Qual a diferença entre heróis americanos e heróis japoneses?
De um lado temos Goku, Seiya, Naruto, Luffy, Gon, só para citar os mais famosos e tradicionais heróis de mangas e animes. Do outro temos Super Homem, Capitão América, Batman e tantas outras figurinhas carimbadas do mundo das comics e do cinema americano voltados principalmente para homens jovens. Todos eles são queridos e admirados por crianças, jovens e adultos no mundo todo. Eles têm muitos pontos em comum: são especiais, escolhidos pelo destino para salvar o mundo/proteger os fracos e oprimidos/derrotar os vilōes.
Mas qual seria a diferença entre eles?
Um ponto curioso é a questão dos poderes e habilidades dos heróis. Frequentemente, o herói americano possui ou adquire um grande poder ou alguma habilidade ou recurso especial, que continua sempre o mesmo. Ele poderá perdê-lo temporariamente ou sofrer alguma mudança ao ser transportado para um universo paralelo, por exemplo, mas via de regra tudo volta ao que era antes depois de alguns percalços. O momento da descoberta ou conquista do poder, todo o processo de aprendizado pelo qual o personagem passa são colocados como um prelúdio para suas aventuras. Em outras palavras, o foco nas comics não é, por exemplo, Clark Kent desenvolvendo seus poderes, e sim o Super Homem com os poderes já desenvolvidos, combatendo vilões. Embora haja graphic novels, séries e filmes que se concentram no processo de descoberta e treinamento do herói, trata-se de algo relativamente recente e não tão comum. Escalas ou níveis de poder, em que o herói começa em um certo ponto e vai se desenvolvendo, são típicos de heróis japoneses.
Outra coisa que chama a atenção é a diferença no conceito de passagem do tempo. Personagens como Batman e Capitão América já são adultos, ou no mínimo estão saindo da adolescência, desde o início de suas histórias. Eles são, principalmente para as crianças, como a figura de um irmão mais velho ou mesmo de um pai, alguém que sempre será mais forte, mais experiente, mais tudo, um ídolo num pedestal. Além disso, tirando ocasionais reboots e releituras, eles pouco envelhecem. Assim como personagens de contos de fadas, eles funcionam como fontes de segurança e conforto para o nosso imaginário: não importa o que aconteça no mundo real, os heróis americanos sempre estarão lá, jovens, fortes, vitoriosos, imutáveis. Por outro lado, os heróis dos mangas e animes quase sempre começam sua jornada ainda crianças ou pelo menos na adolescência, crescem, amadurecem, e podem até envelhecer e morrer. Eles não são ídolos num pedestal, não oferecem o conforto da eterna juventude, mas em compensação tornam-se muito mais próximos do espectador, permitindo uma identificação e empatia muito maior.
A diferença mais marcante, entretanto, é na questão dos relacionamentos.
O herói americano tradicional é solitário. Clark Kent, por exemplo, tem família e amigos mas quando se torna o Super Homem e vai combater vilões, ele o faz sozinho. Embora tenham surgido aliados e parceiros no correr dos anos, quando foi criado e durante um bom tempo de sua existência, ele é um ser à parte, isolado. Relacionamentos são encarados quase que como uma desvantagem, pois família e amigos podem ser sequestrados ou ameaçados pelos inimigos do herói. Sobre seus ombros pesa uma responsabilidade gigantesca, pois somente ele tem o poder para proteger aqueles a quem ama. O herói americano é produto de uma cultura bastante individualista, que deu origem a expressões como “self made man” (“homem feito por si próprio”).
Diferente dos heróis das comics, os heróis de mangas raramente são os únicos com poderes ou habilidades incomuns em suas histórias. Eles são especiais, mais fortes ou com alguma qualidade que os faz se destacarem, sim, porém não são únicos. No início de Hunter x Hunter, Gon era apenas um garoto promissor no meio de muita gente mais forte e experiente. Naruto, apesar de poderoso, é um ninja entre vários outros, cada qual com seu próprio poder ou habilidade especial. Frequentemente a família e os amigos dos protagonistas de mangas e animes possuem algum tipo de poder, habilidade ou conhecimento útil e em algum ponto da história eles os salvam, protegem e orientam.
