Safras da Shonen Jump – Revisitando os últimos três anos: Introdução

Conheça um pouco mais sobre o sistema de popularidade da maior e mais vendida revista de quadrinhos do mundo, a Shonen Jump!

“A árvore que fica ao lado da água corrente é mais fresca e dá mais frutos.”
Santa Teresa de Ávila

Bem-vindos às noites de segunda-feira do Gyabbo!, onde os bizarros são normais!

Preciso confessar: a SHONEN JUMP não possui em suas páginas nenhum dos meus mangas favoritos, mas eu a acompanho semanalmente, vendo quais são os mangas que estão em sua grade, quais os títulos que entram, os que saem e como está o disputado ranking de popularidade da revista.

E por que eu faço isto? Ora, porque é divertido!

Sendo a revista de quadrinhos mais vendida no mundo, a SHONEN JUMP  atrai os olhares de milhares de pessoas. O acompanhamento dos seus rankings é conhecido como Table of Contents, ou Tabela de Conteúdo (ou simplesmente TOC). É a ordem em que os mangas da revista aparecem em cada edição, do mais popular até o mais impopular.

Esta escolha é feita pelos leitores através de uma votação. Um cartão está incluso em cada edição da revista e nele as pessoas escolhem as suas três séries favoritas ou as que tiveram o melhor capítulo na semana, e enviam-no pelo correio para a editora Shueisha – detentora da revista. Séries muito impopulares sempre correm o risco de cancelamento porque, em teoria, menos pessoas gostam e elas vendem pouco.

Claro que este sistema gera muita controvérsia, afinal de contas nem todas as pessoas que leem a JUMP se dão ao trabalho de enviar votos. Então, será que o ranking de popularidade é mesmo tão acurado? Nem sempre: séries que ficam bem abaixo da tabela podem vender mais do que as que estão acima. Felizmente os editores não são bobos e costumam fazer algumas adequações. Geralmente séries que vendem um número alto de exemplares por volume estão “a salvo”, não importa o quão ruim seja o seu ranking.

Sem falar que séries que vendem menos e nem são tão populares de vez em quando são mantidas na revista por questões de marketing ou puro amor à arte. Um exemplo clássico é a série hyper-deprê Gen, Pés Descalços. Na época em que foi publicada na JUMP ela só amargava posições ruins e vendas mais ou menos, mas os editores a mantiveram porque, segundo eles, “há histórias que precisam ser contadas”.

Outro exemplo é a série Kochikame, um gag manga que é publicado desde 1976 que é uma relíquia da JUMP e a posição dele não importa. Jamais será cancelado. Só quando o autor morrer ou a revista acabar.

Séries que frequentemente ficam no fundo do ranking correm mais riscos de cancelamento. Principalmente entre os cinco últimos, o chamado Bottom 5. Aqui, muitas vezes, ocorrem certas injustiças: séries que não começaram tão bem, mas que foram conseguindo pegar embalo a partir do seu décimo capítulo são canceladas sem dó nem piedade – às vezes antes mesmo do seu primeiro volume ir à venda. Existem muitas séries deste tipo que os fãs choram até hoje com o seu fim precoce.

Mangas que, em uma determinada semana, recebem a capa da revista e/ou páginas coloridas não são ranqueados. Também não são ranqueados (em teoria) as séries estreantes, só a partir da sua 8ª semana de publicação – mas a verdade é que as séries novas são SIM ranqueadas, pois depois de dois meses de publicação já vemos a posição do primeiro capítulo.

Ah, sim! O ranking que vemos numa edição da JUMP, em teoria diz respeito aos capítulos de oito semanas atrás. Para saber qual capítulo de qualquer série foi ranqueado, basta pegar o capítulo atual e subtrair por 7.  Neste ponto é que eu acho que as séries novas se prejudicam – deveriam começar a avaliar apenas a partir do capítulo 7 ou 8, que geralmente é quando o autor já pegou mais o embalo. Um começo ruim pode comprometer a série por completo.

De fato, eu acho que o TOC deveria ser baseado nos capítulos da edição passada. Imagino que não fazem isto porque não dá tempo (revistas precisam ser pensadas e planejadas semanas antes de serem lançadas. Então, quando a JUMP #30 está nas bancas, eles provavelmente já estão preparando a diagramação da #33).

O que realmente faz as TOC serem emocionantes são as apostas dos leitores – sobretudo os que não moram no Japão e não podem votar. Sem acesso aos capítulos, estes ficam na expectativa, inclusive para saber se uma determinada série nova que está sendo tão bem votada é boa mesmo (embora, graças à pirataria, muitas séries da JUMP ultrapassam a fronteira quase em tempo real). Vale dizer que nem sempre um manga que cai no gosto dos japoneses cai no gosto das pessoas de outros países – e vice-versa.

Resumindo: acompanhar as séries da JUMP é quase como que um jogo de futebol. Existem as torcidas à favor e contra, existem os fanáticos e existem os leitores casuais. Existem os apostadores, tal qual o povo que faz fezinha na LotoGol, que revelam suas expectativas em relação às novas safras de mangakas  – e, para mim, esta é a parte mais divertida! Ver gente jurando de pé junto que determinada série vai ser um sucesso ou fracasso e depois enganando-se.

No Brasil existem muitos sites e blogs (inclusive aqui no Genkidama) que fazem as TOCs, mas muitas vezes elas são publicadas de forma errática – o que é uma pena. Mas eu entendo a razão: fazer TOCs dá muito trabalho! E por isto, já aviso aos navegantes: não, eu não pretendo começar a fazer estas análises semanais.

No entanto… sim! Eu pretendo falar sobre as séries e cancelamentos dos três anos mais recentes da JUMP! Nossa viagem vai começar não nesta, mas na segunda-feira da outra semana (pois este post já ficou bem grandinho e os próximos serão gigantes!).

Até lá!