Meus Dois Centavos Sobre Blogging de Anime

Segurem seus cavalos, por que agora é pessoal.

O blogging de anime, mesmo no Brasil, é maior que este ou aquele canto – tanto que um agrupamento como o Genkidama é mais um player entre diversos outros – mas veio a calhar a quase simultaneidade entre o fim definitivo do Subete Animes e mais uma rodada do Mais de Oito Mil brincando com a tal da imprensa especializada. Assim, quer momento mais propício para um post desses? E lá vamos nós…

Inevitável começar este tipo de artigo com uma breve introdução de afinal como entrei nessa desse blogging: basicamente, por volta de 2009 comecei a ser leitor mais passivo [o que lê] que ativo [o que comenta] de Gyabbo!, Maximum Cosmo, Mithril, Subete Animes, Tsundere e outros e no fundo pensava se um dia acabaria fazendo o mesmo. No começo de 2010, o Leandro Ni[si]shima abriu uma chance para novos redatores no Subete Animes e, opa!, mandei um texto para lá. Assim começou a parceria de cento e trinta postagens em um ano e meio por lá. Por diversos motivos, nenhum relacionado a outros colaboradores de lá, acabei decidindo realizar o sonho da casa própria e assim nasceu o Nahel Argama: dez meses, duzentos e quarenta artigos de cinco redatores mais alguns Guest Posts.

Enfim, nesse tempo vi o mesmo que muitos de vocês, menos que alguns de vocês, mais que outros. No geral, duas coisas pouco a pouco se firmaram ao longo desse tempo: a primeira, mudança cosmética mas amplamente necessária, é que o design em geral parece mais limpo, menos poluído. Consequência até mesmo do que acontece em amplitude maior pela internet, sempre é bom ver uma barra lateral mais leve e útil, e blogs usando o visual mais para ajudar – através de sempre belas imagens – do que para atrapalhar, encher de penduricalhos que o dono acha bonito mas que na verdade de quase nenhuma serventia tem para o leitor.

Já a outra é mais polêmica: os redatores de blogs parecem estar mais imersos em atitude profissional, em querer passar de notícias a impressões sobre os animes que assistiram focando mais na experiência do leitor, nos padrões que regem um bom texto jornalístico [sim, forçando um pouco a barra ao utilizar essa palavra] a tentar apoiar-se no caráter pessoal, em ser algo que você lê pelo autor. Claro que tem gente que consegue usar a pessoalidade a seu favor como o Panino ou a Roberta, mas no geral é uma faca de dois gumes que custa tender a verdadeira ruindade se mal-executada [em vez do texto simplesmente chato e vazio originado de alguém que não sabe do que fala mas tenta ser profissional].

Claro, sempre existirão blogs ruins – a Lei de Sturgeon é bem clara e noventa por cento de tudo é lixo. Mas ao contrário do que um ou outro possa pensar, nem sempre o blog ruim é aquele que não é lido e o blog bom é o que obtém sucesso, visualizações de página, comentários, mimos de editora. Até porque tem fórmula pra tudo – até para comentários [oras: basta ser polêmico e mexer nos nervos certos das pessoas que os comentários saem rapidinho].

Ruins ou bons, o fato é que os blogs brasileiros acabam também tendo que fazer o papel reservado aos portais como Anime News Network ou Crunchyroll: falar sobre o mercado nacional e fornecer aquele tipo de notícia mais básica, do tipo Little Busters! ganha anime ou é anunciada a saga final de Bleach. E sim, isso é necessário, até porque nem todo mundo sabe falar inglês e mesmo que saiba não pode ou não quer gastar seu tempo lendo outra língua – ou você vai na CNN ou New York Times ver o que está acontecendo no planeta?

Claro que precisamos disso, mas o saldo final acaba sendo caro demais: o grande defeito no blogging de anime atual em português é que simplesmente falta de tudo: do artigo genial que alguns acham que deveria sair todo dia até o review feijão-com-arroz daquele anime lá que pode não ser muito bem avaliado mas que com certeza muitos saem procurando na internet antes de assistir uma opinião alheia – somente para não achá-la. Para ficar em um exemplo da época em que publiquei este artigo, até Setembro/2012 não temos uma mísera de Aquarion EVOL em língua portuguesa. Este e quantos mais?

E para isso seria legal que você, leitor, que tem aquela vontade de ser blogueiro mas tem por algum motivo medo do blogging e das intrigas e panelas que este acaba trazendo a reboque, entrasse no jogo: afinal, o que não falta é pauta a ser explorada. Basta ter certo tempo e sede ao pote, por que em uma mídia na qual em média surgem quinze notícias diárias, alguma deve ser relevante. E se ainda fora disso tem uma verdadeira variedade de assuntos a serem tratados, de resenhas a compilação de imagens, é sinal que o que precisamos aqui é efetivamente disposição. Você é muito bem-vindo.

