O mangá hoje é mais shoujo do que nunca

Yo!

Estavam com saudades? Não, é? Hmpf! E-eu também não, viu! Bora ver <3

Há alguns dias (muitos, eu sei. Demorei pra postar), Eiichiro Oda deu uma entrevista onde ele comentava novamente sobre sua postura de se manter shonen a todo custo. Vamos falar dela antes pra ilustrar.

Perguntado sobre o anime, Oda disse que se sentia abençoado por ter uma equipe de animação que entende o shonen e que não se rende ao “moe”. Ele diz “quero estar bem no meio do que se pode dizer mangá shonen” e completa: o mercado de mangás hoje em dia está se rendendo à opinião feminina.

Aqui fica a linha do “nem li nem lerei” que vai ser compartilhado no Facebook com um “Oda machista, não comprem One Piece misógino”, “tão falando mal de shojo de novo, malditas editoras brasileiras”, “o que é XIL?”. Obrigado à todos!

Agora, que tal a gente esmiuçar o que foi dito e conversar um pouco sobre o mangá ser shonen ou ser shoujo? Vem comigo!

Lendo direitinho a entrevista e principalmente, acessando entrevistas anteriores de Oda (não tem muitas, ele prefere fazer mangá do que falar sobre eles – o contrário de mim, procrastinador do caralho!!), você percebe que o principal na afirmação não é uma birra por uma suposta ascensão do gênero shoujo no mercado de mangás. Mas se volta à postura burra de editoras e produtoras de anime que se deitam preguiçosamente em pesquisas e fazem material para garotos, mas com um pouco de apelo para garotas e um fator de moe para os otakus. Tudo para maximizar as vendas e aumentar a receita.

É verdade que hoje, mais da metade do público de quadrinhos no Japão é de mulheres. Saber que a população japonesa também é em sua maioria de mulheres, como é em praticamente todo o mundo, é irrelevante, já que não importa o motivo, mas sim saber que o mercado é alimentado por uma grande quantidade de garotas que consomem não só revistas shoujo, mas principalmente revistas shonen.

A Shonen Jump tem uma parcela estimada de público feminino beirando os 70%. Em algum ponto, a revista foi se abrindo tanto para as garotas que hoje a publicação é a revista de mangás mais lida pelas mulheres, até em detrimento à revistas voltadas especificamente para elas. Não é difícil encontrar garotas que adoram Naruto, GIntama e tantos outros mangás da revista, mais ainda do que sucessos voltados para elas, como Ao Haru Ride e Chihayafuru.

A Shonen Jump tem uma parcela estimada de público feminino beirando os 70%.

Não só isso. O público feminino é mais participativo. Quando uma garota gosta de um mangá, ela manda carta aos autores. Ela faz fanclube, compra itens, coleciona bichinhos. A maior parte dos garotos sequer manda a enquete de popularidade! E olha que ela premia com um PS4 e outras coisas bacanas!! Talvez seja algo com a forma com a qual o cérebro lida com essas coisas, não sei, mas é certo de que garotas fazem mais barulho pelo que gostam do que os garotos.

Por isso, uma coisa que Oda aponta é que é muito fácil se deixar levar pelas cartas das fãs e mudar a história para agradar elas. Só que ele diz que prefere trair as garotas a trair a criança dentro dele, que diz que isso é divertido e aquilo não. O resultado é que as poucas cartas de garotos que ele recebe também não o traem: eles gostam de um golpe, acham legal um personagem… garotos sempre gostaram disso!

Como artista de uma revista SHONEN – ou seja, voltada para garotos – ele tem um compromisso, que é o de agradar os garotos que o leem. Não os trair por causa de popularidade ou para vender uma figure a mais. O papel da classificação, seja shonen, shoujo, seinen, yonen, é o de dizer “se você pertence à esta categoria, você vai possivelmente gostar desta história” e não o de dizer “se você não pertence à esta categoria, você deveria ler outra coisa. Vá pra casa lavar roupa, sua menininha!”. Não é uma catraca que bloqueia a passagem, mas uma garantia de que se você se encaixa nessa classificação, isso foi feito pensando em você.

Sempre que se muda sua história para se adaptar aos novos tempos, você trai um público que gostava de seu trabalho. Você trai, principalmente, o que VOCÊ era quando criou sua história e se torna escravo de tendências, escravo do momento.

Se você quer romance, você sempre vai poder ler em algum shoujo.

Na década de 70, um grande movimento mudou o mercado de mangás por causa do crescimento dos filhos do baby boom. Aqueles que antes alimentaram o mercado de mangás passaram a repudiar e achar ele infantil demais. O público cresceu e os mangás continuavam infantis. Para atender essa demanda, o mangá passou a tratar de temas mais pertinentes aos jovens adultos, com uma profusão de revistas seinen. E as revistas shonen, perdendo público, passaram a mudar seu foco, investindo na tendência – seinen, e principalmente, o Gekigá, que nascia como uma resposta adulta e contestadora ao mangá.

A Shonen Magazine, uma revista que, por definição editorial, se alinha às tendências do momento e entrega o que seu público quiser, logo mudou sua postura para se adaptar, mas a Shonen Sunday, que sempre carregou o lema de ser “a revista do domingo, o único dia de folga dos garotos” preferiu perder suas vendas mas não trair seus leitores. Até que a Shonen Jump surgiu como a revista que misturou o Gekigá com o mangá para garotos e fez séries divertidas e fantasiosas com um traço mais maduro e temas mais polêmicos. Era uma revista antenada com o momento e ao mesmo tempo, respeitosa com o “shonen” em seu título. Mas a areia correu na ampulheta.

Da mesma forma que o Gekigá e o mangá adulto desvirtuaram o mercado de mangá para garotos uma vez, o otakismo e a presença forte das mulheres têm mudado o shonen mangá de hoje, cada vez menos um lugar para fertilizar a imaginação para as seções de luta de espada e golpes especiais em cima da cama. E, não me entendam mal. As garotas são bem-vindas para entrar nesse clube do Bolinha. Mas só não vale mudar a decoração! Na Shonen Jump atual, vemos que, apesar de tentar se manter “shonen”, ela se rende em vários momentos, por vontade/necessidade do autor ou da editora, não importa. O que importa é que cada vez menos se faz mangás puramente “para garotos”.

Por isso, acredito eu que é louvável que Oda, o bastião que carrega as vendas e a popularidade do mangá, tome uma posição de ser fiel ao seu público original, à sua proposta inicial e principalmente, à sua vontade, independente de agradar ou não uma possível maioria que quer romance em One Piece. “Se você quer romance, você sempre vai poder ler em algum shoujo”, diz. Aqui não!

E você? O que acha? As mulheres realmente mudaram a forma como se faz mangá para garotos? Comente e discuta, faça a alegria do povo!

_________________________

É isso, pessoal! Aos poucos eu volto :)

75 ideias sobre “O mangá hoje é mais shoujo do que nunca”

  1. sim, vou fazer um comentário de um post de um ano atrás pq sim.
    não entendo esse negócio que esse povo faz.
    eu sou menina. se eu quiser ler nana e sailor moon, eu leio. se eu quiser ler berserk e attack on titan, eu leio. não é pq eu sou menina que eu vou querer que o levi fique com o eren. as (algumas) garotas que querem isso não querem por serem garotas e sim por serem fangirls retardadas.
    fim

  2. Como eu havia dito antes, num comentário anterior (e que foi deletado, sem que me explicassem o motivo), o que acontece nos shonen mangás é um fenômeno que já ocorria entre as décadas de 1970 e 1980 (e que já havia sido mencionado no livro “Manga! Manga! The World of Japanese Comics”, de Frederik L. Schodt); o “crossover” (não confundir com o “crossover” de personagens de séries diferentes numa história, como acontece atualmente), ou seja, quando públicos de faixas etárias ou de gêneros sexuais diferentes lêem obras destinadas a um público a qual eles não pertencem. Por exemplo: garotas que lêem mangás para garotos ou adultos que lêem mangás para garotas são casos clássicos de “crossover” (num trecho do livro acima mencionado, Schodt usa o termo “crossover” para descrever a mudança do perfil dos leitores da série “Lupin III”, de Monkey Punch . O mangá, publicado na revista seinen Manga Action, conquistou aos poucos os estudantes do ginasial e do colegial japonês, um público que normalmente leria shonen mangá). As motivações que levam leitores e leitoras de idades diversas a lerem mangás que não foram feitos para suas faixas etárias ou gêneros sexuais variam de caso a caso.
    Espero ter podido contribuir para esclarecer essa questão. E espero também que dessa vez não deletem o meu comentário,

  3. Vou falar pouco por estar com preguiça de digitar muito:

    Se você criou uma história com temática de porradaria, siga essa história com porradaria. Se você for adicionar romance, faça ele valer a pena e acrescentar algo para história, se não essa droga só vai servir pra chamar **menininhas ou menininhos que estão atrás de romance e shipps. Se eu quero romance, eu procuro histórias que começaram com a proposta temática de romance, eu não quero que o segmento da história mude, eu quero uma história fiel ao que ela se propõe a fazer.

