LEDD – Lobo Borges: De fã à parceiro

Yo!

Hoje, comemorando o fim da segunda etapa de Ledd e o lançamento (em breve) do segundo volume, eu preparei um bate-papo com o Lobo Borges, desenhista de Ledd, para esta matéria especial. Vem comigo!

Lobo Borges é de Recife, de onde faz a arte toda de Ledd à distância, longe do roteirista de São Paulo e da editora, de Porto Alegre. A cada página que cria, ele evolui um pouco e podemos sentir a grande diferença hoje, quando Ledd completa seu segundo volume, 8 capítulos e 200 páginas (mais ilustras e capas). Para qualquer desenhista nacional, é um número invejável de trabalho, ainda mais em uma mesma história seriada.

Com 24 anos, ele está no mercado há um. Começou com Ledd mesmo. “Sei que já devo ser um por estar dentro do mercado, mas o sentimento de que sou profissional ainda não bateu com toda a força. Acho o tempo todo que tenho que evoluir meu traço e melhorar em um monte de quesitos na narrativa.” Ele se considera um cara com sorte, que deu uma chance pra ela fazer as coisas acontecerem. “Ledd é meu primeiro trabalho e eu já começo com uma editora com nome no mercado, com um chefe, JM Trevisan, que tem mais de 20 anos de experiência de mercado (Trevisan corrige: ’18 anos. Não aumenta minha idade, pô!’) no ramo do RPG e literatura. Sem falar que já comecei com uma série. Sou um filho da mãe sortudo.”

” Sobre seu trabalho em Ledd, Lobo explica o quanto precisou de esforçar no começo. “Trabalhar em Ledd é muito legal. Aprendi muito nesse primeiro ano da série. Coisas báscas que você deixa passar como composição, diagramação, expressão no desenho, fluxo, etc. Além do que, Ledd me dá a oportunidade de evoluir meu traço, aos poucos, por ser um trabalho que tem certa frequência.”

Quando era um amador, Lobo não era do tipo participativo, não fez fanzine, não participou de grupos ou projetos… Ele só jogava RPG e fazia as ilustrações para guardar em sua pasta. “Levava a pasta para eventos de anime, mas nunca encontrava profissionais por lá. Se estavam, estavam como civil. É difícil encontrar essa galera por lá, por falta de tempo, normalmente o cara fica entupido de coisa para fazer. Agora eu sei disso.”

Falando sobre o que atrapalha os artistas novatos, Lobo cita a falta de auto crítica “Precisa saber aceitar uma crítica. O EGO é o grande responsável por manter fora da produção nacional futuros grandes talentos.” Mas ele mesmo passou por isso, achava que poderia ser melhor do que os profissionais. “Acho que todo moleque acha isso. Shonens usam esse pensamento para contar suas histórias (Você é moleque, mas pode tudo!!!!!). Isso é bom, é o que vai te manter vivo até o dia em que você for se tornar profissional. Aqui vem o lance das pílulas de Matrix. Ou você escolhe a realidade e vê que tem que melhorar muito ou volta a viver em seu mundinho imaginário onde você é o cara.”

“Quando você se dá conta que desenho não é só riscar o papel, seu chão some. Que quadrinho não é só um conjunto de imagens com balões, você encolhe. Que tudo isso gira um mercado, você se sente fraco. Então vem o esforço, o tempo, a evolução. O sentimento de que você começou a entender como as coisas funcionam e que ainda tem muito a aprender. Você começa a entender a Matrix .”

Aos 19, ele entrou em um curso de desenho. “Também foi no curso que encontrei minha patroa, J”. No curso, ele passou a desenhar mais “Dai em diante comecei a investir mais no blog. Tudo que eu desenhava ia parar nele.” Lobo começou a mostrar uma evolução nessa época, e um pouco mais de consciência de si mesmo. Chegou a hora de se olhar no espelho.”Foi nessa época que acordei pra vida e descobri que tem MUITA gente melhor que eu lá fora. É quando você começa a estudar com força para um dia chegar no nível dessa galera e, quem sabe, superá-los.”

E quem o Lobo Borges quer superar? Em quem ele se espelha? “Aí é que tá a magia da coisa. Você começa mirando um cara e quando começa a subir em direção a ele, seus olhos se abrem e seu universo de expande. Milhares estão à sua volta fazendo a mesma coisa, e milhares estão à sua frente. E ai vem o perigo do cara desanimar, achando que é impossível chegar lá.” Mas se existe um caminho, é preciso saber segui-lo. “Para me manter vivo, eu escolhi ‘nortes’, Kishimoto, Oda, Urasawa, Obata, Kentaro Miura…. Um conjunto de caras que comecei a estudar. Sem eles, já teria parado a um bom tempo.” Mais alguma dica para complementar? “Outra coisa é meu caderninho de anotações. Sempre escrevo alguma coisa nele que consigo deduzir apenas da leitura de um quadrinho (mesmo que seja um equívoco no momento). E finalmente, procurar material que fale sobre o assunto. Para quadrinhos recomendo os livros do Scott McCloud. Todos.