Mas Cuerti, você fala assim por que é de dentro… Como disse acima, nem conhecia tudo isso quando entrei. E desde que entrei, muita coisa mudou: do Chuva de Nanquim ao Mais de Oito Mil e Otakismo, muita gente também veio do nada rumo ao seu lugar ao Sol, rumo ao lugar que outros, cansados de falar de desenhos animados, deixaram para trás. E isso sem ser amigo do Rei, somente imprimindo artigos de qualidade em boa quantidade e principalmente bem-escritos.

Este artigo – e este blog em geral – está longe de efetivamente ser bem-escrito [e o fato dos textos não serem revisados não ajuda em nada] mas ao menos consegue ser claramente entendido por seu leitor; além de, claro, evitarmos ao máximo erros ortográficos, que nem excessão [sic] devem ser. Claro que tem gente que escreve bem aqui no Brasil, mas o fato que a educação fraca que temos ao pensarmos neste país como um todo acaba levando a um segundo ponto fraco no blogging de anime daqui: a bagagem cultural do blogueiro de anime brasileiro não é tão boa quanto lá fora.

Parece não, é polêmico, mas não dá para evitar a comparação: a carga menor de estudos a que somos submetidos acaba limitando um pouco nossa bagagem cultural [e as vezes, até mesmo a alfabetização plena] e também por isso temos uma cena mais fraca, com especialmente editoriais menos interessantes que em outras línguas. Lembrando, claro, que no fundo é injusto comparar outras línguas com o inglês dado o status de segunda língua oficial do mundo que tem – no fundo, o blogging de anime em inglês é em parte feito por pessoas que moram em países não anglófonos.

Resumindo: tá bom, mas dá para melhorar. E no geral basta querer. Não tem segredo, o que temos que fazer é ter humildade e lermos mais, escrevermos mais, nos esforçarmos mais. Quer um exemplo de algo que nunca foi feito por aqui mas quem sabe um dia veremos igual? Este preview lindíssimo do Random Curiosity sobre a Temporada de Outubro. Exemplo de artigo excelente, exemplo também que não existe padrão para artigo excelente. E este excelente artigo sobre Gundam Wing feito pelo Alexandre Lancaster [aliás, quem eu acho que teve o melhor blog sobre o assunto em nossa língua] lembra que nem sabe algo bom desperta a sensação calma e completa do gozo – muito pelo contrário.

Para finalizar: blog tem público-alvo – sempre vai ter quem adore ler mais sobre o que assistiu, quem ignore mas vez ou outra possa se interessar por ler algo sobre o assunto e quem simplesmente não liga. Ponto. Sempre é bom ouvir feedback, principalmente críticas construtivas, mas tentar agradar a literalmente todos os fãs de animação japonesa é uma bobagem – e das grandes. Para esses, blogs de anime sempre serão uma porcaria. C’est la vie.

Segurem seus cavalos, por que agora é pessoal. O blogging […]

8 thoughts on “Meus Dois Centavos Sobre Blogging de Anime”

  1. Concordo com tudo. Inclusive com o melhor blog, as vezes dá vontade de pedir pro Lancaster desistir dessa história de Ação Magazine e voltar a dar atenção ao Maximum Cosmo. Só faltou se aprofundar no que há de ruim. Eu concordo que muita coisa poderia ser dita mas não é, e não é porque tem pouca gente falando mesmo. Mas não vejo como um blog possa resolver o problema da falta de blogs, então relevo isso. Mas ah, como eu queria que alguém tivesse continuado a falar sobre Kingdom…

    O principal problema, e o único que realmente me incomoda, é o que eu citei no MdOM: o clima de “temos que apoiar” da maioria dos nossos blogs. Uma editora desconhecida vai entrar no mercado lançando um mangá que ninguém ouviu falar? Temos que apoiar! Uma empresa qualquer vai lançar DVD’s de uma série que fez muito sucesso mais de uma década atrás, começando por uma temporada do meio e mais caro que um fígado no mercado negro? Temos que apoiar! Uma editora já estabelecida faz pela enésima vez as mesmas promessas de sempre e que nunca cumpriu antes? Temos que apoiar!

    O Panino tentou explicar isso dizendo que os blogs precisam conquistar a camaradagem das empresas e tal, mas não gosto da moral por trás disso. Nesse clima de “temos que apoiar” as notícias pintam um mundo claramente mais otimista do que a realidade. E como leitor isso me desagrada, me vejo forçado a sempre ler notícias com um viés negativo. É deprimente fazer isso. Não dá para confiar nas empresas e nem nos blogs porque eles só repetem o discurso delas. É mesmo necessário para os blogs ganhem essa simpatia? As empresas certamente gostam. E o leitor? Ah, se o blog elogiar bastante a editora vai ficar sabendo de um novo lançamento antes, ganhando visitas, yay! Essa é a moral: às favas o que o leitor precisa, o negócio é entregar o que a editora precisa para, de vez em quando, ter uma notícia mais ou menos “exclusiva” e ganhar um montão de page views.

