As particularidades de ser mãe no Japão de hoje

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Por que no Japão também é dia das mães!

Tem aquelas que são um exemplo de amor e compreensão como a mãe da Kagome, de Inuyasha (que apesar de ser tão legal, nem tem nome, coitada), e as que têm uma presença tão forte que mesmo depois da morte ainda influenciam o destino dos filhos, como a Kyoko, mãe da Tohru de Fruits Basket e a Trisha Elric, mãe de Ed e Al Elric de Fullmetal Alchemist. Mãe, dizem alguns, é tudo igual, só muda de endereço. No que diz respeito ao amor e enorme importância que têm na vida de seus filhos, provavelmente sim. Em outras questões, entretanto, existem algumas diferenças entre a mãe japonesa e a mãe ocidental.

Você já reparou que, nas poucas vezes em que aparecem mães nos mangas e animes, elas quase sempre são donas de casa? E aquelas que trabalham fora são: a) mães solteiras/divorciadas/viúvas que se matam para sustentar a família sozinhas, b) mães tão focadas na carreira que quase esquecem que têm filhos. Existem exceções, ainda bem, mas mesmo nos dias de hoje, o padrão geral ainda é esse.

kagome mama

Mãe tradicional: a coitada da mãe da Kagome nem nome tem…

Todo mundo sabe que o Japão é um país de mentalidade conservadora. A mãe ideal nesse cenário é aquela que se dedica de corpo e alma aos filhos – o que é uma coisa boa –, abrindo mão de qualquer sonho ou projeto pessoal – o que é horrível. Ainda resiste no país o pensamento de que se quiser ter uma carreira de verdade a mulher deve abdicar de casar e ter filhos e vice-versa. Tudo parece conspirar para que as japonesas sejam levadas a essa escolha.

Para começar, o mercado de trabalho; os salários das mulheres são menores do que os dos homens, as oportunidades de progresso dentro das empresas também, e as exigências são grandes. A “cultura do trabalho” no Japão exige um grau de dedicação que praticamente impede que uma mulher possa conciliar profissão com maternidade. Mesmo que ela consiga de alguma forma um emprego menos exigente, ainda tem o problema de onde deixar as crianças enquanto trabalha. As creches são poucas e custam caro. De acordo com estatísticas de 2013 havia cerca de 20.000 crianças a espera de vaga. As creches do governo são boas, mas custam o equivalente a mais de 700 dólares por mês, enquanto as particulares podem chegar a 2.000 dólares mensais.

trisha elric

Se ela fosse uma mãe japonesa trabalhadora provavelmente não teria muito tempo pra isso…

Finalmente, existem as dificuldades para os maridos participarem mais da rotina doméstica, não apenas por questões culturais, mas também financeiras: como as mulheres têm salário menor, de um jeito ou de outro os homens acabam sendo os maiores responsáveis pelo sustento da família. Assim, não só pela exigência de dedicação total da “cultura do trabalho”, mas também pelo orgulho de ser o provedor da família e pelo medo de perder o emprego, eles acabam até abdicando de direitos garantidos por lei, como a licença paternidade.

Perspectivas profissionais desanimadoras, falta de creches onde deixar a criança enquanto trabalha, pouca chance de ter alguma ajuda do marido em casa: ao colocar tudo na ponta do lápis, muitas mulheres acabam concluindo que não tem jeito, o melhor mesmo é desistir de trabalhar fora e ser dona de casa. E as coisas não mudam muito depois que o filho entra para a escola, pois aí começa a difícil missão de acompanhar seu desempenho e garantir que lá na frente ele consiga uma vaga numa boa universidade e tenha uma carreira de sucesso. Ou, se for uma filha, que seja uma “career woman” (mulher dedicada exclusivamente ao trabalho) bem sucedida ou que faça um bom casamento.

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Kyoko, mãe da Tohru de Fruits Basket: sempre presente, até mesmo depois de morrer.

Este é, evidentemente, apenas um quadro geral. Com certeza devem existir muitas famílias que não se encaixam nesse padrão “pai se matando de trabalhar e mãe cuidando da casa e dos filhos praticamente sozinha”. Felizmente, as coisas estão mudando, ainda que bem aos pouquinhos. O crescimento da internet está ajudando as mães japonesas mais antenadas a se manter ativas na profissão sem deixar de dar aos filhos todo o amor, carinho e cuidado possível. Seja abrindo uma loja virtual, oferecendo consultoria ou serviços freelance, elas vão aos poucos encontrando caminhos de realização pessoal sem que isso prejudique a família. Espera-se que, no futuro, de alguma forma, haja mais justiça no tratamento às mulheres: salários equiparados aos dos homens, melhores condições de trabalho principalmente para aquelas que têm filhos, enfim, deixar de ser cidadã de segunda classe. Por enquanto, elas se viram como podem.

Não que as mães ocidentais vivam num paraíso de igualdade; as brasileiras que o digam! A verdade é que mães latinas, européias ou norte-americanas enfrentam cada qual os seus desafios, os seus problemas, que são diferentes daqueles enfrentados pelas japonesas. O que a maioria das mães do mundo têm em comum parece ser o gigantesco amor por seus filhos, por quem são capazes de fazer praticamente tudo. Nossas mães merecem a nossa mais absoluta gratidão.

Parabéns para elas! Parabéns para todas as mães do mundo!

FONTES:

http://www.bbc.com/news/magazine-21880124

http://www.kanpai-japan.com/japanese-society/mothers-day-in-japan.html

Sobre liviasuguihara

Instrutora de inglês, "arteira", amante de animes e mangás. Você também me encontra no Twitter (@lks46), no Behance (https://www.behance.net/lksugui7ac5), e no Instagram (liviasuguihara).

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