O típico herói japonês nunca está totalmente só. Seiya tinha o apoio dos outros Cavaleiros do Zodíaco, Edward Elric tinha seu irmão Al. É bastante comum que a força da amizade, um conceito muito valorizado principalmente na demografia shonen, promova de alguma forma um aumento de poder do herói. Relacionamentos são vistos de maneira mais positiva: família e amigos não são apenas pessoas que são sequestradas ou ameaçadas pelos vilões para atingir o herói, eles também podem ser guias, companheiros de luta, ajudantes, protetores.
A cultura japonesa valoriza o coletivo em detrimento ao individual. Afinal, em um país populoso, com poucos recursos e sujeito a todo tipo de desastre natural, é essencial saber compartilhar, conviver, trabalhar em equipe. O herói solitário, que resolve tudo à sua maneira e se recusa a “fazer parte do rebanho”, não é o tipo de exemplo que os japoneses em geral querem para suas crianças. Eles podem até admirar e secretamente invejar o jeito direto e livre dos heróis americanos, mas sabem que o modelo ocidental dificilmente funcionaria no Japão.
É claro que estou falando a grosso modo. Afinal o Japão tem sido fortemente influenciado pelos Estados Unidos desde o final da Segunda Guerra Mundial e nos últimos anos cresce o número de artistas americanos – de quadrinistas a cineastas – que se inspira em mangas e animes. Nos anos 60, quando a contracultura começou a questionar os valores da cultura ocidental, principalmente a americana, surgiram a Liga da Justiça e os Vingadores, associações onde os heróis trabalhavam juntos. Essas associações deram tão certo que renderam desenhos animados (Liga da Justiça) e uma bem sucedida franquia de filmes (Vingadores e seus “filhotes” como as séries de TV Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D e Marvel’s Agent Carter), um sinal de que mudanças no modelo tradicional são bem vindas.
Certamente existem vários heróis americanos e japoneses que não se encaixam nesses modelos, principalmente os fora da demografia shonen que foi o foco desse texto, mas este não é o assunto de hoje. O ponto principal desse post são os heróis tradicionais, os representantes mais típicos dos dois lados.
Americanos e japoneses, cada qual com seu estilo e cultura, criaram personagens memoráveis que povoaram – e ainda povoam – o imaginário de milhões no mundo todo. Se por um lado Goku desperta em muitos o carinho de um amigo, o Super Homem nos remete àquela sensação de segurança das coisas que continuam iguais não importa o quanto o mundo mude.
Vamos aplaudir e apreciar Batman, Luffy, Capitão América, Naruto e tantos outros heróis por toda a diversão e bons momentos que nos proporcionaram, eles merecem!
FONTES:
http://www.enotes.com/homework-help/what-main-attributes-typical-american-hero-92225
http://www.yale.edu/ynhti/curriculum/units/1979/1/79.01.01.x.html
E tem gente que ainda tenta alimentar a briga entre Comics e Mangás.
Povo besta, podem ter suas diferença,s mas como o cara que escreveu esse post disse: Cada um tem um papel diferente, e isso não torna um melhor que o outro.
Sem dúvida deve haver respeito entre os fãs dos dois lados, tanto comics quanto mangás tem o seu valor cultural e artístico, não há por que brigar.
Obrigada por comentar, Micael! ^^
De nada. =D
Bacana o artigo, mas ainda assim me pareceu que talvez os exemplos referentes aos comics pegaram uma parte do que compõem os personagens, não sei se foi esse o foco ou falta de conhecimento (não leve a mal Livia), mas achei bem legal a comparação entre os tipos de sociedades. Outra coisa que ditou a diferença entre os estilos é o modo como os mercados funcionavam e funcionam até hoje.