    Vai adicionar romance? Eu quero que essa droga de romance tenha minha atenção, que ela adicione algo para o desenvolver da história, personagens e plot. Se não isso vai ser somente uma experiência descartável onde não vai fazer diferença se aquilo está ali ou não.

    ”Ai, é que tem que sair do foco as vezes, né? Quebra de ritmo, é bom e tudo mais” Não, não é bom. Eu sou super contra quebra de ritmo em histórias a não ser que seja em comédia, afinal você não pode ficar rindo o mangá inteiro se não sua barriga vai explodir uma hora.

  4. É louvável haver pessoas importantes no comando da Jump que asseguram a proposta no qual a mesma se propõe.

  5. será que teria esse rebuliço todo se um garoto que lê shoujo quisesse que as protagonistas saíssem na porrada e o autor(a) negasse? fala sério, eu acho válido discutir inclusão de gêneros, raças e religiões mas só quando faz sentido, no caso abordado estão criticando um autor por escrever a história que ELE QUER ESCREVER e tbm sinceramente garotas(as que se ofenderam) pq vcs leem shounen? eu leio por conta da aventura e lutas e se vc lê tbm tem que ser por causa disso se não vc está equivocada na sua escolha de leitura, não se procura Terror em obras de Comédia, não se procura Realismo em obras de Ficção, sei que Shounen pode ter romance sim, mas poha, só se o autor quiser escrever a respeito.
    Hoje em dia parece que uma mulher dar uma opinião a torna forte e decidida, mas se um homem der sua opinião ele é MACHISTA, RETRÓGRADO, HOMOFÓBICO, RACISTA, MAL AMADO ou qualquer coisa que o ofenda de acordo com sua opinião, se querem ser ouvidas tentem ouvir tbm e não venham criticar o texto do Sakuda por escrever a verdade, provavelmente vão me chamar de machista ou mais por isso mas tudo bem

  6. ao ler o post, que por sinal é muito bom, vi que uma parte considerável dos comentários são de garotas, claro que não tem problema algum nisso, mais os que me preocupa é a rispidez, todos utilizando de falácias e mudando completamente o assunto e o propósito do post.

    o oda simplesmente não está seguindo o fluxo, e isso ao meu ver é sim um ponto ao seu favor, principalmente por ser o mangá de maior vendagem hoje, então vamos ver one piece precisa ter resquícios de “shoujo” em sua obra, é óbvio que não!!, não por que o ator é machista (pode ser que ele seja) mais sim por que a história não necessita disto, é a mesma coisa eu querer que gantz se torne um shoujo do nada por que quem compra mangá agora são mulheres. enfim só ajo que mangá deve ser uma mida livre para a criação dos AUTORES, mais claro que o mercado muda e segue tendências mais não pode ser encurralado em um funil como uma parcela do público deseja e insiste.

  7. Postagem pra atrair uma boa polêmica? Opa, achamos uma!

    Acredito que tudo que tem uma base inicial deve, sim, evoluir. Ninguém deve parar no passado ou fica mesmo para trás, no entanto, acredito que essa tal evolução deva vir não com invasão de algo que já existe (separadamente) e que tenta mudar abruptamente um costume. Simplificando: shounen é mangá de lua e shoujo é mangá de romance. Simples. Imagina se, em um kimi ni todoke da vida, do nada, aparece alguém soltando raio pelos olhos? Seria muito louco e ninguém consideraria aquilo shoujo mais.

    O Japão tem TANTAS revistas para tantas coisas, pra que enfiar em shounen um romance bonitinho, forçado? (Sim é pra você, Kishimoto) Acredito que dê pra colar um relacionamento sim, sem tornar aquilo “moe” demais, como alguns mangás já conseguiram, no entanto, dificilmente alguém consegue fazer isso sem deixar parecer forçado.
    Se as meninas gostam de shounen, vão aceitar assim, da mesma forma que se meninos curtem shoujeo, não devem se importar em ficar implorando pra o autor colocar um golpe especial aqui ou ali.

    ps:quem gosta dos dois: Vai assistir mahou shoujo!

  8. Olá Sakuda, eu só quero colocar uma coisa. Leio o blog ocasionalmente e já gostei de alguns posts, mas esse não foi um deles.

    Claro que tá certo o Oda querer se manter fiel à sua proposta original. Quer dizer, também não estaria errado se ele não quisesse, afinal muita coisa muda em 10+ (não sei quantos exatamente??) anos, e afinal ele poderia muito bem querer mais dinheiro (não que ele precise)/aprovação dos editores (não que ele precise)/etc e que se dane a obra também.
    Isso é opinião e acho válida a sua.

    O que eu discordo – e o que acho que no fundo foi a reclamação de todo mundo, mesmo – é dizer que demografia corresponde a um sexo/gênero, e não a um estereótipo de gênero; como se no mercado de mangás de hoje em dia (pós-declínio, crise econômica e etc etc, que precisou se adaptar à demanda real de alguma forma) uma demografia não dissesse muito mais do seu passado histórico do que propriamente pra quem ela é vendida hoje. Eu não to falando que isso é certo ou errado, que isso indica que alguém “se rendeu às vendas” ou não, não é isso.

    Mas me interessa que fique claro isso: que uma demografia corresponde a um estereótipo de gênero muito mais que a um público real. Que sempre foi assim, e é claro que quando querem lucrar mais as editoras precisam aceitar isso e mudar. E elas mudam.

    Eu sei que tem muitos shounen que caíram na graça das mulheres, muito até por conta do yaoi, e assim as mulheres se tornaram grandes consumidoras de shounen – e isso já foi naturalizado. Tão naturalizado que o próprio “shounen pra garotas” já foi naturalizado, afinal a GFantasy se mantem firme e forte graças a isso já há tempos. Mas ainda assim tem mais leitoras da Jump, porque (por razões que os editores certamente investigam pra usar como estratégia de vendas) a Jump ainda atrai mais “leitoras de shounen”, então isso tende a continuar mudando.
    Da mesma forma e por essa razão, josei (que, convenhamos, nunca foi super popular, e claro que isso tem a ver com machismos e “coisas de homens são pra homens e mulheres, coisas de mulheres são só pra mulheres”) “não dá dinheiro”, e shoujo basicamente ficou restrito aos romances colegiais água-com-açúcar, muito diferente do que tínhamos nos anos 90 por exemplo (séries de garotas mágicas “maduras”, autoras proeminentes como Naoko Takeuchi, Yuu Watase, CLAMP, etc. – gênero que hoje praticamente se fundiu com o ‘kodomo’) até a primeira década dos anos 2000. Tudo tem a ver com o que o consumidor real quer num determinado momento.
    Da mesma forma, mangás como Tokyo Ghoul e Mirai Nikki tem sido chamados de seinen, supostamente pra homens adultos, mas certamente atraem muito mais ao público pré/adolescente masculino. Os homens adultos que cresceram com One Piece continuam lendo One Piece. Isso tudo também é natural.

    O que eu quero dizer com isso é: mercados mudam e isso é normal, não é “traição”. E isso não tem nem a ver com questões de gênero em si, não é o fato de que “coisas de meninas e meninos” devia ser um conceito superado (mas é também, já que, bem, o fato de esses mercados terem se mesclado tanto diz muito da fluidez dos (pre)conceitos de gênero também).
    Talvez se o Oda mudasse One Piece, nessa situação particular, o cenário seria diferente. Seria “traição”, nas suas palavras, pois de fato tem homens que lêem One Piece desde criança, que tem toda uma ligação afetiva e de nostalgia com a série, e mudar o que é One Piece a essa altura seria uma traição pra eles. Mas não para o mercado.

    Enfim, eu não leio One Piece, não tenho o que falar sobre esse ponto, mas essa visão fechada de “shounen = mangá para meninos e portanto tem que ter X, Y e Z” foi algo que me incomodou, mais ainda por vir de um profissional da indústria dos mangás brasileira, vez que não corresponde à realidade das coisas. Acho que acabei escrevendo demais, mas basicamente concordo com o que o Marcos Correia disse. O mercado é mais complexo que isso. E tudo que é escrito em uma época é fruto e retrato de sua época ao mesmo tempo (oras, uma coisa não exclui a outra).

    Peço desculpas se ofendi em algum momento, e agradeço a parte informativa do post. :)

    – Chell @ Not Loli!

    1. Chell, brigadão pelo elogio e pelo comentário longo.

      Olha, o ponto nem é se existe ou não preconceito, já que, como está no texto, a demografia não é uma catraca que barra as pessoas, e sim um indicativo do que você pode esperar. Que, pra bem ou pra mal, precisa se ancorar em certos preceitos – preconceitos, talvez – em favor de uma premissa básica.

