sustentarem tanto em cima disso e ficar mais em cima do slice of life

    Talvez por eu não ter pego o hype, mas nunca esperei de BRS, além daquilo que a série me ofereceu. Que é uma história bonitinha, com ambientação cool e alguns momentos de ação pra quebrar a calmaria. Correspondeu plenamente pra mim.

    Agora, esse anime que vai estrear, pelo último trailer liberado, promete seguir a mesma cartilha e já não vejo a hora de assistir. Já estou no shipping forte XD

  3. @Pss: Para ficção em geral, costumo pensar que o nível sempre foi o mesmo; nós que nos esquecemos dos ruins e só ficamos com os clássicos.

    @Roberta Caroline: Não vejo assim – tanto confunde mais o espectador médio do que o necessário como afasta certos elitistas que veem facilmente os clichês e buracos de roteiro.

    Bem, esperava somente algo bem-amarrado e executado; infelizmente, nem isso o OVA consegue executar. Talvez conta do exíguo tempo disponível, mas muito também por incompetência do staff. Terão eles aprendido a lição? A conferir…

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