Mas só desenhar e estudar não lhe deu a vaga de parceiro do Trevisan. Foi em seu blog que ele conseguiu a chance. Um dia, ele decidiu pedir a opinião de JM Trevisan, editor da Editora Jambô e um dos três pilares do cenário de Tormenta, o mais jogado RPG do Brasil. Perguntei qual foi sua receita. “Um perfil no Twitter, um blog com alguns desenhos e umas páginas de quadrinhos para temperar, e muita cara de pau.” Sem indicação, sem nada, ele simplesmente entrou em contato e tentou a sorte pra ser visto por alguém do mercado. “Boa parte da galera que trabalha com quadrinhos tem algum site, blog, perfil no FB. Correr atrás deles é a chave para se começar a trabalhar.” E ele já pode dizer que está do outro lado agora. “É fundamental a cara de pau. Sem ela você não sai do canto. Quando vou a algum evento os moleques ficam com vergonha de perguntar sobre como é o trabalho, acho que eles acham que quando o cara vira profissional se torna um deus ou coisa assim. Acho ficar com vergonha normal, mas você nunca vai deixar de ser ‘o carinha do blog’ (como Trevisan fala) se não correr atrás do que quer.” Dica valiosa para quem também segue em busca de seu sonho nos quadrinhos.

Não foi só isso que ele fez. Para chamar a atenção específica de Trevisan, ele investiu em artes baseadas no cenário dele. “Na verdade só fiz algumas páginas do Disco dos Três para mostrar ao pessoal de Tormenta…” Lobo, como um bom jogador de RPG, mirou onde queria ir e trabalhou para isso. “Ter o foco de onde você quer começar a trabalhar é importante. A autocritica vai te apontar por onde você pode começar. Eu acreditava que poderia começar a trabalhar com os caras, acertei.”

O trio de autores de Tormenta e o material relacionado ao cenário já inspirava o desenhista faz tempo. “E Holy Avenger tem boa parte da culpa. Eu li os scan do quadrinho em 2007 e pensei: é possível produzir quadrinhos no Brasil, relacionados ao RPG, e isso é muito massa! (…) Outros culpados foram as ilustrações dos manuais. Como material de RPG sempre foi caro, o bom e velho 3D&T foi uma luz em minha vida. Todos aqueles maravilhosos manuais por R$ 10,00… Aquilo era lindo para um moleque com 15 anos. 10 anos depois aqui estou eu.”

Realizando seu sonho?

“É…”

Perguntei até quando ele acha que esse sonho dura. “Nós já temos mais ou menos estipulado a duração do quadrinho. Se vamos ficar com essa medida até o final da série só um conjunto de fatores externos é que vão decidir. Não vamos esquecer que quadrinho é entretenimento e como tal deve render alguma coisa a quem produz. O sonho pode me motivar, mas não vai me manter de barriga cheia.” Com pés no chão, ele afirma, mas não sem olhar para o céu. “…tenho certeza que Ledd vai ter seu lugar ao sol.”

E o futuro, o que reserva? “Pelo que sei do plot principal da história ela só tem a melhorar e Trevisan vem fazendo isso muito bem. De mim vocês podem esperar um esforço crescente sempre buscando melhorar. De Tormenta … ou ouvi de um Careca que tem material novo para chegar e alguns têm ilustrações minhas.”

“Queria agradecer o espaço da entrevista. Sem esse apoio e de todos que tem lido e comprado Ledd teríamos parado no primeiro capitulo. Espero que continuem a acompanhar a série. Tem muita coisa pra rolar. Muitos mistérios a serem resolvidos.

Um grande abraço!”

Já leram Ledd? Tem um volume à venda e o segundo está no forno! Mas se quiser ler antes de comprar, você pode ler no site oficial, vizinho de Genkidama, totalmente de graça e na legalidade. Recomendo!

6 ideias sobre “LEDD – Lobo Borges: De fã à parceiro”

  1. eu gostaria de uma materia sobre como mesclar o trabalho manual com o o digital , tipo desenhos, escanear , e fazer arte final em programas como photoshop mangá studio e etc .. ia me ajudar muito !

  2. Super bacana a entrevista. Lobo Borges me parece um grande ser humano, além de grande desenhista, não vejo a hora de conhecê-lo em alguma oportunidade da vida e trocar umas ideias sobre games, rpg, quadrinhos e desenhos animados.

    Boa sorte Lobo e Trevisan e que continuem o bom trabalho.

  3. já faz um tempo q eu conheço o trabalho do lobo e sou cada vez mais fã , meu sonho étrabalhar com desenho, vou tentar seguir esse passos kkk

  4. Sim, leia na internet e segurem um pouco a grana caso seja dificil pra comprar por que VALE A PENA, eu comprei após ter lido o manga na net e não me arrependi. É a minha primeira coleção de manga, e me admiro fato de que é um mangá brasileiro.

  5. O traço do Lobo tá incrível!
    As cenas de ação estão bem desenhadas, as panorâmicas tão lindas, a barriguinha sexy da Drikka tá show!
    O design dos personagens surpreende.
    Gosto quando o Lobo abusa nas sombra e na tinta em imagens mais escuras.
    E a estória? 10!
    Os personagens são carismáticos, a trama tem aquele mistério de começo de seriado, os flashbacks enriqueceram o enredo, o Tosh e a Kashi merecem um prequel.
    O que eu acho mais bacana por enquanto é que a estória apesar de ser fantasia e já ter violência e tragédia, ainda tem um bom toque de humor e alívio cômico, ao contrário de outros trabalhos nesse gênero que optam por serem pedantes, pomposos e pretensiosos.

    Parabéns ao Lobo e ao Trevisam :]

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