Por que os mangás só chegam em São Paulo?

Yo!

Pra esclarecer o pessoal sobre essa questão que aflige todo leitor de qualquer coisa aqui no Brasil. Por que São Paulo monopoliza os lançamentos e qual a razão da distribuição setorizada?

É, não é facil ler quadrinhos no Brasil. Não é fácil nada aqui no Brasil, mas pelo menos reclamar continua sendo de graça. Então reclamamos, só um pouquinho, no Twitter e no Facebook, não é? Pois é, infelizmente, curtir qualquer atividade cultural é um martírio, você tem que ser um pouco masoquista e gostar de sofrer se quer ler quadrinhos, ver um filme no cinema, conhecer gente que gosta dessas coisas… a não ser que você more em São Paulo.

Aqui na capital paulista é onde tudo acontece. Eventos grandes, encontros, lançamentos, mostras… e mesmo que você só queira ler, precisa esperar meses até chegar ao seu estado aquele mangá que o Genkidama anunciou e só tem em São Paulo. Isso quando chega. Alguns estados simplesmente são esquecidos pela distribuição, por mera logística.

Logística. Essa é a palavra de ordem.

São Paulo é responsável por uma fatia grande do mercado editorial nacional. Grande não, simplesmente uma terra que representa quase nada na imensidão do território brasileiro, come sozinha 70% do mercado nacional de revistas! E eu falo somente de São Paulo capital e regiões próximas, nem é todo o estado! Tendo esse número em mente, os distribuidores sabem que o mais fácil é jogar em São Paulo. Qualquer coisa vai vender mais e mais rápido em São Paulo do que em qualquer outro estado, independente do que for. E é isso que cria a tal da distribuição setorizada. Eles vendem em São Paulo e depois, com os dados de venda daqui, separam o que voltar para mandar para outras regiões, diminuindo encalhes, o terror de um editor.

Pra ter uma ideia, nem o Rio de Janeiro faz volume considerável de venda! Mas por que acontece uma coisa dessas? Será que o resto do país não se interessa pela leitura? Pra falar a verdade, é difícil  dar um dado preciso pra isso, mas a resposta fácil é dizer que para qualquer mercado, é praticamente a mesma coisa. São Paulo movimenta muito dinheiro em qualquer setor. Mas isso não significa que o resto do país não tem interesse. Muitas pessoas de todo o Brasil gostam de mangás, assistem anime, mas não é um volume tão grande e concentrado como é em São Paulo. Dai, pagar um caminhão ou qualquer que seja o frete para, por exemplo, Manaus, terra do vizinho de Genkidama, Gyabbo!, é mais custo para incluir no preço de capa. E imagine que isso é pra levar uma demanda local de 100 (cem) cópias, como pode acabar sendo o caso de muitos mangás de baixa circulação. Muita coisa, principalmente material mais alternativo e coisas caras, tem tiragem de 2 mil à 5 mil cópias, coisa que distribuidora se recusa a pegar de antemão, porque o custo de manuseio já não vale a pena. O normal é você ter pelo menos 10 mil cópias ou mais pra distribuir, mas imprimir tudo isso para alguns materiais acaba inviabilizando. Isso que causa o congelamento ou cancelamento de alguns mangás que poderiam, sim, continuar, mas com uma distribuição mais modesta e localizada, vendas por internet e lojas especializadas.

A distribuidora funciona por um contrato de consignação. Ela recebe uma porcentagem do preço de capa da revista, algo em torno de 50%, ou seja, um mangá de 12 reais vira somente 6 reais na mão da editora, que ainda paga a produção, os direitos e a impressão. O tempo que uma revista pode ficar nas bancas depende, mas em geral, é um mês ou dois. Então, pra uma editora, mandar pra banca só interessa também para algo que vá vender muito e rápido. E isso ainda depende da distribuidora aceitar distribuir. Como ela leva porcentagem das vendas mas arca com custos, se ela achar que suas vendas não vão pagar o custo, ela se nega a pegar. Então, não é fácil colocar algo nas bancas.

