Um amor pode sobreviver durante uma vida toda, mas e após ela? Comemorando o mês do shoujo, hoje falaremos de sentimentos que não foram embora nem com a morte com o mangá Hajimari no Niina.
Hajimari no Niina é um mangá escrito por Minamori Koyomi, publicado originalmente na revista shoujo Hana to Yume durante setembro de 2010 e outubro de 2012, sendo finalizada com quatro volumes encadernados pela editora Hakusensha.
O mangá gira em torno de Niina, a reencarnação de Chitose, uma jovem que morreu precocemente aos 15 anos de idade na tentativa de salvar uma gestante enquanto estava tendo um encontro com seu namorado, Atsurou.
Aos seus 10 anos de idade, ao se encontrar pela primeira vez com seu namorado da vida passada, ela acaba se lembrando de todas as memórias de sua vida anterior e se apaixonando novamente por ele. Assim, ela decide declarar seu amor, mas é obviamente rejeitada. Apenas seis anos depois, quando já está cansada de apenas ficar ao lado dele, Niina confessa novamente e dessa vez tem seus sentimentos correspondidos, ainda que logo tenha que se mudar para Hokkaido, resultando em um relacionamento à distância.
As primeiras impressões que tive de Hajimari no Niina foram um tanto quanto desagradáveis porque no primeiro capítulo Niina é apresentada ao leitor como uma menina de dez anos de idade apaixonada por um rapaz de 25 anos!
A proposta do enredo em abordar temas como renascimento e memórias de vidas passadas foi bem interessante, mas entretanto, mesmo tendo todas as memórias anteriores, ela ainda é uma garotinha de 10 anos de idade e confesso que me deixou aliviada saber que o desenvolvimento da história acontece apenas quando ela está com 16 (mesmo que ele já tenha 31).
Outro fator de descontentamento nesse início foi nos fazer entender que a história se desenrolaria por meio do relacionamento de Niina e Atsurou, quando ela acaba incluindo outras aventuras com a família da garota, o que desfoca este relacionamento. Essa divergência não é explorada até a metade do mangá e isso é bem complicado em um título de apenas quatro volumes.
Mas tirando isso, o mangá segue um desenvolvimento com o ritmo estável, preenchendo plausivelmente as lacunas que nos deixou no início, sem deixá-lo monótono. A mudança drástica e mal executada que a autora fez no direcionamento da obra acabou por fazer com que a temática abordada na obra fosse menos batida.
Os personagens são cativantes, até mesmo aqueles que não são tão explorados no começo. Niina por si só é uma personagem bem desenvolvida, forte, não se abate pelo meio que vive. Raramente vemos personagens tão determinadas quanto ela que ao mesmo tempo em que luta com todas suas forças para conquistar seus objetivos, consegue ser delicada o suficiente para entender os demais ao seu redor.
Apesar de usar como tema a reencarnação, Hajimari Niina está longe de apresentar profundas reflexões sobre isso, usando-o apenas como pano de fundo para falar sobre promessas e arrependimentos que cultivamos. Sentimentos tão profundos que se não tomarmos cuidado, poderemos morrer sem ao menos ter cumprido nenhum de nossos objetivos.
Como dito no mangá, apesar de ter se apaixonado por Atsurou, seu amado da vida passada, Niina não quer viver como a falecida Chitose. Em outras palavras, ao contrário do que parece, nossa personagem principal encara seu “dom” como uma forma de não deixar mais nada pendente na vida que tem hoje, sem voltar a ser o que era na vida passada.
A arte do manga é bem graciosa, principalmente na composição dos quadros, onde a autora soube aproveitar bem a transição das cenas, adequando ao que ocorria em cada parte da história. O traço, além de ser bem característico da demografia – olhos grandes, pernas alongadas e finas, bastante brilho -, também chama atenção pelos pequenos detalhes, seja nas roupas dos personagens ou até mesmo na expressão facial deles, tudo bem feito e agradável visualmente.
Entre os acertos e erros, Hajimari no Niina, mesmo não instigando a primeira vista, é um mangá que apresenta uma evolução promissora o suficiente para me fazer indica-lo a todos que gostem de romances com uma pitada de misticismo.