      A Shonen Jump poderia se chamar “revista de aventura e batalhas, esporte, um pouco de comédia e quem sabe algumas comédias românticas JUMP”. Mas é mais prático ela se chamar Shonen Jump e, se valendo de um estereótipo, indicar ao seu público leitor o que ele vai ter ao abrir a revista. Mas ninguém está falando que por causa disso, as meninas não são permitidas, mas que o material é feito visando garotos, interesses mais atribuídos aos garotos e principalmente os mais novos, já que a Jump mira em uma idade em que os japoneses ainda sequer pensam em namorar.

      Claro que podem haver histórias em revistas shonen feitas para aproveitar o público feminino. Tem editores que planejam séries se aproveitando disso dentro da Jump (em Bakuman é até citado isso, mas no meu livro da JUMP SQ tem em mais detalhes). Mas, novamente, se o autor não quer, se o público alvo (que pode ser menos que um dos casuais) não quer, mudar Naruto ou One Piece, por exemplo, para atender uma maioria não seria opressão?

      Eu, quando era criança, não gostava da minha irmã brincando de Tartaruga Ninja ou super sentai comigo porque: ela não queria lutar e ficava inventando plot de namoradinho entre os personagens. E tudo o que eu queria era pegar um pedaço de cabo de vassoura, amarrar uma camiseta na cabeça e brincar de luta!! Por isso, eu terminava brincando sozinho com Comandos em Ação no meu quarto, onde eles podiam só lutar e se esconder nas montanhas da minha cama desarrumada.

      É esse o público intencional de Naruto e One Piece. Nem as meninas, nem os adultos, nem eu e nem você. Podemos ler, claro. Mas se mexermos nisso, é como tirar a graça da brincadeira dessas crianças e colocar elas pra brincar de Comandos em Ação, sozinhos no quarto. É justo?

      1. Imagine!

        E sim, certamente, demografia não é uma catraca (e justamente por isso a revista não foi “se abrindo” para as garotas, as garotas apenas passaram a consumí-la, há uma diferença) é um indicativo de onde a obra foi publicada. É portanto algo que tende a responder a tendências sociais, de mercado e etc. Sabemos que muitas obras poderiam ser encaixadas em diferentes demografias e o autor faz lá uma modificaçãozinha ou outra pra encaixar em uma revista específica, é assim que as coisas funcionam muitas vezes. Isso não nega o fato de que a obra se encaixa nessa demografia, mas claro que pode gerar uma insatisfação em quem vai com a expectativa de ver somente X, Y e Z por causa de algo como demografia, que é, em última análise, um estereótipo de mercado.

        Óbvio que nenhuma revista vai aceitar uma publicação que foge totalmente ao seu propósito, mas as concessões que ela faz ou deixa de fazer são parte de um jogo que envolve público, oferta e demanda em um determinado período. A Jump, inclusive, podia ter esse nome longo porque não é de fazer concessões, afinal ela é a Coca Cola do mercado. (Eu não posso afirmar nada porque particularmente não ligo pra Jump, mas aposto que não foi à toa que D Grayman, p. ex., mudou de revista mesmo sendo popular e logo depois teve mudanças drásticas de tom.) E tenho certeza que se o público específico que essa revista visa, garotinhos japoneses ou seja lá quem for, passasse a querer mais romance, teria mais romance na revista de uma forma geral. Eu não acho que dizer algo como “uma idade que os japoneses ainda sequer pensam em namorar”, por exemplo, é indicativo de muita coisa, afinal se a Jump eventualmente vender mais pra garotos mais velhos ou se a sociedade mudar nesse ponto, isso tende a mudar também, como você bem colocou no texto.

        Mas voltando ao caso de One Piece. Na verdade o “público intencional” de Naruto ou One Piece é o pessoal que lia antigamente, então é um pessoal mais velho e isso não é questão de justiça ou não; se o pessoal mais velho não quer romance (porque na maioria são homens, tem o apelo nostálgico e etc), ué, o autor só está ouvindo o pedido dos seus fãs, ou pelo menos do perfil que ele acredita (e eu também) ser o da maioria dos seus fãs, nada incomum. Isso não tem nada a ver com as crianças que compram Shounen Jump pra ler Ansatsu Kyoushitsu, por exemplo, isso tem a ver com “trair” as expectativas dos seus fãs, que não são a totalidade dos fãs da revista. Eu não acho que exista opressão em um autor mudar ou não mudar sua obra pra atender ou deixar de atender alguém. É uma escolha dele – e dependendo de como for feita, claro, pode decepcionar pessoas. Eu acho que existe, sim, muito mais “opressão” por parte das editoras, que muitas vezes fazem o que querem pra encaixar a obra aqui ou acolá. Isso é lógica de mercado (e é “cruel”, eu concordo).

        Enfim o ponto que eu queria reforçar: dado esse cenário, por que é errado se o pessoal da Jump (autores ou editores etc) resolver responder a essa demanda grande de garotas que consomem revista shounen? Por que é errado se eles resolverem equilibrar títulos antigos (quiçá mais “pauleira”) que agradam aos fãs de shounen dos anos 90, com outros com mais apelo pra jovenzinho trevoso, com outros com mais apelo pras fujoshis, etc, pra lucrar com todos esses públicos diferentes que de fato compram a Jump há décadas, se todos se encaixam nas características da demografia “shounen” (afinal todos esses podem ser curtidos por garotinhos e de fato são)?
        Entenda, quanto às mulheres, eu acho que isso não é feito de forma mais “evidente” até porque elas não querem uma “resposta” (afinal, como já dissemos, a Jump vende mais pras garotas do que aqueles shounen supostamente “feitos pra elas”, com romances e tudo de acordo com os estereótipos de gênero, veja só!) e vai continuar sendo assim porque ué, a fórmula dá certo, mas por que é errado responder ou reconhecer esse público que, pra além de estatísticas e dinheiro (e convenhamos que 70% é bastante), é um público real interessado naquele produto/demografia?

        Eu conheço o sentimento de quando o que você gosta “ficou pra trás” porque um público diferente começou a curtir e coisas mudaram. Eu sei o que é quando as opções que você tem pra curtir da demografia que você gosta se limitam a “material pra criancinhas que não corresponde aos seus interesses” e “material predominantemente feito pro sexo oposto” – isso é literalmente minha situação com Precure, Madoka, Nanoha e etc. Mas é um fato que o mercado muda, e não cabe ao consumidor antigo fincar sua bandeirinha e falar “daqui eu não saio, mudem vocês todos”. Vão ter obras com um “apelo nostalgia” enquanto esse público também existir, mas oras, a mudança de tendências também acontece e é necessária. Pode chatear, mas é preciso tocar conforme a banda.

        Claro que eu também tenho sentimentos pessoais em relação a esse post. Eu não sei pelo que você passou, mas eu sou filha única, cresci jogando videogames e brincando de boneca (mais o primeiro do que o segundo, tbh) e embasbacada com o monte de garotinhas da minha idade que eram forçadas a consumir material sexista como Capricho, Polly e Barbie e tinham suas cabeças (mal) formadas por isso. Então eu também tenho problemas pessoais com “estereótipos de gênero”, eu acho que o mundo iria bem sem eles.
        Mas fora isso, falando objetivamente, o mercado da ficção “mainstream” sempre foi muito dominado por “male gaze”, a tal ponto que isso se tornou natural – e natural pras mulheres aceitarem isso em ficção. No entanto, hoje em dia homens e mulheres se colocam igualmente como consumidores nesse mercado (entre outros motivos porque a mulher agora trabalha fora e pode comprar esses produtos, é mais “permitido” o lazer à mulher, etc) e não foi tão rápido para os homens aceitaram também o “female gaze”, que é atacado como sinal de “dominação do mercado pelas mulheres”, etc. Isso vale muito pro Ocidente, já o cenário no Japão é diferente, afinal sempre houve shounen e shoujo (e vamos concordar que as produções nunca foram proporcionais). Mas essa “ascensão do gênero shoujo no mercado de mangás” não existe – aliás, eu ouso dizer que o gênero shoujo já foi mais forte. O que existe é a ascensão de consumidoras mulheres, e também (quiçá mais ainda) de consumidoras mulheres que gostam mais dessas obras do que daquelas cheias de “estereótipos feminilizados”. E eu não vejo por que isso não deveria ter uma resposta adequada.

        Mais uma vez, peço desculpas de verdade por ter me estendido, não sei ser sucinta ao explicar uma colocação. Espero ter conseguido explicar de maneira clara meu ponto de vista, ao menos. (´・ω・`) Só queria deixar claro por que meu problema não é nem com o Oda (apesar de também não gostar dele ¯_(ツ)_/¯) e por que eu discordei do post. Em síntese: Não, não é justo. Nem é mais justo que ela vá também brincar sozinha porque seu irmão também não entende a brincadeira dela. É menos justo ainda que façam-na pensar em namoro em idade tão tenra. Nada disso é justo. Mas e aí, o que fazemos a respeito disso?