Mas ai vamos ao outro grande problema. As lojas especializadas e vendas por internet. Quem as utiliza sabe o quanto é prático e certo comprar dessa forma. Às vezes, rola até descontos ou receber antecipado. Mas a grande maioria ainda tem receio ou não tem algum recurso necessário, como cartão de crédito. Ou até o caso de simplesmente não existir loja especializada nas proximidades, como acontece com muitas cidades do país, principalmente no interior. E, o principal, o frete caríssimo que os correios incluem. Algumas lojas até fazem o esquema de frete grátis acima de 100 reais, mas não porque fica grátis, mas porque só assim a porcentagem de custo vale a pena. A loja arca com o custo.

A situação atual é cômoda para os envolvidos. Editora alguma quer (ou pode, visto que editora não é sempre mega empresa) trabalhar em algo mais, como distribuição, sistema de assinaturas… Essas coisas demandam tempo e pessoal pra fazer, coisa que sempre falta. As distribuidoras brasileiras são pequenas, as duas únicas grandes distribuidoras para bancas se uniram em uma controversa compra que gerou um monopólio, que é controlado por uma única editora. Ela escolhe como distribuir até mesmo a concorrência. Livrarias são complicadas para se trabalhar, ainda mais em um ritmo mensal, com alto volume de circulação. E é isso tudo que lhe deixa esperando eternamente pelos seus mangás.

São muitos os problemas, e sempre precisamos pensar em soluções.

Há um tempo atrás, eu trabalhava numa revista que pensava em revolucionar muita coisa. Mas sem distribuição, isso não iria nem começar. A ideia era reforçar a venda fora de São Paulo, porque senão, ficaríamos presos em parâmetros que todo mundo conhece.

A minha ideia era incentivar a criação de clubes regionais de leitores, não só da revista, mas de mangá, quadrinhos, etc. Se o problema era logística, a solução seria fazer um número mínimo de leitores se reunirem para comprar suas cópias da revista em conjunto, dividindo o frete e distribuindo de forma localizada, sem precisar espalhar por uma cidade de menor expressividade de vendas. Uma mini loja especializada.

Dependendo da situação, os clubes poderiam até arcar para comprar uma ou duas cópias e ler em grupo, algo que acontecia muito na minha época, colocar o gibi na roda. Os clubes seriam cadastrados e teriam um responsável, que seria quem faria as compras. O ideal era ser um vendedor local, um dono de banca ou livraria ou até mesmo de boteco ou mercearia. Clubes teriam descontos e receberiam brindes, para incentivar o crescimento. E a movimentação seria um interesse à parte ao lojista. O esquema nunca foi colocado em prática por pura desordem da editora, que estava mais interessada em fazer eventos, que invariavelmente, aconteciam em São Paulo, numa espiral de contradição.

Esforços individuais podem fazer a diferença e eu digo por experiência. Conheci o casal Pedro Henrique e Lilia, que hoje contribuem aqui no XIL, por um esforço deles. Associados de um grupo de cultura japonesa, eles queriam aproveitar algum dos eventos do grupo para falar mais de mangá e da revista, aquela lá. Se organizaram para pagar passagem e estadia e nos levaram à Salvador, sua terra, onde raramente acontecem eventos com participação de autores. Além disso, se engajaram e até ajudaram a vender as revistas, que esgotaram, excedendo a expectativa. Acabou sendo o único lugar, fora do eixo Rio-São Paulo onde fizemos lançamento. Virei grande amigo deles. Isso prova que se uma pessoa quiser muito, ela pode fazer a diferença para que até em cidades distantes, onde a possibilidade de alguma coisa ligada à cultura pop aconteça é remota, possamos ter contato mais próximo com aquilo que tanto amamos.

A coisa mais fácil de dizer é que é besteira, lutar, se esforçar para fazer um evento, uma revista, uma história. Mas lutar pelo que você quer começa das coisas mais simples. Não é besteira se engajar em qualquer causa que seja, desde que você ache isso importante pra você. Seja para acabar com a corrupção, seja para você poder ter eventos, conhecer autores e editores, ou simplesmente poder ter a chance de comprar seu mangá como o pessoal de São Paulo, você é quem mais precisa pensar em uma solução e lutar.

