O que considerar sobre a aposentadoria de Hayao Miyazaki

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Yo!

Foi uma longa coletiva de imprensa. Veja na íntegra! Bora ver!

Hayao Miyazaki, um dos maiores nomes da história dos animes e até da própria animação no mundo, anunciou que não pretende mais fazer filmes. Por trás dessa declaração, existe uma motivação e muitos problemas.

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A ANN News, agência de notícias japonesa, postou na íntegra a entrevista coletiva do diretor. São 12 vídeos, estão em sequência. Em japonês.

Em suas declarações, Miyazaki diz que talvez seja difícil acreditar, pois ele já falou a mesma coisa outras vezes, mas desta vez é certeza, pois a idade já o impede. Entre Ponyo e o recente Kaze Tachinu, Miyazaki levou cinco anos. Talvez seja necessário sete em um novo. E se for assim, ele já terá oitenta anos, dos quais quase metade foram animando os seus próprios filmes, pela Ghibli. Miyazaki quer aproveitar para fazer outras coisas de que gosta e sequer quer ser consultor ou ajudar nas animações dos diretores mais jovens do estúdio, como seu próprio filho. Mas enquanto puder dirigir, ele pretende continuar trabalhando no atelier da Ghibli.

Miyazaki ainda disse que perguntou a seu parceiro e mentor, Isao Takahata, se ele não queria ir junto. Mas Takahata, cinco anos mais velho que Miyazaki, aparentemente ainda deve trabalhar. O diretor do oscarizado Sen to Chihiro no Kamikakushi (A Viagem de Chihiro) ainda expressou sua admiração à sua persistência e relembrou o passado, quando trabalharam juntos em Heidi e, enquanto trabalhavam no Sindicato de Animadores da Toei, eles decidiram montar a Ghibli.

Sua saúde ainda é plena e a essa altura, a família já não é uma preocupação. Seu principal problema é mesmo ele próprio. Não quer terminar sua vida no meio de um trabalho inacabado.

Outro detalhe que ficou muito forte foi quando ele falou sobre seu trabalho e a influência de tudo que fez. Miyazaki disse que não quer ser um ícone cultural, se quiserem assistir os filmes dele, ele fica grato. Frase que repetiu sempre que a idolatria à ele foi enunciada.

Sobre trabalhos futuros do estúdio Ghibli, o produtor Toshio Suzuki anunciou que além do novo de Takahata, um outro projeto animado está sendo feito para o ano que vem. E Miyazaki frisou que não há planos para uma continuação de Nausicaa, boato que permeia toda sua carreira. Suzuki ainda completou, dizendo que Miyazaki o procurava com novas ideias durante os quase 35 anos que trabalharam juntos e nunca foi para pensar em qualquer continuação.

Vale ressaltar que sua aposentadoria é para animações longas. Ele ainda deve fazer curtas e animações exclusivas para o Museu Ghibli.

E no que Hayao Miyazaki vai colocar seus esforços agora? Ele diz que não vai falar porque se não concluir, vai frustrar as pessoas.

 

Hayao Miyazaki estreou como animador depois de conhecer o ofício durante a faculdade. Entrou para a Toei Douga (futura Toei Animation) logo após se formar, se casou com uma colega de trabalho e teve dois filhos. Influenciado por Osamu Tezuka, ele começou a fazer suas histórias e em 1985, fundou com um de seus mentores, Isao Takahata, o estúdio Ghibli. Hoje, 33 anos depois, ele fez onze filmes como diretor, além de ser conselheiro, produtor e animador em outros.

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O que eu acho? Miyazaki é um dos maiores diretores de animação do mundo, um dos poucos que tem magia nos olhos ainda e que alia o talento com simpatia, fazendo filmes inegavelmente bons sem precisar fazer deles filmes que escolhem público. Saber que não vai ter mais filmes dele é um pouco triste, mas é verdade, um cara que passou cinquenta anos trabalhando com animação e que cravou seu nome só em obras primas durante todos esses anos, já pode se aposentar tranquilamente. E não é por falta de lucidez, a idade não influenciou o trabalho dele. Prova disso é que Kaze Tachinu teve uma ótima recepção por onde passou e não mostra um diretor sofrendo e sendo teimoso, o que torna seu anúncio mais chocante ainda.

Mas o tempo chega para todos. Ele cita que em Cagliostro no Shiro, um de seus clássicos, ele levou quatro meses para terminar o filme, porque na época, todos eram jovens e quando você tinha a chance de fazer um longa animado, você tinha que fazer, porque as chances eram de você nunca mais poder. Comparando com os cinco anos de seu mais recente, ele diz que muito se deve a seu ritmo de trabalho, que caiu muito.

E agora, sem Miyazaki, o que acontece com as animações? O diretor disse que ele próprio espera que os jovens aproveitem que o grande peso de o ter no estúdio caiu e batam mais na porta de Suzuki, levando ideias diferentes, para fazer muitos outros filmes. Nem ao menos legado ele diz que quer deixar. Eles devem escolher seus caminhos.