        1. Muito satisfeito em ver suas respostas tão elaboradas, Chell.

          Olha, eu até entendo quanto a essa posição, e é isso que eu quero discutir com as pessoas aqui. Pra explicar minha posição, eu queria falar sobre democracia. As pessoas entendem por democracia o direito igual dos cidadãos. Mas muitas vezes, dizem que a democracia venceu quando a “voz do povo” foi ouvida. A maioria prevaleceu. Mas se a maioria sempre prevalece, é a ditadura da maioria. A antítese da democracia. Porque retira os direitos de uma minoria e os obriga a atender as vontades de uma maioria. E isso não é justiça, não é moralmente aceitável.

          O mundo de hoje é feito por quase 70% de mulheres. E o Japão, particularmente, tem mudado muito por conta disso. Pra piorar, o país ainda enfrenta uma crise de natalidade muito feia. Por isso, é claro que há menos garotos no Japão hoje.

          Mas por que as revistas shonen continuam a vender mais que as de outras demografias? Talvez porque sua LINHA EDITORIAL seja bem diversificada, atendendo, mesmo que involuntariamente, vários públicos.

          E o que é linha editorial?

          Quando você vai montar uma revista, seja ela do que for, você não monta simplesmente qualquer coisa e coloca material dentro, de acordo com o seu feeling. A linha editorial é um pensamento que dá coerência à sua publicação. É um slogan e ao mesmo tempo, um compromisso com seus leitores.

          Mesmo que os tempos mudem, se a revista precisa mudar tanto que nem pode mais respeitar sua linha editorial, às vezes é preferível acabar com a revista do que alterar sua forma e sua história. Isso já aconteceu muito, inclusive com revistas de mangá, como as linhas da Jump que foram refeitas, mesmo vendendo razoavelmente bem.

          É um compromisso e um orgulho para os editores, para os autores e para os leitores de antigamente. É o respeito de não usar um antigo palácio como balada ou transformar uma igreja em um cassino.

          E relaxa. Escreve o que você quer escrever. Ter cuidados e não sinceridade, pra mim, é a pior coisa que você pode fazer ao deixar uma ideia com o seu nome.

          1. Peço desculpas pela demora pra responder, andei atarefada nos últimos dias.

            Eu entendo sua posição, ainda que esteja objetivamente errada? Afinal, em qualquer situação de embate em que ambos os lados “dão ouvidos” um para o outro, é perfeitamente democrático que o lado da maioria “vença”. Isso, claro, supondo a possibilidade de existir essa condição, que dificilmente é uma possibilidade concreta. Então, essa “vitória” também não deve forçar a minoria a ter a mesma opinião, e é por isso que democracias reais sempre tem a “situação” e a “oposição”. Não discordamos aqui.

            Mas uma afirmação como “no mundo tem __% de mulheres” é um dado bastante abstrato, pra não dizer impossível de ser mensurado. Essa pode ser a proporção no Japão, porém (desconheço o censo demográfico do país, tbh). Admitindo que é, isso significa que a Shounen Jump tem seus leitores divididos igualmente, dada as devidas proporções, entre homens e mulheres. Significa que, em teoria, os homens e as mulheres gostam igualmente da revista Shounen Jump. E daí?

            Mas quando você sugere estar havendo a inclusão de romances na Shounen Jump por causa de uma “ditadura da maioria”, ou pelo menos foi assim que eu entendi sua colocação, é o momento em que eu discordo. Eu não vejo como incluir um romance (mesmo admitindo, aqui, a noção de que “mulheres gostam de romance” que é problemática por si só) em uma história – que continua sendo essencialmente composta pelas características típicas das histórias da Shounen Jump, quiçá com as adequações mínimas que os editores julgarem necessárias serem feitas pra cada mercado/público/momento histórico – é traição ao propósito da revista ou “ditadura da maioria”. No máximo é um esforço pra atrair um novo público, afinal, se essas mulheres (que são maioria numérica) estão consumindo mesmo sem romance, a existência de romance não é um critério para elas serem público. Em outras palavras, se a revista decidir trair seu público, sua linha editorial/”objetivo” ou seja lá o que for com romance, não vai ser por causa de quem a consome. O que é óbvio, afinal isso seria paradoxal. (vai ser por causa do ameaçador público de KnT, talvez… :P)
            Trocando em miúdos, é por isso que eu acho que o Oda não fez nada demais, ele fez o que provavelmente 99% dos autores no lugar dele (um lugar privilegiado, aliás) fariam.

            Uma ressalva, preciso confessar que estou falando tudo isso aqui em cima de hipóteses abstratas, porque nunca li, pessoalmente, um mangá da Shounen Jump (recente, desconsiderando DB, por exemplo) que tivesse um romance notável. Também não conheço a fundo nenhum mangá da Shounen Jump a ponto de saber que ele se “desvirtuou” pra atender a uma demanda do público.

            De qualquer forma, acho que já disse tudo que tinha pra dizer. Acho que já dissequei meu posicionamento e por que não concordo com várias colocações do post. Minha crítica gira em torno da afirmação de que termos como “shounen” e “shoujo” representam um público real mais do que estilos de histórias originados em estereótipos de gênero. Sobretudo num mercado já saturado com variedades de shoujo pra homens e shounen pra mulheres, acho que esse tipo de afirmação é problemática, e leva a uma rotulação muito fácil por quem tem pouco conhecimento (coisas como “shounen é só lutinha” e “shoujo é só romance” – essa segunda, em particular, me ofende como fã de shoujo…).
            Mesmo não conhecendo a fundo a Shounen Jump, também considero natural que revistas se adaptem, umas mais, outras menos, às circunstâncias sociais e de mercado, como é natural que terminem quando deixam de ter um propósito pra existir, etc. Não fosse isso, elas não estariam servindo aos seus propósitos básicos de vender e entreter o consumidor, velho ou novo, homem ou mulher. Uma revista não é uma Igreja. Todo esse parágrafo é muito óbvio e indigno de discussão, na verdade.

            Então fico por aqui, e espero que tenha deixado claras minhas colocações. Confesso que ainda não entendi plenamente as suas, mas talvez pra isso me falte algum conhecimento específico de cultura japonesa, também. Foi bom poder trocar uma ideia, e parabéns pelo blog :)

          2. Olha, essa questão fica mais clara se a gente pensar em coisas que as pessoas levam mais à sério. A maioria da população do Brasil é católica/evangélica. Mas uma minoria é do candomblé. Ou pior, de seitas paganistas. Imagine que essa religião tem um grande templo onde é um dos únicos lugares onde podem rezar e que ele é aberto para visitações de qualquer pessoa. Mas os líderes decidem aproveitar a grande visitação de católicos e dizem que o templo precisa ter santos católicos para manter esse público. Adaptam a figura central do altar com uma cruz na mão.

            Não é a posição política que me importa aqui, mas a democracia vivida pela população. Claro que uma votação aberta, a maioria vence. Mas se a maioria sempre vencer, as minorias perdem seus direitos. E isso é injusto, seja qual minoria for.

            Quanto aos dados, eu segui o que havia nas postagens sobre o assunto. Realmente, não pensei que os dados podem estar mostrando o que se pretende mostrar.

            Eu não “sugeri”, é fato, ou pelo menos é o que é dito como fato pelo Oda. Mas algo que está no texto e muita gente ignorou é que “OS EDITORES” indicam uma maioria de público feminino, e que esse público pede romance, pede envolvimento romântico.

            Independente de como pensa o público REAL de shoujo, é inegável que a representatividade do shoujo, o que realmente vende nesse nicho, é romance ou tem um romance como diferencial para um shonen equivalente. Ao Haraido, Kimi ni Todoke, até Chihayafuru pode se incluir nisso. Para um editor, é isso que importa.

            Shonen e shoujo não representam pessoas, não representam indivíduos. Ninguém que precisa vender quantidade vai pensar em um público como indivíduos. Você falou exatamente o que eu venho falando. As pessoas pensam diferentes, mas um público PRECISA ser mensurado em estereótipos, ou ele nunca vai poder ser observado como tal. Quando esse estereótipo não puder representar um público, ele cai. Mas, por mais politicamente incorreto que seja, é a forma que se tem para medir um público dentro de um mercado como é o editorial.

            Eu, por exemplo, não me ofendo pelo shonen porque eu leio shonen por acaso. Leio muitas outras coisas também e não me enquadro no público. Não me sinto incomodado por isso. E sei que sim, revistas shonen tem um senso comum de ser battle shonen, mas acho que eu prefiro ser compreensivo com as pessoas do senso comum do que defender um gênero, qualquer gênero, que eu sei que é puramente mecânico e não orgânico. Simplesmente porque senão, é difícil controlar o mercado e manter empresas.

            Um debate futuro pode ser sobre isso, se os gêneros e a divisão demográfica ainda é pertinente. Mas, dentro deste assunto, isso ainda existe.

