O inglês dos animes é beeeem diferente do que aprendemos na escola…quase um… japanglish!
Basta ver os títulos de alguns animes/mangas populares para percebermos que os japoneses usam bastante o inglês: Fairy Tail, One Piece, Free!, Sakura Card Captor… Assim como nós, eles são influenciados pela cultura americana e muitos acham que “milk” (leite em inglês) soa mais bacana do que “gyunyu” (leite em japonês), por exemplo.
Entretanto, quem conhece o idioma deve ter reparado que o inglês usado em animes e mangas nem sempre é igual àquele que se aprende na escola. A expressão “one piece” significa “um pedaço”, e nada mais. Sozinha, não tem sentido nenhum. É um pedaço de quê? Bolo? Queijo? Pizza? Massa de modelar? É verdade que, assistindo ao anime ou lendo o manga, a gente acaba entendendo o que é, mas quem vê o título sem saber nada a respeito da obra fica intrigado, o que é até bom pois chama a atenção.
Em qualquer país que não tem o inglês como idioma nativo, erros ou distorções na compreensão e pronúncia são comuns. Nós, brasileiros, nos enganamos com palavras como “actually” (que significa “de fato”, e não “atualmente”) e expressões como “to make a point” (“fazer questão de”, e não “fazer um ponto”) por exemplo. Seja pela dificuldade com o idioma estrangeiro ou até mesmo por brincadeira, damos significados diferentes para algumas palavras ou misturamos com o português e acabamos criando coisas como ou “rebolation”. Outra coisa que frequentemente acontece é que adotamos e aportuguesamos termos em inglês: “deletar”, “dar o enter”… O mesmo se dá com os japoneses. Na verdade, com eles isso ocorre muito mais, em parte por que a influência dos Estados Unidos lá foi muito mais forte do que aqui devido à ocupação norte-americana do país no pós-guerra.
Também existe a questão prática. Há situações em que o japonês prefere usar termos em inglês simplesmente por ser mais fácil e rápido. Palavras em idioma estrangeiro são escritas em katakana, que é muito mais simples e fácil do que o kanji. Às vezes, algumas palavras em japonês são mais compridas do que suas correspondentes em inglês. Pode parecer bobagem, mas quando se está com pressa, duas ou três sílabas a mais fazem diferença. Os japoneses adoram a concisão. Basta ver o quanto eles abreviam palavras: muito do que nós, apreciadores de mangas e animes, sabemos de japonês são abreviações. “Anime” já é uma abreviação de “animation”! “Sekuhara” (“sexual harrassment”), “buracon/shisucon” (“brother complex/sister complex”), “supokon” manga (“sports konjo” manga, ou manga de esporte), há toneladas de exemplos, isso sem falar dos títulos de animes/mangas que são frequentemente abreviados ou já são assim desde sua criação como Kurobasu (Kuroko no Basket), Pokemon (Pocket Monster) e por aí vai.
Embora também existam os termos específicos Janglish, para palavras estrangeiras que não têm correspondente em japonês, e o Panglish, para palavras que tiveram seu significado alterado, a maioria dos americanos e ingleses costuma usar Japanglish para o fenômeno como um todo, desde a adoção, japonização e alteração de palavras até a criação de novas expressões. Sim, amigos, há expressões em inglês que só têm sentido no Japão. Vejamos alguns exemplos mais comuns:
Naive: em inglês, significa “ingênuo”. Em Japanglish, “sensível, delicado ou tímido”.
Service: em inglês, significa “serviço”. Em Japanglish, “brinde, cortesia ou desconto”.
Salary man: em inglês, essa expressão não existe. Em Japanglish, é o homem que trabalha em escritório, de simples auxiliar até executivo de baixo escalão.
Office lady: em inglês, essa expressão não existe. Em Japanglish, é a versão feminina do salary man.
Family restaurant: em inglês, restaurante que aceita e está preparado para receber famílias com crianças pequenas. Em Japanglish é um meio termo entre lanchonete e restaurante, geralmente frequentado por estudantes e famílias.
O Japanglish tornou-se parte inseparável da língua japonesa. A prova disso é que há coisas que simplesmente não podem ser ditas usando somente o japonês original: não existe outra palavra para salary man, pelo menos não uma que tenha exatamente o mesmo significado. Fico imaginando se, algum dia, seja por causa da globalização ou quaisquer outros motivos, o nosso português será influenciado de maneira tão forte pelo inglês.
O que vocês acham?
Fontes (todas em inglês):
Sobre o Japanglish: http://www.jun-gifts.com/others/japanglish/japanglish.htm
Texto mais detalhado sobre o Japanglish e as influências de outras línguas no japonês:
http://www.swarthmore.edu/Humanities/tkitao1/japan/japanglish.html
Definição mais detalhada de family restaurant em inglês:
http://restaurants.about.com/od/glossaryofterms/a/Concepts.htm
Definição mais detalhada de family restaurant no Japão:
https://www.japanful.com/contents/blog/family-restaurants-not-just-for-family/
Eu acho que é algo inevitável, não é a primeira vez que isso acontece, anteriormente o latim foi espalhado pelos romanos e os diferentes povos o adaptaram dando origem a novos idiomas, mais recentemente espanhol, português, arábe e até mesmo o inglês também sofreram processos parecidos, dando origem a variações locais mas ainda permitindo um bom nível de compreensão entre os interlocutores.
Realmente influências externas são inevitáveis o próprio inglês é um caldeirão onde se misturaram latm, celta, alemão, francês e várias outras línguas…
Obrigada por comentar, Carlos!
Curioso, mas aqui é mais difícil a adoção de palavras estrangeiras, pois boa parte dos intelectuais é contra o uso de palavras em inglês quando tem uma equivalente em português. Além de ser norma o aportuguesamento de palavras. Mas é inevitável.
Falando do inglês japoneses, sempre achei engraçado cenas onde eles falam inglês. Eles são horríveis para falar este idioma.
Haha, verdade. É que o japonês é baseado em sílabas, então fica super difícil pronunciar os “-rl”, “-rn”, etc. Tem um vídeo no YouTube de um trailer de Hetalia em que os personagens falavam inglês. Um fã americano legendou do jeito que ele tinha entendido… para ter uma ideia, a frase “I won’t allow it!” virou “I want owls!”
Obrigada por comentar, Edward!