 

Com o mercado impresso cada vez menor, dividindo espaço e se reinventando com a internet, estamos vendo um cenário de transformação e sofrendo com isso. Talvez não exista uma solução perfeita para problemas de distribuição e buscar por ele seja perda de tempo neste mundo de tablets. Mas sempre vai ter espaço para os mais criativos na hora de satisfazer o prazer do papel, algo indescritível para quem realmente ama seus livros e quadrinhos.

17 ideias sobre “Por que os mangás só chegam em São Paulo?”

      1. Brasília não tem só político, falo isso baseado nas livrarias e nas bancas que visito, não vou gastar meu tempo visitando todas as centenas de bancas e butecos que tem aqui para ver se tem mangá.
        Embora não tenha tanta variedade e quantidade quanto São Paulo mas aqui não é um lugar problemático para comprar mangás e quadrinhos. Dá para encontrar até as HQs da Editora Nemo aqui.
        Aqui onde moro (Valparaiso-GO,entorno de Brasília) tem uma banca no centro que tem uma quantidade razoável de mangas e quadrinhos para vender, achei até a HQ do Ozymandias. Não vejo necessidade de ter uma banca lotada de mangás na esquina, só preciso comprar em um local perto e fácil acesso.
        Mas mesmo assim gostei do post, já tinha ouvido esse tema no Manga² de Mercado Brasileiro de mangás.

  1. Realmente muitos pontos interessantes, de fato é duro para pessoas (como eu) de outras regiões compreender isso, afinal também temos interesses nas novidades dos mangás, mas de fato não se pode ignorar o papel que São Paulo tem no mercado e que é de fato uma das cidades mais importantes em termos de vendas e comercialização,o que´faz com que a venda para outros estados fique não prejudicada mas sim em segundo plano, claro que a coimpra perla internet é sempre uma opção, mas sempre tem os contra pontos, como o frete obrigatoriamente alto por causa dos correios e claro que tem o site da Liga Hq que é muito bom, mas oe stoque deles não é regular, um volume pode acabar muito antes de vc ter a chance de pensar se quer ou não comprar, a falta de lojas físicas especializadas é um outro grande déficit, mas é como dizes no post, tem que fazer um esforço.

  2. olha moro no rio e n tenho muito o que reclamar tem vezes que os lançamentos chagam aqui antes mesmo de chegar em sp mais na maioria das vezes sp monopoliza tudo

    la tem mais bancas que aqui e olha que eu acho uma em cada esquina por aqui fora que la tem o dobro de eventos quase tudo la é o dobro que aqui la moram 20milhões aqui no rio 12 e assim por diante a populaçao dos dois estados juntas passa de 30% da opulaçao do pais o nivel de analfabetiso é menor entao lo mais pessoas podem ler mais tenho certeza que o maior motivo disso realmente é a populaçao esmadoramente maior que tem em sp e os recursos financeiros a disponbilidade de ter o dinhiro pra comprar as coisas eu nunca ouvi falar em um cinema fora o rio que teve mais bilheteria que sp na estreia

    simplesmente mais gente mais emprezas mais dinheiro, é assim que funciona, isso faz parte da historia do nosso pais e do mundo tambem as gandes cidades que monopolizam o mundo e n tem como mudar isso podemos sim ver algumas pessoas se reunirem como a ideia vc deu mais nada que possa fazer um revoluçao no mercado brasileiro pq as pessoas que realmente se intereçao por leitura de quaquer tipo n da pra cmpetirir com as que compra no exo rio-sp

    se parar pra pesquisar nois descobrimos que os numeros n permitem que as empresas se arrisquem, prejuizo é algo que as pessoas n querem

  3. Moro na cidade de Belo Horizonte e convivo com essa dificuldade em fazer aquisição de mangas,como foi bem explicado pelo altor da matéria os motivos de tal,acho que não tenho mais nenhuma duvida em relação a logística,eu e meus amigos encontramos a seguinte saída,nos eventos de animes,”isso a gente não pode reclamar já que o popular AF e um dos maiores do pais ”lojas paulistas trazem o produto com até um certo desconto, onde a gente junta o dinheiro pra fazer a aquisição de vários volumes de uma vez.e uma saída cara e demorada,porem bem eficiente.

