To Aru Hikuushi e no Tsuioku

Como deixa claro o título alternativo em inglês [The Princess and The Pilot, A Princesa e o Piloto] as vidas do piloto Charles Karino e da princesa Fana del Moral irão se cruzar em alguns dias que se tornarão inesquecíveis. Pena o filme ser exatamente o oposto.

To Aru Hikuushi e no Tsuioku [Recordações de Certo Piloto de Avião] é uma Light Novel escrita por Koroku Inumura com ilustrações de Haruyuki Morisawa lançada em 2008 no Japão em volume único pela editora Shogakukan e que após três anos ganhou uma versão animada na forma de um longa-metragem de 99 minutos animado pelo estúdio MADHOUSE e dirigido por Jun Shishido [Hajime no Ippo: New Challenger; Sauinkoku Monogatari].

Como insinuado acima, a história do filme é bem simples: Charles Karino, habilidoso piloto de aviões, é contratado [afinal, é um mercenário] pelo exército do Império Levamme para uma perigosíssima missão: trazer Fana del Moral, a noiva e prometida do príncipe Carlo, das distantes terras aonde mora através de mais de doze mil quilômetros de território inimigo até a capital aonde este se encontra. E esta jornada será uma bela de uma aventura.

A construção da personalidade dos protagonistas antes da jornada propriamente dita é simples e indica o ponto que o filme acaba infelizmente passando: basicamente temos que simpatizar com o pobre mestiço [e por isso perseguido e até humilhado por diversos de seus pares; afinal, o Império Levamme é simplesmente uma colagem básica do que o Japão pensa sobre a Europa loura] que tem por grande característica ser simpático, bondoso e sem sal. E estas três características acabam também refletindo-se na princesa, que ao menos ao longo da história irá ter certo desenvolvimento.

Após quase meia hora de simplesmente contextualização da situação [afinal, acaba não tendo impacto nos eventos posteriores nem é complicado o bastante para que não possa ser contado com a mesma eficiência ao espectador em singelos dez minutos], finalmente o filme começa com a partida de Charles e Fana em sua inicialmente travada viagem.

Quatro dias a bordo do moderno [no mundo da série] Santa Cruz para o aviador cruzar os sete mares e entregar com todo o cuidado do mundo a princesa em casa: é aqui que este drama pontuado com algumas cenas de ação faz o seu melhor em explorar como estes dois personagens lentamente vão se aproximando, se conhecendo e se compreendendo.

Apesar de alguns exageros [especialmente uma tomada algo desnecessária], acaba sendo claro e evidente como o tom pés no chão adotado pela obra é fator decisivo para que esta seja uma experiência agradável. Se sua experiência com o audiovisual é preenchida principalmente com animação japonesa é fácil notar que o clima aqui é bem diferente da gritaria colegial que está mais em alta do que nunca nas produções desse país.

Até pela jornada ser solitária, o tom acaba sendo essencialmente calmo e até mesmo os diálogos são mais falados que gritados [como manda a tradição japonesa], o que não impede do filme manter o espectador médio atento – graças principalmente a ameaça constante que paira sobre a cabeça dos dois protagonistas.

Afinal, a nação que está em guerra com Levamme [Amatsukami] deseja afetar a moral deste país capturando e/ou matando a futura princesa; Charles só está presente aqui justamente pelo pelotão que primeiramente estava encarregado desta missão ter sido dizimado antes mesmo de entrar em contato com a princesa.

Na teoria, a jornada destes seria tranquila graças ao bem-articulado plano do Exército local, mas algo deu errado e logo toda uma frota está no percalço do pequeno [mas rápido] Santa Cruz.

E aqui há o espaço para as batalhas aéreas que compõem a parte de ação do filme. São bem-feitas [mesmo utilizando de CG; o que no caso japonês costuma ser anúncio de desastre] e mantém o espectador acordado, mas nada muito além disso.

Graças principalmente a verdadeira paixão que Hayao Miyazaki possui pelo tema [e a influência que este tem sobre muitos na indústria de anime], batalhas aéreas sempre foram um tema recorrente nesta mídia; mesmo recentemente tivemos em The Sky Crawlers uma bela mostra de bem-dirigidas e animadas manobras aéreas por conta de Mamoru Oshii.

Assim, To Aru Hikuushi e no Tsuioku torna-se apenas mais um neste ramo – e também nos demais. A obra é relativamente sólida e graças a mesmice que impera na animação japonesa acaba tendo um quê de diferente; mas falta [e isto parece vir do original] querer ser mais, sair do trivial para ser algo realmente inesquecível.

E até chegarmos ao final justo mas para muitos anticlimático não temos uma cena, um diálogo, uma frase, uma personagem, nada, que faça o espectador realmente vibrar e que marque este filme no rol de clássicos, de obras que são lembradas por anos a fio.

Azul e uniforme como a imensidão do mar visto de um avião, To Aru Hikuushi e no Tsuioku é mais um filme de locadora para assistir em uma tarde chuvosa de Sábado na sala com quem tiver em casa da família. Legal, mas talento e dinheiro desperdiçados.

Como deixa claro o título alternativo em inglês [The Princess […]

3 thoughts on “To Aru Hikuushi e no Tsuioku”

  1. Gostei do filme,embora também senti que ele podia ser mais!.Ele segue desde o início um padrão linear que mesmo no fim não muda,o que acaba meio que decepcionando.(Ou seja, e um bom filme,nada mais.).

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