            Eu agradeço sua opinião. Talvez quando o assunto for esse, eu fale mais sobre shoujo mangá (que nunca foi o foco, só um detalhe), mas quando eu tiver um tempo, posso voltar aqui e falar especificamente sobre obras que são alteradas por x motivo.

          3. Caramba, 70%? Saiu de uma ficção científica esse dado? (Eu não saberia dizer já que sou moça e só entendo de história de amor.) De qualquer forma: “ONU contabiliza 57 milhões de homens a mais do que mulheres no mundo” (2010). Ah, mas numa coisa o senhor tá certo: tem mesmo mais mulher que homem no Japão – vamos dar uma checada nessa porcentagem certamente dramática e avassaladora? “Sex distribution (2010): male 48.69%; female: 51.31%” (Britannica Book of the Year 2011!)… Nossa. Uau. Maioria massacrante. Até dei uma choradinha aqui pelos homens.

            Dado extra, talvez de interesse: “Only 7.4 percent of Japanese companies have female leader.” Fascinante!

            Realmente, a ameaça da ditadura (?) da maioria em enfiar romance (??) em shounen (???) é uma Séria Preocupação.

  9. Com toda a licença, o senhor autor do post, tem alguma noção sobre o quê é gênero? Sobre o quê é um “menino” e uma “menina”? Suponho que não, pra ter a “audácia” de falar coisas como “o cérebro lida de forma diferente” ou querer palpitar no que moças e rapazes gostam e desgostam. Eu não vim aqui te dar aula, não, não tenho bagagem pra isso, mas vou te fazer um apelo meio clichê VAI ESTUDAR, sério. Dá uma lidinha. Joga gênero e identidade no Google. Até mais e boa sorte na sua vida de blogueiro.

    1. Eu dei uma busca na página pra ver se achava onde eu falei uma besteira descabida e que eu discordo e não achei. Me desculpa, mas acho que você está exaltada. Tenho audácia pra caramba, mas não tenho essa cabecinha que você tá plantando, não. Se duvida, faça a busca. Control+F, coloca essa besteira lá e vai ver. Nada. Ou seja, calúnia. Fazer o quê? :/

      1. Eu li seu texto, por incrível que pareça! Ah, e pode dar Control+F. Joga cérebro na busca que vai aparecer um exemplinho. Então.

    1. Sim, você tem preconceito com as merdas? Vai levantar essa bandeira? Essa postura retrógrada? Deixem as merdas livres!!! Viva o direito de ser um merda!! Sou um merda com orgulho!!

  10. Atenção: antes de ler os comentários, leiam a matéria. Especialmente se você veio porque “o autor de One Piece falou que shoujo é só romance”, leia esse trecho.

    (…) não é uma birra por uma suposta ascensão do gênero shoujo no mercado de mangás. Mas se volta à postura burra de editoras e produtoras de anime que se deitam preguiçosamente em pesquisas e fazem material para garotos, mas com um pouco de apelo para garotas e um fator de moe para os otakus. Tudo para maximizar as vendas e aumentar a receita.

    Obrigado pela compreensão de texto.

    1. não filho teu post que é uma merda machista e imbecil msm, se preocupa não pq infelizmente eu li tudo e sei do que tô falando (ao contrário de vc)

  11. Esse post é o Sakuda dando parabéns ao Oda e incentivando a postura de não mudar a história de um mangá só pra vender mais, ou eu perdi alguma coisa?
    Porque tem tanta gente xingando aqui?
    Butthurt?

  12. O Oda possui a típica visão estreita de pessoas que não têm muito contato social com um determinado grupo. A declaração dele é quase equivalente a dizer: “Os muçulmanos são maioria no mundo, mas não vou colocar um personagem com o golpe ‘Grito de Alah’ para atrair este público”

    Este tipo de coisa de ‘meninas preferem romance’ pode funcionar no Japão, onde ser de um determinado gênero é praticamente uma casta social que exige certos ditames comportamentais. Mas creio que já comentaram aí embaixo sobre este lance de achar que meninas só gostam de Little Ponny (pelo menos é o que o McDonalds acha…).

    E não creio que faz sentido uma coisa: se 70% do público da Shonen Jump JÁ é feminino, significa que eles JÁ estão fazendo um bom trabalho em atrair este público, não? Mudar seria idiota.

    E de mais a mais: meu manga favorito na grade da JUMP hoje é Hinomaru Zumou, talvez o manga MENOS direcionado a meninas da revista, falando de um esporte exclusivamente masculino e que mal tem uma personagem feminina para contar história.

    Por mim, a Shonen Jump pode sim continuar exatamente do jeito que está. No momento, só Zumou me importa.

    1. Jussara, acho que o inicio do seu segundo parágrafo já mata todo o resto. É só sobre o Japão, pessoal que produz no Japão raramente olha pra fora do mercado interno. Então funciona. Revistas shoujo têm tantos romances quanto revistas shonen têm batalhas. E isso não é por acaso ou por imposição social, editorial, etc.

      Mas o que muita gente ignora é que no Japão, até patricinhas e leitoras de Crepúsculo leem mangás. É um cenário diferente do Brasil, onde o próprio público geral de leitores de mangá ou de qualquer coisa já é muito menor. Aqui, o próprio perfil da leitora de mangás é um perfil um pouco diferente e é por isso que é duro trazer shoujo pro país. Os shoujos que dão mais certo no Brasil são exatamente os que fogem do romance, que é o que vende no Japão dentro do gênero (tipo Ao Haru Ride). Mas por essa impressão peculiar do Brasil, não muda o fato de que no Japão, o público feminino geral (que é grande e variado) acaba colocando no topo de popularidade mangás românticos. E que isso se reflete também na hora de fazer pedidos para os autores de outros mangás que elas leem.

      1. Eu entendi. A polêmica foi pegar uma declaração do Oda, que só funciona dentro do sistema X e querer transportar para Y. O Oda, de todos os autores da JUMP, deve ser o que menos se importa com o mercado externo de quadrinhos, até porque One Piece parece que não “vira” no ocidente, como um Naruto ou Inu Yasha virou.

        Sobre os tipos diferentes de meninas compradoras de quadrinhos, a inclusão de romance ou não num shonen ou de batalhas num shojo… isto é algo que todos os mercados de quadrinhos do mundo ainda precisam superar. Um preconceito cultural.

        Eu ainda acho que as patricinhas leitoras de Crepúsculo – ou as donas de casa leitoras de 50 Tons de Cinza – poderiam sim a vir gostar de um Naruto – ou Guerra dos Tronos – se isto não fosse visto como algo “masculino” e “não-apropriado” para elas. Sim… conheci muitas meninas que sequer se atreviam a começar a ler quadrinhos ou livros porque tinham vergonha. – a infeliz declaração das mães, que avisam suas filhas para escolherem Little Ponei ao invés de Transformers porque “robô não é coisa de menina” pesa mais do que você imagina.

        E só para registro: mulheres são maioria de leitoras em TODAS as partes do mundo. Seja para livros, quadrinhos, light novels ou qualquer outra coisa – diabos, até como jogadoras de video game estamos ultrapassando os homens. O sistema shojo/shonen nem faz mais sentido hoje em dia, se quer a minha opinião.

        De mais a mais, o quadrinho que mais vende no Brasil é Turma da Monica Jovem, que seria um Shojo Slice of Life para mim.

        1. Jussara, onde eu fiz isso? Eu deixei bem claro, fiz comparações, dei exemplos….

          Quanto ao preconceito e a inserção de romance… Não é preconceito você achar que isso é necessário? Qual o problema em uma história não querer ter isso? Porque isso é necessário a ponto de ser “correto” mudar a vontade de um autor?

          Existem shonen de romance, inclusive pelo menos três dos meus top 5 são de romance. O que eu acho errado é alterar uma história que não precisa disso, como Naruto ou One Piece.

          E, “poderiam vir a gostar” não. ELAS JÁ GOSTAM. 70% do público é de mulheres, como eu escrevi. Nada as impediu disso. O pensamento de que “isso é pra menino” afasta garotas ainda existe, mas é bem menor e cada vez diminui mais. As mulheres leem sim, e ponto! Seja One Piece, Naruto, Game of Thrones e até a Playboy, tem uma parcela considerável de mulheres lendo.

          Sua parte “só pra registro” ESTÁ NO TEXTO DO POST!!!

          Esse seu comentário me incomodou muito pela desviada de assunto e desmemorização do que você, acredito eu, leu no meu texto original. Tudo pra levantar esse assunto, que nem é o ponto do post! E você é uma pessoa inteligente, não creio que precise se perder nessas discussões bestas.

          Se eu escrevesse sobre esse mesmo assunto na década de 70, estaria a falar sobre o Gekigá e de como Tezuka é corajoso por se manter fiel ao mangá infantil. É essa a situação, para quem não procura cabelo em ovo.

          1. Desculpe, não foi minha intenção.

            Mas vou repetir: eu entendi o que você quis dizer, é que do jeito que foi colocado muita gente só enxergou “shojo” e “meninas só gostam disto” – só um erro de semântica. E eu só apontei exatamente onde, no texto, o pessoal desviou a discussão.