Obrigada pelo seu comentário, Jorge! O foco do post foi dar uma overview das diferenças que mais chamam a atenção sem detalhar muito, principalmente por se tratar de um texto para internet e num blog dedicado essencialmente a mangás e animes. Sem dúvida que uma análise mais detalhada das trajetórias dos principais heróis, a história de sua criação, as mudanças por que passou, sua situação atual, etc., seria muito interessante, mas não caberia aqui, não só pelo foco mas pelo tamanho que o texto ia ficar ^^
O que eu não gosto nos heróis americanos é a reciclagem. Sempre os mesmos heróis sendo recriados de novo e de novo. Prefiro algo fixo como geralmente é nos mangás, tirando os spinoffs, que nunca leio.
Cada público tem suas preferências e isso gera variedade, o que é muito bom tanto culturalmente quanto artísticamente. Obrigada por comentar ^^
Pois é eu amo mangás por ser histórias físicas e sempre personagens originais em cada obra.Mas mesmo nas hqs eles reutilizando personagens em historias diferentes e tem umas que são historias incríveis,emocionantes,que explodem cabeças,que criam personagens novos seguindo legados e tbm tem histórias fechadas ótimas.
Heroi Americano é tudo Bosta.
Outra diferença importante é a cuequinha em cima da calça ^^. E, até isto está sendo abolido nas comix de hoje hehe.
Se não me engano, isso tem a ver com o fato que a maioria dos heróis seguiam o modelo do Superman, o primeiro grande super-herói.
E este seguia o modelo dos lutadores de circo dos anos 20 e 30, que usavam essa cueca por cima da caça para não deixar transparecer o volume da parte de baixo.
Parabéns pelo seu texto! Isso poderia ser um respeitado artigo publicado, (só precisava talvez add mais coisas mesmo), sua perspectiva foi muito boa. A gente acaba convencionando a gostar dos herois e não pensa direito nessas diferenças. I’m looking forward pelos próximos! ^^
Existe muito desrespeito com fãs de mangás, são taxados de gays e retardados em sua quase total maioria por pessoas que se acham por gostarem de comics ou coisas antigas
Quando otakus falam mal de comics, ainda dá pra relevar pois a maioria quese presta a este tipo dd coisa são adolescentes. É uma fase, passa. Mas quando são fãs de comics falando mal de mangás, não dá pra relevar tanto, pois em geral ss trata duma galera mais velha, cabeça formada. É triste.
Mas, talvez seja coisa de geração e costume mesmo. Ter uma guia em comics está se tornando algo que cada vez mais depende de deter um conhecimento enciclopedico – mesmo com reboots – a respeito daquela editora, mas ainda assim vc conseguirá dominar mais ou menos aquilo… O mesmo não ocorre com mangás. Você pode ler varios mangás de demografia, generos, autores e nunca será suficiente e essa é a grande magia da coisa. Mas isso assusta algumas pessoas, um amigo meu que é fã/colecionador de comics disse que não entendia nada de mangás. Respondi que não precisava entender, mesmo que ele tivesse lido centenas de mangás sempre encontraria um mangá que o fizesse sentir-se um neófito.
Mana Lívia, vim lhe dar os parabéns por seu trabalho e convidá-la a acessar minha página de divulgação, eis o endereço → http://www.facebook.com/SavioChristiDesenhistaDivulgacao.
Bom, abraços e até mais então!
Faltou citar que os heróis americanos costumam usar disfarces e codinomes e os japoneses muitas vezes não os fazem, também que os americanos costumam ser de muitas nacionalidades diferentes e os japoneses muitas vezes são todos japoneses, mas é isso aí, excelente e genial artigo o seu, meus parabéns!
A propósito, para quem se interessar, analise minha coleção de revistas em quadrinhos, livros e filmes de cabeceira e me indique mais obras: http://companheirosdehonra.blogspot.com/2015/04/lista-de-revistas-em-quadrinhos-livros.html!
Eu adoraria ver a família Ultra enfrentar thanos. Gostaria de ver o Robô Gigante, Goldar, Daileon enfrentar godzilla é King kong , changeman, flashman, enfrentar os X man, e aí vai