Projeto Motikomi, parte 1: a ideia

Yo!

35b167b8A partir desse post, eu vou comecar a serie de materias sobre manga, passando principalmente pela parte de criacao, mostrando um passo-a-passo de como eu vou fazer uma historia para ir bater a cara na porta da Shueisha. Minha intencao eh fazer um motikomi, como sao chamadas as apresentacoes individuais diretamente com o editor da revista. Claro, se isso me abrir essa porta, vai ser legal, mas soh o fato de poder aproveitar do conhecimento profissional de um editor da Shonen Jump jah vai valer.

E eh claro, se voce continuar acompanhando ateh lah, eu pretendo contar os detalhes.

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Antes de mais nada, a criacao de um manga, ou de uma historia qualquer pra qualquer midia, precisa partir de uma ideia. Nao necessariamente ligada a trama ou aos personagens. Pode ser simplesmente a forma de abordagem, alguma ideia doida que voce tiver tido, qualquer coisa que dite o ritmo do seu trabalho.

080530_06 Por exemplo, voce pode querer fazer um manga com carga historica, carregado de referencias, pode querer fazer uma historia de acao, com angulos ousados, um misterio contado pelo angulo de varias pessoas… Isso jah te indica um caminho do que fazer, de que material voce precisa e de que ritmo tomar na narrativa. Mas principalmente, te diz o que preparar para o leitor, te dah uma ideia do que voce vai ter que enfrentar pra conquistar o publico.

No meu caso, eu preferi investir no basico. Mais do que isso, eu joguei fora qualquer pretensao em relacao a criatividade, que seria o mais obvio a ser tocado em um post sobre ideia. Mas no meu caso, eu quero fazer uma historia em que eu possa mostrar que posso tocar uma historia tecnicamente boa, investindo mais em pontos de narrativa e na engenharia de paginas.

Por que jogar fora exatamente o ponto que todos consideram o diferencial? Eh simples. Criatividade, por maior que seja, eh limitada por diversos fatores, seja pelos de sua propria imaginacao, ou o da imaginacao do publico, que pode nao conseguir lhe acompanhar. E a imaginacao eh um fator covarde as vezes. Muitas pessoas escondem suas deficiencias tecnicas atras de criatividade, de alguma ideia simpatica. Eu quero deixar claro que nao eh o que eu pretendo.

urasawa5 Uso como exemplo a experiencia de Naoki Urasawa, que costumo citar como meu idolo ideologico. Apaixonado por manga desde crianca, Urasawa queria trabalhar com isso, mas sabia que suas ideias de historia eram para mangas que nao vendem tao bem. Ele era conscientemente alternativo. E por isso, deciciu tentar uma vaga como editor da Shonen Sunday, da editora Shogakukan, um dos titulos de sua infancia.

Indo para a entrevista, Urasawa citou que tambem desenhava suas historias e que tinha uma em sua pasta no momento. Os editores leram e falaram “Hm, nao eh Sunday. Acho que tem mais cara de Big (a Big Comic, linha adulta da mesma editora)”. E foi assim que ele entrou para o mercado, nao como editor, mas como autor, comecando com Pineapple Army.

Mas o que interessa mesmo no momento eh a ideia de sua historia. Ela era simplesmente uma transposicao em manga de um conto de Ryunosuke Akutagawa, famoso autor japones. O conto era sobre um jogo de poquer e a ideia de Urasawa foi de jogar a criatividade fora e mostrar toda sua habilidade como diretor, controlando as paginas e as cenas para conseguir uma historia que poderia existir somente nas paginas de um manga.

E isso eh simplesmente espetacular! Eh a versao bastidores do manga para uma cena do Bruce Lee limpando o sangue e chamando o oponente pro pau! Eh como dizer que ele nao estah em desvantagem, muito pelo contrario, ele estah dando uma colher de cha para os outros.

Claro, eu nao sou ele e minha intencao com isso eh diferente da que ele pode ter tido. Simplesmente, eu pensei no que eu poderia dar de mim que ninguem mais, ou pelo menos nem todo mundo poderia dar. E a resposta foi obvia.

4c9e5bfc Sou sincero comigo, nao sou um desenhista fora de serie, nem sou um genio do manga, como eh o Eiichiro Oda, que tem uma visao particular e um senso muito afiado. Mas acho que ainda posso contar historias muito melhores que a maior parte dos aspirantes. E eh isso que eu decidi mostrar.

Entao, a minha ideia foi essa. Em uma historia simples, montar personagens e posiciona-los corretamente, direcionando para uma cena especifica. Entretenimento, de forma quase didatica.

A ideia partiu do nada. Eu queria fazer uma historia com cenas de acao, personagens engracados e um pouco de drama. E o modelo que me veio a mente foi o pacote padrao de filme de acao, o heroi que vai ao resgate da donzela em perigo.

Esse eh o ponto de hoje. Claro, eu poderia mudar o modelo facilmente colocando um outro protagonista, mudando o antagonista, sei lah. A primeira historia de Bleach eh simplesmente a mesma ideia. E temos milhares de outros exemplos. Mas o que dah o diferencial e que pode mudar a historia eh simplesmente ter uma ideia interessante, uma unica linha guia que vai ditar a direcao da historia e atrair o interesse do leitor para que ele entre na historia.

