Mangas Franceses: Vive lá bande dessinée!

Conheça um pouco da trajetória dos artistas de bande dessinée que fizeram dos mangas franceses seu estilo!

Bem-vindos às sexta-feiras do Gyabbo!, onde os franceses são legais!

Nestes últimos dias foi noticiado que o manga francês Radiant, de autoria de Tony Valente, foi publicado no Japão – estando disponível em suas comic shops neste exato minuto. O simbolismo desta conquista, ter uma bande dessinée (literalmente “banda desenhada”, o modo como os quadrinhos são chamados na França, e também em Portugal) fincando bandeira no poderoso Yamato, foi enorme!

A França é o país que mais consome mangas depois do próprio Japão – e provavelmente o país que mais consome quadrinhos em geral. Em termos de porcentagem, existem mais adultos que lêem quadrinhos no país do brioche do que qualquer outro lugar do mundo.

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O hábito massivo da leitura de “gibi” foi herdada dos duros tempos da Segunda Guerra Mundial. Apesar de ter emergido do lado dos vencedores, a França sofreu um bocado sob o domínio nazista e ainda teve que pagar uma conta alta de “agradecimento” aos Estados Unidos por tê-los salvado e ajudado a se reconstruir.

Antes da guerra, os quadrinhos na França funcionavam como a maioria dos quadrinhos no mundo: eram publicados majoritariamente em jornais, com tiras seriadas saindo todos os dias. Aos poucos, pequenos almanaques de quadrinhos foram surgindo e as tiras se transformaram em páginas. Na Bélgica – que compartilhava seu mercado com a França devido à proximidade e o idioma – existia a Le Petit Vingtième, revista que teve a honra de hospedar as primeiras histórias do repórter Tintin (criação de Hergé), nos anos 30 – e futuramente ganharia sua revista própria, Tintin, Chaque Jeudi, onde viria acompanhado de outras novas obras que se tornariam clássicos.

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Porém, com o estouro da guerra, a maioria destas publicações de quadrinhos desapareceu. Na Europa faltava tudo, inclusive papel. Os jornais diminuíram de tamanho e os quadrinhos também. E isto afetou bastante o estilo do quadrinho franco em si.

Se um leitor típico de manga for pegar um quadrinho francês tradicional para ler, o primeiro choque que terá é ver a grande quantidade de quadros espremidos em uma única página – de dez a quinze. Estas “páginas densas” foram uma necessidade para se contar o máximo de história economizando o máximo de papel possível.

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No entanto não dava para ler uma quantidade tão grande de informação num papel pequeno. O tamanho típico da página (22×29 cm) surgiu nesta época, assim como as compilações em formato de álbum. No pós-guerra surgiram muitos almanaques trazendo vários títulos de quadrinhos franceses (da mesma forma que uma Shonen Jump da vida, mas em menor quantidade de páginas). A revista Pilote, nos anos 60, publicou outro personagem franco famoso: Asteríx, o galês (criação de Albert Uderzo e René Goscinny), publicado até hoje e sempre um sucesso em vendas, ultrapassando facilmente dois milhões de álbuns vendidos. Depois de algumas décadas, estas revistas especializadas foram abandonadas e apenas os álbuns restaram – ficando cada vez mais luxuosos e caprichados.

Hoje em dia os quadrinhos franceses já possuem uma narrativa um pouco menos densa, em parte pela influência dos comics e mangas.  E falando em mangas: os franceses adoram! É possível encontrar em suas bancas e livrarias desde mega-hits, como Naruto, até coisas obscuras, como Mazinger Z. E isto ao lado de clássicos franco-belgas, como Blake e Mortimer, título venerado até hoje (embora seja um dos mais exemplares casos de narrativa densa e prolixa das BDs da década de 50).

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Até quadrinhos brasileiros já foram publicados na França! Seja via indireta, com a tradução das obras de Flávio Colin (não conhece? Pena…), ou vias diretas, como a de brasileiros que fizeram da França o seu país e publicaram suas obras autorais lá dentro, como a série Aldebaran, de Luiz Eduardo de Oliveira, aka Léo (não conhece também? Mais pena ainda…). Como podem ver, os franceses são bastante ecléticos com quadrinhos.

Agora, vamos conhecer alguns autores que fizeram do olhão grande o seu estilo!

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City Hall

Escrita por Rémi Guérin e desenhada por Guillaume Lapeyre. Se passa num século XX alternativo. Acompanhamos a história da misteriosa “Corte do Papel”, onde seus escritores têm o poder de dar vida às suas criações – uma habilidade que foi utilizada em várias guerras e que mudou o destino do mundo.

Obviamente esta prática é restrita pelo governo, mas um misterioso terrorista está usando este poder. Agora a corte precisa descobri-lo e detê-lo! A obra é bem imaginativa e tem uma arte linda. Não é a mais revolucionária do mundo, mas vale a olhada.

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Dreamland

Criado por Reno Lemaire. A história se passa em Montpellier, uma comuna francesa real. Terrence Meyer, um adolescente de 18 anos, é um estudante no Lycée Jules Guesde. Sua mãe morreu em um incêndio quando ele tinha apenas sete anos de idade e desde então possui pânico de fogo. Mas numa noite enquanto sonha com sua mãe em chamas, ele supera a fobia e passa a controlar este elemento. Dreamland, o mundo dos sonhos, é onde ele conhece várias pessoas com o qual vai viver muitas aventuras…

Este plot poderia perfeitamente se encaixar em qualquer shonen japonês, não concordam? O título segue até hoje e tem vários fãs.

