Guest Post – Level Down – A Vida é um Jogo

GPLevelDownJussara

Yo!

Hoje, temos a participação de uma amiga aqui no XIL. Jussara Gonzo, autora do livro Confraria dos Aventureiros (Editora Oráculo) e do blog Punhado de Contos. Um post polêmico? Vale a discussão! Bora ler!

Por Jussara Gonzo

O PlayStation 3 Slim está fervendo, literalmente! É um domingo, e por isso o jogador nem se incomoda em olhar o relógio. Já se passaram quatro horas e ele está realizando diversas missões de assassinato seguidas. Não se limita em apenas cumprir as missões, ele quer fazer isso com louvor! Ao concluir a fase, ele observa quantos Trophies conseguiu e quantos objetos novos destravou. Se não conseguiu um resultado cem por cento, ele repete a fase. Faz tudo de novo, com mais perfeição ainda até completar tudo. Quem é este cara?

Este cara sou eu! E, caso estejam curiosos, o jogo é Hitman: Absolution.

É incrível a dedicação perfeccionista dispensada à conclusão de um jogo de videogame nos dias de hoje. Há uns vinte e cinco anos atrás (no início do período Holoceno…) crianças jogavam seus joguinhos por horas e no máximo o “zeravam”, numa época em que não havia SAVES e o número de vidas era contado. Muitas crianças, inclusive, nem se incomodavam em atingir pontuações muito altas (a não ser que estivessem disputando om um coleguinha), queriam apenas se divertir. Hoje videogame é passatempo (e COMO “passa o tempo”!) de adultos e muitos deles têm uma dedicação feroz a destravar todos os bônus de um jogo com a mesma intensidade que um administrador de empresas quer bater metas de vendas.

Aliás, esta minha analogia procede: muitos gamers ficam mais afoitos em conseguir destravar novos “secrets” de um jogo do que dedicam-se aos objetivos de suas vidas reais.

Conheço muitos colegas que trabalham com ilustração, design, comunicação e outros empregos autônomos, daqueles em que você é o patrão. Estive na casa de um destes amigos e presenciei sua dedicação obsessiva em concluir uma fase de um jogo difícil. Ele levou bastante tempo para terminar aquele nível e, depois, resolveu repeti-lo porque não conseguiu a pontuação máxima que tanto queria. Logo depois, ele se ligou no horário e voltou para o seu computador, onde tinha uma ilustração inacabada. Menos de meia hora depois, ele olhava para o desenho, fazia um retoque aqui, outro ali e por fim sentenciou: “Foda-se! Vai assim mesmo!” e fechou o arquivo.

O ser humano é movido por Objetivos (com “O” maiúsculo). Sem querer entrar em questões existencialistas, o que define a vida de qualquer pessoa são os objetivos que ela tem em mente. É possível entender o sucesso que os videogames fazem. Os games, a esmagadora maioria deles, têm objetivos. Têm missões a cumprir. Tem metas pré-determinadas. O jogador tem uma razão para fazer as coisas – como na vida. Mas o que será que faz a conquista de um achievement mais importante do que a sua resolução de ano-novo em dedicar mais tempo à leitura? Talvez não seja uma questão de importância: mas do que é mais fácil.

É mais cômodo conseguir atingir “objetivos” sentado na frente da televisão, comendo salgadinhos de isopor que reduzem a sua expectativa de vida em seis meses por pacote do que seguir a receita de emagrecimento que o endocrinologista receitou, dando uma corridinha de trinta minutos todos os dias.

Tenho que admitir: se eu me dispusesse a realizar as minhas tarefas da vida real com a mesma intensidade com que eu tento zerar um jogo, minha vida seria, no mínimo, mais próspera financeiramente! No trabalho, muitos costumam entregar a tarefa mais ou menos, mas no seu joguinho eles não descansam até completar aquela fase com todos os Achievements e Trophies possíveis.

Temos que dar um jeito de transportar esta nossa energia gamística para a vida real! Parar de olhar para a mesa do trabalho como se ela tivesse saído de dentro do nosso nariz e dedicar-nos ao cumprimento de nossas listinhas de Ano-Novo. Afinal de contas, nesse nosso Jogo da Vida Real não há “saves” e (a não ser que entremos no assunto da religião) nem “new game”. Temos que trabalhar com o que temos agora!

Há quanto tempo você se contenta com pontuações baixas? Há quando tempo você está parado no modo “Pause”? Vamos completar 100% na nossa barra de aproveitamento!

Level Down

Pixel Art por Jussara Gonzo

2 ideias sobre “Guest Post – Level Down – A Vida é um Jogo”

  1. A diferença é que a gente pode parar de jogar um jogo que não gosta e começar um que gosta. Também podemos mudar de emprego, de hobby, de vida, mas não é tão fácil quanto trocar o BluRay do PS3. Agora, fazendo analogias, se você está jogando um jogo que não está gostando, das duas uma: ou você aprende a gostar do jogo, ou joga só pra saber como acaba…

    “Não é a segunda-feira que é uma merda, é o seu trabalho que é uma merda.”

  2. Coincidência ou não, não faz tanto tempo assim, estava eu zerando pela segunda vez meu Final Fantasy XIII de Xbox 360, pela mesma razão que foi citada no texto: zerá-lo por completo, cumprindo cada mísero objetivo que ele me impõe na tabela de conquistas. Nem preciso dizer que por conta disso, passei muitas tardes e noites frente a tevê com os olhos pregados nela, parando periodicamente pra ir ao banheiro e me alimentar (engordar).

    Não faço do meu comentário um ato de repudio ao videogame, pelo contrário, fica o mesmo alerta que passou a Jussara em seu texto, não deixe a sua vida passar tão despercebida por você em prol de conquistas virtuais que pra todos os efeitos não lhe acrescentam nada, nem mesmo no seu desenvolvimento enquanto jogador/apreciador de games.

Deixe uma resposta