Análise – Paprika

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Páprica é uma especiaria que vem do pimentão doce, usado na cozinha como condimento em alimentos. Porém, não é sobre essa páprica que irei falar, e sim sobre Paprika, o filme do mestre Satoshi Kon, baseado no livro de Yasutaka Tsutsui, de 1993.

História

Paprika é um filme de 2006, do mesmo diretor de Tokyo Godfathers, Perfect Blue e Millenium Actress (três ótimos filmes de animação aclamados pela crítica oriental e ocidental, que você já deveria ter visto) que tem sua história girando em torno de uma equipe de cientistas psicoterapeutas que desenvolveram um novo instrumento, o DC Mini, que permite que sejam gravados os sonhos das pessoas, podendo se interagir com eles. O começo do filme mostra um dos personagens, o detetive Toshimi Konakawa, conversando com a personagem Paprika em seus sonhos com a ajuda do DC Mini, que ainda está em testes.

O plot geral do filme gira em torno do roubo de três destes aparelhos, que podem ser usados como armas por terroristas (imagine alguém tendo acesso completo a seus sonhos, podendo interagir com eles, fazendo-o até confundir entre a realidade e o sonho. Sim, Inception total), sendo investigado pela equipe responsável por ele, a fria e bela doutora Atsuko Chiba, o gordo e infantil doutor Kōsaku Tokita (o gênio por detrás da criação do DC Mini), e o doutor Toratarō Shima, o chefe da equipe.

O filme ganha corpo a partir do momento em que se começam as passagens dentro dos sonhos, na busca pelo ladrão dos aparelhos. A viagem psicodélica (praticamente impossível de ser retratada tão bem em alguma forma que não fosse uma animação) passa pela psicanálise freudiana (como o id e o ego, só pra citar alguns), por sonhos e pesadelos retratados por filmes Hollywoodianos, como Tarzan e A Princesa e o Plebeu, até uma caravana de animais, objetos e brinquedos que representam as pessoas inseridas naquele sonho (ou pesadelo).

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Visual e Trilha Sonora

É até difícil falar sobre a parte técnica aqui, um primor de qualidade no filme. A arte é fantástica, com uma ótima escolha na paleta de cores, é bem desenhada e se encaixa perfeitamente ali, em cada personagem e referência contida ao longo da obra, principalmente no que se refere as partes mais psicodélicas, perfeitamente retratadas pelas escolhas de cor e estilo.

A trilha sonora também se encaixa perfeitamente na viagem hipnótica, que se move entre o sonho e a realidade, prendendo a atenção do espectador entre imagens surrealista e batidas mais eletrônicas com uso de sintetizadores, um espetáculo para a nossa mente e ouvido trabalharem durante o filme todo. Um ótimo trabalho do mesmo compositor de Millennium Actress, Hirasawa Susumu, que mesmo não sendo a melhor trilha para se ouvir no seu iPod, cai como um luva cirúrgica durante toda a animação.

A experiência de se assistir Paprika é uma viagem a um parque de diversões único, algo com uma montanha russa surreal, uma experiencia visual grafiticamente que começa em suas fugas pelos sonhos, voando pelos céus em uma metrópole que se estilhaça como vidro, se transformando e voltando ao mundo real em um piscar de olhos. Um verdadeiro espetáculo sempre bem acompanhado pelas músicas (destaque para Parade, que encaixa perfeitamente na parada onde ela toca).

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Detalhes

O filme contém várias referências que muitas vezes podem nos escapar, pois retratam em grande parte o estilo de vida japonês, inclusive nas referências a religião xintoísta. Outras referências que se escondem na viagem dos sonhos, como termos da psicanálise, podem deixar muitos espectadores que não possuem conhecimento do tema sem entender o que está acontecendo. Porém, mesmo assim, o charme da obra permanece acima desse pequeno problema.

“Não acha que os sonhos e a Internet são semelhantes? Ambos são lugares onde o consciente reprimido é liberado.”

Entre os sonhos e uma trama policial, o filme se mistura em várias partes, fazendo-nos questionar se estamos vendo um sonho ou a realidade. Tudo isso, em conjunto com ótimo trabalho de cada personagem, principalmente do detetive Konakawa, que é quem guia o filme, e a própria Paprika (não irei dar nenhum spoiler sobre ela, descubram no filme) só adicionam e fazem deste um filme que deve ser visto por todos.

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Considerações Finais

É a melhor obra de Satoshi Kon? Tecnicamente talvez não, mas a sensação que tive assistindo com certeza a coloca no pódio desse fantástico diretor (que infelizmente faleceu em 2010, sendo Paprika sua última obra).

Mesmo os mais exigentes podem aproveitar a aventura alucinante sem se preocupar muito com o entendimento, só curtindo a viagem visual, a trama e a evolução dos ótimos personagens. Recomendadíssimo!  Fiquem com o trailer americano e corram já para buscar sua cópia de Paprika

Título: Paprika                 Estúdio: Madhouse

Direção: Satoshi Kon      Ano: 2006

 

Páprica é uma especiaria que vem do pimentão doce, usado […]

4 thoughts on “Análise – Paprika”

  1. Uma das melhores coisas que já assisti. Sei que uma obra é magistral quando, pelo menos, ela é tudo o que imagino que será. E Paprika é exatamente isso e ainda surpreende! Não vi tudo do Kon, mas até aqui, é sua obra prima.

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