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Corto Maltese: La cour secrète des Arcanes

Corto Maltese é, tecnicamente, um fumetto (quadrinho italiano), criação de Hugo Pratt. Foi publicado primeiramente na Itália e, depois, adotou a França como seu país. Trata-se de um marinheiro sedutor e impetuoso vivendo mil aventuras (muitas delas bibliográficas – seu autor também era um aventureiro na vida real).

Embora Pratt jamais tenha utilizado um técnica de manga para compor um álbum de Corto Maltese, em 2002 um estúdio francês fez uma animação do personagem com fortíssima influencia nipônica. Corto Maltese: O Pátio Secreto dos Arcanos é um longa de encher os olhos pela sua beleza e primor – e escancaradamente, bebe da fonte das animações japonesas.

O personagem ainda é bastante popular na França e, embora vários ensaios para se escrever novos álbuns do Corto com novos autores já tenham sido feitos, não existe um desenhista que consiga reproduzir com perfeição o estilo único de traço do finado Pratt. Mas sua animação realmente fez jus ao personagem e vale a conferida.

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Radiant

Enfim, vamos falar de Radiant! O autor Tony Valente começou a publicá-la em 2013. Apesar de recente, a editora Ankama Édition, que publica outros mangas franceses, esforçou-se bastante para que o título conseguisse aportar no Japão.

Conta a história de Seth, um aprendiz de feiticeiro da região de Pompo Hills. Como todo aprendiz, é um “infectado”: um dos poucos seres vivos que sobreviveram em contato com Nemesis – criaturas que caem do céu e que contaminam e dizimam todos aqueles que tocam. Sua aparente imunidade o fez se tornar um caçador e lutar contra Nemesis.

Rodeado por uma facção de assistentes, Seth viaja pelo mundo em busca da Radiant, o local de nascimento de Nemesis, que poderá lhe ajudar a por um fim a esta ameaça!

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Para fechar: todos sabemos que quadrinhos franceses, infelizmente, não costumam vingar no Brasil.

Com exceção dos mega-sucessos Tintin e Asterix, várias outras obras franco-belgas já aportaram aqui e naufragaram por causa da completa apatia que o público brasileiro tem com tudo que é diferente de comics de super-heróis e manga shonen – um exemplo é o mega-excelente Blacksad, que aqui no Brasil só teve dois volumes publicados pela Panini… ou mesmo o já citado Aldebaran, que só teve um número publicado aqui. Uma pena mesmo!

Talvez, se alguma editora brasileira se interessar em trazer Radiant para o país, este mau costume comece a mudar. Há muita, mas MUITA coisa boa sendo produzida na França! Com seus 66 milhões de habitantes (metade da população japonesa), o país consegue ser o segundo maior produtor e consumidor de quadrinhos no mundo! O mercado nacional está perdendo e muito em não trazer mais títulos deles para cá.

Torço para que isto aconteça em breve! E Vive la France!

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16 thoughts on “Mangas Franceses: Vive lá bande dessinée!”

    1. Ômega eu sei que foi publicado até o fim. B.B.Project eu não tenho certeza… Mas é curioso como a apatia para com estes títulos foi geral. Não se ouviu uma palavra sobre eles – com exceção da minha resenha de Ômega no meu blog antigo… Ninguém comentou nada…

      1. B.B Project teve as 5 edições lançadas aqui. Tambem teve o manga Vairocana, tambem francês e tambem lançado pela Astral em 3 edições na msm época de bb.

    1. Moebius é muito bom, mas creio que seu estilo e traço seja intragável para quem está acostumado com a ascepcia dos mangas. Embora existam alguns mangakas, como o Terada, que mimetizam este estilo sujao dele

  1. Estive em maio em Lyon e sempre fico admirado com a quantidade de mangás lançados, fui a vários sebos no centro da cidade onde havia uma parte específica e enorme pra comics europeus e do lado um mundo de mangás, desde as edições mais podres até aquelas mais cuidadas. Não sei nada de francês, mas tenho uma edição de cada mangá de CDZ já lançado por lá, até mesmo o mais recente Saintia Shô.

    1. Radiant poderia ajudar, pelo hype, a trazer mais material francês para o Brasil. Não só mangas franceses, mas outras obras francesas clássicas

  2. o aldebaran é um bosta teve o chifre arrancado pelo seya
    agora que já fiz a piada ruin
    infelizmente tem pouca coisa francesa vindo pra ca,mas recentemente a astral comics se arriscou a a lançar algumas coisas
    e voce podia ter citado araw pra min de long a melhor hq francesa

  3. Jussara sua LINDA!! Leu meus pensamentos!!
    Estava louca por uma matéria dessa!
    Quero quadrinhos franceses para treinar!!! ^^-
    Sankyuuu!!!

  4. mangas franceses.. isso é novidade pra mim, Radiant parece ser interessante, mas admito que o que me fez clicar neste post foi a ~versão francesa~ do Happy (1º imagem) :P

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