    Felizmente nem todos os blogs são assim, mas quase todos os que se prestam a postar notícias sobre o mercado nacional fazem isso. Inclusive quando falam da Ação Magazine do Lancaster lá. Ele realmente deveria voltar para o Maximum Cosmo.

  2. Sem querer parecer um filho da puta, mas eu até que concordo com o comentário do mexicano21 acima. Acho que o Lancaster deveria mesmo é voltar para o Maximum Cosmo. O mercado brasileiro é tão imaturo que o cara está uns 10 anos adiantado com essa ideia da Ação Magazine, no minimo! Não que a revista em si seja ruim, mas eu não consigo ver ela funcionando na nossa realidade atual.

    Não importa o quanto as pessoas apoiem, ele vai precisar de um milagre para fazer essa empreitada dar certo. Falar isso é muito triste e não me agrada nem um pouco, mas é a dura realidade.

  3. Texto interessante. Principalmente na questão do uso da personalidade. Blogs são coisas pessoas, e principalmente, são um hobby. (Até onde eu sei) ninguém tá pagando você(você aqui é genérico, não você Qwerty) pra você fazer isso, é pra ser uma coisa divertida. prazerosa. Se você se força a ser algo que não é, não dá pra dizer que você está gostando. Pelo menos é o que o meu psicólogo sempre diz.

  4. Argama é, atualmente, o melhor blog do seu gênero. Claro, na minha não tão modesta opinião. Eu gosto muito de ler críticas, desde filmes até shows de música, pois acredito que o senso crítico é uma das coisas mais importantes que se perdem com a ignorância. Críticos são chatos para a maioria, ou até deselegantes. Animes e mangás são assuntos que eu gosto, portanto, me interesso por artigos, reviews e qualquer coisa relacionada. Blogs geram questionamentos e isso gera conhecimento. Eu tenho o sonho de criar, ser roteirista ou escritor e esse sonho foi muito incentivado pelos blogs do Brasil, mesmo que indiretamente e fazendo sentido apenas na minha mente. Posts como este me fazem acreditar que ainda existem pessoas inteligentes e esperançosas no Brasil, o que é difícil, já que a inteligência abre os olhos para as dificuldades e diminuem as esperanças. Enfim, eu irei começar meu blog em breve. Não tenho medo das panelinhas ou picuinhas por simplesmente não me importar. Além do serviço que vou fazer ao público e ao blogging, mesmo que pequeno, vou poder fazer parte da tal mídia especializada (pff), talvez até me relacionar com os grandes bloggeiros. Pra mim, bloggeiros são guerreiros, mantendo uma bandeira levantada com satisfação, mesmo com uma cultura de ignorância desfavorável, um mercado problemático e o incentivo não-ideal. Mesmo assim, estes guerreiros mantém-se firmes… e sorrindo.

    Ainda irei escrever sobre vocês. Obrigado.

  5. Ah, Cuerti, gosto bastante desses seus posts com tom editorial.

    Eu acho que sou um pouco limitada em relação a visão de blogging (sou só uma terceirizada), mas o que eu acho mais interessante é largar um pouco desse tom sisudo demais e tentar textos com uma abordagem mais próxima do leitor. Eu imagino que assim as pessoas se sintam mais confortáveis e pensem: eu também posso fazer isso, eu posso dar a minha contribuição através da minha opinião, de merda ou não.

    Eu gosto de fazer umas resenhas grandes, incrementando com pesquisas da obra etc etc.. Assumo, é quase jornalístico. Mas jornalismo não é a minha área e nem a área de muitos que blogam, faço isso porque eu gosto de saber mais sobre aquilo que assisto e gosto de expor isso para aqueles que também querem saber mais. (apesar de um certo alguém ter me falado que eu não sou séria o bastante, so cry).

    Acho que por isso alguns tem receio de blogar, de não ser completo o bastante, não ser rebuscado o bastante. Eu também tinha, oh se tinha! Mas eu vi que o mais importante não é falar de paleta de cores, recursos estilísticos, artifícios de direção; acho o mais importante a opinião crítica de roteiro etc, e opinião todos tem só basta querer expor por meio de um blog.

  6. Eu sempre fico com birra com o Lancaster e seu anti-moesismo, mas admito que o blog dele é bem interessante ^^

    Nossa se tivesse um post desse como o random curiosity, mostrando quem vai assistir qual anime e comentar, isso seria muito legal!

    Uma outra coisa que sugeri ao Genkidama é aqueles reviews de episódio dos previews da temporada como no anime news network. Já temos vários blogs fazendo reviews, mas da forma que é no ANN eu acho bem mais atraente:

    Cada um dos participantes faz um texto com cada parágrafo pequeno comentando o episódio de cada 1 dos animes.

    Falo disso aqui:

    http://www.animenewsnetwork.com/preview-guide/2012/the-summer-anime/

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