Ranpo Kitan – Conclusão

Misture matemática, lenda urbana, internet e… voilà! Temos Ranpo Kitan: Game of Laplace!

Os 11 episódios recheados de surrealismo, crueldade e mistério de Ranpo Kitan: Game of Laplace com certeza não são para qualquer um.

Em seu ótimo post de primeiras impressões sobre Ranpo Kitan, o Fábio nos falou um pouco sobre a premissa e expectativas em cima da obra. Agora, com a série terminada, vamos falar sobre o anime como um todo.

akechi tantei

Para começar, Ranpo Kitan: Game of Laplace foi feito em memória dos 50 anos da morte do escritor Edogawa Ranpo, famoso no Japão por suas obras de mistério. Seu pseudônimo era uma clara homenagem ao seu autor preferido, o norte americano Edgar Allan Poe (Edoga=Edgar, waRan=Allan, po=Poe). E, realmente, observando as sequências mais sombrias e surreais do anime, dá para sentir um clima que lembra contos clássicos como “O Poço e o Pêndulo” e “A Queda da Casa de Usher”. Ranpo fez muito sucesso com obras classificadas como “ero guro nansensu” (“erótico”/”grotesco”/”nonsense”), e o Estúdio Lerche conseguiu, dentro de sua proposta, traduzir isso eficientemente na mídia animada.

São muitas as referências, detalhes e nuances interessantes que aparecem no anime, algumas bem óbvias como as borboletas, outros nem tanto como os crisântemos. Das borboletas trataremos mais adiante, agora, vejamos os crisântemos:

crisantemos

Logo no primeiro episódio, quando o vemos o corpo desmembrado do professor, a princípio parece que a sala está coberta de manchas de sangue. Olhando com mais atenção, vemos que parte do vermelho na verdade não é sangue e sim, crisântemos. Na linguagem das flores, os crisântemos vermelhos simbolizam a paixão – o motivo do crime.

O “Laplace” do título do anime refere-se ao matemático, astrônomo e físico Pierre Simon Laplace, cujas descobertas todo mundo provavelmente estudou ou está estudando, pelo menos um pouco, na escola. Isso por que a linha principal da história tem relação com o Demônio de Laplace, um intelecto para o qual “nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente perante seus olhos”. Já as borboletas são uma clara alusão à teoria do caos e o efeito borboleta, segundo a qual “o bater de asas de uma borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas a ponto de provocar um tufão do outro lado do mundo.”

butterfly memo

A premissa da história é que seria possível criar, a partir da teoria das probabilidades e da teoria do caos, uma fórmula capaz de não apenas prever o futuro, mas também de influenciá-lo. Essa fórmula inserida em um computador gerou a figura do justiceiro Vinte Faces que se espalhou na internet, instigando pessoas a fazerem justiça com as próprias mãos. O Vinte Faces tornou-se símbolo, emblema, máscara, para aqueles que se sentiam abandonados pelas autoridades e pela sociedade.

Em Ranpo Kitan – Game of Laplace, a resolução dos crimes não é tão importante quanto demonstrar os extremos a que os seres humanos podem chegar, seja por estarem embriagados pelo poder ou pela impunidade, seja pelo desespero de perderem um ente querido de forma absurda e cruel.  O milionário que fazia lavagem cerebral nos funcionários para que trabalhassem até a morte, o homem gentil que monta todo um aparato para que sua vítima não morra enquanto ele a tortura, são retratos exagerados de casos muito comuns na vida real. E, assim como na vida real, há dramas escondidos que vemos apenas de relance, como as cicatrizes nos pulsos da Hanabishi, onde o anime não mostra tudo, e isso às vezes pode ser um pouco frustrante.

shadowman

O Estúdio Lerche optou por fazer uma homenagem a Edogawa Ranpo desenhando um panorama geral de suas histórias e personagens, dando especial atenção ao “ero guro nansensu”, talvez com mais ênfase no “guro” e “nansensu” do que no “ero”. Alguns espectadores, quem sabe, prefeririam uma abordagem mais centrada nos protagonistas, outros, que se adaptasse uma única história. O nonsense das autópsias apresentadas como um show de variedades, ou da professora cosplayer pode não agradar. Entretanto, não dá para negar que, dentro da opção escolhida, o estúdio fez um excelente trabalho. Não é um anime para ver às pressas, só para ocupar uma meia hora entre uma atividade e outra. Assim como disse o Fábio no seu Primeiras Impressões, Ranpo Kitan: Game of Laplace é para se assistir prestando atenção, e depois refletir sobre o que viu.

E, se alguém descobrir como se chama a música que toca na jukebox do Akechi, por favor, me informem!

SAIBA MAIS SOBRE:

Edogawa Ranpo

Pierre Simon Laplace

O efeito borboleta e a teoria do caos

Sobre liviasuguihara

Instrutora de inglês, "arteira", amante de animes e mangás. Você também me encontra no Twitter (@lks46), no Behance (https://www.behance.net/lksugui7ac5), e no Instagram (liviasuguihara).

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