Crônica – Eu sei Kung-Fu, o workshop de roteiro do Fábio Yabu

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Yo!

Domingo passado, eu fui convidado ao workshop de roteiro do Fábio Yabu, criador dos Combo Rangers.

Fábio Yabu é um autor que além de prolífero, também teve bastante felicidade em seus projetos. Como ele mesmo disse, publicou dezoito projetos, engavetou mais dezoito. E nada é mais satisfatório neste ofício do que ser publicado. É muito bom saber que ele está feliz com sua escolha.

Recebi o convite de Yabu no sábado. Claro que eu sabia do que se tratava, contribui com seu projeto de volta dos Combo Rangers no Catarse e fiquei muito feliz com o sucesso do mesmo. Combo Rangers vai voltar. E eu ia ver o workshop dele antes de todo mundo, junto de mais alguns convidados chegados dele. Na verdade, eu já tinha compromisso no dia, então fiquei meio em dúvida, mas fiz as contas e pensei “Dá tempo de eu chegar no final“. Era uma chance única, peço desculpa aos amigos!

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Meu histórico com os Combo Rangers é antigo. Acompanhei desde o primeiro arco de histórias, quando eles ainda eram bolinhas sorridentes, no primeiro sucesso da webcomic da internet. Em certo ponto, eu até fui moderador do fórum deles, de tanto que participava. E fiz uma fanfic para o próprio site, que me rendeu elogios e alguns e-mails com o Yabu. O que fazia de Combo Rangers algo tão cultuado? Não sei dizer o que eu sentia na época, mas com certeza, não era só o deslumbramento pela tecnologia do Flash, que ainda era nova. Também não era aquela curiosidade do assunto, já que parodiava/homenageava séries de tokusatsu e anime. Mas tinha um certo carisma em tudo, em cada personagem e até nos clichés e suas falhas podiam passar despercebidas. Não sei mesmo dizer ao certo o que eu sentia antes, mas hoje, além da nostalgia, tem um certo respeito pelo autor. O Yabu podia ter desistido e virado empregado ou dono de alguma empresa de publicidade. Mas ele continuou criando, mesmo quando se viu quebrado, no vermelho e longe dos holofotes. E sua recompensa veio dessa perseverança.

O workshop duraria cinco horas. E eu estava curioso. Pra falar a verdade, não acompanhei o trabalho do Yabu desde o fim dos Combo Rangers na internet. Quando saíram os impressos, eu morava no Japão. As Princesas do Mar, eu vi o desenho com meus sobrinhos aqui em casa algumas vezes. Mas ainda não peguei nenhum dos livros que ele escreveu, nem os que ele fez pelo selo do Jovem Nerd, sob a alcunha de Abu Fobiya. Eu admito, por preguiça mesmo. Tenho muito interesse no “A Última Princesa”, e nem é por ser de um autor que eu conheço, a sinopse é muito legal. Eu demoro muito pra ler livros, ironicamente. Leio muito por trabalho, como editor. Leio muito e pesquiso muito como redator e blogueiro. Escrevo muito também, todos os dias. Mas nunca consigo pegar um livro sem sentir sono! É uma coisa que tenho que aprender como lidar, cedo ou tarde.

Cheguei ao Hub um pouco antes do meio dia, horário programado. O Hub é um lugar interessante no meio da Bela Cintra. Um escritório coletivo, um espaço aberto para trabalhar, com salas de conferência para reuniões e eventos como esse. No dia, vazio, claro. Era domingo de manhã. Só estávamos nós, os convidados ao workshop.

Presentes no evento estavam jornalistas de cultura, um dos criadores do Catarse, o Michel Borges, artista do retorno dos Combo Rangers e mais alguns convidados pinçados. O número menor de pessoas também proporcionou um evento mais intimista, com vários momentos que pudemos simplesmente bater papo.

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As cinco horas passavam voando. É legal ver como muito da minha opinião batia com algumas do Yabu quanto à ideia e o trabalho criativo. Um cara como ele, que quando ainda era um moleque virou um fenômeno da internet, poderia ser simplesmente um chato cheio de certezas. “Eu fiz, eu dei certo, então eu sei mais que vocês”. Todo mundo conhece o tipo, não é? Mas o clima era bem mais ameno. O tom do Yabu é mais pra “Eu considero isso, eu acho isso, eu trabalho assim”. E isso foi o melhor do workshop, ver o background dele, o que o compõe como autor, suas influências. E no meio de cada parte, o bate papo ainda revelava um pouco de cada um de nós, sentados do lado da platéia.

Cada vez mais vemos os eventos especializados darem cada vez menos espaço para esse tipo de coisa, numa proporção inversa à quantidade de gente que quer trabalhar com quadrinhos de alguma forma. E isso sempre foi uma preocupação. Antigamente, não tinhamos quem pudesse falar com propriedades sobre mercado de trabalho e produção. Hoje, o pessoal não se interessa em saber mais, ouvir experiências e aprender técnicas. E se isso criou antes uma geração de quadrinhistas DIY – Do it Yourself – que errou mais do que acertou em sua soberba do mais ou menos conhecimento (Ah, eu até sei alguma coisa disso, mas…), hoje, temos uma geração de DDIA – Don’t Do It Anyway – que não quer fazer mesmo, não quer e não precisa aprender a viver de quadrinhos, só quer o status de “artista”. Então, pra que se interessar e ser melhor no que faz, aprender algum truque novo e ouvir as experiências dos que são profissionais, não é?

Acredito que há aqueles que são esforçados e querem ser algo mais, trabalhar disso e ser feliz fazendo o que gosta. Sempre houveram esses, na maré baixa e na lata, com fartura ou falência. Para esses, eu indico:  faça cursos, vá a palestras e workshops, conheça profissionais, seja cara de pau às vezes, educado sempre e nunca, nunca perca sua fome por conhecimento. Enquanto você a tiver, seu caminho sempre será adiante. Até você decolar.

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PS: no evento, Yabu soltou que A Última Princesa tem os direitos para cinema vendidos para a BossaNova Films e que tem um novo desenho animado para sair na Cartoon Network, Unicórnios e Dinossauros. Muito sucesso, xará!

 O evento aberto começa hoje. E está esgotado! Dá pra insistir para mais uma edição com o próprio Yabu.

2 ideias sobre “Crônica – Eu sei Kung-Fu, o workshop de roteiro do Fábio Yabu”

  1. Ralou, teve a cara e a coragem de persistir num mercado tão difícil, merece muito sucesso!

    Em qualquer profissão é preciso ter humildade e buscar aprender sempre. O verdadeiro artista, mesmo que não tenha frequentado uma escola com certeza aprendeu a desenhar copiando ou usando artistas consagrados como inspiração e sempre tem curiosidade de saber como os outros fazem. Quando surge qualquer oportunidade, qualquer dinheirinho ou tempo extra, o verdadeiro artista investe em exercício, em cursos, em pesquisa de novos materiais, novas técnicas. Nunca pára, pois se parar, deixa de ser um verdadeiro artista e vira uma farsa.

    Fico indignada com gente que se diz “artista” e nunca nem tentou aprender a traçar uma linha reta…

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