  13. Concordo com o Oda! A partir do momento que se interessa por um manga shounen, vc sabe que vai encontrar características desse “gênero” no dito manga, assim como sabe o que vai encontrar num shoujo e em outros gêneros igualmente… se quer ler um romance, leia um manga shoujo, gênero que tem maior enfoque nisso, fim. As classificações servem para ajudar a encontrar algo que interesse leitor, para separar as obras conduzir mais facilmente a algo que ele queira ler… Isso é natural. Não é questão de shoujo é para meninas e shounen é para meninos, na minha concepção são dois tipos de mangas com abordagens diferentes e as classificações funcionam para facilitar que o leitor encontre o que deseja, exemplo: “oh, hj acordei com vontade de ler um manga de romance, o gênero que tem mais enfoque nisso é o shoujo, vou procurar em mangas desse tipo algo interessante para ler”… Ou: “enjoei de romance, quero ver um pouco de pancadaria, o tipo de manga que aborda isso é shounen, vamos ver se gosto de algo”… Simples.

  14. saindo desse assunto homem e mulher (que não dou a minima) o que realmente me chamou atenção foi isso de mudar uma historia só pra agradar determinado publico, eu já suspeitava que tinha isso, mas queria acreditar que o autor poderia se manter fiel a historia que ele já queria contar, decepcionado. Parabéns oda por não mudar seu manga pra agradar terceiros

  15. Post no XIL? Até me assustei quando vi, finalmente.
    Enfim, concordo com a parte em que não se deve mudar uma história só pelo público, porque primeiro: você acaba não contando a história que queria contar, e segundo: corre um alto risco de ela ficar horrível, porque vai se moldando a cada mudança de humor dos fãs.
    Então nessa questão o Oda está certo, se muita gente, inclusive muitas mulheres, gostam de One Piece, foi pelo que ele fez até agora. Se ele mudasse de foco de repente seria bem estranho. Mas bem que ele podia dar uma melhorada nas personagens femininas, faz um tempo que elas andam meio inúteis.

  16. Textinho polemista à toa.
    Boa história é boa história, e pode ter porrada, golpes especiais com nome gritado e também romance, porque não?
    O comentário do Oda é machista sim. O Japão ainda é um país machista, afinal.
    Mas é um país em mutação assim como todos os outros. O shounen vai evoluir assim como o shoujo, o seinen, o josei e por aí vai. Pra que direção ele vai, não sabemos.
    E o manga vai se adaptar ou não vai vender. No mercado japonês só sobrevive o que vende bem.
    Oda e seu One Piece vendem horrores, então, sua fórmula ainda tem público. Quando deixar de funcionar, ele vai ter que mudar ou vai sumir do mercado.

    1. Polêmica nunca é à toa ;) Pelo menos, nunca te vi comentar aqui. E você deixou sua opinião. Nada é à toa quando rende a mobilização, ser a favor ou contra não é minha meta, mas ter sempre pessoas inteligentes dando sua opinião e discutindo o que se diz. É por isso que os comentários sequer são moderados, todos podem se expressar porque eu quero que todo mundo comente.

      Acho que o ponto que eu mais discutiria no seu comentário é onde se pensa em shonen, shoujo, seinen, etc, como uma obra, e não como uma divisão de público leitor. Dentro desse pensamento, o “shonen” (entre aspas, pra não confundir) só mudaria se os meninos passassem a não gostar de alguma coisa. Já acontece, no Japão, existe um distanciamento dos garotos com os carros que nunca houve antes. Mas evoluir o “shonen” para abrigar mais tipos de leitores seria criar um subgênero, como já existe, o de shonen voltado para garotas. Tem revista pra esse público.

      Uma obra deve ser pensada como uma obra fechada. Ela não tem tempo e não tem prazo de validade. Se você leva 20 anos pra terminar, é um detalhe. Mas ela será lida no futuro provavelmente mais tempo do que esses vinte anos, como uma obra só, não como uma obra que viveu um tempo. Pensar a curto prazo é tornar sua história um fruto de uma época e não um retrato dela. Frutos apodrecem e se vão logo depois de maduros, retratos amarelam, mas duram bem mais.

  17. E acho que esses editores são preguiçosos e deviam notar que independentemente de sermos moças nós não necessariamente estamos presas no shoujo. Eu mesmo assistia quando criança animes dentro desse padrão, mais acompanhava também Pokémon, Digimon, Megamen, Megabots e Dbz. Na pré-adolescência parti pra Naruto e um pouco mais tarde passei para o seinen. Eu amo/sou mangás com temáticas adultas (apesar de má representação das personagens femininas. O que não o mesmo que falta de romance minha gente), porém não estou limitada a um gênero. Eu leio shoujo, leio shonen, encchi, horror, slince of life e não quero que de forma alguma todos esses gêneros sejam romantizados sacas?

    1. Jéssica, o problema em seu argumento é basear um público muito maior em você. Como exemplo, claro, sua vida é um modelo de muitas outras garotas, principalmente as que leem mangá no Ocidente. Mas no Japão, até mesmo aquelas patricinhas que só falam de moda e garotos leem mangá. É um público feminino diferente do público feminino de mangás no Brasil, por exemplo, onde as garotas são realmente mais parte de um público geral (e que não compra shoujo) do que parte de uma divisão. No Brasil, os leitores de mangá já são um grupo pequeno demais para ser dividido. No Japão, todo mundo lê mangá, mas só porque tem mangá para todo mundo escolher o que quer ler.

      1. Então porque diabos as patricinhas iriam ler algo como shonen? Será que porque o pública masculino está mudando e os mesmos estão partindo pra outra? E a estratégia deles é pegar essa nova mentalidade masculina e continuar atraindo-os? Eu entendo que nem todas tem os mesmos gostos do que eu mais se o problema fosse atrair as moças eles não romantizaria tudo sacs. Eles apenas manteriam os gêneros como estão e dominariam de boas.

        Dá uma olhada nesses japoneses que gostam de joguinhos de meninas tímidas e inocentes:

        http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/01/desinteresse-por-sexo-gera-crise-nacional-no-japao-por-falta-de-bebes.html

        1. Porque não é proibido, está a mão e é legal. Pelo mesmo motivo que outra pessoa, seja gorda, negra, branca, pobre, rica, doente, muçulmana leria. Porque ela quer.

          O público masculino não se afastou. Ele diminuiu. Eu escrevi no texto. (nemlinemlerei detected!!). A proporção mudou porque realmente tem mais mulheres no mundo, no Japão e no mercado de mangás.

          Não tem nova mentalidade masculina nem velha. Tem o que os garotos querem e o que eles não querem. No dia que garotos preferirem outra coisa que não duelos de espada, pokemon, no campo de futebol, etc, as revistas shonen se adequam A ELES. Porque isso é o que uma revista shonen deve ser, o que um garoto gostaria de ler.

  18. Se alguém aqui já leu Bakuman, sabe que seguir todas as sugestões que os leitores escrevem nas cartas é roubada. É válido e bem-vindo escutar a opinião dos fãs, mas se todas forem seguidas a sua história fica uma verdadeira colcha de retalhos. O autor pode, aliás DEVE escrever a história como ele bem entender, mas uma declaração altamente sexista dessas foi completamente desnecessária. Oda não quer romance em One Piece por que não acha que combina com a história? Beleza, os leitores podem procurar isso em outras histórias, só não precisa falar que não quer por que romance é coisa de garotinhas. Gente, isso é um pensamento tãooo ultrapassado, de quem não conhece os romances eróticos claramente voltados para homens ou não sabe que um dos maiores mangás shoujos de sucesso do momento e vai ganhar um anime em Abril tem um protagonista homem ( que aliás é o ápice do esteriótipo de macheza). As mudanças estão ai, a passos lentos (pois como a Ana Carolina falou vejo poucas concessões nos shonens para agradar o público feminino) mas vão chegando e espero quem um dia sejamos mais evoluídos e possamos apreciar os mangás para além do rótulo “de garotos” e “de garotas”.

    1. “só não precisa falar que não quer por que romance é coisa de garotinhas”. Ué, mas se as garotas, que mandam cartas pra ele, são a maioria dos que pedem romance, ele não está errado em dizer isso.

  19. muito bom Sakuda saudades de ler algo do XIL e concordo em parte com vc bem sei que se uma revista é shonen acho que é pra editora se voltar mais pro publico masculino mesmo que uma boa parte de garotas leiam a revista o foco principal dela deve ser os garotos porém também acredito que a jump deva investir de alguma forma no publico feminino mesmo que um romance leve e rápido como o do final de naruto deve servir pra isso

  20. Pq romance = pra garotas, ta certinho. mulher só gosta de romance mesmo e shojo=romance. E garotos também não podem curtir romance, opa, sai daqui, quero macheza. Não é como se a piazada torcesse pro Kenshin ficar com a Kaoru na época de Rurouni Kenshin… sério, velho…?