Dai, nao sei se foi por influencia da grande quantidade de bebes que nasceram entre conhecidos (alias, eu virei tio tambem), mas eu pensei em colocar um bebe recem-nascido como protagonista. Eh um bebe indo salvar a mamae. Mas nao um bebe qualquer, e sim um genio do Kung-Fu, capaz de dar um pau em dezenas de adultos de uma vez, sem suar a fralda!

Cada genero tem suas prioridades, cada divisao do manga busca alguma coisa especifica em suas historias. No Shonen, alias, em todas as categorias de faixas de idade mais baixas, o carisma da personagem eh muito importante. Alguns editores podem ateh dizer que eh mais importante ateh do que ter uma historia pra contar.

A5DAA5A4A5F3A5C8A5B8A5E3A5F3A5D7A5CAA5EBA5C8A3B2 Explico melhor. Se voce tiver um personagem bom e carismatico, nao importa o quanto sua historia eh fraca, voce pode se centrar em somente contar mais e mais historias que valorizem o seu protagonista. Pegue como exemplo Naruto, onde o personagem eh simplesmente muito carismatico. Ele nao precisa de muita historia pra ganhar o gosto do publico. Por mais que o Kishimoto planeje historias ousadas, tramas enormes, no final, o publico lembra mais eh do Naruto sendo ele mesmo, indo resolver o problema custe o que custar. Esse eh o charme dele, ser positivo e estar acima de qualquer adversidade.

Mas como bolar um personagem que possa se tornar carismatico? Esse eh um misterio que nenhum editor, nem mesmo criadores de talento, ninguem mesmo sabe a resposta. Trabalhar com publico eh dificil, exatamente porque o publico eh imprevisivel.

Fugir do obvio eh uma forma corriqueira – quase um cliche – de como criar interesse. Eh o que mais funciona. E no caso de tramas basicas, eh uma das poucas formas de voce criar um interesse pela curiosidade. Desafiar a imaginacao dos leitores, se propor a ir contra tudo que o seu publico puder imaginar e ainda assim, satisfazer os desejos deles, isso eh que eh a tarefa de um escritor em cada historia, em cada capitulo, cada cena e em cada fala. Por isso, eh muito importante voce estar com essa ideia e se questionar dela sempre que criar alguma cena, alguma fala. O que o leitor vai pensar? Nao eh obvio demais? O obvio nao eh o mais certo aqui? O que seria melhor dar ao leitor nessa cena? O que ele pode estar esperando dessa cena? E o que eu posso fazer pra trair essa espectativa ou entao aumentar ela?

rascunhos de testes para Kung-Fu Baby Gu Com a ideia em mente, tambem do nada, surgiu o titulo, que me pareceu cair como uma luva para a simplicidade da historia e o clima pop. Kung-Fu Baby Gu, funciona em japones, ingles, portugues e aparentemente, em chines tambem, sem adaptacoes. Eh catchy, sonoro, nao curto demais e nem longo pra precisar de abreviacoes. Um bom titulo eh importante, nomes estupidos acabam com uma historia antes dela comecar.

Eu tenho dificuldade em dar nomes e criar titulos. Nao sei, talvez eu seja exigente comigo, talvez eu seja simplesmente ruim pra criar nomes, mas dificilmente eu fico satisfeito com titulos que eu crio e por isso, tambem fico muito feliz quando consigo criar um que seja realmente legal. Dah ateh mais vontade de trabalhar.

Eu tenho o pensamento de que nao eh a ideia, o cenario, que vai decidir se a historia pode ser boa ou nao. E sim sua execucao. Mesmo ideias simples e estupidas podem se tornar uma grande aventura apenas com um bom roteirista acertando as cenas do forma correta. Por isso, acho que se voce estiver querendo produzir uma historia, nao perca tempo buscando uma historia mirabolante, um cenario inovador, essas coisas. A chance de isso tudo jah ter sido feito antes eh enorme, e mesmo que nao tenham, se sua execucao for fraca, serah como jogar ouro pelo ralo.

A partir da proxima parte, vou partir para a execucao do trabalho. Como criar uma historia, e como eu criei Kung-Fu Baby Gu.

6 ideias sobre “Projeto Motikomi, parte 1: a ideia”

  1. >Eu eh que agradeco por voce compartilhar conosco o que aprendeu ai no Japao.Quando puder coloque alguns trechos do nemu pra nos aqui no Blog ou mais algumas imagens do estudo dos personagens.A proposito, voce jah tentou ser assistente de algum mangaka?Boa sorte no motikomi.

  2. >Valeu pelo feedback!Alphazine, eu ainda nao sei se vou colocar a historia on, depende do resultado do motikomi. Espere mais um mes! HeheheMas simples eh simples! Comedia romantica pode ser muito mais complicado do que parece, eh soh criar uma formula pra isso. No meu caso, eh simples por que o objetivo eh claro, o caminho eh um soh e depois, sao soh os obstaculos.

  3. >Puxa! Confeso que achei meio estranha essa historia de bebe kung-fu. Sei la, pensei em filmes americanos que seguem essa linha e o resultado eh sempre desastroso. :PMas fiquei curioso. Como o bebe aprendeu Kung-fu?Quando voce falou que era uma historia simples achei que tivesse fazendo uma comedia romantica.Bom, vou esperar as proximas atualizacoes.

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