Mangás e novas tendências: Renascendo e virando OP

Olá, leitores do Troca Equivalente! Sou o mais novo redator desse blog e pretendo rechear essa página com matérias divertidas e que, antes de tudo, possam sugerir boas leituras para as pessoas que acompanham esse blog. Quero aqui destacar algumas tendências de leitura e indicar novas alternativas.

Os mangás e um novo gênero

O que um slime, um artista marcial, um garoto mago e um goblin têm em comum?

Simples! Esses são personagens principais dos mangás que leio ultimamente. Embora pareça estranho, não se trata de trollagem minha com os leitores, mas quero falar de uma nova tendência que é observada nos mangás mencionados.

Não duvido muito que surjam novos termos para designar esse tipo de mangá, assim como designamos mecha para animes com robôs ou BL(Boys Love) para mangás yaoi hoje em dia.

Prometo que irei explicar com mais detalhes, mas antes gostaria de contextualizar para os leitores.

Da mesma forma de como o romantismo e o barroco se tornaram gêneros literários para designar artistas que escreviam sobre um determinado assunto, os quadrinhos, de vez em quando, possuem seus próprios movimentos artísticos. Na verdade isso até que é bem comum, mas perceber que está ocorrendo é bem complicado, pois como já estamos imersos no período que está lançando a obra nem percebemos, muitas vezes, que está acontecendo um.

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Não muito raro, historiadores de mangás costumam usar classificações e mencionar características em comum para mangás de certas épocas ou estilos de narrativa. Como exemplos, temos mangás harém ou seinen, que embora possa parecer comum hoje em dia para qualquer leitor atual, houve um período em que eram novidades esses gêneros e nem usávamos esses termos para designá-los. Para ilustrar melhor, podemos citar os famosos jogos de MOBA como Dota e LOL, até pouco tempo nem existia esse termo, mas hoje está tão popular que talvez fique difícil para gerações futuras saber quando começamos a usar esses termos.

Confesso que analisar tendências é uma tarefa um tanto árdua, pois vivemos num período modernista em que proliferam diferentes tipos de história. Quando se trata de mangás fica ainda mais difícil dizer, pois os japoneses criam mangás para quase todo tipo de gênero o que torna difícil notar uma corrente entre os escritores e desenhistas.

Logo é muito complexo perceber o surgimento de um gênero novo, exigindo assim, muitas vezes, certo distanciamento temporal do período observado, mas de vez em quando a predominância de algum estilo se torna óbvio. Vide exemplos, como a proliferação de animes moe e cheios de loli hoje em dia.

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Gêneros diferentes, mas nem tanto assim

Então, quero falar de quatro mangás que talvez possam parecer diferentes a primeira vista, mas que guardam semelhanças muito fortes. Eles são: Douluo Dalu, Mushoku Tensei – Isekai Ittara Honki Dasu, RE: Monster e Tensei Shitara Slime Datta Ken.

Mas afinal o que eles têm em comum?

Bom, todos os protagonistas morrem! Até aí não seria nada demais, se não fosse que todos eles acabam reencarnando logo no primeiro capítulo. E como se não bastasse isso, todos eles acabam renascendo em outro mundo diferente do original. Ainda não achou interessante? Saiba então que todos eles acabam retendo as memórias da antiga vida.

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Tang San se suicidando depois de aprender uma técnica proibida

Em Douluo Dalu, temos Tang San que ao buscar aprimorar suas artes marciais aprendendo técnicas proibidas, acaba violando as regras da seita, mas em respeito ao grupo se suicida logo em seguida. A história poderia ser pano de fundo genérico para outras, se não fosse a ressurreição dele em um mundo sem artes marciais logo adiante, mas que existem combates com espíritos místicos.

Não muito diferente, vemos em RE: Monster, Tomukui Kanata morrendo para um ataque de ciúmes de uma amiga de infância. Surpreendentemente, nosso protagonista acaba renascendo, mas na forma de um goblin. Bizarro, não é? Se você não gosta de goblins, temos slimes também. Leia Tensei Shitara e notará o mesmo fato gerador da morte.

Na verdade as mortes dos protagonistas são muito irrelevantes para a história nesses casos, no entanto, trata-se de um convite para atiçar a curiosidade do leitor, pois quando se descobre que o personagem reencarna, é despertada a curiosidade para ver o que vai rolar.

Captaram a semelhança entre os mangás? Se vocês lerem os outros dois que mencionei, encontrarão o mesmo padrão.