    “As garotas são bem-vindas para entrar nesse clube do Bolinha. Mas só não vale mudar a decoração!” Eu tava bem de boa até ler essa parte, mas você está sendo simplesmente escroto. Pode até ler MINHA história mas nada de trazer suas besteiras de mulherzinha pra “minha lutinha”, é isso mesmo? Se vier com ‘eu não quis dizer isso’, te aviso que, bem, foi isso que você disse.

    E vender uma figure a mais pra agradar meninas? Alguém me avisa que editora faz isso. Desculpa, mas é exatamente o contrário; a imensa maioria de figures é pra meninos, com infinitas versões das meninas gostosas de OP e Fairy Tail por exemplo! É um milagre achar figures de meninos e ter a nossa alegria, e isso graças a esses novos mangás que caíram no gosto feminino como Haikyuu e Kuroko, obrigada Shonen Jump por ser capitalista e perceber que nossa, meninas também curtem essas coisas.

    Se é a vontade do autor tem que ser respeitada obviamente, e seguir cartas de fãs é sempre roubada, mas você tá capitalizando uma declaração simples e genuína do Oda a respeito de fazer a história que ele quiser, pra levantar uma bandeira de “não quero essas besteiras de garota no meu mangá de lutinha” e “podem vir e olhar, mas fiquem no cercadinho”. O que é simplesmente escroto.

    Isso não tem nada de louvável. Louvável são as garotas sendo atendidas em coisas que antes eram privilégio do Clube do Bolinha, como figures, games e sua cota de fanservice (que existe pra vocês nas melhores e mais bem feitas histórias inclusive One Piece) Louvável é incluir personagens travestis e transexuais sem o estigma de zombaria. Louvável é incluir personagens femininas que sejam completas, não muleta de um personagem homem.

    Lutar pra manter o status quo de um pensamento de décadas atrás é teimosia de quem sempre teve um espaço esse tempo todo e nunca parou pra pensar na ‘heroína shonen’ como algo mais do que uma escada pro herói que te representa.

    O aumento do público feminino vai sim mudar a forma como as coisas são feitas, oras. Isso acontece o tempo todo, tudo que fica parado no tempo tá fadado a desaparecer. Mangá shonen, nenhum deles aliás, é um bastião sagrado que deve ser protegido das supostas” influências malignas”.

    Na moral, tivemos décadas relevando e aguentando panty shots, esfregação em peitos, personagem femininas insossas/plot device e outros absurdos do male gaze como “coisas normais” pra curtir as histórias. Agora, os meninos vão sim conviver com as concessões feitas pra nós também, e quer saber? Torço muito que esse sexismo de “histórias puramente pra meninos ou meninas” desapareça de vez, refletindo uma sociedade cada vez mais igualitária e com papéis de gênero mais flexíveis pra homens e mulheres.

    Lamentável e retrógrada essa bandeira, Sakuda, lamentável.

    1. Acho que a Ana foi concisa. Não sei muito bem se ainda há algo a acrescentar, mas deixarei minha opinião.
      Essa rotulação de “manga puramente de menino(a)” só gera segregação e preconceito, principalmente de um público infantil que ainda não possui senso crítico apurado e é altamente influenciável(em específico no Japão, que é um país extremamente machista). É normal ver coisas do tipo : “Você lê fulano ? Mas isso é de homem, Iiih, que machona.” ou “Você lê cicrano ? Mas isso é de menina, para de ser viadinho.”

      “Sempre que se muda sua história para se adaptar aos novos tempos, você trai um público que gostava de seu trabalho. Você trai, principalmente, o que VOCÊ era quando criou sua história e se torna escravo de tendências, escravo do momento.”

      Olha, Sakura, nesse aspecto terei que discordar veementemente. Você não necessariamente trai um público que gostava do seu trabalho, porque esse público, assim como você, amadureceu e não mantém as mesmas opiniões de anos atrás. É um orgulho bobo que apenas faz você parar no tempo. Não é porque quando você criou tal história você tinha tal pensamento, que ele não está suscetível a mudanças. É da divergência de ideias que surge a luz.

      Se a demanda maior é de mulheres, nada mais natural que ouvir o que elas tem a dizer e, se achar interessante, aplicar no contexto da trama. Você não precisa quebrar todo um enredo para inserir pequenos detalhes que agradariam o público feminino e, possivelmente, até mesmo enriquecer a história. Mas se não quiser, tudo bem, não é como se o autor fosse forçado a isso. O que não pode é bloquear de antemão sugestões(femininas) apenas porque não estavam no escopo original do projeto. Uma obra, assim como seu autor, evolui com o tempo. Nada é imutável. Um exemplo que consigo pensar no momento, é o romance do Superman/Mulher Maravilha, em que a DC se adaptou a crescente onda feminina nas HQ’s e criou uma revista dos 2. E, pelo menos subjetivamente falando, acho uma das melhores atuais da DC.

      Gosto muito dos textos do Sakuda, mas acho que foi infeliz nesse, todavia, sabendo que ele é um cara razoável, tenta dar uma refletida..

      1. Cedrim, eu que discordo veementemente de você. Respeito sua opinião, mas jamais um autor deve alterar seu trabalho baseado em um acaso, como o de atingir um público indireto. Ainda mais porque se atingiu, é porque o que fez até aqui está certo desse jeito e não da forma que supostamente irá agradar essas pessoas. É como você namorar com uma pessoa e querer mudar ela. Você gostou da pessoa como ela é ou quer uma pessoa que possa ser moldada pra lhe agradar?

        Ser autor exige pulso firme para contar a história que se quer contar às vezes, pelo bem da própria história. E parar no tempo não é e nunca foi desqualificação de uma boa história, porque elas devem ser atemporais. Histórias que se adequam a um público durante o tempo funcionam apenas para o público em tempo real, e olhe lá. Quem ler depois, lerá uma história inconstante.

        1. Então, Sakuda, peço desculpa se não consegui me expressar direito. Não quis dizer que um autor deva mudar sua obra por mero acaso. O que acho válido é o autor levar em conta as opiniões do público(que possivelmente pode atiçar a própria criatividade), analisar, e se ele encontrar alguma sugestão aprazível, usar como referência.

          Sobre a questão da mudança no relacionamento : Concordo. Você gosta da pessoa pelo que ela é, mas, hipoteticamente, digamos que após um tempo, você começa a notar que essa pessoa sempre deixa o controle remoto na estante afastada da TV. Não é nada absurdo ou prejudicial, mas não acha interessante sugerir que ao invés de deixar um pouco mais distante, coloque ao lado da TV ? Você obviamente ainda gosta daquela pessoa e continuará gostando, mas apreciaria se ela mudasse nesse aspecto. Pode não ter muito a ver com o tema, mas é apenas para sintetizar a questão de que não acho errado você querer mudar algo mesmo já tendo conhecido de outra forma.

          Também concordo que o autor deva ter pulso firme, caso contrário, iria ficar perturbado e se dobrar a qualquer crítica negativa. Mas também não pode se colocar em um pedestal intocável. Permita-me usar como exemplo Hokuto no Ken. O mangá é bom, contudo, utiliza a mulher apenas como um prêmio a ser conquistado, chegando ao extremo de ignorar seus sentimentos em detrimento do homem. Presumindo que o mangá ainda estivesse em publicação, seria interessante o autor entender que aquele pensamento de quando ele iniciou não era legal e assim desenvolver a mulher como entidade individual, não apenas bagagem masculina.
          Destarte, o autor teria divergido do que se propôs originalmente, no entanto, não significaria que foi um erro. A sociedade está em constante evolução e antigos conceitos estão sendo moldados na tentativa de proporcionar harmonia.
          Novamente, concordo que o autor deva manter pulso firme, mas acho que(principalmente em obras longas) ele deve estar sempre atento ao andar da sociedade.

          Abraços.

          1. Então, Cedrim. Tem autores que preferem até se isolar, como acho que é o caso do George Martin, para não ler e não ser influenciado por ninguém. Pode chamar de orgulho de autor, purismo de ideias, etc, mas se ele é o autor, uma parte do ofício dele é saber como trabalhar melhor. Não acho errado dar ouvidos ao que falam mas, como toda crítica, você tem que ouvir 10% para aproveitar 1% que realmente é relevante. O resto é “Ai, eu não acredito que você matou meu personagem favorito”.

            Na questão do exemplo, eu fui lendo e discordando. Eu detesto que o controle esteja ao lado da TV. É contra a praticidade! Você tem um controle que é remoto, para permanecer remoto à TV. Eu não quero ter que ir à TV para poder ligar ela com o controle, é ilógico. Por isso, se tentassem mudar essa minha forma de pensar, teriam que ser muito contundentes. Mas na produção de uma obra, isso pode ser ainda pior. Porque não é simplesmente uma besteira como controle da TV, mas o andamento de um filho, uma criação. E vai dizer a um pai como criar seu filho…

            Quanto à Hokuto no Ken, o que vocÊ tá pedindo é pra transformar uma história que se firma na cultura do macho dos anos 80 em algo mais sensível. Mas porque o Tuxedo Kamen não tem uma personalidade marcante e ninguém lembra? Ele é praticamente uma porta que arremessa rosas! Porque são irrelevantes, ele e a Yuria! Quem manda são os protagonistas, quem os apoia são os personagens secundários de maior destaque. Fora deles, se perder em aprofundar personagens desimportantes é perda de tempo e de páginas. Eles prestam ao que são necessários.

