Não está morto o que pode eternamente jazer, e, após eras estranhas, até a Morte pode morrer.
O Cão de Caça e Outras Histórias é uma adaptação para mangá de três contos de H. P. Lovecraft, feita por Gou Tanabe. H. P. Lovecraft foi o criador do mito do Cthulhu, que influenciou não apenas escritores como Stephen King, mas também bandas de rock como Metallica e Arctic Monkeys, além de quadrinistas como Alan Moore e Robert Howard. O Cthulhu teve até seu próprio game, Call of Cthulhu, e influenciou outros bem conhecidos como Doom, Castlevania e Fallout. Algo impressionante se considerarmos que Lovecraft é um escritor do início do século XX, podendo-se dizer que ele é o J. R. R. Tolkien do terror.
Aspecto físico do manga
Como O Cão de Caça e Outras Histórias foi lançado logo depois da crise do papel, temia-se que o manga não teria uma boa qualidade. Felizmente, isso não aconteceu. A capa com orelhas e verniz localizado está muito bonita, feita com um cartão grosso o suficiente para impor respeito, porém maleável e suave ao toque. A lombada é uniforme e bem colada. O miolo em offset tem relativamente pouca transparência, levando em conta que o manga se compõe quase todo de cenas noturnas e em locais escuros, ou seja, muito preto nas páginas. Nas bancas, o manga está embalado em plástico, o que por um lado é bom, pois protege o volume, por outro, não permite que o leitor ocasional dê uma folheada para ver se gosta. Nas livrarias não tive oportunidade de ver como está sendo exposto.
Ultimamente algumas pessoas têm se queixado de um forte cheiro de tinta em alguns mangas. De fato, ao desembalar o Cão de Caça senti um odor desagradável, mas depois de algumas horas ele se dissipou totalmente. E embora a fonte escolhida para a capa seja um pouco sem graça, a que foi usada nas páginas de apresentação e índice é muito elegante, estilo anos 20, que é exatamente o período em que os contos de Lovecraft foram publicados.
O manga em si
O autor Gou Tanabe tem um traço pesado, realista e detalhista, que combina perfeitamente com o estilo de Lovecraft. Suas páginas carregadas de preto dão exatamente o tom sombrio e sufocante das histórias. Há pouco texto, nenhuma explicação detalhada sobre nada, a informação é apenas o suficiente para o leitor não ficar perdido. A obra de Lovecraft e Tanabe não é um manga para folhear enquanto joga videogame ou conversa no Whatsapp. Precisa ler com atenção, apreciando com calma os detalhes da arte e se deixando envolver pela atmosfera lúgubre da narrativa.
O terror presente, apesar de ter monstros, não é apenas daquele que tenta “dar sustos”. Para se ter uma ideia, o autor se baseou em seus próprios pesadelos para escrever. O mais impressionante nos contos adaptados por Tanabe é a sensação de isolamento, a escuridão sufocante, como se estivéssemos soterrados no fundo de uma caverna em um planeta morto.
Em O Templo, tripulantes de um submarino encontram um cadáver agarrado ao tombadilho. Ao revistá-lo, descobrem um objeto estranho em seu bolso e, a partir daí, a tripulação entra numa espiral descendente de motim, mortes e desespero. Aqui, o destaque vai para a sensação opressiva de estar preso na imensidão do mar, acompanhados apenas do pior do próprio ser humano.
Já no conto que dá nome à coletânea, O Cão de Caça, dois violadores de túmulos topam com uma criatura terrível e tentam sobreviver. Este é o conto mais longo e tem um clima dos antigos filmes de terror. O ponto forte é a narrativa, que nos faz torcer por dois personagens desprezíveis, querendo que sobrevivam apenas para que desvendem para nós o mistério da criatura que os persegue.
Finalmente, em A Cidade Sem Nome acompanhamos um explorador que entra nas ruínas de uma antiga civilização e faz uma descoberta aterrorizante. Esta história é, provavelmente, inspiração para muitos filmes como Alien O Oitavo Passageiro, por exemplo.
O Cão de Caça e Outras Histórias foi uma boa compra. As histórias são muito bem trabalhadas com uma arte excelente. Claro que pode não agradar aqueles que preferem mangas recheados de ação e um terror mais explícito e sangrento. Alguns talvez achem o preço salgado para um volume com 170 páginas, mas o que vale mais: 400 páginas mal escritas e mal desenhadas ou 170 de boa qualidade?
Obra: O Cão de Caça e Outras Histórias
Autores: H. P. Lovecraft, adaptado e ilustrado por Gou Tanabe
Editora: JBC
Formato: 14 x 21 cm
N° de páginas: 170
Detalhes: capa cartonada com orelhas e verniz localizado, miolo off set.
Preço: R$ 21,90
À venda em livrarias e lojas especializadas.
“400 páginas mal escritas e mal desenhadas ou 170 de boa qualidade?” comparação meio forçada essa, como se obrigatoriamente qualquer manga de 400 paginas fossem mal escritas e mal desenhadas e que pode induzir os de raciocinio mais lento a achar que o preço tem relação com a qualidade da arte e roteiro que em nada tem a ver com a qualidade fisica que as editoras nacionais venham a apresentar. Se fosse comparar 400 paginas de um manga com acabamento simplorio contra 170 com acabamento acima da media ai sim faria sentido a comparação. E eu ainda iria preferir os de 400 paginas.
STX, obrigada por comentar! ^__^
E me desculpe, não entendi a sua colocação. A frase não diz que “qualquer manga de 400 páginas é mal escrito e mal desenhado”. A pergunta se referia a 400 páginas de um hipotético mangá mal escrito e mal desenhado.
Quem compra leva tudo em conta: preço, acabamento e conteúdo (que engloba arte, roteiro, e gênero da obra) também. O que pesa mais na decisão de comprar vai da pessoa, mas poucos chegariam ao extremo de comprar um mangá apenas e tão somente pela qualidade física. Então, mesmo que a qualidade artística não seja levada em conta na hora de calcular o preço do mangá, ela vai ter, sim, um peso considerável na decisão do consumidor de comprar ou não.
Amigo, você poderia citar a parte do texto onde diz que todo mangá de 400 páginas é obrigatoriamente mal escrito? Procurei no texto e não vi essa parte.
Repare que eu coloquei em aspas a frase como está no texto e não a parte que consta o “qualquer”, com isso em nenhum momento eu destaquei a frase com essa palavra, mas sim o sentido que o termo geral pode levar de acordo com cada interpretação pessoal.
Gostei do manga, embora tenha achado as histórias um pouco curtas. Sei que são adaptações de contos, ficou um gostinho de “poderia ter mais”.
Contos de terror, principalmente os antigos têm mesmo a tendência de acabar um pouco antes do que o leitor gostaria ^^
Obrigada pelo comentário, Marcos!