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Tomukui Kanata morrendo nas mãos de uma amiga

Nada do herói tradicional

Um das coisas que mais me chamou atenção ao ler esse gênero foi a falta do que eu chamo de motivação do herói. Diferente de muitos quadrinhos, o protagonista não tem razões fortes para ser um herói como nas histórias mais tradicionais. Não encontramos a morte de alguém próximo, nem um trauma absurdo muito menos valores de conduta muito fortes.

A falta desses elementos não prejudica o percurso da leitura, na verdade torna até interessante a forma de contar. É difícil de descrever a sensação quando se está lendo. A maneira mais próxima que encontrei para explicar para as outras pessoas foi comparar ao jogo The Sims ou SimCity. Os personagens parecem que estão moldando e construindo o seu entorno e você assiste de curiosidade para ver o que isso vai acarretar.

Tornando-se criança adulta

Vira e mexe nos deparamos com questionamento sobre o que faríamos se pudéssemos recomeçar as nossas vidas tendo os conhecimentos de um adulto. Eu, por exemplo, pergunto-me se teria feito as mesmas escolhas na vida com o que eu sei hoje. É a partir desse conceito que temos ambientado nossos protagonistas.

Usar isso como ponto de partida acaba trazendo uma nova forma de narrativa para os quadrinhos. Já imaginou o personagem principal que tem o conhecimento da vida passada desde bebê? Nos mangás que mencionei anteriormente, as histórias começam a partir da infância. Isso é um tanto diferente no sentido que vemos o personagem crescer conforme lemos a história.

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Temos o Tang de Douluo Dalu e Rudeus de Mushoku Tensei em suas novas vidas

A possibilidade de não tomar as mesmas decisões erradas ou ter o controle sobre a vida numa visão mais madura me chama a atenção e leva a algumas indagações. Devo levar a vida buscando romance agora que renasci? Focarei em habilidades que nunca pensei em ter antes? Quem sabe até almejar sonhos de outrora? Devo formar uma legião de seguidores? É sobre essas questões que esse tipo de gênero acaba sendo interessante para o leitor. Embora possa colocá-los na mesma categoria, devo dizer que cada um desses mangás que eu li tem sempre um pouco para acrescentar à maneira do autor.

Conhecimento é poder

Como se não bastasse ter o conhecimento de um adulto, todos os personagens possuem algum conhecimento que a maioria das pessoas dessa nova vida desconhece.

Nota-se que em Mushoku Tensei, nosso protagonista sabe conhecimentos de física. A primeira vista não parece relevante, mas ao decorrer da história percebe-se que neste mundo a magia é regida sobre as leis da física o qual a maioria dos magos desconhece. Isso o torna um mago fora de série conforme percorremos a leitura pois, ao saber fazer combinações dos elementos temos a abertura de novas possibilidades.

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Rudeus cria uma Cumulusnimbus utilizando seu conhecimento de meteorologia

Em RE: Monster temos uma situação parecida de disparidade de conhecimentos entre o herói e os outros personagens. No começo da narrativa temos o nosso querido goblin Rou, embora sendo uma das criaturas mais fracas no começo da trama, utiliza seus conhecimentos de quando era Tomukui Kanata para bolar armadilhas e criar armas.

Essa disparidade de conhecimento é usada também nos outros mangás que mencionei nessa matéria. Esse padrão acaba se repetindo nas histórias, mostrando a persistência desse elemento nas histórias. Tenho notado que esse padrão persiste em outros mangás do mesmo gênero que acabei encontrando enquanto escrevo esta matéria.

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Nosso querido goblin Rou criando armas que antes eram impensáveis para goblins

Progressividade e ficando OP(Over Power)

Outro elemento marcante é a evolução dos personagens. Na verdade isso está longe de ser uma novidade, pois foi pego emprestado dos jogos de RPG. A única coisa que eu chamaria atenção é que parece mais um mangá speed-run quando estamos lendo.

Como a maioria dos protagonistas já tem conhecimento e maturidade de antemão, fica mais fácil para eles progredirem. Nos quadrinhos nota-se que os personagens chegam até mudar a forma ou mudam o estilo conforme vai passando o tempo.

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Rou em suas várias formas ao decorrer da história

Fica aí a dica de leitura

Como podem perceber, sou fã desse gênero e recomendo aos leitores deste blog. Se algum de vocês for começar a ler por uma das minhas sugestões, recomendo Mushoku Tensei ou RE: Monster primeiro, principalmente, por terem mais capítulos e serem mais amistosos. Sei que cada um tem suas peculiaridades e merece uma análise própria, darei mais detalhes em outros artigos. Aguardem!