Assistindo a entrevista, o que eu senti é que Miyazaki está cansado das animações. Ele é perfeccionista, chega a redesenhar muita coisa que ele não gosta e na entrevista, disse que não tem nenhum ressentimento de seu trabalho como animador, mas que ser diretor não vale as dores de cabeça.

Outra coisa que falou que vale guardar é sobre suas motivações em fazer os filmes. Na época de Nausicaa, Majo no Takyubin, Miyazaki via o Japão orgulhoso, com a economia forte e esbanjando dinheiro. Então, seus filmes foram perguntando às pessoas o que elas tinham no coração. Depois que a bolha econômica rompeu junto com o Muro de Berlim, a motivação mudava. Ele queria fazer filmes que motivassem as crianças a serem mais fortes.

Talvez seja mesmo a hora, afinal, todo mundo sabe, ele não é apenas animador, ele sempre teve colunas sobre armas e máquinas, coisa que ele gosta muito, além de ter feito mangá em algumas ocasiões. Seria lindo ver um último mangá de Miyazaki. Mas seja lá o que ele quer fazer, espero que seja com algo que possa encantar como suas animações.

Pessoalmente, eu sempre gostei muito das animações dele. Minha mãe também é muito fã e acho que acaba sendo uma coisa de família, uma das poucas coisas que mesmo depois de adulto eu ainda posso fazer junto dela. E agora, com sobrinhos, acho que dá pra assistir tudo de novo. E acho que esse é um dos méritos de Miyazaki. Ele fez pouco mais de uma dezena de filmes, sem contar com episódios de animes para a TV, e cada um deles foi tão bem feito que mesmo hoje, mais de trinta anos depois, podemos assistir tudo de novo com as crianças de hoje e ainda assim, não parecer os tios ou avós velhos forçando a criançada a gostar do que a gente gostava.

Miyazaki, como ser humano, envelheceu. Mas os trabalhos que ele deixou no mundo continuam cheios de vida.

8 ideias sobre “O que considerar sobre a aposentadoria de Hayao Miyazaki”

  1. Adoro o trabalho do Miyazaki e (conforme você relatou) ele não quer deixar um projeto inacabado. Na hora lembrei o Satoshi Kon, e um filme inacabado do Miyazaki seria luto mundial, e se for para parar que seja quando ele se sentir bem com a ideia e não por não aguentar continuar, ou pior. Torço para que seus próximos curtas saiam do japão, seria ótimo uma coleção de curta do Miyazaki =DDD

    obs::: Claro que se ele voltar atrás seria maravilhoso, mas dessa vez tem um ar de definitivo.

  2. Cravou seu nome na história por diversas vezes,campeão de vendas seus filmes são referencia de sucesso pra qualquer mercado de animação do mundo,consagrado com o Oscar pelo seu filme A viagem de chihiro,que pra min não chegou a ser sua grande obra prima,”opinião pessoal,mononoke hime” mas corou aquele que deixa um legado a ser seguido,que ele possa descansar e aproveitar sua família.

  3. Pela entrevista que ele deu me parece que ele tá feliz com isso.
    O cara tá velho gente. Tem que aproveitar o que resta mesmo.
    Já dava pra prever isso. The Wind Is Rising é o filme mais pessoal dele. É como se fosse a despedida.
    Todo mundo sabe como que funciona esse mercado lá. O cara envelhece 20 anos em apenas 1.

    O filho dele não é tão incompetente como alguns dizem. Earthsea e Poppy Hill são filmes muito bons. Sem falar que ele ainda é novo.
    Assim como o Yonebayashi que dirigiu o Arriety.

    O próximo a se aposentar vai ser o Isao (que é mais velho que o Hayao). E creio que vai ser esse ano ainda, quando sair o Kaguya.

    No final vai restar o legado. E isso basta. Não estou triste. Estou feliz que ele saiu e deixou obras tão boas e perfeitas assim. E que venha novos filmes :D

    1. Aparentemente, Takahata não pretende se aposentar depois de Kaguya Hime. Só resta saber se ele vai ter pique físico pra isso. Ele é cinco anos mais velho de Miyazaki, 78 anos, se não me engano. Um próximo filme sairia com ele com mais de 80 anos!

      1. Sim. Mas parece que o Goro já tá fazendo um novo filme pro ano que vem, o que pode significar que o ritmo de filmes volte a ser anual como era antigamente.
        Tem também o que o Hayao disse que isso pode fazer com que jovens gafanhotos resolvam tentar sua sorte no estúdio.

        Acho que sem filmes a gente não fica. ;)

  4. O Sakuda resumiu como eu me sinto nessa ultima frase. Acho que o mais importante em toda essa questão é o legado que o talento dele nos deixou. Jamais envelhecerá.

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