Análise de tribo urbana: Decora

No coração de Harajuku, a loja 6% Doki Doki é o paraíso das garotas que seguem o estilo Decora. Vestidos de bolinhas, pulseiras coloridas, tic tacs de cabelo em forma de sorvete…e tudo muito barato, perfeito para consumidoras compulsivas.

Há mais de uma década atrás, começou a surgir uma tribo de garotas que há pouco tempo deixaram de brincar com bonecas e brinquedos para de fato, passarem a usá-los, como vestimenta e acessórios, que passou a ser conhecida como Decora (abreviação de Decorativo). De certa maneira, as Decora são as últimas remanescentes de uma geração que vinvenciou Harajuku em seu esplendor, como uma zona livre de cultura e moda jovem alternativa.

Na década de 90, as Decora atraíram a atenção do fotógrafo Shoichi Aoki, que acabou criando uma publicação voltada especialmente para o público que seguia a moda de rua ao invés de se prenderem às grandes marcas internacionais: a revista Fruits (o nome foi escolhido devido à variedade de cores que podem ser encontradas nas frutas).

Nessa época, as garotas faziam seus próprios acessórios, um legado deixado pelas Nagomu Gals, que tinham o espírito de “faça você mesmo”. A editora-chefe da revista Kera lembra com nostalgia, “As garotas do final da década de 90 tinham muita energia e criatividade. Os produtos que elas conseguiam produzir era muitos vezes melhores dos que os comercializados pela indústria fashion”.

Enquanto isso, as garotas Decora estavam começando a se reunir aos finais de semana em Harajuku. Lá ocorria uma espécie de mercado informal onde as garotas compravam e vendiam os itens que faziam em casa.

Em 1995 um jovem casal resolveu abrir a loja chamada 6% Doki Doki, na Cat street, uma das ruas de Harajuku. Emiko Saito e Sebastian foram inspirados pelo cenário artístico underground e  da música tecno. A loja parece um cenário psicodélico multi-colorido e algumas celebridades começaram a frequentar a loja, como as cantoras Ai Kago e Nozomi Tsuji, do Morning Musume.

Isso atraiu a mídia e segundo Saito, “as adolescentes passaram a se vestir de maneira cada vez mais exagerada e exarcebada para chamar a atenção e ter sua foto publicada em revistas. A única coisa que elas queriam eram ser fashions, mas sem conteúdo algum. Algo estava muito errado…”

A história estava se repetindo, como havia acontecido com movimentos fashions extremos como os da Ganguro. Em casa, as Decora eram apenas garotas anônimas. Nas ruas, vestidas de maneira extravagante, tinham a possibilidade ter suas fotos publicadas em alguma revista e terem seus 15 minutos de fama.

Porém, justamente quando Harajuku atraiu a mídia internacional, a tradição de fechar as ruas para o tráfego foi suspensa pelo Governo Metropolitano de Tokyo. Isso fez com que o movimento de pessoas caísse, justamente em seu ápice.

Ainda hoje, Harajuku atrai milhares de turistas com suas câmeras fotográficas a postos, para registrar o reduto ínfimo que restou dos dias de glória. Estilistas do mundo todo ainda visitam o bairro, na esperança de captar a nova próxima tendência de rua. Apesar de ainda ser considerada a meca da indústria fashion, Harajuku certamente perdeu seu brilho, sua criatividade e versatilidade. Hoje podemos avistar dentre uma legião de turistas, um punhado de adolescentes de algumas tribos, como Lolitas, punks, Kogals, e mais raramente uma ou outra Decora, com seus acessórios baratos e roupas super coloridas, como nos velhos tempos.

No coração de Harajuku, a loja 6% Doki Doki é […]

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