Sobre Wesley Chen

Wesley é um tinker por emoção, programador sem noção e escritor de coração. Amante da cultura nerd, geek e otaku; está sempre buscando alguma história nova ou desconhecida.

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31 thoughts on “Mangás e novas tendências: Renascendo e virando OP”

      1. Gostei Bastante de Re:Monster,comecei a ler esse genero recentemente e gostei mto,sabe me informa algo parecido com Re:Monster ou me Indicar alguma outra obra de reencarnação ou com personagem que vai evoluindo que tenha mais capitulos traduzido?Otimo post.

  1. cara uma ótima reportagem ainda mais pela data de 2015, eu só vim descobrir esses mangas nesse genero agora depois de ler Tales of Demons and Gods

    1. Fico feliz que tenho gostado da matéria! Dê uma conferida nos outros, pois creio que irá gostar das obras.

      Saber que dois anos depois ainda leem minhas matérias me alegra!

    1. Eu não coloque nessa matéria, pois o protagonista não morre e renasce em outro universo como nos mangás acimas. Ele, na verdade, volta no tempo no tempo no mesmo mundo e no corpo adolescente com as memórias de um adulto e por isso é um prodígio.

      Eu concordo que ele tem elementos similares, mas pretendia usar ele para outra matéria, pois ele tem outros elementos únicos que se encaixa perfeitamente em outro

    1. Eu não coloque nessa matéria, pois o protagonista não morre e renasce em outro universo como nos mangás acimas. Ele, na verdade, volta no tempo no tempo no mesmo mundo e no corpo adolescente com as memórias de um adulto e por isso é um prodígio.

      Eu concordo que ele tem elementos similares, mas pretendia usar ele para outra matéria, pois ele tem outros elementos únicos que se encaixa perfeitamente em outros.

  2. kkkkkkkk, estava demorando para alguem fazer uma postagem desse genero, meu vicio atual em LN e WN (Truck-san strikes again).

    O manhua de DD achei muito fraco comparado com a novel, muita censura, eu entendo que algumas coisas precise, como por exemplo um dos personagens precisa ter relações com uma mulher frequentemente senão o fogo maligno vai destrui-lo, e no manhua apenas ele tem um apetite maior que normal, mas vamos usar o Oscar de DD como exemplo, no manhua ele faz tofus fedorentos, na novel ele faz linguiças, dando varias piadas sempre que ele vai usar

    Mushoku Tensei, uma obra prima do genero, foi o que me fez começar a ler mais esse tipo de novel, recomendo a todos, o manga ficou mais leve, mas está bem firme no enredo, só removeram umas informações inuteis para o leitor.

    Eu poderia fazer uma lista aqui de tudo que achei de bom do genero, mas seria focado em novel e em ingles, caso alguem tenha interesse só avisar que eu respondo.

    1. LN e WN? Não entendi as abreviações. Realmente, Mushoku Tensei é um dos melhores do gênero. Irei colocar mais coisas desse gênero conforme for encontrando. Vamos ser pioneiros nisso 😉

      1. LN é a abreviação de Light Novel (são livros japoneses com foco em jovens com algumas ilustrações tipo as de mangá) e WN é a abreviação de Web Novel (são as publicações gratuitas de internet, geralmente de autores amadores que quando fazem sucesso são compradas os direitos e então encadernadas e vendidas como LN…

        1. Light Novel e Web Novel sei o que são, pois vejo bastante. Minha principal dúvida era sobre as siglas mesmo, pois não tenho hábito de ficar escrevendo abreviado. =P

          Acho que estou ficando velho, pois não estou entendendo as gírias da internet. Hahaha!

          1. Ah desculpe eu não vi que tu eras o autor da postagem, senão obviamente saberia que vc é entendido do assunto…

            Expliquei porque eu tinha essa mesma dúvida até uns tempos atrás e pensei em ajudar!

  3. Olha, não acredito que essa seja uma nova tendência, mas sim o mesmo uso de sempre da jornada do herói.

    Por exemplo:

    Morrer e renascer em um mundo novo: John Carter, Digimon, Neo (Matrix), Luke (Star Wars) e Ippo (Hajime no Ippo).