            Acho que quanto mais “cheio de dedos” ficam os autores para criar suas histórias, mais insossas ficam as páginas que se preocupam demais em não ofender até os mais sensíveis e agradar gregos e troianos.

          2. Nada a declarar sobre o 1º parágrafo, concordo com sua opinião.

            Após reler o comentário, percebi que não foi um exemplo muito bom. Pode-se levantar diversas conjecturas sobre o caso. Como, por exemplo : A pessoa preferia deixar na estante pois pegaria menos poeira ou simplesmente esquecia. Mas isso não vem ao caso. Não tenho intenção de mensurar o singelo exemplo com uma obra. Como disse anteriormente, tinha apenas a intenção de “sintetizar a questão de que não acho errado você querer mudar algo mesmo já tendo conhecido de outra forma.”

            Sobre o Hokuto no Ken, eu não me referia em específico à Yuria, e sim, a Lynn. Por isso, resolvi reler o volume final e percebi que o autor mostra que foi errado o Kenshiro ignorar os sentimentos dela e a deixa seguir seu coração. Faz muitos anos que li e estava com uma lembrança errônea do mangá.

            Realmente, Sakuda, quanto menos intromissão, melhor. Após ler seu último comentário, entendi melhor o que você quis passar no texto e reconheço que estava equivocado, sendo talvez um pouco utópico. Para um mangaká, que o tempo livre é escasso, não seria produtivo ficar se atendo às diversas sugestões do público. Agradeço por ter elucidado esses pontos.

            No mais, obrigado pela discussão saudável.
            Abraços.

          3. É sempre bom ter uma boa conversa entre pessoas inteligentes e bem intencionadas. Espero que isso tenha te motivado a voltar mais vezes aqui. E vai ser sempre bem-vindo :)

      2. Apesar de concordar em parte, acho que NENHUM autor deve ceder à vontade dos fãs. Sejam homens, mulheres, ateus, muçulmanos, cristaos, afro-descendentes ou portadores de necessidades especiais…

    2. Clap clap clap clap clap
      Só vejo essa discrepância de homem pra mulher em mangas shounen e afins… Lendo seinen o universo os trata com igual tanto no entendo com fanservise(é MSM sendo seien existe um pouco de fanservise)
      E essa bandeira do Oda de ser fiel ao público original Kkkkkk ele esta em um revista onde os mangas são registos completamente pelo publico atual…se não vende é cancelado na MSM.hora kkkkkkk

      1. O homem fatura R$40.000.000 por ano!
        E olhe quantas mudanças ele trouxe para o OP nos últimos arcos para agradar os marmanjos:
        Os peitões da Nami e Robin e a Rebecca extremamente sensualizado naquele traje de luta.

    3. Ana Carolina, acho que você resumiu muito bem tudo aquilo que eu acho que está errado na bandeira defendida pelo texto. Arrasou mulher!

    4. Eu sempre gosto dos seus comentários, Ana. E é por isso que te recomendo uma releitura.

      ” Não os trair por causa de popularidade ou para vender uma figure a mais. ”
      Popularidade = garotas, vender figures = moe otaku. Duas abordagens diferentes.

      Muito do que você escreveu eu concordo e nem é o tema do assunto.

      As pessoas devem sim, conviver juntos e compartilhar as experiências, como a de uma boa história. Mas acho utópico demais isso de que não existe diferença entre meninos e meninas. NO GERAL, existe diferença sim, por mais que existam meninas que brincam de espada e meninos que brincam de casinha. E eu mesmo brincava com a minha irmã, tanto com o que ela brincava quanto o que eu queria. E nem é errado um menino preferir brincar com bonecas ou uma menina jogar bola. Mas, independente do motivo, a maior parte dos garotos gostam de briga de espadas e golpes especiais, e a maior parte das garotas, de histórias românticas ou dramáticas. É a partir disso que se pauta o que se faz dentro do gênero shonen ou shoujo.

      As pessoas são diferentes umas das outras, independente de ser menino ou menina e devem ser tratadas como iguais, claro. Mas a divisão de público é uma forma não só comercial de se trabalhar, mas também de se encontrar com o público, deixar um subentendido do que se espera. E o Japão tem revista para todos os tipos de gostos, meninos, meninas, gays, yaoi, otaku, familiar, business, gambler, inclusive revistas shonen para meninas, ou seja, de histórias tipicamente shonen, mas focadas para as garotas que gostam de shonen. Aliás, o que menos falta são revistas de sugêneros para meninas, o que é óbvio, se a maior parte do público leitor é feminino.

      Meu ponto é se é válido mudar a proposta editorial, como aconteceu antes por causa do Gekigá, ou se os leitores de shonen (que não necessariamente são garotos) merecem ter suas histórias sem a alteração que acontece não por vontade do autor ou por direcionamento de trama, mas por causa de uma suposta popularidade. O resto, é polêmica gratuita.

        1. Yaoi não é necessariamente para gays, mas para garotas que fantasiam com gays. Muitas vezes, é focado mais em fantasias femininas do que em sentimentos reais e situações que os homossexuais realmente enfrentam. Assim como o hentai. Só que diferente do hentai, o caso do yaoi, é uma fantasia em terceira pessoa. Meio que voyeur.

          1. O mangá yaoi é um mangá criado para o público feminino, geralmente jovens adultas (OLs, ou office ladies, como são conhecidas as funcionárias de escritórios japonesas; universitárias; e demais profissionais) ou até mesmo estudantes colegiais.
            Os mangás criados para o público homossexual masculino (“gays”), são conhecidos pelo termo “bara” (rosa, em japonês, flor que está associado à homossexualidade no Japão).

    5. “Louvável é incluir personagens travestis e transexuais sem o estigma de zombaria.” Está se referindo a Jump? fiquei curioso. Quais seriam? os de HxH?

  21. Acho que essa postura conservadora de ”ah,vamos manter os costumes e a tradição do shounen” uma atitude meio idiota.Não acho que fazer ”uma história puramente para garotos” (classificar coisas como ”de menino e de menina”,já é algo que deveria ser ultrapassado) seja algo louvável.Cada história tem suas particularidades.Em One Piece,um romance não combinaria bem com a história,mas existem outras histórias que este pode ser utilizado e enriquecer a trama,ao invés de ”desviar demais”.
    Acho que cada história,individualmente,deve se manter no tema que se propõe,mas dizer ”E, não me entendam mal. As garotas são bem-vindas para entrar nesse clube do Bolinha. Mas só não vale mudar a decoração!” acho meio escroto,de certa forma.Afinal,o que é uma ”história para garotos” e uma ”historia para garotas” ?

    1. “Afinal,o que é uma ”história para garotos” e uma ”historia para garotas” ?”

      Você não entendeu o que o sakuda quis dizer. A questão não é fazer uma história SÓ para um determinado público, a questão é fazer uma história VOLTADA para determinado público. One Piece é uma obra voltada para “meninos”, SE ela atrai outros públicos [e põe “outros” nisso… OP é praticamente universal…] no final é apenas acaso.

      O ponto é que a vontade do autor deve ser respeitada. Ele não deve colocar elementos na história apenas porque um outro público os quer [por mais que essa obra tenha apelo a eles também].

  22. Concordo plenamente com que o Sakuda disse. Se o autor mudar a obra por causa dos fans ou tiver medo de fazer tal, coisa…. a história vai morrer! O Oda tá certo em não mudar o rumo da obra, pra.agradar o público feminino; ele tem que fazer a história do jeito que ele quer mesmo.

  23. Acho perfeito o fato do autor ser fiel ao que ele acredita ser certo. Se todos os autores forem querem agradar a todos, teremos o desastre que está ocorrendo na DC e na Marvel

  24. Sakuda, o seu texto foi genial! De fato atualmente as garotas são muito mais participativas no consumo e na produção de animes e mangás e eu acho isso muito bom! Quanto ao Oda, eu considero que as lutas de One Piece e humor escrachado agradam tanto garotos quanto garotas. Acho interessante o autor se manter ligado ao seu público original e o romance embora não seja o enfoque de One Piece, pode ser explorado em outras mídias como fanfics e fanarts.
    Acredito que a participação mais ativa das garotas neste meio trouxe facetas que tornaram os shonens um pouco mais amplos, fugindo um pouco do lugar comum de lutas e perseguição de sonhos/ metas e incluindo um pouco mais de enfase no romance, a exemplo do que aconteceu no capítulo final do Naruto.

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