    1. Rio é fase 1, recebe junto, mas deve ser mais pela praticidade, o trajeto Rio-São Paulo é comum, e mesmo sendo bem menos que SP, o Rio ainda vende bem. O Rio é uma excessão, mas ainda assim, tem os eventos, né? Poucos lançamentos de quadrinhos, apesar de ainda terem a Rio Comicon e a Mostra de Cinema como bons eventos culturais, né?

  4. Eu moro em Santo André, a bunda de São Paulo, e até aqui é meio difícil às vezes encontrar alguns títulos… a única comic shop que tinha na cidade agora vende só card games, porque quadrinhos e mangá não gera lucro (e olha que eles tentaram! Por um ano!)

    Esta ideia de clubes de leitura é fantástica! Principalmente fora do estado de São Paulo. Mas eu acredito que a internet pode ajudar na divulgação e até na publicação de um título. Portais de publicação gratuíta de quadrinhos e livros nacionais poderiam dar MUITO certo, se algum Assis Chateaubriand se dignasse a bancá-los por algum tempo (o que significaria remuneração dos artistas e PERIODICIDADE definida.)

    1. Acho que funciona bem em cidades menores, onde o pessoal que curte é em número menor, mas praticamente todos se conhecem. Os clubes tornariam possível essas pessoas lerem praticamente a mesma coisa que sai em SP, às vezes até antes, visto que algumas comic shops recebem muito antes das bancas alguns materiais. Pra comprar seria algo fácil, mas o problema é para compartilhar. Ninguém gosta de dividir suas HQs, né?

  5. Eu sou de Curitiba, e moro em São Paulo faz 5 anos.

    Como diria Caetano: “quando cheguei por aqui, eu nada entendi…”
    Entretanto agora 5 anos depois, é diferente, consigo ver motivos para a maior venda de revistas em geral na cidade de São Paulo, em comparação com a minha terra natal, aqui há quase uma banca a cada esquina, é muito mais fácil esbarrar em uma, ver algo que vc queira e comprar por “estar passando”. A oportunidade de venda é maior.
    Outro ponto, é que devido ao trânsito caótico da cidade, muito mais pessoas andam a pé, especialmente com poder aquisitivo mais elevado, do que em curitiba por exemplo, o que faz com que estas pessoas mais facilmente, no caminho entre uma coisa e outra, esbarrem em uma banca e comprem.

    1. O negócio ai é “tem mais banca por que vende mais? ou vende mais porque tem mais banca?”. Realmente, a superpopulação de SP acaba tornando tudo mais propício: pessoal acaba usando mais transporte público ou anda à pé; passa mais por bancas de jornais; mais chance de comprar. E como a economia e os salários são mais altos em SP, também tem aquela folguinha que precisa pra gastar com “algo mais”, né?

      Mas eu trocava tudo isso pra morar em Curitiba, fui uma vez só, por um par de dias, mas é uma cidade linda e ótima de se viver!

  6. Talvez o motivo de se concentrar mais em São Paulo, seja porque São Paulo é a cidade com mais pessoas no país, e uma das cidades com mais pessoas no mundo. Tudo se concentra no centro, onde sempre vendo, lembro que quando eu era pequeno, viajei para o interior e na época a conrad estava lançando os mangás de Dragon Ball, aqui na minha cidade eu tinha comprado a edição 24 (meu primeiro mangá) e quando fui pro interior, felizmente encontrei na banca a edição numero 1. 23 volumes de diferença, naquela época era mais complicado ainda, manga era totalmente desconhecido. Hoje ainda há muito o que se fazer, muito provável que em breve as editoras brasileiras entrarem no mercado digital e as lojas que por mais que atrasem, sempre entregam. uma das lojas que eu sempre recomendo para os meus amigos que tem dificil acesso a quadrinhos atuais, é a Liga HQ http://www.ligahq.com.br eles cobram o frete como taxa de manuseio, e custa apenas 1 real por edição, sem contar que dependendo do valor da compra você pode negociar com eles.

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