    Todos esses personagens morreram e renasceram de uma forma ou de outra. A morte em questão pode ser literal como o Neo e Yusuke ou figurativa como o John Carter e o Ippo. No caso a morte representa uma travessia do mundo comum para a chamada à aventura desse novo ambiente. E sobre usar o conhecimento de antes da “morte” para trabalhar no futuro: Bilbo Bolseiro. O hobbit usa de sua simpatia e inocência do condado para enfrentar o Gollum e o Smaug. (=

    E a respeito da criança com os conhecimentos da vida adulta: Goku em Dragon Ball GT. O exemplo não é dos melhores, mas existe. hehe ^^

    Se estivermos vivendo uma tendência seria a dos protagonistas mais peculiares, mas a jordana ainda segue os padrões de sempre. Lembrando que isso não é um problema, é apenas uma constatação.

    Fora isso, excelente artigo! Continue escrevendo. o/

    1. Olá Dulcino,

      A jornada do herói se encaixa em boa parte das narrativas de heróis e mitos. Na academia usa-se isso para descrever elementos recorrentes em narrativas e para estudos. Quase todas elas podem se encaixar de uma forma ou outra, mas no texto eu estava me referindo da reincarnação e morte de forma literal nos mangás. Não estava considerando a transformação e renascimento espiritual do herói como nos exemplos que você me deu.

      E fico feliz por ter gostado do texto. Vou tentar trazer mais coisas assim 😉

  4. Desses só li Mushoku Tensei, mas como tinha poucos capitulos pulei pra Novel, e olha, me surprendi, boa estória, bem roteirizado, e ao contrario do que pensava no inicio, a personagem principal evolui de uma maneira impressionante, além das pessoas ao redor dele também crescer ao longo do tempo, me pergunto porque até o momento não ganhou um anime, material não falta. Boa matéria e me interessei por RE: Monster

    1. Isso é uma coisa que não sei responder, pois existem várias histórias fantásticas que mereciam um anime, enquanto outras medíocres que ganham adaptações.

      A única coisa que eu sei é que adaptações para o anime costumam ser mais para divulgar as light novels e ajudar nas venda dessa última do que o contrário.

    2. Olha eu fui atrás de RE: Monster e achei bem inferior a tudo em Kumo Desu ga!
      A história é super monótona e o protagonista é chato para caralho, extremamente egocêntrico, antipático e overpower… Me decepcionei bastante, mas também penso que a tradução do mangá que li foi muito mal feita o que corrobora para eu não ter gostado da obra…

  5. ja tinha percebido essa tendencia enquanto procurava novos mangas pra ler e via a sinopse, mas não tinha ideia de que era uma tendencia, achei que fosse uma simples coincidência, re:monster é muito bom so pra recomendar novamente

    1. Boa observação Fábio, mas eu considero isso um gênero a parte. Eu até pretendo fazer uma matéria sobre isso depois entrando em maiores detalhes. Respondendo sua pergunta, se você observar os manhuas (mangás chineses), muitos deles não seguem necessariamente a linha RPG como acontece nos japoneses. Em Douluo Dalu e outros de origem chinesa usam mais espiritismo e artes marciais quase sem nenhum traço de level UP e etc. Isso acaba sendo mais estilo dos japoneses de usar RPGs onlines para esse gênero, mas os chineses segue mais as linhas dos elementos do kung-fu. Nesse aspecto é difícil categorizar como um desdobramento. Enquanto isso o gênero “Preso num mundo virtual” tem características próprias como o mistério de saber o porquê dos jogadores estarem preso no mundo virtual. Por outro lado, esse gênero está muito mais com foco na reconstrução e etc. Obviamente, você pode não concordar comigo, mas espero que tenha conseguido explicar as razões de não considerar necessariamente igual.

      1. Eu entendo que há diferenças, só não me decidi ainda se são tão grandes assim. Como você mesmo disse, de dentro é mais difícil de ver.

        E você viu, na próxima temporada de animes haverá nada menos que DOIS animes que se encaixam no que você está tentando categorizar aqui: Grimgar e Kono Subarashii Sekai. No primeiro o protagonista tem amnésia (como em Utawarerumono: acha que ele se encaixa no seu “gênero” também?) e parece ser mais um drama, o segundo é comédia e começa literalmente com a morte do protagonista, bem como você definiu.

        O que acha de histórias como Gate, onde os mundos coexistem?

        1. Olá Fábio,

          Não tive a oportunidade de conhecer esses dois que você mencionou. Vou dar uma conferida!

          Quanto ao Gate, achei muito boa a história, mas me surpreendi mais com o mangá do que o anime. O mangá tem uma trama e um ar mais pesado em algumas partes, além do fato de ser claramente mais adulto o conteúdo. Eu até fiquei decepcionado com adaptação depois que eu li o mangá.

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